Monday, September 28, 2020

Quando a pesquisa e o cuidado falham...

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 Introito

   Depoimento: como sempre digo e repito, pauto a grande maioria das minhas compras por pesquisa antes da aquisição. A dado momento estava na loja de um conhecido que abrira a franquia Vinho e Ponto em S. Carlos. Sei que ela tem muitos vinhos a custo alto, e algumas (poucas) compras algo melhores. Ofertas com 40% ou 50% de desconto posicionam os vinhos no limite do razoável para quem tem o costume de fazer contas antes de comprar. Certa feita encontrei lá três safras de um vinho português reserva com 40% de desconto - o preço final girava em torno de R$ 150,00 a garrafa. Já vão alguns anos, e no momento tive a percepção de que, para um vinho reserva, seria razoável. Agora, na hora de beber a segunda garrafa do lote, descubro a realidade dos fatos.

Visconde de Borba Reserva 2008

Marcolino Sebo é um produtor do Alentejo estabelecido em 1975, produzindo boa variedade de linhas: Monte da Vaqueira, Visconde de Borba e Quinta da Pinheira, além de vinho licoroso, aguardentes e azeites. Veja aqui. Planta cepas tradicionais de Portugal e algumas internacionais. Visconde de Borba Reserva 2008 foi eleito em 2012, por Doug Frost, detentor de um título de Master of Wine, entre as 10 melhores compras dentre 50 boas opções em Portugal. Não é pouca coisa. Claro, os arrivistas vão contestar (rs). Responderemos quando o fizerem.

Visconde de Borba Reserva 2008 é um corte de Aragonez, Alicante Bouschet, Trincadeira e Tinta Caiada. Abriu com boa fruta vermelha no nariz. Boca pegada por taninos bem marcados, acidez presente, 14,5% de álcool bem integrado. A madeira também marca um pouco, sem excesso. O final é um pouco curto, mas não desaponta. A rola estava um tanto infiltrada. Não que desse para comprometer o vinho, mas fica o alerta. Seu preço segundo o sítio do produtor é 10,95 Euros, chegando ao mercado por 11,37 Euros, com impostos. Preciso dizer que é uma excelente compra por 11,00 Euros, para quem o compra nesse preço. No Brasil, atualmente, está à venda por R$ 140,00, 'promo' por R$ 129,90, e R$ 123,41 no boleto. Para estar R$ 150,00 há alguns anos, notamos que... estava um tanto caro, mesmo. Não nos esqueçamos que o preço em questão também era 'promo'. O preço normal - que se mantém até os dias de hoje, as com viés de alta, é de cerca de R$ 250,00. E ainda vai subir? Desanimado para escrever mais. O preço do produtor é 11,00 Euros. A loja compra com algum desconto, e põe a venda por praticamente o mesmo preço. Quanto a loja deve ter de margem? Us 30%? Significa preço fob (free on board - preço do vinho dentro do navio) de uns 7,00 Euros? Menos? O leitor tire as conclusões.



Sunday, September 27, 2020

Tempo de loucura

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 Introito

   Tempo de Loucura - Amok Time - é um episódio da série que se convencionou chamar clássica de Star Trek (Jornada nas Estrelas). Resumindo toscamente, é aquela estória de quando o Spock entra na puberdade 😂 e fica com um desejo incontido de acasalar. Sim, acasalar. Porque Vulcanos são 'lógicos'. Não amam; acasalam, para a reprodução da espécie. Nada muito diferente de hoje em dia, a menas (sic) de que o propósito continua sendo 'acasalar', mas não reprodutivamente falando. 

   Tempo de loucura também é esse momento histórico que vivemos, vinhonísticamente (sic) falando. A postagem anterior abordou o tema, mas não despertou-me tanto a atenção quanto esta nova experiência. Certa vez estava observando um relógio desses de ponteiros (diz-se analógico...). Tinha entrado muita poeira (ou fios de cabelo 🤮) no mecanismo. O ponteiro dos segundos emperrara, e ficava tentando avançar para o próximo segundo sem conseguir. A cada soquinho para frente, voltava para o segundo anterior. O tempo parece indeciso, pensei comigo mesmo, e procurei uma caneta para escrever a tirada que seguramente causaria furor (risos!) se bem apresentada em uma estória de ficção científica abordando a temática de viagens no tempo. Nunca escrevi, então recobro Borges que resenhava os romances que ele ideou (sic) sem jamais os escrever. Borges escrevia apenas contos curtos... Ei, deveria falar de vinho, não?

Quinta do Crasto Vinhas Velhas Reserva 2009

 Tem daqueles vinhos que marcam determinado ponto de transição em nossas vidas. Para mim, Crasto VV estava em um deles. Sempre foi um vinho algo custoso - então não cabia muito em meu bolso. Mas era assim: todo aniversário eu ganhava um vinho de menor valor, comprado na loja do representante dele em S. Carlos. Não dava outra: voltava lá com a garrafa, trocava por um Crasto VV e pagava a diferença. Normalmente, a metade. Não é que eu não gostasse do presente. É que ficava mais justificável para a então patrôa (sic) que eu havia gasto "x" em um vinho. Certo que tinha dado o outro de 'entrada' mas isso não precisava entrar na conta... 😌. Bem, após conhecer Crasto VV em uma degustação, sempre que podia, comprava uma garrafa. Nem que fosse uma por ano. Consumia alguma outra em confraria, se dava... Eram os anos 2008, 2009, e seu custo estava em torno de R$ 130,00-R$ 150,00. Isso dava mais de 65 dóla, à época. Acumulei algumas safras, e desde algum tempo venho bebendo uma garrafa aqui, outra ali

Quinta do Crasto Vinhas Velhas Reserva 2009 aberto em 2020 mostra fruta talvez em declínio, chocolate ou couro... Parece ter pedido a complexidade de quando era mais novo. Na boca, revelou-se o Crasto que impressionou desde sempre: especiaria, boa acidez, bom final, persistente... equilíbrio de satisfazer nossos... instintos mais primitivos (sic!).  A surpresa foi o nariz um pouco fraco. Se nada é perfeito, decepciona que envelheça (pouco) tão mal. A boca compensa muito - e é na boca que procuramos pela melhor harmonização. Casou bem com uma pizza de pepperoni No dia 1 e no dia 2 também (rs). É um vinho fácil de gostar - se você tem acesso ele. É um vinho que gostaria de beber mais. Não ao preço atual. Enoeventos, em sua série de levantamentos sobre as margens das importadoras, detectou o preço dos vinhos da importadora Qualimpor aumentando (em dóla) ano a ano. Eu mesmo, em alguma postagem perdida, e antes de conhecer essa valiosa contribuição à memória da evolução dos custos do vinho no Brasil, já comentei acreditar que os vinhos dessa importadora estavam ficando caros. Alguma hora encontro a postagem e indico. O título da postagem clarifica-se quando vamos procurar um pouco sobre o preço de Quinta do Crasto VV worldwide, ou, traduzindo, mundo afora... 🤣.
   Seu preço varia - e varia bem... - entre 20,00 e 40,00 dóla, com pico de 80,00. São mesmo tempos de loucura... 


   Wine-searcher registrou essa evolução. Ainda assim, notamos que um preço médio de 25 dóla aponta seu valor mais comum. Recobrando postagens recentes, a 25 dóla, Crasto VV chutaria de bota (sic) Chateau Pontesac e Cabeças do Reguengo Solstício... se as margens dos importadores fosse a mesma. Mas não o são. E não sendo (sic! rs!), vemos que Crasto VV custa a partir de R$ 400,00, 'nas melhores casas do ramo'. Pode atingir R$ 583,00. Pelo menos não podemos reclamar da falta de competição.

   Alguém reportou-me ter pago R$ 215,00 no PdA (Pão de Açúcar). Já reportei aqui o Xisto Roquette custar nessa loja e metade (ou quase) dos concorrentes. Então, essa parece ser a política da importadora: traz a preços altos (alta margem), e distribui entre os trouxas lojistas de sua carteira. Quando uma grande rede chega lá (em PT) para comprar um container, aí faz um preço 'camarada' - worldwide. A grande rede traz o produto para cá, coloca sua margem e o vinho está a prateleira, a preço 'matador'. Aos demais, a justa fama de careiros. Assim caminha o mercado.

   O leitor menos atento pode perguntar: 

   - Mas se Crasto VV dá uma bota em outros vinhos estabelecidos, ele deveria valer mais...

  Pondero: devagar! Crasto VV a 40 dóla tromba com o Vallado Field Blend - para citar um portuga - e, worlwide, começa a encontrar Barbarescos, brunelinhos, Chatenefinhos e outros mais. Aí sim falamos de livre concorrência a sério. E nessa seara é a vez de Crato VV tomar bota na fuça. É aquela estória: você ser o melhor em uma categoria não o qualifica à próxima. Veja quando tratamos de esportes de contato (luta - karatê, judô, MMA)... o sujeito é 'topo' em uma categoria e vai legar paulada na próxima. Pode até acertar uns roundhouse kick aqui e ali... mas vai levar muitas na orelha antes disso. Viva a livre concorrência - que ainda não chegou por aqui...

Wednesday, September 23, 2020

Estórias que contam

Introito

   Essa estória foi-me contada há muito tempo. Não tenho qualquer fonte comprobatória além de quem contou-me - não vem ao caso a pessoa. Foi há tanto tempo que minha percepção acerca da variação de margem entre importadores ainda estava em formação. Sabia que algo estava errado. Sentia na água... sentia na terra... sentia no ar... muito do que havia... estava escondido.. pois nenhum dos que poderiam perceber tinha o perfeito juízo.... 

   Era o tempo em que meu vinho preferido vinha da casa Tarapacá. Era o tempo em que um amigo perguntava, para si e para a turma, 'se um vinho de R$ 100,00 seria realmente muito melhor do que esses que bebemos', então na faixa de R$ 30,00-R$ 50,00. Em seu aniversário ele comprou um Tarapacá Etiqueta Negra, que custava R$ 100,00. Era um tempo em que o dóla valia menos de R$ 2,00... acredita? (para os mais velhos, poderia perguntar: - Lembra? 😖). Um Leon de Tarapacá, e seu próximo passo, o Tarapacá Gran Reserva custavam, mais ou menos, algo como R$ 26,00-R$ 28,00 e R$ 34,00-R$ 36,00, respectivamente. Seu importador exclusivo era (ainda é?) a Épice, empresa com larga representação entre o nordeste e o sudeste. Aconteceu do supermercado dos Irmãos Mufatto fizer uma proposta de compra - mediante comissão para o representante - para importar e distribuir o vinho no sul do país, onde sua rede é muito forte. O acordo foi feito com uma cláusula: que distribuíssem o vinho somente no sul. Acho que fizeram a compra e, com a chegada do final do mês, necessidade de fazer caixa, quiçá proximidade do abono - e estão querendo tirá-lo! roubá-lo da população - algum gerente deu uma bússola para os vendedores, e uma instrução: - Subam para São Paulo. Isso resultou no León vendido em S. Carlos a cerca de R$ 16,00, e o Gran Tarapacá a R$ 24,00. Como fez questão de ressaltar o comerciante que comprou 200 caixas de León à época, vendendo a tal preço, ele ainda tinha um lucro que julgava bastante bom...

   Outra estória também diz respeito aos Irmãos Muffato. Do primeiro episódio, fiquei com excelente impressão da rede. Ora, qualquer importador que pratique margens melhores para o consumidor tem minha simpatia. Não tem a sua também, ó inexistente leitor? Bem, há alguns anos, passando por uma loja da rede Savegnago aqui em S. Carlos, encontrei - para minha completa surpresa - toda uma linha de vinhos de Bordeaux com o selo dessse importador. Fiquei animado, embora alguns exemplares atingissem R$ 500,00, à época. Quinhentão não dava, mas tinha vários a R$ 200,00-R$ 250,00, o que, em confraria, era perfeitamente factível. Fotografei a prateleira toda e fui casa conferir o preço deles 'lá'. Completa decepção... os preços oscilavam entre 3x e 3,5x. Aí não...!😖 Que tristeza! Fiquei pensando o que havia acontecido. Muffato tinha perdido a mão? O Savegnago tinha comprado os vinhos a bom preço, mas tinha virado 'bandido', praticando margens muito altas? O que fazer? Deixar na prateleira, ora... E lá eles ficaram... por eras... tipo... 2 anos, ou mais 😂. Um belo dia, voltando a nova visita, encontro os vinhos todos em promoção, por preços muito menores. Os mais caros haviam sumido, mas muitos estavam na faixa de R$ 120,00-R$ 130,00 a uma margem de cerca de 70% do preço 'lá'.  Fiquei perguntando-me se os vinhos não tinham cozido lá, em pé... levei uma garrafa, chamei a caterva e... não tinham não, estavam bons! Comprei várias garrafas nessa faixa de preço. Para se ter uma ideia, o preço médio 'lá' (EUA) estava entre USD 20,00-USD 25,00, o que daria entre R$ 65,00-R$ 80,00...

   Atualmente o Savgnago tem trazido muitos (mas não todos!) vinhos da rede mineira Verdemar. Vários preços estão muito convidativos... Mas tem que ficar esperto. Todas as compras são boas, mas umas são muito melhores que outras!

Os animais são todos iguais, mas uns são mais iguais que outros

   Onde foi que ouvi isso, mesmo?

Chateau Potensac 2011

Chateau Potensac 2011 foi um dos vinhos que comprei na 'promo' do Savegnago. Como todos os demais rótulos, safra 2011. Dizem por aí que não foi uma grande safra. Hoje em dia, para bons produtores, uma safra não tão boa significa mais que o vinho está pronto para beber mais cedo, e talvez não tenha o potencial de guarda que seus irmãos de safras melhores. Certo, mas... ora... esses vinhos não vivem muito... mas quem vive? É classificado como um Cru Bourgeois Exceptionnels, a mais alta posição para um Bourgeois, da qual já comentei em algum lugar, há algum tempo... Cru Bourgeois foi uma tentativa de escalonar outros chateaus que ficaram fora da classificação de 1855, e acabou virando brazio. Tipo... em dado momento, representantes de alguns chateaus faziam parte do comitê avaliador... Parece que a lista for banida em meio a processos judiciais, essas coisas todas...  É um representante do Médoc, propriedade dos mesmos produtores do Château Léoville-Las Cases, esse sim um segundo vinhedo da classificação de 1855. Com 9 anos, Chateau Potensac apresenta alguma austeridade no paladar. Mesmo com uns 40 minutos de degustação, e após 3 horas degustado-o, apesar de apresentar nariz com boa fruta negra no bouquê, a boca causa um estranhamento. A pimenta da Cabernet aparece pouco; há uma pimenta mais presente nas laterais da língua. Traço da madeira? O rastro de chocolate é muito bom, o corpo é médio, persistência um pouco baixa - em comparação com o que tenho bebido ultimamente, claro... Tem boa acidez, e faz um conjunto razoável. Por 20 dólá (lá), você deveria experimentar uma garrafa. Fui dar uma sapeada por aí... encontrei a mesma safra ainda disponível aqui no brazio... R$ 600 conto! Aí não! Fazendo o dóla a R$ 6,00 x 20 dóla, dá R$ 120,00. 600tão é exatamente 5x! Estão fazendo parceira com o bolsonaro, e achando os brazileiros uns tontos?! Está certo, são uns tontos mesmo. 600tão neles! Paguei R$ 120,00, e o dóla já tinha passado de R$ 3,50... A Mistral faz excelentes promoções. Às vezes. Quando fizer uma, eu aviso.




Post scriptum

   Experimentei um pouco no dia seguinte. Continuou algo rústico, pegadão, sem melhorar muito - mas também não descambou. É um pegadão não enjoativo, esta uma qualidade de vinhos de menor padrão. Não. É um vinho legal, mas a faixa de R$ 120,00. Choca mesmo que esteja à venda pelo preço acima. Ainda não caiu-me a ficha. Fui olhar o rótulo novamente - estaria confundindo? Não... O La Chapelle de Potensac é um vinho mais simples, custa por volta de 10 dóla. Safras um pouco melhores do Chateau podem atingir 30 dóla. Ainda é muito distante de 600,00 Reais... Existem algumas opções melhores... Talvez umas 600...

Sunday, September 20, 2020

A hora e a vez do bom vinho

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 Introito

   Sabe quando o carro está com um grilo e o usuário vai deixando? O barulho vira um Grillóideo (coletivo, tomado por base o nome da subfamília) e o usuário continua lá... só abastecendo e dirigindo para frente. Daí o veículo funde o motor, e o motorista sai gritando e pedindo socorro. Pois é, meu pisca-alerta de vinho bom já estava aceso há algum tempo. Finalmente decidi que era tempo de uma revisão geral naquilo que entrava em minha taça. Por vários motivos já vinha pensando nele. Seja por conversas com o Jairo, seja por alguma sanha qualquer, ele estava na mira e minha única dúvida era o acompanhamento. Para desespero dos detratores e felicidade geral dos público fiel, deu tudo certo.

Gratallops

Gratallops é uma cidadezinha perdida no desconhecido condado do Priorato, parte da separatista Catalunha no obscuro Reino de España. Tá, risca essa última parte. A Espanha não é desconhecida. Aliás, está ali, entre o terceiro e quarto lugares entre os melhores produtores de vinho do mundo. Com França e Itália nos dois primeiros postos desde sempre, disputar a terceira posição não é pouca coisa. Durante muito tempo o Priorato passou desapercebido tanto ao grande público quanto a outros produtores espanhóis, a despeito de eventualmente produzir vinhos surpreendentemente bons, como o Cellers de Scala Dei na safra de 1974, segundo nos conta esta página. Foi René Barbier III, descendente de vinicultores franceses quem, em 1979, fundou Clos Mogador a partir de uma plantação de antigas vinhas abandonada. Alguns anos depois, Gratallops marcava seu lugar no mapa do vinho.

Clos Mogador

Clos Mogador é um vinho classificado como DOCa - Denominação de Origem Calificada. Significa 'apenas' que pertence à elite dos vinhos espanhóis. É um corte, de Garnacha, Cabernet Sauvignon, Syrah e Carinena, e não sei se varia de ano para ano. Em sua safra 2007, recebeu 96 pontos do Parker e 88 da Wine Expectador, o que apenas demonstra que ambos deveriam estar no pelourinho. Nem tanto ao céu, nem tanto à terra. Mas não se engane e leitor mais desatento. É um grande vinho. Logo que abri, experimentei um dedal. Lembrou a opulência do Malleolus de Sanchomartin 2004 que bebi com Don Flavitxo nos idos de '13. Opa! Devagar no andor! Não lembrou o Malleolus, que é um Ribeira. Lembrou - lembrou! - a opulência deste. Fica atrás, um tanto atrás (mas não muito!), e, lembrando de uma experiência aqui, outra ali, tipo La Rioja Alta, aponta para uma característica comum com os grandes espanhóis. Não é que eu conheça muito... é que - acho - começo a formar um padrão para reconhecer espanhóis de ponta.

Clos Mogador 2007

Encontrei que é um corte 40% Garnacha, 20% Carineña, 20% Syrah e 20% Cabernet Sauvignon, mas não a tenho como oficial. Buquê impressionante, muita fruta - acho mesmo que vermelha e negra -, café, chocolate. Sempre confundo ambos (risos), mas estão distintamente bem presentes. Boca com ótima persistência, taninos sedosos, acidez marcada, madeira e álcool equilibrados. Um toque mineral, 14,5% de álcool que não aparecem, tão bem integrados. Combinou muito bem com um filé ao molho madeira. Para abrir um vinho como esse, fui às fontes. Diversos comentários no CellarTracker deram as dicas. Alguém queixou-se de que a rolha quebrou-se na extração. Fui veiaco (sic! rs!), já com o saca rôlhas de garfo, e ainda assim a rolha também quebrou! Vide a foto. Não estava infiltrada, mas de fato não suportou a tensão. Consegui terminar de retirá-la com o saca rolhas de dois estágios. Alguém comentou que aerou por duas horas. Experimentei logo ao abrir, mas segui o exemplo. Ótima dica; espanhóis muitas vezes não precisam de tanta aeração. Alguém mencionou ter experimentado o vinho durante dois dias. Ele é bem pegado, não darei conta da garrafa neste domingo. Segunda terá o devido segundo tempo. Tentarei uma pizza de Pepperoni. A ver. Comprei há muito tempo, dóla a R$ 2,00, o que coloca seu preço a ridículos R$ 150,00. Custa por aí R$ 1.150,00, ou algo assim. Claro que não dá pro meu bolso. A USD 75,00, com o atual dóla, também não dá muito não. A um dóla mais baixo, dará. Espero ter oportunidade de trazer outra garrafa, nos anos vindouros. Nessa faixa de preço, tem a obrigação de ser felicidade engarrafada. A parte boa é que Clos Mogador vai além disso. Com sobras.

Post scriptum

   Como comentado, deixei um pouco do vinho para o dia seguinte. Continuou muito bom; no nariz, a fruta vermelha predominou, enquanto na boca o chocolate apareceu mais. Continuou com gracioso equilíbrio, enchendo a boca. Decididamente é um vinho que repetiria a compra, se tivesse oportunidade.

Roquette e Cazes 2008

 Introito

   Há pouco (maio) bebi um Roquette, na safra 2006. Preocupado com sua longevidade, e ainda tendo uma garrafa da safra 2008, achei que poderia não fazer-me de rogado e mandar vê-la (sic) no curto prazo. Lembrou os tempos da inflação, do overnight, aquelas estórias... cuidado para que não voltem! Estamos à beira! Mais uma oportunidade e o canalha a quem demos permissão para governar o país vai nos atacar com todas as suas forças advinda das montanhas do obscurantismo e das colinas da ignorância. Só um fato não faz-me lamentar o eventual voto nulo: o outro lado já teria atirado o país em situação mas calamitosa. O que não justifica mais o voto dado uma vez ao idiota. Na falta de melhor opção, volto ao voto nulo, como tenho praticado desde há vários pleitos majoritários - e os tolinhos dos amigos me criticavam porque não votei no alquimim na 'primeira vez' dele... tolinhos... percebem agora?! Este blog fala de vinho, mas nunca se esquece do nosso bem maior, a cidadania. Voltemos aos vinhos.

O vinho português

Recentemente abordei a questão da classificação e um pouco da legislação do vinho em Portugal. Não vale a pena ficar repetindo. O vinho português - para mim - sempre gozou de boa fama por aqui. Graças mais a importadores 'independentes', ou, durante certo tempo, até às boas ofertas aqui e ali, possivelmente estimuladas pela concorrência sul americana, com vinhos (ainda) relativamente baratos. Os portugueses pareciam os únicos melhor europeus bem colocados na competição pelo consumidor. Falo de 2009, 2010,... de um mercado de 10 anos atrás... Outro dóla, também... Lembra? R$ 2,00/2,20... 2009/10 foram os anos posteriores à crise mundial; recordo-me de ter ouvido em podcast o pronunciamento do ministro da agricultura de Portugal dizendo que a única saído dos produtores de vinho locais era melhorar a qualidade e procurar o mercado mundial - para quem se lembra, Portugal foi um dos países mais afetados pela crise. Durante bom tempo, os vinhos portugueses foram uma opção honesta até por estas terras. A bem da verdade, continuam sendo. Mas atualmente  tem que suar a camisa...😓

Roquette e Cazes

Roquette e Cazes é produzido pelas famílias Jorge Roquette, da Quinta do Crasto, e Jean-Michel Cazes, do Château Lynch-Bages. O sítio explica a história toda. Roquette e Cazes tem um preço honesto lá fora. Fica em torno de 22 dóla nas melhores lojas do ramo. Duriense, é um corte das tradicionais Tourigas, Nacional e Franca, e da Tinta Roriz. Este 2008 está em condições bem melhores que o '06, mas convenhamos que está bom para ser consumido. Não guardaria mais. Então vamos lá, às perguntas inconvenientes que este enochato gosta de fazer. O Château Lynch-Bages é um vinho com potencial de guarda de 30 anos. Foram inventar de fazer uma junção para produzir um vinho que mal dura 10, e cujo ícone (Xisto) chega mal aos 15. Veja aqui! Pow! (rs!), o que esses caras foram até outras terras para produzir vinhos que não dão no mesmo couro? Ainda mais no caso do Xisto, que mal chega aos 15 anos, e é vendido a 70 Euros lá, R$ 1.200,00 cá? Não percamos de vista que o Douro tem potencial de produzir vinhos muito mais longevos! Veja aqui, para não precisar ir mais longe (risos!).

Bom, falemos do vinho. Bebi ao longo de 3 horas, pouco mais, e as notas são destes momentos, mais para o final. Observe-se que no início estava já bem agradável. Roquette e Cazes 2008 tem nariz a couro, chocolate (café?), especiarias, ainda preserva boa fruta. Na boca, boa presença de taninos - bem redondos - acidez agradável,  bem marcada, corpo médio. Álcool pega um pouco, o que não compromete no conjunto da obra - o pouco excesso está bem discreto. Deixando claro: longe de ser grosseiro; só aparece se prestar atenção. Continua um bom vinho, embora seu consumo para os próximos semestres - já não arrisco anos 🤨- deva ser observado. Guardando muito mais, o risco será pegar um produto já em decadência... o leitor fique à vontade para escolher. Para 2020, está bastante bom. Casou muito bem com um fibim (filé mignon) ao milho madeira. Seu preço anda proibitivo: R$ 300,00, em média. Como custa cerca de 22 dóla 'lá', e muitas das minhas garrafas comprei no Duty Free, que até pode ser Duty, mas nunca Free (tem alguma Duty, por mais obscura que seja. Duty Brazio?) - já não compro lá há muitos e muitos anos - a cerca de 28 dóla, x 2,00 (dóla de antanho) = R$ 56,00...  lembre que custa 22,00 'lá' em pleno 2020! Hoje, R$ 300,00 aqui, é o preço de rua! O comentário final é assim: o produtor é proprietário da importadora oficial no Brasil (Qualimpor). O dóla sai momentaneamente de controle e não fazem o menor esforço para praticar um preço mais camarada para o consumidor? Nenhum ganho baseado no fato de produtor e importador fazerem parte do mesmo grupo?! Precisamos notar, sobretudo, que essa fase é passageira - ou assim espero. Mas voltando, isso não pode passar em águas brandas. Não fazem nenhum esforço para manter um preço atraente para mim, para você, para o  consumidor em geral?  Lamento... não são meus... meus... meus... parceiros. Sempre bom lembrar que este blog faz perguntas inconvenientes... muitas vezes, para os produtores/representantes, em prol do consumidor. E apenas isso. O espaço é aberto à discussão. Mas idiotas serão rebatidas com veemência.

Sunday, September 13, 2020

La Cave des Hautes-Côtes Beaune 2014

Introito

   Dizem por aí que Borgonhas são vinhos para "iniciados", jamais para iniciantes. O primeiro contato mais sério que tive com eles está descrito na postagem Meu primeiro Valisére. Não que o tenha usado, não, não... não é isso. Foi só uma comparação. Quem leu, sabe; quem ler, saberá. Os detratores que às vezes invadem o espaço, podem chamar-me de traveco. É o mais próximo de um argumento que conseguirão arguir: - Se usou sutiã, é traveco (refiro-me à pobre discussão levada a cabo por um detrator. Primor do discurso vazio). Voltando... a Borgonha é onde produz-se o melhor vinho do mundo. Não, o melhor vinho do mundo não é o Sassicaia , como pretendem alguns - tipo aqueles que comentam que o seu Sassicaia está estragado se você não fala absolutamente bem dele na postagem. Pow deve ter uns 300 Borgonhas melhores na frente dele. Brancos, claro. Imagine tintos. Voltando novamente... A Borgonha é a região onde nota-se a expressão máxima da Pinot Noir. Dá para aprender muito sobre a região - sua história, desde a definição de terrenos uniformes para o plantio pelos monges Cisterciences até os dias atuais - no livro A História do Romanée-Conti, do Maximillian Potter. Na verdade, nunca vi um livro tão laudatório como esse, verdadeiro exemplo do pior pseudo-jornalismo possível. Mas os dados históricos devem ser precisos - o NY Times pode não ser lá grande coisa, mas não erraria tanto ao dar a visibilidade que deu ao livro. - Precisava (sic) fazer uma resenha dele, qualquer hora. A ideia de lê-lo novamente é um grande motivador para que isso não aconteça... neeeeext!

Hautes-Côtes de Beaunes

Hautes Côtes de Beaunes é uma denominação genérica na Borgonha. Criada recentemente (década de 60), abarca as terras altas, depois das escarpas da Côte d'Or. O problema dessa AoC, que não possui qualquer vinhedo Premier Cru, está ligado à posição geográfica, que impede o completo amadurecimento das uvas e, portanto, seus vinhos não possuem todo o caráter e estrutura de borgonhas melhores. Nem por isso trata-se de uma região relegada. Produtores consagrados como Thibault Liger-Belair e A.F. Gros produzem vinho com uvas dessa região. 

Nuiton-Beaunoy

Nuiton-Beaunoy é uma cooperativa que conta com aproximadamente 80 membros (aqui). Deixemos claro que os cooperados em si possuem vinhedos Premier Cru, mas Hautes-Côtes de Beaunes não é uma delas. Dentre sua grande produção, encontra-se La Cave des Hautes-Côtes Beaune, um vinho com nariz à chocolate e fruta vermelha. Na boca, tem - para a média de um vinho europeu - boa estrutura, com acidez presente, álcool contido (13% que não aparece), tanino já 'domado', significando que está pronto para beber. É um grande vinho? Não. É felicidade engarrafada? Não. É um bom Borgonha? Não vou responder. "Bons" Borgonhas começam a aparecer a custo de USD 100,00 (lá fora), dizem. O leitor precisa compreender que Borgonhas são vinhos um pouco fora do padrão. Fechando os olhos: dá para reconhecer que Hautes-Côtes de Beaunes é um Borgonha (tem algo da tipicidade). Dá para reconhecer que Hautes-Côtes de Beaunes é um bom vinho. Não arrisco dizer que seja um 'bom Borgonha' em seu sentido mais amplo. Mas tenho certeza - certeza! - de que mata no peito e baixa pro gramado 105% dos vinhos sul-americanos que atualmente são vendidos por até o dobro de seu preço. Recobrando o início: Borgonhas são vinhos para iniciados, não para iniciantes. Nesse contexto, Hautes-Côtes de Beaunes é um bom vinho de introdução aos Borgonhas, para quem nunca bebeu um. 
Esse é um assunto complexo, o internauta interessado deve ter paciência e disposição para entender o que eu - cheio de dedos - estou tendo dizer. O mais dramático é um comentário na postagem Meu Primeiro Valisére, feito por quem entende muito mais do que eu. A postagem é de 2013. O dóla estava cerca de R$ 2,50: Dá para encontrar bons borgonhas abaixo de 200, mesmo que de entrada. Percebe? Atualmente - passados 7 anos, dóla nas alturas - Hautes-Côtes de Beaunes custa R$ 230,00 (e abaixo de R$ 200,00, para sócios do enoclube da importadora). É vendido pela Enoeventos. Tenho falado muito dessa importadora de uns tempos para cá. Comentei o Terres Secrètes Pouilly-Fuissé e os bons Equinócio e Solstício. Apenas enfatizo: tenho comprado vinhos por importadora - as que praticam bons preços. E tenho dados as dicas: a Clarets (do Côte de Léchet) os tem, se você pega na 'promo'. A Cellar tem sempre bons preços (jamais deixe de comparar com o preço 'lá', mas raramente decepciona). A Casa do Vinho de BH também. Idem a Lovino. Sempre, sempre, cuidado. Seja cidadão. Policie. Se estiver alto, deixe na prateleira. 

Ah, sim:  Nuiton-Beaunoy Bourgogne Hautes Cotes de Beaune tem preço médio de USD 26,00 lá fora. Fazendo as contas, USD 26,00 x R$ 4,50 = R$117,00. Note que na minha cabeça, o dóla vale R$ 4,00 + diferença turismo + 6,38% (e agradeça a boa e velha Dilma por isso) = R$ 4,50. Tenho 'estoques reguladores' de vinho, não preciso comprar a bebida se o preço aqui não estiver muito, mas muito bom, bom a ponto de satisfazer essa minha 'exigência' de cotar o dóla a R$ 4,50 e comparar o preço aqui. Portanto, com o dóla a R$ 4,50, esse vinho tem preço 'lá' de R$ 117,00, com preço 'cá' de R$ 230,00/190,00. Boa compra. Se o 'seu' dóla está R$ 6,00, ela fica melhor ainda. E sendo um borgoinha, então...

Saturday, September 12, 2020

La Chablisienne Chablis Premier Cru Côte de Léchet 2016

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Introito

   A Borgonha é uma região vitivinícola que estende-se, de norte a sul, entre as cidades francesas de Dijon e Lyon. A ordem de monges cistercienses já estava estabelecida ali lá pelo ano 1.100. Ramo dos Beneditinos, eles seguiam o preceito máximo de São Benedito, seu patriarca: ora et labora (reze e trabalhe). Claro, muitos mosteiros tinham como labor o trabalho nas vinhas, meticulosamente cuidadas, para que pudessem colher as melhores uvas e consagrá-las ao bom Deus em suas missas diárias. Logicamente o excesso - uns 99%, acho - acabava por ser consumida fora dos cultos religiosos. Eu decididamente não estou disposto a enfrentar uma situação como a dos heroicos jornalistas do Charlie Hebdo em 2015, de modo que atento o leitor para o meu acho, no parágrafo anterior... Eu posso estar errado. Mas acho que não... 🙃
   A principal cepa branca de Borgonha é a Chardonnay. Em alguma região perdida (Saint-Bris) cultiva-se a Sauvignon Blanc, e em algum lugar mais perdido ainda, há espaço para a Aligoté.
   Chablis está dividida entre várias regiões Premier Cru e Grand Cru, além, claro, das regiões mais simples. Uma boa fonte de informações para o iniciantes está aqui. O Chablis é normalmente um vinho seco, fresco, bem mineral e com boa acidez. Em suas versões mais simples deve ser consumido jovem, mas as produções mais sérias, nos melhores vinhedos, podem precisar de uma década para atingir o ápice, e manter-se por igual período. 

La Chablisienne

La Chablisienne é a maior e mais séria cooperativa da região. Fundada em 1923 como Société Coopérative La Chablisienne, conta atualmente com cerca de 250 cooperados que produzem vinhos de uma extensa gama de regiões e vinhedos específicos. É tida como a melhor relação custo-benefício de toda Chablis. Seu sítio é bem estruturado, e pode ser apreciado aqui.

La Chablisienne Chablis Premier Cru Côte de Léchet 2016

   Côte de Léchet produz vinhos Premier-Cru, significando uma qualidade bastante elevada. Não é o topo da excelência, mas é o suficiente para assegurar que a América do Sul precisará estudar (e rezar, e trabalhar...) por mais 200 anos se aspira atingir nível próximo. E na minha opinião ainda assim não vai... Mas bem, Côte de Léchet tem uma corzinha na qual não dá pra creditar, olhando meio longe, a menor qualidade. É quase transparente...  água com um pózinho para deixar mais turvo... (sic).  Aí vem o nariz, e o sujeito precisa se arrumar dentro da camisa. Bem floral, maçã por cima e algo mais que não identifiquei. É um dos problemas da pandemia: em confraria, os confrades sugerem outras notas, e de repente nosso cérebro faz a conexão. Sozinho, ficamos pensando: mas o que é isso, mesmo? 
A boca também é bastante boa: fica bem marcada, traços de limão são os mais evidentes. Boa persistência, acidez muito presente, muito frescor. Combinou muito bem com lombo canadense, com peito de peru, com Briê e com salsicha de vitela. Comprado em 'promo'(ção) no ano passado, a R$ 160,00, é outro exemplo de felicidade engarrafada que apresento no blog. Fazendo jus, dentre o que experimentei em bastante tempo, a até R$ 200,00 ('promo' ou não), é de longe o exemplo mais perfeito, completo e acabado de felicidade engarrafada que já analisei. Duro é pagar seu preço cheio, atualmente na ordem de R$ 380,00. Aí não... 

Provocando (como sempre), se formos comparar com um Sol de Sol - venderam-me certa feita como "El mejor Chardonnay de Chile", a USD 32,00 lá, a atualmente a R$ 300,00 aqui, então por R$ 380,00  Côte de Léchet está barato. Claro que não é assim. Sol de Sol é que não vale mais do que R$ 50,00 (posto aqui), e, enfatizo, isso porque eu simpatizo muito com o Chile em geral e com Sol de Sol e particular, o que exacerba minha generosidade (mas não minha capacidade analítica!), e acho que alguns brancos chilenos são infinitamente melhores que os tintos, proporcionalmente falando. Qualquer centavo acima disso deve-se ao marketing e a consumidores desavisados e desprotegidos. Existem dezenas de vinhos ao estilo e qualidade de Sol de Sol mundo afora - daí minha generosidade em simpatizar com ele - mas são poucos, muito poucos, os que rivalizam com um Chablizinho como  Côte de Léchet, que tem uma produção minúscula. O mundo tem 8.000.000.000 de consumidores em potencial. Vinhos equivalentes a Sol de Sol são muitos. Equivalentes a Côte de Léchet, são bem poucos. Entenda-se por que este pode custar mais. É mais com menos como o Chuck Norris: ele pode dividir por zero...

Monday, September 7, 2020

Cabeças do Reguengo Solstício 2016

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Introito

   Ontem mesmo falei desse produtor, tendo degustado seu vinho branco, Equinócio. Acho que sua apresentação está mais do que feita (aqui), mas ainda tenho um comentário adicional. As garrafas desses vinhos (Equinócio e Solstício) são lacradas com cera, o que lhes confere um charme a mais. E uma sujeita enorme se o caboclo não estiver acostumado a lidar com esse tipo de lacre. Tejam avisados (sic). Uma sugestão é colocar a garrafa na geladeira. Ao tirá-la, a cera estará mais quebradiça e fácil de remover... Acho que desta vez não farei mais tantos comentários comparativos. Para o leitor mais exigente - ou para meus detratores - não farei a mesma comparação com o Private Selection tinto de Esporão, porque para tintos o Esporão encontra-se em outra faixa de preço - e de qualidade, também.

Cabeças do Reguengo Solstício 2016

   Pelo sítio do importador, ficamos sabendo que Solstício é um corte não-linear (rs) de Alicante Bouschet, Aragonez, Castelão, Trincadeira e Tinta Caiada, nossas velhas conhecidas. Menos a última, talvez... 😮. Mas, lá no fundo, lá no fundo... bem, (E) lá ao Fundo Vivem os Wubs, dizia PKD, mas voltando (rs), parece que o corte completa-se com partes de Tinta de Olho Branco, Grand Noir, Moreto, Tinta Grossa, Corropio, Tinta Francesa, Tinta Carvalha e Moscatel Preto. Pow... aí complicou, não é mesmo? Não compromete o resultado final, com boa fruta vermelha, chocolate (café? - rs) e algo a mais que dá uma 'presença' no nariz, mas não consegui identificar... A boca é mais marcante. Resultado para o bem da boa acidez e para o mal dos taninos pegando um pouquinho - vai arredondar com mais um um ou dois anos - Álcool não parece (13%, bem integrado), madeira discreta. Aquele doce que é-me um pouco típico dos portugueses também está discreto. Não sei se chutaria 'lusitano', se servido às cegas. Sei que combinou bem com uma maminha assada e servida com um queijo por cima. É um vinho dispendioso em Portugal: 25 a 30 euros. Principalmente se comparado com outro vinho tinto (e igualmente field blend) que é-me muito caro, o  Vallado Reserva, que está na faixa de 30 a 40 euros e é muito mais vinho. Bem, Vallado é muito mais vinho do que muito vinho em Portugal, e a competição fica difícil para praticamente todos os demais produtores que conheço. A parte boa é que Solstício custa aqui R$ 180,00, enquanto o Vallado está saindo a partir de R$ 340,00... A margem do importador mata, heim? No caso de Solstício, ela é mais do que honesta. Se o Vallado fosse competitivo aqui, não teria para Solstício - e talvez para muito poucos outros portugueses, pelos seus preços médios. Infelizmente está longe de ser o caso. No quesito 'boa compra', Solstício vale quanto pesa.

Sunday, September 6, 2020

Cabeças do Reguengo Equinócio 2017

Introito

   A Quinta Cabeças do Reguengo é uma vinícola estabelecida no Alentejo, uma região onde tudo é secular - senão milenar -  e que já acumula impressionantes 11 anos de existência. O leitor não leu errado: 11 😅. Contudo, não se engane o leitor mais apressado: todo o vinhedo do produtor é de vinhas centenárias, e seus vinhos, field blends. É mais ou menos assim (rindo): há certo tempo, o então patriarca conhecia cada pé da plantação pelo nome, variedade e número de seguro social. Mas veio a falecer sem passar essa informação para o herdeiro, que então perdeu o controle de quem era o quê 🙄... a solução é dizer que o vinhedo é um field blend... uma... uma... uma... mistura do campo...(!) Não se aflija o leitor. A tecnologia de hoje permite que um exame minucioso de DNA identifique cada pé. Mas ei... para quê tirar a magia e o encanto do vinhedo? (fora o custo astronômico, claro). Deixa pra lá 😲... Bem, a estória toda está explicada no sítio do produtor, aqui.

Vinhos e maioneses

   Equinócio (branco) faz - pelo menos quanto ao nome - um belo par com Solstício (tinto). Além de outros vinhos mais simples, produzem pelo método clássico um espumante 100% Chardonnay, Respiro, vendido a 31 euros. Olha, já experimentei espumante português. O leitor já? Dá pra comparar com champagnes franceses? Não sei... conheço pouco os champagnes... mas dá pra enterrar de vez o mito ridículo e ultrapassado de que o espumante brasileiro é o segundo melhor do mundo. Não é anti-patriotismo. Pelo contrário. Ter coragem de apontar o problema quando todos os demais parecem cegos - absolutamente cegos - para a questão é um aspecto de absoluto patriotismo. Chegará o dia (ou não - rs!) que teremos um espumante tão bom quanto o português. Claro, o preço não será sequer próximo ao praticado por Cabeças do Reguengo em Portugal (acho que para a qualidade aumentar tanto, nossos produtores pedirão R$ 5.0000,00, a preço de hoje, por essa hipotética garrafa)... de maneira que não, não terei a oportunidade de expressar meu patriotismo levando uma garrafa dessas para outras terras e apresentá-la cheio de orgulho como um produto do meu país. Viajei na maionese... 🙄 Falemos de vinho...

Equinócio

   Equinócio é um fenômeno astronômico onde o dia e a noite possuem a mesma duração. Solstício (de inverno ou de verão) indica o dia do ano mais curto ou longo, respectivamente. Equinócio de Cabeças do Reguengo indica para o bebum o caminho da felicidade. Nariz bem cítrico, com algum abacaxi mais evidente, apresenta boca com alguma manteiga, o que torna-o boa combinação para uma salsicha de vitela e para peito de peru, e menos (mas pouco menos) para um queijo Brie. Mas casa, também. Tem corpo médio, bom final, permanência não tão marcante mas presente - você lembra-se dela depois que ele passou pela garganta... Li em algum lugar que deveria ser servido a 12-14 graus. Acho que não... um pouco mais, e o buquê fica mais atraente...
   Sua composição, segundo o sítio do representante brasileiro, é
Arinto, Assario, Fernão Pires, Roupeiro, Alicante Branco, Rabo de Ovelha, Tamarez, Manteúdo, Uva Rei, Uva Formosa, Vale Grosso, Salsaparrilha e mais (!)
Como dizia aquele filme, O mundo não é o bastante... (!). Imagine-se chegando em casa e dizendo para a patrôa (sic): Acabei com um Rabo de Ovelha que estava muito é bom demais...
   O leitor desavisado deve saber que adoro uma polêmica. E adoro também - afinal, sou um patriota! - avisar meus irmãos de armas e taças sobre o estado-da-arte, ou o preço-do-estado, ou o estado-do-preço que vamos pagando pelo vinho por aqui. Pensei em outro vinho branco Português do qual já bebi várias garrafas - adquiridas certa feita a preço 'de ocasião' - e que foi durante algum tempo um dos meus brancos preferidos. Refiro-me ao Esporão Private Selection branco. Fez tempo que não bebo desse Esporão. Puxando pela memória - são vinhos de características bem diferentes... - pareceu-me estariam quase em mesmo patamar de qualidade: bom equilíbrio, boa presença na boca... Esporão deve ganhar no nariz... Acho que está um degrau acima de Equinócio - mas só a prova de duas garrafas e duas taças poderia tirar essa dúvida. Vejamos seus preços.

Em Portugal
No sítio Wines of Portugal
      Equinócio                                     --> 27,95 €
      Esporão Private Selection  White --> 21,82 €

No sítio Portugal Vineyards
      Equinócio                                     --> 25,09 €
      Esporão Private Selection White --> 28,18 €

No sítio do produtor, Equinócio 2016 é vendido por módicos 22,00 € (iva incluido)

No Brasil
Esporão Private Selection é encontrado em diversas safras e lojas
      No Espaço DOC    a             R$ 269,00
      Na Fine Wines       a             R$ 249,00
      No Empório Frei Caneca a   R$ 249,00
      Na Mega Adega Canguru a  R$ 239,99
      No Vinhos Mundi     a          R$ 259,00

Cabeças do Reguengo Equinócio (safra 2017) é encontrado apenas...
      Na Importadora Enoeventos  a  R$ 180,00

   O degrau virou uma escadaria! Até porque se você for membro do clube do vinho da importadora a garrafa de Equinócio sai a R$ 150,00, e aí dá cenzão de diferença! Note o leitor que a diferença entre os preços, de uns 5 ou 6 euros (tanto faz a favor de quem...) virou... cenzão estas terras. O euro tá cotado a 20tão! A decepção apenas cresce quando notamos que a importadora de Private Selection (Qualimpor) é de propriedade dos próprios produtores dos vinhos de Crasto e Esporão. Repetindo meu mantra, nada contra essas pessoas. Tudo contra sua política de preços, que é escorchante, óbvio traço do ranço colonialista que ainda repercute em algumas famílias 'quatrocentonas' daqui e 'delá' (sic). 
   Conhece Private Selection? Gosta? Dê uma chance a Equinócio. Se o leitor for conhecedor de vinho, ele pode até não gostar de Equinócio. Mas arrepender-se ao experimentá-lo, não acontecerá.

Tuesday, September 1, 2020

Tinto da Ânfora 2016

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Introito

   Já bebi muitos e muitos vinhos da Bacalhôa. E ainda tenho alguns na prateleira. São vinhos de boa estrutura, boa fruta, alegres. Em postagens passadas falei sobre o Quinta da Bacalhôa aqui e sobre o Quinta do Carmo aqui. Faltava falar deste, que já esteve entre meus preferidos. Abordaremos ainda, claro, o estado da arte (preço) por aqui...

Tinto da Ânfora

   Tinto da Ânfora é produzido no Alentejo e - pasme - atualmente não é 'encontrável' no sítio do produtor. Batendo com os nós dos dedos na mesa de madeira: - Alô, Alô, pessoal, vamos acordar... Isso está parecendo 'Brasil'... vamos organizar melhor esse sítio...
   Essa garrafa foi adquirida na Divino, loja de S. Carlos que não tenho certeza se sobreviveu à pandemia. Se não tiver sobrevivido, será uma pena. Tinto da Ânfora é
um corte de Aragonês, Touriga Nacional, Trincadeira e Cabernet Sauvignon. Custa entre USD 8.00 e USD 9,30 em Portugal, e entre USD 22,00 e USD 33,00 aqui. Nenhuma novidade, portanto. Não costumo comprar vinhos nesse patamar de relação 'cá' x 'lá', mas era algum evento, e tenho por hábito 'dar uma força' para a loja. Não sem antes discorrer minha boçalidade (rs) num monólogo terrivelmente monótono sobre esse tema que, claro, o(a) proprietário(a) sempre ouve com a maior atenção e desespero. Bem, Tinto da Ânfora tem fruta em abundância, tabaco (café?), aquele travo um pouquinho doce - mas nunca enjoativo - dos portugueses em corpo médio, o que torna-o bom parceiro para minha adorada pizza de pepperoni. Tem um pouco de pimenta mais perceptível na lateral da língua do que na ponta... precisa prestar atenção para pegar essa assinatura da Cabernet Sauvignon que está presente sim, mas um pouco mascarada... Fico pensando nesse vinho ao preço de 8 moedas. O que nós compramos aqui por 8 moedas nossas? Não dá para comprar um Sangue de Boi (custa a partir de 12 moedas), que até não é um vinho ruim - ou melhor... não será (acho) ruim no dia em que for vinho... 🙄.