Monday, October 25, 2021

Pré-comemoração nada... comemoração mesmo

Introito

   A vestal do templo Luciana chamou a turma para uma comemoração adiantada do meu aniversário, que acontecerá domingo próximo. Infelizmente estamos com membros em tratamento médico; outros tinham compromisso previamente marcado. Alguns não deram as caras mesmo, e nos reunimos a Luciana, o Gustavo e este homenageado. Sempre acho assim: quem não veio, perdeu. Talvez não muita coisa - a leitura dirá... - mas penso que sim 😒.

Bacalhau com vinho branco

Bacalhau havia sido a escolha. Li que Merlots poderiam ser boa companhia, mas tenho poucos 100%, e não me pareciam adequados. Pensei em um branco que havia experimentado há pouco, lembrei-me de outra opção que poderia ser um desafio e por fim escolhi a terceira garrafa mais como um calibre, por tratar-se de cepa bem conhecida.

Servi primeiramente um Domaine du Clos Naudin Vouvray Demi- Sec 2009, lavra do enólogo Philippe Foreau. O respeitado Domaine fundado pelo patriarca em 1923 chega à terceira geração. Está localizado em Vouvray, considerado por muitos a melhor região de brancos dentro de Touraine, no Vale do Loire. Outro grande produtor é do Domaine Huet, fundada em 1928 pelo Gaston Huet e seu pai, Victor. Gaston é personagem do livro histórico Vinho e Guerra, que resenhei e mostrei um excerto. A principal cepa branca do Loire é a Chenin Blanc, que produz um dos vinhos mais emblemáticos da França. Basta ver que um vinho do Huet foi considerado em 2005 como um dos 100 melhores já produzidos. Naudin não é Huet, mas é necessário dizer que é consagrado. O que tento passar ao leitor é a importância da região e como seus vinhos merecem respeito. O nariz adianta o doce da boca, com notas cítricas de frutas brancas e mais complexidade que não peguei. Boca com mineralidade e ótima acidez, além do dulçor muito equilibrado e sedutor. Não nos cansamos de beber, não enjoa. Combinou - para minha surpresa - muito bem com entradas de Parma e salame. Melhor do que com o bacalhau, inclusive. A harmonização com este ficou para o segundo vinho, o Falcoaria Vinhas Velhas 2016, já postado anteriormente. Também com notas cítricas e minerais, mas com mais corpo, fez ótima figura. Sua uva é a Fernão Pires, e como comentado gera vinhos mais pegados. Talvez por isso tenha casado melhor. O Hacienda de Arínzano branco 2018, comentado aqui, não teve a mesma sorte. Na altura de seu serviço estávamos entretidos com o bacalhau, e não voltamos às entradas. É um Chardonay que não faz feio, mas não brilhou na harmonização, nem um pouco. Bem, era um calibre, no sentido de termos ao paladar algo mais reconhecível em contraste aos desconhecidos, e não uma proposta de harmonização. Não mereceria ficar em terceiro, mas como acontece às vezes a conjuntura colocou-o nessa posição. 

Por sobremesa a Luciana apresentou-nos um... um... um... o que era mesmo? 😨 com amora 😅, que estava delicioso. Levei um Tardío Otoñal 2017, da cooperativa argentina Santa Florentina, feito com Torrontés Riojano. Nariz mais discreto, não guardei as notas e não empolgou muito. Sua principal mácula é a falta de acidez, o que não esperava para um vinho de sobremesa - ainda que sul-americano; outros exemplares possuem acidez mais marcante. Ganhei de uma amiga que experimentou e disse ter gostado muito. Não sei se a garrafa estava um tanto miada - sem ter estragado - ou o quê. Levei um bombom de morango, sobremesa com muito chocolate, morango e leite condensado. Um finalzinho do Naudin harmonizou bem. Esperava algo melhor, mas fiquei devendo nesse quesito. Espero ter chance de me recuperar...

Saturday, October 23, 2021

Confraria em fúria

Introito

   O seu Pino era um velhinho que 'cuidava' da quadra de futsal onde eu jogava com vários professores da universidade, há muito tempo. Ele tinha um bordão que era bem conhecido à época - anos '90. A Dona Neusa resolveu que sua paellera acumulara poeira demais. E não bastava limpá-la. Assim como instrumentos bem tocados tornam-se melhores com o tempo - pergunte para um violinista o que é tocar um Stradivarius - e taças que recebem bons vinhos também expressam melhor as características das próximas doses ao longo do tempo - se sobrevivem aos inevitáveis acidentes - panelas em geral também ficam melhores com o uso e o tempo. Afinal, já diz o ditado: panela véia é que faiz comida boa... (sic). Certo que o maior divulgador dessa música acabou como um velho caquético por pouco atravessando todos os limites do tolerável e quase acusado de traidor da pátria, mas convenhamos que o exercício da voz parace não melhorar o cérebro, ao contrário das panelas, taças e violinos... Basta notar vários cantores que um dia foram nossos heróis quando defendiam ideais de esquerda, e acabaram por aliar-se a gente de comportamento muito duvidoso, para dizer o mínimo. Chupa, Caetano! Esse era o bordão do seu Pino.

Paellha e vinho

Portanto foi sem vacilar que Dona Neusa dispôs-se a fazer um paella dizendo que deveríamos lançar mãos de nossas reservas estratégicas. E que não economizássemos. O Akira só fez um comentário: 
- Missão dada, missão cumprida... - e quem sou eu para discordar...
Chegamos na noite de quinta-feira e lá esta ela, soberba. A paella, claro; Dona Neusa apenas expressando a extrema jovialidade e o bom humor de sempre... 😝. Cumprindo a recomendação de não economizar, desci para a adega conferir a quantas andavam nossos estoques reguladores. Tínhamos lá alguns branquinhos nojentos e conversando com o Akira ele confirmou que um espumante poderia fazer bom par com a comida. Eu tinha algo que desejava já ter experimentado...

Branquinhos nojentos e xampa (sic)

Não sou tão fã de xampa, mas tinha lá uma (muito) bem comprada junto à Enoeventos. Era um Champagne Premier Cru Brut Blanc de Blancs, do Barbier-Louvet, onde o leitor deve notar: 1) é uma xampa de verdade, não um espumante; 2) é uma xampa Premier Cru. Don Flavitxo já tinha avisado que era um produto bom, segundo suas fontes. Apresentou notas de fermento e pão, que mais para frente ficaram mais evidentes, indo na direção daquele fermento mais azedo - e que não traz um travo ruim por causa disso. Tinha notas cítricas, também. Boca equilibrada com ótima acidez, apesar do pouco álcool (12%, acho), foi comprado em fevereiro deste ano a ridículos (sic) R$ 231,00. Custa uns USD 30,00 lá fora. Coisa que só importador honesto consegue fazer. Na sequência veio um Les Héritiers du Comte Lafon Mâcon-Milly-Lamartine Clos du Four 2010, do Comte Lafon. Fica difícil. Comte Lafon é considerado por muitos, apenas e simplesmente, o maior produtor de brancos do mundo. Claro, é um produtor da Borgonha. E, claro, esse é um de seus vinhos de entrada; um vinho reba por assim dizer. Difícil encontrar (menos) e $comprar$ (muito mais) algo melhor. Achei que tinha perdido um pouco do frescor - o Akira fez que não. Ainda assim bem floral e cítrico no nariz, e boca com algum amanteigado, ótima acidez e boa persistência. Engolindo, notamos que o vinho permanece na salivação. E olha que é um vinho de entrada... Custou R$ 194,00 em 'promo' (novembro/2019); atualmente esgotados na importadora, lembro de ter visto a quase 500tão. É um vinho de uns 30 dóla lá fora...

Na sequência servi um López de Heredia Viña Gravonia 2008, branco barricado de Rioja. O produtor, López de Heredia, é consagrado. Seu lema: Você não precisa envelhecer seus vinhos; nós os envelhecemos para você. Isso é tanto verdade que a safra mais nova disponível no marcado, em 2021, é a... 2013! Aqui vai um parênteses: xampa Blanc de Blancs, sabemos, é 100% Chardonnay. Mâcon, também sabemos, é uma região onde os brancos também são de Chardonnay. É por isso que muitos vinhos franceses não trazem as uvas, sequer em seu rótulo original. O bebedor deve saber o que são... caso contrário, melhor nem bebê-los. Bem, Gravonia é um 100% Viura, conhecida nas quebradas por Macabeo. Já bebi vários do produtor, brancos e tintos, e digo que é sempre um grande prazer. Um quê de tostado, especiarias, carvalho, toques cítricos que se repetem na boca, junto de excelente acidez e com permanência longa. E olha que, a exemplo do Lafon, é o vinho mais simples do produtor. Esses vinhos andam sumidos do mercado. Não sei se o importador está trazendo, o que talvez crie a oportunidade para algum importador tentar trazer algum lote a preço razoável. Preço lá, 25-30 dóla, aqui beira os 400tão. Não dá... O pessoal gostou da cor. Devo ter olhos vesgos para cor de vinho em geral; raras vezes um chamou-me atenção pela cor. Tente reparar. E faça jus ao nome do blog: resmungos de um deficiente nasal que sabe pouco para iniciantes que sabem menos...

Por último apreciamos um Gravner Breg 2007, corte 45% Sauvignon Blanc, 30% Pinot Grigio, 15% Chardonnay, 10% Riesling Itálico feito na região de Friuli Venezia Giulia por Josko Gravner, o pai dos vinhos âmbar. Sim, âmbar. Segundo ele, vinho laranja é um vinho estragado. Mas por um desses caminhos tortos - e para desgosto completo de seu criador - o mercado adotou o nome de vinho laranja, e assim eles são conhecidos. Imitado por muitos mas líder na qualidade, Gravner foi buscar métodos antiquíssimos para produzir os vinhos da maneira que ele imaginava. E esses segredos ele não entrega. A produção é pequena, e os vinhos são caros. Um Gravner - qualquer deles - é um vinho único, complexo: nariz cítrico e herbáceo, com outros toques não distingui. Mas é rico. Boca com mineralidade muito presente, ótima acidez, tem um conjunto do tipo ame ou odeie. Quem conhece, ama; o ódio, claro, fica por conta dos bocas-tortas. Tem um belo final, com permanência longa. É um vinho caro lá fora, cerca de 100 dólas. Paguei - enchendo a mala da D. Neusa - cerca de 60 ou 70 dóla, quando, conversando com o dono da loja em NY, consegui um desconto de 20% em dóla, lá por '17 (o Gravonia acima veio na mesma mala!). Aqui um Gravner anda na faixa de R$ 1.200,00. Sejamos honestos, embora a importadora seja careira, esse preço não está ruim. Claro que é uma montanha de dinheiro, o que apenas mostra o quando ficamos pobres. Veja aí embaixo a cor do Gravner. Ele é apresentado no contra-rótulo do produtor como bianco... E teve bão.






Sunday, October 17, 2021

Era-se uma vez meu vinho piada pronta... 😨

Introito

Comentei há algum tempo sobre rótulos de vinho engraçados, quando mostrei alguns exemplos. Existem muitos outros, claro; do inusitado ao divertido, passando pelo mal gosto, tem de tudo. Um muito simpático é esse aí ao lado, Slow Lane Cab... Táxi da Pista Lenta? No sítio do produtor encontramos um comentário justificando rótulo e nome, conectando-o à proposta da produção do vinho. Só o caminhãozinho do rótulo não está carregado com uvas... de resto, tudo casa. Conheci-o em 2008; foi interessante. Estava na loja (uma Liquor Store) e pedi por uma garrafa de 25 ou 30 dóla. O Duílio ia cozinhar uma gororoba qualquer, e a ideia era um vinho para acompanhar. Era uma época de 1 dóla = 1,76 real... O atendente mostrou-me um bem no preço que pedi, mas sugeriu: "Se você está pagando 30 por um vinho, leve este por 36". Ara, que dúvida... levei os dois! Gostei tanto que voltei no dia seguinte e comprei mais uma garrafa de cada; queria porque queria (sic) compartilhar com os amigos do Brasil... Ah, o outro era nada mais nada menos que um Orin Swifit (produtor) Prisoner, que entraria no top 100 da Wine Spectator do mesmo ano. O Slow Lane foi posteriormente avaliado com 96 pontos pelo Parker. Menos... 94 estaria muito bom... 😝

Austrália

  A Austrália é um grande produtor de vinhos. Em termos de volume, anda sempre embolado com Chile, Argentina e África do Sul. A China está vindo aí com produção semelhante, mas não tenho qualquer notícia sobre a qualidade. Ela está geograficamente bem localizada; o problema é que são uns novatos na arte. Os vinhos podem ser ruins agora, mas chineses não fazem as coisas pensando em 50 anos... é um período de tempo muito curto. Ciência e cientistas para aprimorar suas leveduras eles têm, e se pensarmos em concorrência, devemos esperar o pior, ou o melhor, sei lá... sei mesmo que naquelas bandas os orçamentos de ciência e tecnologia não sofrem cortes de 90%... Voltando dessa digressão, a Austrália tem sua produção fortemente calcada na cepa Shiraz, embora Pinot Noir, Cabernet Sauvignon e Chardonnay também tenham forte presença. Australianos tentam de tudo sem medo nem vergonha, plantando Nebiolo e Barbera (nativas do Piemonte), Sangiovese (Toscana), Viognier (Rhône) e outras mais. Seus GSM, corte de  Grenache, Shiraz e Mourvèdre, inspirados no Rhône, são respeitados. Alguns Chardonnays - Cullen e Giaconda - atingem valores de 100 dóla, o que os coloca lado a lado com borgonhas Premier Cru de bom nível. Nunca provei esses brancos, mas os comentários são instigantes. As regiões mais famosas são os vales de Barossa, Clare e McLaren, sem prejuízo de outros também importantes. Seus principais ícones atingem valores superiores a 500 dóla (Granges, Hill of Grace), pelo menos o dobro dos exemplares sul-americanos. O melhor de tudo é que aqueles são bons...

Um início despretensioso

A reunião desta sexta-feira teve na abertura o Castello di Ama Al Poggio branco 2012, Chardonnay IGT produzido por conceituada casa da Toscana, a Castello di Ama, famosa por seus Chianti e pelo IGT L'Apparita, 100% Merlot. Al Poggio estava oxidado, o que não o tornou menos atraente. Nariz cítrico evidente para todos e sugestão de amêndoa apontada por este Enochato encontrou concordância nos convivas. Boca um tanto ligeira e acidez um pouco em declínio não tiraram algum encanto pelo conjunto. É um vinho do 20 dóla lá, à venda aqui (atualmente na safra '16, segundo estimativas no limite do frescor) pela bagatela de 500tão. Vejamos: 20 x R$6,00 = R$ 120, o que dá mais de 4x. A safra '12 foi comprada em 'promo' e infelizmente ficou guardada um pouco a mais de tempo. Custou em 2018 R$ 138,00. Pode? Pode... brasileiro adora conceder graças muito além das merecidas a vinhos e a importadores. É isso o que pedimos, é isso o que recebemos.

Servi a primeira rodada do Xisto Roquette e Cazes 2005 um pouco cedo, e a falta de refrigeração gerou olhares recriminadores por parte os convivas. Foi um fora... 🙄. Mas a segunda rodada algum tempo depois restaurou a bonança à mesa e os olhares tornaram-se mais alegres. Opiniões indicaram que poderia ser 2015, ou algo assim. Muita fruta, álcool menos evidente pela temperatura adequada, acho que a Dona Neusa falou de algo terroso. Tinha boa acidez, bons taninos, tudo bem balanceado. Havia experimentado outra garrafa dessa safra em Abril de 2020, e não estava tão boa. Desta vez foi muito diferente; estava bem mais próximo do que de espera para um vinho em seu preço. O chão afunda quando nos tocamos que, apesar de ter aberto bem, o vinho não evoluiu com o tempo. É aquilo, abre e fica; característica de muitos sul-amerianos tidos como bons. Analisar vinhos é difícil, né? Tenho dito... Anda na faixa de USD 80,00 (lá), e aqui está entre R$ 1.150,00-1.500,00. No... no se puede... Novamente preço entre 3x-4x, claramente superestimado já para seu preço 'lá'. Veja os comentários sobre esse vinho no vínculo e compare a percepção daquela garrafa. O último ponto é que a 80,00 moedas, dá para lembrar de uns 30 concorrentes de relação custo-benefício bem melhores. É possível enfileirar Chiantis, Barolos, Brunelos, Xatenêfis, Barbarescos e Rhônes, sem falar em muitos espanhóis e até diversos portugueses - por que não? Pior de tudo: pelo preço muito alto aqui, podemos comprar borgonhas de ótimos produtores por preço similar. Isso apenas desnuda mais ainda o quanto o preço está desbalanceado. Cadê os energúmenos para tentar dar um contra?!

Meu vinho piada pronta

- Olhalá (sic!), comprei esse vinho pensando em você!
Quantos e quantos não recebi em minha adega com essa piada pronta na manga. Bastava a pessoa se interessar um pouco e pedir para mostrar alguns vinhos que, lá na terceira tirada chegava a esse australiano. Muitas vezes o conviva ria; se ensaiava algum desgosto, logo ouvia:
- Pow... falei do vinho... O Parker pontuou com 96, disse que é elegante, potente e com personalidade... e você olhou o nome o rótulo...  Era a deixa para acabar tudo em risos. Old Bastard 2002 é produzido pela Kaesler, no Barrosa. Tem 15% de álcool que não se percebem; pela cor os convivas chutaram algo como 2015 (novamente!), porque não tinha nenhum halo que pudesse indicar ser envelhecido. Frutas vermelhas e negras e especiaria também indicavam sua jovialidade e complexidade. Boca pegada, com taninos muito maduros trasmitiram que era um grande vinho. Boa acidez, persistência e final longo... com o tempo ainda mudou no nariz, conforme muito bem notado pelo Akira, que se não bebe continua cafungando com maestria. Já experimentei alguns bons australianos: Torbrecks (mais de um, não postados; um registro de Don Flavitxo aqui), vários Kilikanoon (um na mesma postagem!), alguns Vasse Felix, outros (sic) Penfolds, etc. Nunca fiquei triste com um australiano na taça. O maior problema é o custo deles nas mãos de alguns importadores. 

O trio foi degustado com algum queijo e embutidos de entrada e um maravilhoso filé mignon de lombo suíno com alho poró e ervas de Provença, magistralmente preparados pela Márcia e trazido pelo Ghidelli. A tristeza ficou por conta da ausência da cozinheira. Ela tinha outro compromisso. Espero que esteja presente em alguma das próximas... faltaram mesmo fotos dos petiscos e prato principal. Ainda tivemos um bolo - ei, o que era, mesmo? 😕- gentilmente trazido pela Dona Neusa e que acompanhou bem um Sauternes do Château Doisy-Védrines 2016, que o leitor pode encontrar em outras postagens. Como diria Baco... teve bão... 🤤

Saturday, October 9, 2021

Premio Nobel para o pior e o melhor da humanidade

Introito

...por seus esforços para proteger a liberdade de expressão, 
que é uma condição prévia para a democracia e a paz duradoura.
Motivação da premiação no Nobel da Paz, 2021 a todos os jornalistas
que defendem os ideais acima em situações adversas.

   Cuidado com eles! A pelegada está em festa porque dois de seus representantes - esses sim responsáveis - foram agraciados com o Prêmio Nobel da Paz. A incompetência nata dos jornalistas começa pela apresentação dos condecorados como vencedores do Prêmio Nobel. Não é uma competição! Não há algo que o laureado posa fazer para ajudar sua performance. Ele não vence, ele ganha o Prêmio. Da mesma forma que o jogador ganha na loteria; nesse caso é uma questão de sorte; no outro de competência. De qualquer maneira, temos que estar alertas com essa corja. Uma profissão que nos mostra o pior e o melhor da humanidade deveria receber olhar mais crítico da população, pelo menos para afastar a parte podre que, em minha percepção, representa a maior parte desse universo. Está certo quem propõe controle sobre esse quarto poder que não é eleito nem precisa prestar contas à sociedade. E não, não pense em propostas como a ladrão do Tesouro que foi solto após mudança da lei e sem conseguir provar sua inocência, ou mesmo em idiota da vez que não suporta acusações no mínimo suspeitíssimas contra sua família de criminosos. Ainda, devemos separar o jornalismo investigativo (e sério!) da imprensa marrom que publica desde fuxicos e fofocas até pseudo-notícias sobre vinhos de 10 dóla(sic) eleitos por júri desconhecido como o melhor do mundo.
   Casos como Escola de Base não podem ser esquecidos. Uma família teve a reputação jogada na lama e nunca mais se recuperou depois de seu linchamento midiático, para só então ser declarada inocente. Aconteceu em 1994. Em 2014 o senhor Shimada faleceu sem ter recebido as indenizações a que fazia jus. Velhotes escroques usam de sua aparente experiência e conhecimento para expor ao público sua concepção do que um parlamentar deve fazer em seu primeiro mandato: No primeiro mandato você estuda... e se aplica à elaboração de alguns projetos e asteamento de algumas bandeiras que melhorem a sua popularidade para você voltar à Câmara. É isso o que devemos esperar de um recém-eleito? É isso o que você espera para seu voto? Cuidado com eles; à medida em que os bons se calam, os picaretas ocupam os espaços.

Reunião do Núcleo Duro

O Núcleo Duro - jargão que já esteve em alta por algumas bandas - reuniu-se para um encontro rápido nesta terça-feira. Não que os bebuns nada tivessem a fazer no dia seguinte; todos tinham. Mas foi a data possível para todos. Decidimos que uns branquinhos nojentos para mudar um pouco a dominância dos tintinhos nojentos seria uma boa alternância. Duas garrafas, para que a conversa não se estendesse e o foco pudesse ser mantido. Ambos já foram degustados aqui. O legal de vinhos bons é a possibilidade de compartilharmos com outras pessoas e ouvir diferentes percepções sobre eles. O Zind-Humbrecht Riesling Turckheim 2018, compareceu com seu habitual frescor, notas cítricas e ótima acidez. O La Chablisienne Chablis Premier Cru Beauroy 2016 mostrou sua mineralidade, toques florais, amanteigado na boca, acidez presente e boa persistência. Combinaram bem com os queijos típicos - tinha até um Manchego que acompanhou bem a ambos, mas especialmente o Chablis. O destaque foi o Akira, que não bebe mas cafunga os vinhos. Deixou-os em suas taças desde o início, enquanto conversávamos e íamos aproveitando nossa parte. A certa altura ele puxou a conversa para o serviço a temperatura um pouco mais alta desses vinhos, e até deixamos os conteúdos das taças aquecerem-se um pouco antes de repormos mais bebida. A acidez pronuncia-se mais. Sim, o buquê decai um pouco, mas o paladar apresenta uma alternativa diferente do padrão. Por fim, serviu-nos os vinhos que todos tínhamos provado do buquê à temperatura ambiente, para conferirmos a diferença. A acidez realmente fica acentuada e o bebedor deve ficar atento a essa possibilidade. Dizem que branco se bebe bem gelado? Ah, tá... cuidado com eles! A pelegada está em festa porque dois de seus representantes...

Friday, October 8, 2021

Sob o signo de Mengele

Introito

   Chegamos à triste e inacreditável marca dos 600 mil mortos pela Covid. Entre 1939 e 1945 registramos cerca de 60 milhões de mortes em geral e 6 milhões de judeus no conflito mais sangrento da história da humanidade. Aqui, perderam a vida 1% do total de vítimas da Segunda Grande Guerra, ou 10% do total de vítimas semitas. Note que era uma situação de guerra. E estendeu-se por seis anos... Não bastasse tudo o que vimos em desmandos e negação do óbvio nos últimos meses, a semana que passou trouxe-nos fatos dignos da mais cruel câmara dos horrores. Discípulos de Josef Mengele portando títulos de doutor só não perpetraram barbaridades maiores daquelas do mestre porque ainda vivemos em uma democracia. Não duvide da degenerescência dessa gente, se as bases da Nação tivessem sido solapadas como tolos desejavam e torciam. Mais tolo ainda é acreditar que existe sub-notificação de casos. Bem, a estupidez humana não conhece limites. O cidadão de bem não pode deixar de manifestar-se face à barbárie, e é muito o caso agora. Há anos manifestávamo-nos por um simples (como se pudesse sê-lo!) desmoronamento de morro em chuvas de final de ano com poucas dezenas de mortos. O que aconteceu conosco?


Louis Latour Santenay La Comme 2013

Por uma dessas tristes coincidências, havia bebido outra garrafa desse vinho em 30 de abril passado, quando registrei a falência coletiva das instituições enquanto o idiota-mor repetia a falácia sobre golpe e lamentávamos 400 mil brasileiros levados cedo demais da companhia de suas famílias. Quis o destino que na data de hoje resolvesse tentar uma harmonização com hambúrguer e escolhesse justamente a última garrafa desse Santenay. A fruta e a especiaria continuam lá, bem presentes. A  boa acidez, os taninos médios e álcool bem contido combinaram com a carne não à perfeição, mas a ponto de causar-me boa surpresa. Um pouco de carne - maneirei na mostarda e troquei a maionese por requeijão -, pão e vinho, tudo misturado e mastigado... hum... prova cabal de que mesmo algumas comidas muito simples podem ser enriquecidas quando a combinação funciona. Procurei sobre harmonização com hamburger e encontrei, em diversos lugares, o indicativo de Pinots terrosos... voltei a atenção ao Santenay e... não é que tinha mesmo notas terrosas! É-me muitas vezes difícil expressar o que sinto ao analisar um vinho - daí que o leitor não se surpreende com a cantilena de sempre, "fruta negra/vermelha, chocolate/café/couro" e por aí vai. Mas prestando atenção e atento à sugestão, ficou fácil identificar. Nenhuma vergonha para mim, apenas a confirmação do sub-título deste blog, resmungos de um deficiente nasal que sabe pouco para iniciantes que sabem menos.

Sunday, October 3, 2021

Novamente o Coli

Introito

   Todo Prelado deve tomar conta do rebanho (😂), e este não foge ao compromisso. O último encontro do grupo aconteceu sob provocação da Vestal Dayane, propondo um chileno contra um europeu. Disse-lhe que levaria um Chiante simples para bater o indicado dela, e não deu outra. Aliás, deu tão bem dado (rs) que fui conclamado a promover nova prova do vinho em melhor condição de serviço. Eis que, determinado o motivo e escolhida a data, novo evento aconteceu. Sabemos que Chiantis casam muito bem com pizza, principalmente de pepperoni, como sempre menciono, embora calabresa seja a indicação mais tradicional. Margherita também é muito citada na literatura. Por alguma questão de restrição alimentar, ficamos por conta da margherita.

O serviço

Desta vez não poderia haver erro. Eis que fui procurar a postagem da minha primeira prova do Chianti Classico Coli 2016 para conferir o tempo que levara para o vinho desabrochar. Encontro marcado para as 19:30, às 16:44, para fazer pressão (sic! rs!) enviei a foto ao lado para o grupo. Achei que poderia oferecer uma entrada, e levei ainda um Astoria Prosecco Corderie Valdobbiadene Superiore Docg Extra Dry, espumante non-vintage que pode ser tudo, menos extra seco... pelo menos não no sentido que a palavra 'extra' (adicional, 'além de') significa para mim... Infelizmente não tiramos foto dele, uma pena. É um Prosecco muito equilibrado, bastante delicado, sutil. Nariz sugerindo fruta 'branca' e talvez um pouco de fermento; boca com acidez agradável mas não tão completa, marcando algo na direção de frutas mais cítricas - abacaxi? limão? O abacaxi, principalmente no nariz, costuma aparecer mais com a idade, o que não seria o caso. Mas ainda que errando feio, fico com o abacaxi. Tivemos algumas entradas servidas pelo Gustavo, mas não anotei exatamente quais, e ninguém tirou foto (de novo!). O pessoal estava mesmo a fim de beber...

O Chianti e a pizza

No momento do servir a primeira garrafa, ela apresentou-se muito equilibrada: boa fruta (para mim, cereja, mas alguém falou outra coisa... seria a Luciana? Teria dito framboesa?). Sei mesmo que na primeira cafungada o sorriso franco tomou conta de todas as Vestais, Dayane, Renata e Luciana. O Gustavo chegou depois e também gostou muito. Sim, já escrevi nestas mal fadadas páginas que italianos são os vinhos que mais tendem a surpreender. Muitas e muitas vezes exemplares relativamente simples precisam de algumas horas para desabrochar, e se o serviço não estiver à altura o vinho sai com a má (e errada) fama de ruim, quando não de malvado (risos!). Um exemplo é o Nemorino, servido na Noite dos Barolos Sanguinolentos (bem, não tão sanguinolentos assim, mas era o meu nível à época). Assim, caro leitor especialista em sul-americanos de maneira geral, cuidado. Se algum vendedor de loja dizer-lhe "30 minutinhos básicos" em recomendação de serviço de italianos, fuja do vendedor. E da loja, de preferência. Italianos são caso à parte, mais do que todos. Tudo o que foi dito sobre Coli estava lá, amplificado pelo bom serviço: acidez equilibrada, corpo médio, ótima compra na faixa de R$ 85,00. Infelizmente não combinou muito bem com a pizza de margherita, a despeito da literatura. Acontece. E não é que deu errado. Apenas não houve aquele resultado maior do que a soma das partes. Conversando com as Vestais, e recordando-me de outros diálogos com membros da confraria, percebi que mesmo nossas comparações sul-americanos versus europeus talvez estam equivocadas. Acho que precisamos voltar um passo. Precisamos comparar sul-americanos de níveis diferentes, antes de outras brincadeiras. É explicável: a turma é heterogênea, e cada um tem suas concepções e ideias pré-concebidas sobre qualidade de vinho. Algo a ser melhor conversado e posto à prova.

Saturday, October 2, 2021

Efemérides

Introito

   Uma efeméride é, por definição, a celebração de um acontecimento ou fato importante assinalado em determinada data. Este mês temos algumas interessantes; mantendo o blog laico como recomenda a Constituição (aquela, que quem não respeita é traidor na nação!), aponto o Dia das Crianças (liberte o tontinho dentro de você! 🤣), o Dia dos Professores (acredite: casar-se com um(a) professor(a) um dia foi considerado golpe do baú 😱) e o Dia da Bruxas, que coincide (sic!) com o nascimento de Carlos Drummond de Andrade, considerado por muitos o mais importante poeta da segunda geração do modernismo brasileiro. Ontem abri o mês de efemérides tão importantes comemorando. A postagem não virá agora, mas está próxima.

Napa Valley

   O Vale do Napa é o coração da produção vitivinícola norte-americana. Produz vinhos caros e muitos vinhos bons, mas talvez não os melhores do país. Ou pelo menos tem regiões rivais à altura, como Washington State, representado principalmente pelas AVA's de Columbia Valley e Walla Walla. Um exemplo de Columbia Valley é o imponente Quilceda Creek, que há um ano fez bonito - muito bonito! - frente a um segundo vinhedo de Bordeaux, o Chateau Montrose. Isso não é pouca coisa, e comprova para a detratoria (sic) de plantão que sim, os americanos produzem vinhos de alta qualidade. O problema é encontrar aqui Napas de boa qualidade a bom preço. Se puder, traga de ; melhor negócio não há...

Coho Merlot Michael Black Vineyard 2009

Comprei Coho por meio a uma indicação do The Tasting Panel. Na época era uma revista que falava não apenas de bebida (vinho, cerveja, whisky), mas também de estilo de vida: casas dos sonhos (padrão americano, claro), férias paradisíacas e outros. Não lembro se falava de carrões, mas acho que não era tão mundana assim (rs). Deram boa recomendação de Coho, e era um vinho relativamente barato (uns 45 dóla), e cabia na cota da minha irmã, que já estava sobrecarregada com dois borgonhões de uns 170 dóla cada (boa época, quando 1 dóla era igual a R$ 2,20). Éramos ricos e não sabíamos...
Bem, Coho Merlot Michael Black Vineyard 2009 vem de um produtor cujo sítio encontra-se fora do ar no momento (🙄)... depõe contra... A safra '09 foi a última dos três anos de seca no Napa, quando a precipitação caiu a níveis assutadores. Parece que o primeiro ano ('07) beneficiou-se da estiagem, mas os anos seguintes foram mais complicados. Basta ver os gráficos no vínculo. Houveram pelo menos 5 meses de precipitação zero na região, a cada ano. Claro que americano é sinônimo de empreendedorismo e tecnologia, e o pessoal fez das tripas coração para não deixar a peteca cair. Coho é prova disso. A safra foi muito difícil, mas dá-lhe por exemplo leveduras geneticamente modificadas e outros aprimoramentos na produção, e Coho '09 saiu com meros 14,9% de árco (sic) que não se nota, e um arsenal de flechas para disparar no primeiro tonto que puser a cabeça a cabeça para fora do ninho. Apresentou (duas horas depois de aberto) nariz com muita fruta negra, especiaria, algo lembrando chocolate ou couro... é um buquê que com camadas, coisa típico dos vinhões. Nessa idade os taninos estão macios, aveludados, a madeira está integrada, o açúcar é notado, e só (digo, ponto para ele, porque o açúcar está contido também). A boca tem especiaria, talvez da madeira, a persistência é muito boa, algo surpreendente para uma acidez que não vai além de média, e olhelá (sic! rs!). É de se esperar, já que a temperatura esteve na casa dos 30 graus Celsius entre junho e setembro, meses que antecedem a colheita. Aqueles com quem conversei estes dias sobre o efeito da temperatura na acidez saberão o que isso significa. Coho Merlot é um corte 98% Merlot e 2% Petit Verdot, mas não cheguei nem perto de conseguir intuir o amargor típico dessa cepa. Sinal de que falta milhagem e este escriba. Ainda chego lá... nem que na próxima gestão do Senhor.