Intoito: ainda NAP e o ovo
Volte na postagem passada e reveja o vídeo de abertura. Nosso Amado Presidente (NAP) está querendo descobrir aonde é (sic) que tem um ladrão. Não surpreenderia se achasse-o no próprio bolso. Mas toquemos. Ele gosta de ovos. Eu se cumê dois ovos por dia, eu adoro um ovinho só com arroz... às vezes eu prefiro isso do que comer qualquer comida boa (sic!), e veja, o povo... o povo come ovo. Tá! Volte lá na conta que fiz: 260 ovos/ano x 211 milhões de brasileiros (OK, bebês não comem ovos, é só uma aproximação) dá... 54.86 bilhões de ovos! E o consumo per capta é de apenas 260 ovos/ano... já pensou 2 ovos por dia por habitante (desconte os recém-nascidos) durante o ano todo?! Ora, esse estrumela fez um estudo e não percebeu que os brasileiros maiores de cinco anos não têm à sua disposição dois ovos por dia! (a fonte da pirâmide etária abaixo é esta). Os menores de 5 anos são cerca de 7 milhões, o que dá uma população comedora de ovos de 204 milhões, a dois ovos por dia demandariam um consumo de 74.46 bilhões de ovos/ano, contra a produção de 59 bilhões de ovos/ano!Então não conseguimos comer dois ovos por dia, se nos guiarmos pela produção interna. O Brasil importa ovos? NAP não falou nisso - até disse que exportamos 0,8% da nossa produção! - Mas espere...
A nossa classe media ostenta, e mais do que a classe média europeia (cujo rendimento médio anual, vamos deixar barato, é cerca de R$ 170.000,00).
E assim ficamos: ostentamos porque uma tevê só não basta, precisamos de uma em cada sala. E o governo - a mola motora da economia de qualquer país - não propicia um mercado que nos garanta a produção de dois ovos por dia. Dá para começar a entender porque o povo passa fome, não é mesmo? Dentre outros motivos, é porque mesmo o preço velho (sic) do ovo na verdade já era caro demais. Percebeu?!
Mais um ótimo final de semana...
Estávamos tentando marcar há algum tempo, e desta vez rolou. Reunidos da Ghidelândia em 22 último, recepcionados pelo casal comandado pela Márcia, estávamos Don Flavitxo e este narrador felizes da vida. Havíamos comprado a bom preço dois vinhões. Encarregado do serviço, abri um deles às 17:30, para receber uma mensagem irada de Don Flavitxo: Po##@, não era meia hora antes? 🙄 Tenho minhas fontes, tá sabendo? 😒, e alguns depoimentos no CellarTracker eram enfáticos sugerindo pelo menos algumas horas de aeração. Como não tenho taças superpoderosas, que aeram o vinho em segundos (rs!), fiei-me nos palpites de lá. O resultado? Vamos por partes...
Um branquelo, para abrir os serviços...
Don Flavitxo chegou com ele debaixo do braço, empacotado e pronto para ser servido às cegas. Abriu, tirou - o líquido, para nossas taças - e cheiramos. Oh Lord, have mercy... que aroma! Quantas fragrâncias! Não consegui distingui-las(!), mas estavam lá, potentes. Abundante em frutas brancas a inundarem meu nariz e confundir outras notas, mostrou boca com excelente acidez, toque mineral, muito frescor e uma permanência de causar desconforto(!). Há tempos não bebia um branco com tamanho equilíbrio e complexidade. Don Flavitxo pediu indicações de procedência. Particularmente não aprecio chutar por chutar; se não consigo sequer imaginar a procedência, prefiro o silêncio. Foi assim quando o mesmo Don Flavitxo apresentou-me a Savagnin pela primeira (e segunda!) vez. Pressionado - sob pressão até pato bota ovo - o Ghidelli sacou um 'Português' não sei de onde, e acertou. Já experimentei alguns bons brancos portugueses. O Private Selection do Esporão agrada, mas não lhe faria sombra. O Tapada do Chaves Vinhas Velhas é ótimo, mas não tão misterioso. Bem mais simples, o Falcoaria Vinhas Velhas delicia as papilas, mas está notas abaixo, em termos financeiros e qualitativos. Antonio Madeira Branco 2019 é um corte estranhíssimo (rs) composto por Síria, Bical, Arinto e Cerceal, e surpreende muito gratamente. É um vinho do Dão, região de onde conhecia mais os exemplares tintos. Estou começando a ficar fã dos brancos, também... A entrada, figo roxo com geleia de figo, Jamon e Roquefort é ótima por si. Com Antonio Madeira, ficou ainda melhor.
Cara de paisagem
Causador de tanto desconforto espiritual para Don Flavitxo porque o abri um tanto mais cedo, Galiardi Terra di Lavoro 2010 aerou por umas 4 horas e chegou com buquê explosivo. Ghidelli olhou para mim e fez uma careta de satisfação, enquanto o elogiava. Don Flavitxo fez cara de paisagem... Já tive o prazer de experimentar algumas vezes dele. O produtor vinifica apenas esse vinho, um corte não linear (rs!) de Aglianico e Piedirosso rico, com muita fruta misturada à toques de piche, petróleo... cinzas, disse alguém. Tudo a ver com a região de solo vulcânico, bastante bem expressa ali. Tinha ainda notas algo como chocolate/tabaco, como sempre confundo, e mais. A boca mostrou-se pegada, ótimos taninos, acidez média, herbáceo, com permanência longa, muito corpo, aquele vinho tipo 'paulada'. Tão seco que pode lembrar... um uísque sendo degustado! É quando o bebedor precisa ser esperto (rs) e fazer um movimento de mastigação para salivar e perceber como ele permanece em boca! Para um prato principal composto de costelinha de porco assada no forno com vinho branco, temperada ao alho, alecrim, pimenta preta, e escoltado com batatas cozidas, combinou 120%! Como os taninos misturavam-se com a gordura! Combinação inesquecível. Na outra ponta do espectro estava Il Bosco Syrah 2006, um Toscano produzido em Cortona muito elegante: ainda com fruta de sobra - Flávio e Ghidelli sugeriram trufas e gás de cozinha(!) - boca com chocolate amargo, café e mais notas, chama atenção de como o chocolate é mesmo amargo, e não ao leite! Taninos macios, grande equilíbrio, e se recupero agora o comentário de Il Bosco estar na outra ponta do espectro é pela elegância, ao contrário da discrição quase troglodítica (rs!) do Terra di Lavoro. Mesmo apreciando vinhos mais encorpados, Il Bosco é de fazer balançar a preferência pela simples potência... potência elegante (sem me faço compreender) é outra estória. Difícil mesmo é encontrar vinhos com essa qualidade! Só posso dizer que este março tem sido maravilhoso... Sem fôlego para falar da sobremesa...