Saturday, June 10, 2017

Chileno bate franceses em degustação às cegas!

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Introito (pule se não estiver com saco paciência)

   Aconteceu. Eu vinha reclamando - pouco no blog, porque pouco tenho escrito, e mais à boca torta, não!, à boca miúda (rs) - que, comparativamente, os vinhos sul americanos ficam notas aquém de seus rivais do Velho Mundo. Na minha percepção, aconteceu assim:
   Corriam os idos de 2008. Para refrescar a memória, foi o ano da Grande Crise Econômica do Século 21, também conhecido como Ano da Marolinha. Não sei se foi antes da crise estourar ou depois, mas o senhor Parker declarou:
   - Os vinhos chilenos estão subprecificados.
   Apesar de respeitar o sistema de pontuação de vinhos, apesar de dar algum (somente algum!) crédito a certos avaliadores (e-RobertParker, inclusive), eu não sou otário nem nasci ontem (sou apenas um enochato!). Não tenho dúvida de que rolou alguma grana. A grande dúvida, e isso conta muito, é de qual direção veio ela. Perguntando para alguns conhecidos, a resposta era quase unânime:
   - Dos chilenos, claro!
   Tenho dúvidas. Ora, a USD 50,00 (Freeshop chileno), preço comum para um Don Melchor ou um Don Maximiano em 2008, eu me dava por feliz em comprar um deste e outro daquele quando vinha do Chile. Os vinhos europeus custavam muito caro no Brasil - importadoras como a de la Croix estavam no começo, outras como a Enoeventos sequer existiam, e 90% do comércio de vinhos finos era dominado por 4 ou 5 importadoras. Acho que hoje é só uns 80%... Bem, eu viaja muito ao Chile, e me dava por satisfeito ao trazer alguns ícones de lá. Quando o Parker deu essa declaração, em 2008, foi a senha para os chilenos mais que dobrarem o preço de seus vinhos. Foi o que encontrei, ao retornar em 2009, após um hiato de dois anos. Desgostoso - quando eu pagaria USD 130,00-140,00 por um vinho?! - trouxe apenas segundos rótulos: EPU, Terrunyo, etc. Por coincidência, minha irmã começava a viajar para o exterior, e se dispôs a trazer-me algumas garrafas. Claro que, antes de pagar por vinhos Chilenos nos EUA ou na Inglaterra, apostei em Riojas (Torre de Muga), Barolos, alguns australianos (Torbreck, Dead Arm), um ou outro francezinho... e... fui para a luz!
   Fechando: para mim, quem pagou foram os europeus. Ou os americanos, aventaram alguns, depois de ouvirem meus argumentos. Sou mais os europeus; os americanos precisam comprar vinho porque sua produção não sustenta o consumo... Os chilenos poderiam "comer pela beirada" uma parte do mercado, com seus ícones a USD 50,00. Ao preço do Chile - e a bem da verdade, a USD 70,00 nos EUA!, eles ficaram absolutamente fora do mercado. Os argentinos, com alguns ícones a USD 100,00+, parecem querer trilhar o mesmo caminho. Azar deles (risos!).
   Ao longo do tempo, sem reportar aqui e a despeito do meu nariz claudicante, fui produzindo vários embates comparativos entre europeus e chilenos/argentinos, e fui constatando o quanto estes últimos estão degraus abaixo em qualidade. Os demais sulamericanos então, pelamordeDeus... Para o leitor tomar ciência do que falo, um embate não reportado por mim, mas devidamente registrado, está aqui. A minha opinião foi um pouco diferente daquela do cronista. E, lembro-me bem, Don Melchor sobrou! Ao final, ninguém quis! O Akira olhou para ele com cara de nojo! Menos, menos (risos). Com cara de quem simplesmente não estava a fim, satisfeito com o que deguestara dos outros vinhos. Sim senhores: o sujeito olhou para um Don Mel e dise que... não precisava!
   Recentemente produzi (mais) este embate, mais simples, para testar vinhos que :
   * Tenham preços "acessíveis";
   * Estejam disponíveis no mercado nacional;
   * Não demandem serviço: abriu, "deu 15 minutos", bebeu.

O embate

O tema foi, simplesmente, Syrah. Enrolei devidamente 4 garrafas (uma por conta do Akira e uma que o Jaci deixara comigo tempos atrás, junto de um lote que ele depositou em minha adega para não se preocupar em trazer vinhos de casa), enquanto a Senhora N. e marido traziam a quinta. A ordem do serviço, após todos os vinhos serem abertos ao mesmo tempo, foi a que apresento abaixo, já revelando os atores.


Jean-Luc Colombo La Violette, 100% Syrah (2012). Um Languedoc básico, com breve passagem em barricas, e cuja madeira que quase não aparece, bem integrada ao conjunto. Comprado a R$ 51,00 na Decanter, no Black Friday, está ótimo. Ao preço regular, R$ 94,00, está um tanto fora, como veremos a seguir. Encontra-se "lá" a uns R$ 44,00. A relação é honesta. Boa fruta, mas acidez pouco presente. Foi o meu boi de piranha, um descarrego para iniciar os trabalhos.

Concha y Toro Terrunyo Syrah, 100% Syrah (2008). Este chileno causou furor quando encheu as taças após o La Violette. "Agora sim", foi a impressão geral. Tem sobrevivido bem ao tempo (quase 10 anos), embora não vá evoluir mais (tenho bebido uma garrafa a cada 4 ou 5 meses, ultimamente). Comprado no Chile quando tinha bom preço (R$ 64,00), e atualmente custando R$ 106,00. Aqui, R$ 230,00. Convenhamos, a relação não está ruim, também. Boa fruta, embora peque pela acidez. Madeira perceptível, mas sem exagero, integrada ao conjunto da obra. Já comentei anteriormente: a madeira que faz as pessoas confundirem com potência.

Chateau Camplazens Reserve La Clape, 70% Syrah (2011). Outro Languedoc, agora com mais barrica (12 meses). Comprado a preço regular na Casa do Vinho, atualmente custa R$ 128,00. Lá fora, uns R$ 50,00; novamente bom preço por aqui. Boa fruta, potência advinda de bons taninos e (conectivo de adição!) de boa acidez, gerando final mais longo e marcado. Comparado ao La Violette, a R$ 94,00... bem, ponha mais R$ 30,00 e você tem um vinho de verdade (sic).

Ferraton Pére & Fils Crozes-Hermitage La Matiniere (2010). O nome já diz a prodência e assegura que é um 100% Syrah. Comprado da Enoeventos na melhor Black Friday que já vi, custou por volta de risíveis R$ 100,00 (R$ 143,00, a preço regular), enquanto o preço lá fora está cerca de R$ 65,00! Também 12 meses de barrica, por ser o quarto vinho já estava respirado. Chegou com boa fruta, boa acidez, bons taninos. No conjunto, em minha opinião, um pouco abaixo ao Camplazens, mas "ali". Na cola.

Boschendal The Pavillion, 80% Syrah (2015). Comprado no Vinho e Ponto a R$ 108,00, custa, lá fora... R$ 30,00. Contando na estatística duas lojas no Japão, o que colabora para o preço subir um pouco... de outra forma, por R$ 20,00 estaria bem pago. Um sul-africano diferente, com passagem em madeira (9 meses), com boa fruta, boa acidez e bom tanino, mas claramente aquém dos demais, tirando o La Violette, que é bem leve (e portanto a proposta é outra. Como disse, La Violette foi meu boi de piranha). Não deixa de ser um vinho legal. Tem margem para se tornar uma boa compra; é só cortar o preço pela metade.

$ Preços $

Apenas para recobrar:
Vinho            Preço "cá"    Preço "lá"
La Violette    R$ 94,00      R$ 44,00
Terrunyo       R$ 230,00    R$ 106,00
Camplazens  R$ 128,00    R$ 50,00
Ferraton        R$ 143,00   R$ 65,00
The Pavillion  R$ 108,00   R$ 30,00

Avaliação final

   Terrunyo impressionou alguns, que se animaram mais ao comentar dele. Agradou mais em duas opiniões, enquanto outras duas colocaram o Camplazens em primeiro... e o Ferraton em segundo! Uma opinião não ficou clara para mim. Vou conceder que Terrunyo tenha sido o melhor vinho, por margem mínima, até para justificar o título da postagem (gargalhadas!). Terrunyo custa quase o dobro de seus concorrentes. O preço no Brasil não reflete (ainda) seu custo no país de origem. O leitor pode julgar, mas preciso apresentar mais um dado. E esse faz toda a diferença.

Ato falho

   Quero recobrar parte do Intróito. Aquela parte onde Don Melchor tomou varada (rs) de dois europeus e acabou sobrando para que eu terminasse com ele no dia seguinte, jurando nunca mais comprar um ícone chinelo, digo, chileno. Quero, ainda, lançar uma máxima, que pode até ser contestada. Claro, a premissa é que os degustadores conheçam um pouco de vinho... Vamos lá:
Degustado às cegas, o melhor vinho sempre acaba antes dos demais
    Vejamos o que aconteceu com os vinhos degustados:
   Arrá! Quem praticamente zerou no evento? O Camplazens quase zerou! O Ferraton ficou uma taça atrás! Com cinco garrafas para cinco degustadores, um deles (Jaci) saindo mais cedo, o consumo foi bom. E os melhores vinhos chamam naturalmente as taças. Duvida? Faça você mesmo o teste, quando tiver oportunidade! (risos) O nível do Terrunyo estava mesmo difícil de notar por causa da garrafa escura; fotografei no dia seguinte, à luz do dia:
   Isso reforça minha premissa: os melhores foram os franceses. Com sobras. Se formos invocar a relação custo-benefício... bom aí a coisa fica feia...

Tuesday, June 6, 2017

Que vinho é esse?

Que país é este?

   O saudoso Renato Russo deixou-nos diversas pérolas do cancioneiro nacional antes de fazer as malas e zarpar para longe da mediocridade chamada Brazil. Claro que se pudesse escolher sei que ele ficaria por aqui, ajudando a fazer deste paraíso das bananas um lugar melhor. Uma de suas músicas que mais gosto é justamente a que dá título a esta introdução. O leitor pode se refestelar aqui.

   Hoje começa o julgamento do presidente Michel Temer no TSE. Este blog não trata de política, trata de vinho - mas não possui leitores, então ninguém perceberá. Ah, mas tratará de vinho, também. Tenha paciência, afinal é impossível o cidadão de bem, que aspira manifestar-se para a sociedade ainda que sobre vinho, deixar de lado a situação grotesca pela qual passamos atualmente e portar-se como se nada de mais acontecesse. Resistir é preciso. Aos picaretas do vinho também, mas principalmente aos ratos que roem os cofres públicos e, em última instância, causam um rombo que só é suportado com a criação de mais impostos!

   O senhor Michel Temer recebeu um fanfarrão, segundo o próprio Michel, na calada no noite, na residência oficial do Presidente da República, após este dar entrada na garegam da residência usando nome falso (foi isso mesmo?!). Ouviu o que ouviu, sem dar-lhe voz de prisão. Depois disso, ainda ousa dizer "Não reuniciarei". Grito alto, com as mãos em concha:
   - Saia já daí, Michel!
   Esse senhor precisa ser defenestrado do cargo a qualquer custo, e terá sido tarde. É inaceitável para uma nação ter de suportar um "Não renunciarei" em tamanha cara de pau e permanecer quieta. Temer deve ser alijado da presidência na primeira oportunidade, no mínimo como exemplo para que outros picaretas sequer pensem em repetir esse experiente no futuro. E, a repetirem, a culpa terá sido exclusivamente nossa.

   Depois de todas suas manobras verbais para explicar o inexplicável, se fosse um importador de vinhos, Michel Temer seria para mim uma mistura daquilo que mais critico e abomino. Um assemblage de "a" elevado a "b", onde "a" e "b" são duas importadoras quaisquer listadas a partir da quinta posição na tão mencionada por mim "lista comparativa da margens das importadoras",  publicada pelo sítio Enoeventos, original disponível aqui, e reproduda abaixo.
Ressalte-se que empresas privadas objetivam lucro, e não há nenhum problema nisso. Aliás, é a mola-mestra da economia. Nada contra! Mas quando a margem cobrada chega ao exorbitante, isso reflete diretamente no bolso do consumidor. No meu, no seu, no nosso. Então é minha opinião que o cidadão médio deve ser informado do quão pornográficas chegam a ser certas margens, e, sabendo disso, possa decidir de quem comprar. O imposto sobre bebidas no Brasil é de cerca de 65%. Não há porque pagarmos aqui mais do que 100% sobre o custo do mesmo produto "la fora". E olhe que "lá fora" também existe imposto sobre bebida!

Que vinho é esse?

Em matéria de hoje, UOL publica que "Aécio não achava que cassação ia até o fim no TSE". A certo ponto, em conversa reservada com o sr. Joesley Batista, a quem recebeu em seu quarto do hotel, Aécio Neves esperava Joesley com um vinho aberto, do qual o convidado prontamente se serviu ao entrar no quarto. 
   "Peguei um vinhozinho aqui, viu?", avisa o empresário.
   "OK, peguei para você, acabei de abrir, esse vinho é ruim para caralho, mas é o que tem", responde o senador, que está ao telefone. 
   "Não, tá bom demais", responde Joesley enquanto espera o interlocutor. [em itálico, trecho da reportagem original]







   O senador diz que é "ruim para c@r@#&o" - linguagem bem conveniente para um Senador da República, heim? - E o outro diz "Não, tá bom demais"!

   O inexistente leitor pode ser muita coisa, menos bobo. Sabe que dentre as especialidades de ambos não consta degustar vinho. Mas é de surpreender que o c@r@#&o de um é o bom demais de outro! No final, a pergunta que fica é:

Que vinho é esse?
Senhoras e senhores, aguardo seus palpites...