Monday, November 29, 2021

Vinho véio

Introito

   Passei um período conturbado, afastado do cenário político que definitivamente colou em nosso dia-a-dia e do qual a nenhum cidadão de bem e informado é permitido afastar-se sob pena de ser rotulado como escapista. O escapismo foi durante muito tempo, e principalmente por pseudocríticos canarinhos, aplicado à ficção científica e fantasia. C.S. Lewis acabou com o debate antes mesmo desses energúmenos vestirem calças curtas: os únicos contrários ao escapismo deveriam ser os carcereiros, ou algo assim. De forma que agora o escapismo ganha uma verdadeira e útil motivação para voltar à tona: não podemos mais fugir ao debate e sim invocá-lo sempre. Passou a ser uma questão de cidadania. Como alusão ao cenário político destaco que a terceira via ganhou corpo - the future has taken root in the present (1:12) -; e seu grande nome (que não era o meu candidato) assumiu rapidamente o terceiro lugar no gosto do eleitorado, superando com folga o inútil coronézinho (sic) Ciro Gomes que nos desinspira há décadas. Dentre os energúmenos de plantão que dizem sobre seus Grandes Guias tolices como mito ou estadista, a Sérgio Moro cabe o singelo adjetivo de honesto. Se não era meu candidato preferido, mas passou a sê-lo até que nova alternativa viável apresente-se.

Vinho véio

O desavisado leitor não deve confundir vinho véio (sic) com outro feito a partir de Vinhas Velhas. Vinho véio é porque é véio mesmo, enquanto Vinhas Velhas indica uma garrafa procedente de vinhedos com certa idade. Pode-se abrir um vinho de um ano de idade produzido com vinhas de 50, 60, ou mais de 100 anos de idade. Dizemos que é um vinho de Vinhas Velhas, embora não necessariamente ele carregue essa informação em seu rótulo. E pode-se abrir um vinho véio de verdade, um vinho com 50, 60 anos de idade, independente da idade do vinhedo. A rolha atesta a idade avançada do produto. Para vinhos portugueses, o termo Garrafeira indica um vinho de qualidade do produtor, embora nenhuma legislação ateste sua qualidade intrínseca. Ou seja: um Garrafeira pode ser um excelente vinho, mas também pode ser um vinho medíocre. Precisa conhecer o produtor...

Caves Aliança

Caves Aliança é um produtor com alguma história em Portugal. Não é tão tradicional - nada de fantásticas narrativas dos tempos das Navegações, quando as naus portuguesas levavam Camões a outras terras. Fundada em 1927 com sede em Sangalhos, na Bairrada, aos poucos foi se expandindo para outras regiões (Alentejo, Dão, Douro) quando em 2007 a Bacalhôa tornou-se seu maior acionista. Portanto é sob o sítio deste último que o leitor encontra as informações mais confiáveis a seu respeito. O fato em destaque fica no rótulo dos vinhos mais antigos. Caves Aliança Garrafeira Particular 1966 não tem contrarrótulo, como não o tinham muitos vinhos da época. Neste caso o rótulo sequer traz a região onde foi produzido. A menção a Sangalhos pode ser tanto à sede quanto à região de produção. Mas se consideramos a lógica portuguesa, apostaria que são vinhos produzidos na Bairrada mesmo. Com a ascensão do Douro e do Alentejo, Bairrada caiu em um certo limbo, e seus vinhos atualmente estão subvalorizados. Um convite a investirmos atenção nessa procedência.


Caves Aliança Garrafeira Particular 1966

Caves Aliança Garrafeira Particular 1966 foi aberto com outros vinhos, mas resolvi fazer uma postagem destacada. Ao que tudo indica, sua cepa deve ser a Baga. Ainda manteve uma cor escura, sem atijolar tanto. No nariz os aromas terciários que eu esperava não estavam tão evidentes. Não notei aquelas frutas secas - nozes, principalmente - sempre tão presentes em outras ocasiões; denotava oxidação mas em outra matiz de aromas; estava mais para terroso. Boca ainda tânica, pegada, com persistência e final longo. Acidez mais caindo para um amargor, mas não desbalanceado; muito mais como característica. Em algum momento a boca parecia à beira de salgado mesmo! Surpreendente para um vinho com meros 12,5% de álcool. Mas lembremos que Borgonhas antigos também tinham álcool a 11,5%-12,0%, o que apenas confirma ser a acidez, acima de qualquer outro pilar, a responsável pela longevidade dos bons vinhos. Esse tipo de vinho provavelmente não agrada ao paladar dos menos iniciados, vítimas de modismos e escravos da fruta imediata. Está certo que vinhos velhos são muito raros e difíceis de encontrar, e principalmente vencer a incredulidade sobre seu estado é um passo difícil para o bebedor desatento. Mas proporcionam experiências únicas para os que se atrevem a trilhar por tais caminhos. PS: não tente reproduzir isso com vinhos sul-americanos. Você pode se envenenar!

Impressões da bléqui fraydi

Novamente fomos assolados por mais uma bléqui fraydi. Não notei outros produtos, mas os vinhos estavam assim:

  • As tubaronas de sempre fizeram ofertas que colocavam seus produtos próximos da margem das importadoras mais honestas. A pergunta que não quer se calar é a constante: por que não ofertam os vinhos com margens menores regularmente, e propiciam uma verdadeira socialização no hábito de se consumir vinhos? Fiz minha parte: ignorei-as solenemente, e fui comprar de quem me oferece boas compras o ano inteiro.
  • Várias lojas que até pegam algumas marcas das taburonas e as repassam a preços mais palatáveis ofertaram exatamente os mesmos produtos nos mesmos preços que passaram oferecendo o ano todo. O destaque negativo foi a Adega Mais, que apareceu ofertando seu Cedro do Noval '16 de meros R$ 259,90 por R$ 109,90, contra a VinhoBR que oferecia o mesmo vinho em sua safra '17 de R$ 169,90 por R$ 119,90. Estão loucos achando que o bom Cedro é um vinho de R$ 259,90? Na própria Adega Mais comprei, há um ano, os superiores Quinta do Noval Touriga Nacional e o Syrah, por cerca de R$ 180,00, exatamente o mesmo preço a que desceram agora, com descontos nitidamente superiores (49% e 62%(!)).
  • Algumas lojas não tocaram no assunto, e continuaram a oferecer seus vinhos no bom valor a que estamos acostumados.
  • Por último, mas não menos importante, as valentes Chez France e Enoeventos promoveram ofertas de verdade. Vários preços parecem ter retornado a valores próximos de quando seus produtos eram vendidos a preços pré-alta do dólar, e depois foram repostos com valores atualizados pela desvalorização de 40% da nossa moeda. Como o mar não está para peixe, limitei-me na maioria das garrafas a vinhos do dia a dia, com valores abaixo (e às vezes bem abaixo) de R$ 100,00. Ainda foi possível comprar coisas interessantes - até franceses - que facilmente competem com os sul-americanos nessa faixa. E não que outras lojas também não tenham feito boas ofertas, mas não procurei tanto.

Monday, November 22, 2021

Armando, o bom italiano

Introito

   Conheci o Armando há alguns anos, quando ele tinha uma loja de vinhos. Natural da Langhe, conhecia os vinhos de sua região. Já ouvira falar (rs) da Toscana (um rótulo de Biondi Santi nada disse-lhe, mas foi rápido em apontar um Pio Cesare como grande produtor), e alguém comentara algures que a França também produzia vinhos. Pessoa um pouco formal de início, revelava-se afável e engraçada quando o primeiro passo da polidez era superado, e, ainda, dominada a dificuldade da língua na comunicação entre as partes. Octogenário, está no auge como piadista de bom gosto. Afirma que não é nada demais; todos os italianos são como ele. Uma surpresa... Mas daí que, para abrir sua loja, procurou um importador com características da península itálica, a Italy's Wine, de onde veio sua primeira linha de produtos. Encontrou ainda alguns franceses e um rótulo de chileno. A ideia era boa, só faltou combinar com o ilustre consumidor. Os consumidores de S. Carlos estão, após anos soterrados com informações desencontradas, ruins e de baixa qualidade, soterrados, sufocados e finalmente domesticados por compostos da família da pirazina muito presentes em vinhos sul-americanos. Não aceitam forasteiros com facilidade (vinhos europeus, quero dizer). Vai que, ano após ano, tenho encontrado em diversos lugares como restaurantes, postos de gasolina, cafés e bares - mas não em lojas de vinhos de S. Carlos - confrades de eventos pretéritos que não mais compram por aqui. Eles não hesitam em vir conversar comigo e repartir a boa nova de estarem comprando vinhos em S. Paulo, ou pela internet. Ouço com satisfação suas descobertas, e quando comento algo do meu blog, invariavelmente dizem-me que vão ler. Não vão. Não são leitores típicos, e muito menos serão meus leitores. Não há problema. A satisfação de ver que estão descobrindo o caminho por suas forças e iniciativas já enche-me de alegria. Outra informação já foi comentada aqui, mas não é demais repetir: grupos supermercadistas estão começando a importar vinhos de qualidade razoável e vendendo-os com margem superior a de seus produtos mais básicos mas muito menor do que a das importadoras ditas tubaronas. Saber que importadores energúmenos e lojistas tolos estão com seus dias contados e que aos poucos as pessoas estão encontrando os caminhos da boa compra bastam-me. Já escrevi aqui...

  E foi há nem tem tanto tempo (abril deste ano), mas gerou comentários engraçadíssimos de um tolo desocupado que patrulha a rede querendo briga em vez de argumentar como gente. Apenas não podemos nos esquecer, porque esquecer-se é a desgraça do homem...

El-Cantàra

El-Cantàra, ponte em árabe, é uma vinícola da região do Etna, na Sicília. Por conseguinte o território tem solo vulcânico, e dentre suas cepas autóctones temos a Nerello Mascalese e a Nerello Cappuccio (tintas) e as Carricante, Catarratto e Minella Bianca. Seus rótulos são modernos, e na maior parte das vezes os tintos requerem alguma aeração. Meia horinha básica (sic! rs!, como é mesmo a estória da meia hora?). Já experimentara La Fata Galanti, um 100% Nerrello Cappuccio que achei bem simpático. Desta vez encontrei na adega um Lu Veru Piaciri 2012, corte não especificado de Nerello Mascalese e Nerello Cappuccio. Está bom para consumir, e acredito que no limite. A fruta - que recordo mais viva em garrafas outras garrafas já degustadas - diminuiu bem. Mantém especiaria, que repete-se na boca, onde o álcool destaca-se um pouco e a madeira está presente e marcada. Não é um conjunto desarmonioso, mas é um tanto rústico; tem suas arestas que são compensadas por uma acidez presente e alguma persistência. O corpo é médio e o final não se estende muito. Mas o que podemos querer de um vinho de USD 10,00? Aqui comprei por uns R$ 60,00-R$ 70,00 no tempo do dóla (sic) a uns R$ 3,00-R$ 3,50, o que dava bem o famoso 2x na relação preço lá-preço cá. O Armando tinha margens modestas, conforme descobri mais tarde. Estando um pouco mais caros em outras lojas, seriam vinhos no limite de compráveis (2.3x-2.4x); Nessa faixa - acima de 2x - o bebedor compra uma vez, experimenta, conhece e basta. Na faixa de 2x, é um vinho que o bebedor pode querer mostrar para amigos, confrades e até sacanear um bebedor de sul-americanos boca torna como os que temos em quantidade aqui pelo interior.

Sunday, November 14, 2021

Quase no próximo aniversário...

Introito

   O fato político mas importante dos últimos dias foi o discurso de filiação de Sérgio Moro ao pequeno Podemos. Praticamente lançando-se candidato à presidência, entusiasmou a muitos e preocupou diversos. bolsonésio, como de hábito, escancarou o repertório de idiotices:
   - Não aprendeu nada... ficou um ano e quatro meses ali e não aprendeu o que é ser presidente... nem ministro, né?
Bem, todos sabemos que - felizmente - algumas coisas Sérgio Moro não aprendeu mesmo; atalhos cunhados na vileza de acordos nebulosos como a promessa de uma vaga no STF em troca da mudança no comando da Polícia Federal é só um bom exemplo de quem não negocia cargos por convicções: Não estou à venda. Moro passou no concurso para tornar-se juiz, sabidamente muito difícil e que seleciona no mínimo gente muito competente para cargo tão importante. Ao contrário do banana comentado há uma semana (né, astronauta), permaneceu no cargo de Ministro até o momento em que notou não ser mais possível guiar seu ministério na missão para a qual ele foi criado. A consequência mais engraçada foi a reação do medíocre - desde sempre - Ciro Gomes, propondo imediatamente um debate com Moro. Quem se lembra, se não me engano em 20002, quando ele admitiu, após as eleições, que não estava preparado para assumir o cargo? Triste notar que ele nada melhorou desde então; continua um bufão com tiradas à ditador de filme de quinta categoria; o vínculo mostra três situações elucidativas de um mentiroso que já já baterá à sua porta pedindo votos. Lembre-se dos fatos. Não são boatos ou detração. Basta ver o vídeo... e não ser otário nem crédulo. Ora, porque Moro precisa debater com ele? Acredito que sua candidatura registrará traço em mais seis ou oito meses. Petelhos e bolsonéios, tremei; a terceira via ganhou corpo e o próximo passo será acompanhar os esforços de ambos para neutralizar Moro. Muito jogo sujo, mentira e sordidez à vista. A ver...

Um feliz reencontro

Fui escrevendo as últimas postagens e de repente a semana mais do que voou. A comemoração de encerramento do meu aniversário aconteceu no dia primeiro, para aproveitar o feriado do dia dois; pow (rs), registro seu acontecimento quase à véspera 😂 do aniversário seguinte... Vieram o Duílio e o Paulão, infelizmente sem as esposas. O Paulo driblou as restrições sanitárias durante a pandemia, e volta e meia passava para um café. O Duílio já andava sumido um pouco antes dela. De forma que foi um feliz reencontro nos sentarmos à mesa e começarmos a conversar à beira de algumas taças. Bastou o cumprimento inicial - eles chegaram quase ao mesmo tempo - e em poucos minutos a saudade era passada; estavam ali três amigos conversando como se o último encontro tivesse sido na semana anterior. O acompanhamento inicial foi composto por alguns queijos e embutidos. Falcoaria Clássico 2014, um Tejo já comentado outras vezes, casou bem com os embutidos. Fruta agradável e bem perceptível no nariz, boa acidez e taninos maduros agradaram os bebuns. É um vinho de seus 15 dóla 'lá' que aqui anda à venda por 'meros' R$ 99,00. Talvez não valha esses 15zão lá. Doze? Dez? Faça as contas e veja que continua um preção aqui. Se cortassem-lhe as duas pernas e um braço, ainda jogaria um bolão e acertaria um nariz desavisado ao melhor estilo de Pelé contra o Uruguai em '70. Para o Chianti Classico Coli 2016, cumpri novamente o ritual de pelo menos duas horas de aeração. Toscanos e embutidos, tudo a ver; o pessoal gostou muito. Vai então uma das máximas deste Enochato: embora repetindo bastante esse vinho ultimamente, tenho mostrado suas qualidades para confrarias diferentes, e tem agradado sempre. Estavam lá a cereja, a boa acidez no corpo médio e o bom final. Outro vinho de 12 dóla 'lá', por R$ 85,00 aqui: excelente compra. Claro que não é um Chiantão - estes são vinhos de uns 50 dóla 'lá' que vc pode comprar e envelhecer 10, 15 anos, ou pagar 100 'dóla' nele já envelhecido - mas para um Chiantizinho é muito honesto e vale a pena. Pena que, embalados pelo animado reencontro e pela conversa, não tiramos uma foto sequer...

Esta postagem foi movida a um presente de aniversário. Fecho o ciclo voltando ao dia 25 passado, quando a Vestal Luciana, da confraria Noivas de Baco, recebeu ao Gustavo e a mim para um bacalhau, e presenteou-me com um Papa Figos 2019. Até onde saiba, é junto do Estava um dos vinhos de entrada da respeitabilíssima Casa Ferreirinha, produtor do Barca Velha, o vinho tinto seco mais icônico de Portugal. Empresa familiar por mais de 200 anos, foi adquirida pela gigante Sogrape na década de 1980. É um corte de Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Barroca, 13,5% de álcool, nariz com fruta vermelha mas um tanto fechado. Boca com algum dulçor - característico do Douro, mas não aquele dulçor a que estou acostumado. Tem acidez presente, boa permanência, mas a boca também parece fechada. Por ser um vinho mais simples - ainda que de uma grande casa - achei que poderia estar pronto para beber. Ledo engano... 😫; um erro de avalição só possibilitado pela soberba em seu mais alto grau... Deveria guardá-lo por mais dois ou três anos. Infelizmente a Casa Ferreirinha é representada aqui por uma das importadoras tubaronas do mercado, ou compraria algumas garrafas para guardar. Seu preço 'cá' é superior a 3x o preço 'lá'. Particularmente não compraria pelo preço, unicamente. Ainda assim, adorei ganhá-lo...

Tuesday, November 9, 2021

O núcleo duro

Introito

   Já mencionei anteriormente o núcleo duro. Atualmente está composto pelo Akira, D. Neusa, Jacimon e este que vos fala. Jacimon mudou-se, o rebento chegou, veio a pandemia. Estamos tentando voltar às confraternizações. Enquanto isso o Ghidelli corre por fora como convidado de honra especial (sic). Eis que ele foi gentilmente oferecido (sic! rs!) para cozinhar para o grupo no dia 31. Na verdade, colocou a pobre - mas competentíssima - esposa para o trabalho mais refinado e tudo certo, positivo operante. A Márcia respondeu ao chamado e nos reunimos na casa deles para um encontro a caráter. Não, bem descontraído, na verdade. A caráter estavam os vinhos...

Xampa de verdade

Havia comprado, no ano passado, duas garrafas de uma xampa de produtor bem conceituado, o Philipponnat. Seu Royale Brut Reserve é um corte de 65% Pinot Noir, 30% Chardonnay e 5% Pinot Meunier. Servi a todos, inclusive uma taça vazia em homenagem ao Jaci. Aproximei minha taça do nariz, fechei os olhos e deixei seu buquê me embriagar. Tive a impressão de ser bem melhor do que o Piper-Heidsieck, com nariz muito bem marcado a frutas cítricas, toques de fermento/miolo de pão e outras notas mais - não identifiquei. Quando abri os olhos, o conteúdo da taça do Jacimon havia desaparecido! Evaporado! Sumira! Surpreso, corri os olhos pelos confrades. Um olhava para o relógio cuco, outro para o teto e alguém mirava o infinito, como em transe. Só o Akira abafava a muito custo um sorriso maroto, mas sua taça estava na medida que eu havia servido, e nunca é demais repetir, ele não bebe. Atônito - mas claro, sem considerar a possibilidade de que o espírito do Jaci estivesse nos visitando sorrateiro -  pensei comigo que eles ainda seriam vítimas do meu prestígio quando chegasse o momento apropriado. Philipponnat foi acompanhado por camarões ao molho de mascarpone com alho poró e acabamento com casca de limão sicilaino ralado na hora. Creio ouvir o Akira comentar que lembrava um... Taittinger(?) de bom nível - O Roayle é o mais reba básico de Philipponnat. Boca com mineralidade presente, ótima acidez, fruta verde e boa permanência. Casou muito bem com o camarão. De maneira geral, esse prato casa combina com espumantes, mas não só; um exemplo está aqui. Depois disso passamos a uma degustação sem comida de três tintos. A proposta inicial era fazer um painel, situação onde os vinhos possuem algum ponto em comum, qualquer que seja. Escolhi que fosse a uva tinta vinífera mais conhecida de todas e a mais plantada no mundo.

Cabernet Sauvignon: a rainha das uvas tintas

   A Cabernet Sauvignon, tida como a Rainha das Uvas Tintas, é originária de Bordeaux. Então precisamos combinar de antemão: suas características são as dos vinhos daquela região. Se estamos acostumados com outras expressões - chilenas, principalmente, em nosso caso - devemos estar atentos que a diferença entre os vinhos mostra o quanto o chileno afasta-se ou aproxima-se do padrão. Isso posto, servi os vinhos às cegas, para alegria de uns e desespero de outros. O primeiro causou furor, e pensei comigo:
   - Putz, errei a mão... deveria tê-lo servido por último...
   O fato é que um Uôôôô reverberou pela sala; o humor, se já estava bom depois da xampa, melhorou. O segundo teve impacto neutro. Razoável: o nível estava alto e a nova prova talvez tenha deixado um pouco a desejar. No terceiro, o entusiasmo voltou, sem tanta efervescência. Em resumo, quem melhor se aproximou nas avaliações foi novamente o Akira. Seu melhor acerto foi quanto ao último; disse que poderia ser americano ou australiano. Os outros, não conseguiu desvendar. Vamos lá...

O primeiro vinho foi o Pape Clement 2008, um Grand Cru Classé de Graves. A classificação de Graves de 1959 (na verdade em 1959 aconteceu uma revisão, mas ela é conhecida por essa data) lista os melhores produtores de  Pessac-Léognan, classificando todos eles com a distinção Grand Cru Classé. É um corte  50% Cabernet Sauvignon e 45% Merlot completado com Cabernet Franc e Petit Verdot. O buquê é nervoso, tridimensional, com madeira e terroso, frutas e algo mineral, generoso, animal... pela sequência o leitor percebe que é um vinho fora da curva. É a Cabernet beirando o estado da arte. Ano passado bebi um Château Montrose (segundo vinhedo de 1855) que mostrou o lado mais delicado e sutil da CS. Pape Clement mostra-nos a face Shrek (sic) da região: forte e pegado, pero sin perder la ternura jamás (risos!). No paladar, também rico, a fruta repete-se misturada a taninos potentes e ótima acidez. Tostado, couro, especiaria. Aqui é o ponto: difícil perceber a pimenta típica de outras expressões. Está lá, mas precisa prestar muita atenção. Dá até para confundir com a pimenta da madeira. A permanência e o final são longos; depois de engolir e salivar, continuamos com ele na boca. Está bom para ser consumido, mas pode ser guardado por muito tempo - mais 20 anos, segundo especialistas. Felicidade engarrafada, mas por 100 dóla é obrigação. Não à toa causou furor quando servido. 


O segundo mostrou fruta, bom corpo mas não foi muito além. Noon Cabernet Reserve 2003, de Langhorne Creek, estava miado, para tristeza geral. Pela avaliação do Akira, foi da garrafa, não do armazenamento. Bebível, mas seu potencial parecia preso, com o freio de mão puxado. Não deslanchou, mas se estivesse sozinho com vinhos menores ainda assim teria feito bom papel. Depois veio o Etude 2005, um Napa seguramente notas abaixo de Pape Clement mas ainda assim muito bom. Rico, nariz à fruta madura, madeira, café (chocolate?), e mais; boca com bons taninos, madeira integrada, boa acidez. Se levarmos em conta que custa na ordem de um Pape Clement (USD 90,00), é bom, mas não é tão boa compra. Vinhos comprados em outros tempos, outros dóla (sic). Após a degustação inicial, repetimos todos eles acompanhados por um filé mignon selado com sal de parrilla e mel, acompanhado de champignon Paris. Ah, tinha um creminho também, mas o Ghidelli não mandou e especificação, e não sou tão bom para guardar tantos detalhes... purê alguma coisa com mandioquinha (rs), acho. Dos tintos, apenas Pape Clement é vendido aqui, a preço de até R$ 3.000,00. No... no se puede... 😔. Como disse, paguei cerca de USD 100,00, e hoje seriam R$ 600,00. Isso dá 5x. No... 😕 Consumidor, siga atento. A plataforma wine-searcher ainda é sua melhor amiga.


Não tirei foto da sobremesa (😱), mas foi uma boa torta com damasco acompanhada por um Tokaji Aszú 2003, 5 putônios, da Oremus. Esse produtor foi comprado pela Vega Sicília, gigante espanhol que produz o icônico vinho de Ribera del Duero. Bons Tokaji's, Sauternes e similares são praticamente eternos - no sentido de que duram muito mais que o feliz proprietário, mesmo oxidados - de maneira que esse 2003 estava pungente: boa estrutura, frutas secas - damasco? - e mais, mas não guardei exatamente. Doce (5 putônios...), mas equilibrado pela acidez. Boca larga, combinou muito bem com a sobremesa. Sobrou (fiz que sobrasse - rs!) para outras ocasiões, outras confrarias. Spice must flow... outras pessoas precisam ter essa oportunidade...

Saturday, November 6, 2021

Mais e mais bons vinhos e boas companhias

Introito

   Está certo que aconteceu há uma semana e apenas agora estou postando. Mas é-me desagradável, estando a rememorar tão alegres momentos, abordar o cotidiano torto onde vivemos. Como tenho mencionado, o cidadão de bem não pode mais pronunciar-se sobre qualquer assunto sem mencionar estes tempos de desmandos por parte de todos os poderes, corrupção, aparelhamento do estado e desinformação. Os novos quatro cavaleiros do apocalipse para os brasileiros? Serve de consolo saber que nossos acadêmicos recusaram a Ordem do Mérito Científico, mas a atuação da ciência brasileira tem deixado a desejar - como, aliás, a de outras instituições também. Isso claramente não ameniza a falta de ação da Academia. Na falta dela, vou eu mesmo:
   - Marcão (Pontes), há coisa de um ano, pouco mais, eu estava defendendo você em algumas conversas. Não que você estivesse sendo brilhante no comando do MCT, apenas não estava fazendo coisa errada no meio de um governo tão bagunçado, corrupto e canalha. Você é um sujeito com mestrado e piloto de caças. É um currículo e tanto, que o coloca entre os 5% melhores da nossa sociedade. Recentemente a ciência brasileira sofreu um corte de uns 90% em seu orçamento. Você - ao contrário de seu antecessor (quem lembra do baitola?!) - deveria saber o significado disso. Se fosse homem, teria pedido o chapéu. Não sem antes chamar à responsabilidade o presidente e os demais velhacos que perpetraram essa ignomínia. Permanecendo em seu posto, você iguala-se a eles em cretinice e vileza. Deveria preservar seu currículo. Custou muito chegar onde você chegou. E nem falarei sobre a comenda e o fato de ter sido chamado de burro por incompetente intelectualmente muito abaixo de si próprio. Urge cuidado para não justificar o xingamento, por mais baixo que tenha sido.

Carol, Regiane, Silvinha e Akira

Foi a turma que esteve comigo no sábado à noite, dia 30. A Rê ofececeu-se (foi oferecida pelos demais? Não sei, a combinação foi deles...) para preparar um risoto de gorgonzola e damasco, enquanto eu faria as vezes com meu indefectível bifim. Sabedor do gosto das meninas - Akira não conta! 😱 - separei um Bacio Della Luna 2019, já comentado diversas vezes. Esse espumante é o básico que agrada: perlage discreta, longe de fazer as bochechas estufarem quando colocamos um pouco da bebida na boca, equilibrado, um dulçor a mais do que o esperado para um 'extra dry', mas sem comprometer. Não há muito o que acrescentar ao que já foi dito muitas e muitas vezes anteriormente, uma vez que bebi vários no último ano. Preciso comentar que o risoto estava delicioso, e que casou bem tanto com o espumante como com os tintinhos nojentos que preparei para a noite. 

Velhos conhecidos

Chianti Classico Coli 2016 aerou por umas duas horas e tanto - esse não perco mais o serviço 😁 - e rancou (sic) um Uau de alguém quando servido. Claro, é muito superior a sul-americanos na faixa de preço, e ainda casa bem com um bifim. Basta acompanhar as demais postagens - até recentes - no vínculo acima para conferir. Ante a surpresa delas com um vinho europeu - na média bebem mais sul americanos - puxei da geladeira um Cedro do Noval 2015, que havia aberto no almoço. Foi minha terceira garrafa nessa safra, todas muito boas, todas compradas a bom preço no início da pandemia e ficaram guardadas um tempo. É sempre uma aposta certa; rico em frutas, especiaria, chocolate/café, boa boca - acidez, corpo e permanência, para sua faixa de preço, claro. 

Sobremesa

A sobremesa ficou por conta da Carol, que em sua primeira tentativa de finalizá-la no maçarico quase pôs fogo na casa de seus pais 😲. Nem tudo é perfeito... mas na hora ela performou (sic) magistralmente, e tudo funcionou muito bem. O creme brulée estava muito apetitoso, e combinou bem com um Sauternes do Château Doisy-Védrines 2016, que também virou um pouco carne de vaca por aqui. Sua acidez compensou bem o dulçor da sobremesa, e formaram um bom par. Preciso comentar ainda que o almoço contou com a presença do Armando e da Orlinda. Italiano da gema (rs), o Armando não vê hora de retornar ao seu amado Piemonte natal. Se ficarei um pouco triste quando ele partir, por outro lado adorarei visitá-lo lá na terra do Barolo, aproveitando de algum espaço debaixo da escada que ele possa me oferecer. Assim poderei tentar trazer algumas garrafinhas a mais na mala, economizando na hospedagem... 😝

Friday, November 5, 2021

Bons vinhos, boas companhias...

Introito

   O atual estúpido-mor da nação, cargo já ocupado por Luis Inácio Lula da Silva, Fernando Henrique Cardoso e Dilma Rousseff por ordem de idiotice crescente, para desespero geral e infelicidade completa dos cidadãos críticos, se já estava mal na condução do país e superou todos os seus pares com muita folga. Literalmente isolado na mais importante reunião dos líderes mundiais, foi conversar com... os garçons! Não que eles não sejam gente (sic!), mas acho que tem gente mais importante para conversar num momento como esse! Acompanhado do senador italiano Matteo Salvini, visitou o monumento em homenagem aos soldados brasileiros mortos na Segunda Guerra Mundial, em Pistoia. Dois fascistas invadindo o lugar de repouso sagrado dos nossos heróis que foram morrer longe de casa lutando contra... o próprio fascismo de Mussolini! Não bastasse, foi para outra cidade ver uma Torre e comer uma Pizza(!). É isso mesmo?! Confundiu a Torre de Pisa com Torre de Pizza? Quer piorar tudo? Não, não precisa acrescentar um quilo de merda ao que já está muito ruim; faz pior: concede a si próprio o título de Grão-Mestre do Mérito Científico. Ele, um capado mental apenas comparável à Dilma e seguido de perto por Lula, que poderia ser alcunhado Comandante Cloroquina (parece que os postos de Capitã/ão já estão reservados), recebendo a maior comenda da ciência brasileira?! Estão abrasileirando demais o brasil! Estão não, ele é quem está! A culpa sobre a permanência desse estrume no cargo de presidente recai principalmente - mas não apenas - sobre os ex-presidentes Lula e Fernando Henrique. Ora, supõem-se eles mesmos lideres, querem opinar (opinam!) sobre o destino da nação, então teriam a obrigação de chamarem suas legendas e impetxarem (sic) o pulha. Essas legendas mais os atuais descontentes seriam suficientes para removê-lo do posto. A História precisa julgar esses idiotas, além do estúpido-mor do turno. E deixemos claro: a culpa de sua permanência recai nas mãos do Congresso. Não do canalha de seu presidente, que compete de perto ao posto de pulha-mor. Ele não seguraria o Congresso, ponto - a explicação não vem ao caso.

A reunião da sexta-feira

   Decidido a fazer reuniões com pequenos grupos, programei um encontro a quatro: o Akira - participante hors concours desde há muito tempo - D. Neusa e Romeu. Já tinha um tintinho na mira, e precisa de outro... queria algo que tivesse algum significado para com o encontro. Lembre-me do recente embate com um energúmeno que questionou se eu respeitava os limites legais ao trazer vinhos para o país, quando listei várias pessoas que haviam trazido dúzias de garrafas para mim, em muitas e muitas viagens - aliás a irmã da Orlinda está vindo aí, com mais 3 na mala! Lembrei-me de um que foi trazido pelo próprio convidado. Tava (sic) armada a algazarra.

   Tauba (sic) de queijos e frios preparada, bifões cortados, recebi os convidados com as garrafas já abertas. A menos da xampa, claro; ela ficou por conta do Akira, que executou a tarefa com sua habitual habilidade zero noiseO Champagne Piper-Heidsieck é um não-vintage engarrafado em 2015 (desta vez li no contra-rótulo). Degustada anteriormente em junho, mostrou o mesmo abacaxi característico da oxidação desse tipo de vinho. A perlage atraiu a atenção geral - não a minha, que não reparo nessas coisas 😒 -, por delicada. Tinha pão, ou fermento, o que acho não ter notado da outra vez. É uma expressão básica de champagnes - champagnes! -, basta ficar atento para notar. Acidez muito agradável, boa permanência, foi bem com uns queijinhos, principalmente o Manchego trazido pela D. Neusa. Depois servi os tintinhos nojentos às cegas. Para o primeiro, o Romeu disse 'ibérico', se não me engano. O Akira cheirou, cheirou que cheirou, olhou e disparou... 
   - Algo como Rioja... - depois falou que poderia ser algo mais, mas ao fim e ao cabo estava fixo em espanhol, talvez Rioja. D. Neusa olhou-me de olhos arregalados 😜. Comentei que era vinho de produtor que ele já havia bebido. Confirmei sua pergunta, era sim um Rioja. Ele brecou tudo com um gesto e voltou a cafungar. Por fim, decretou: 
  - Peraí! É um Remírez de Ganuza. 
   O segundo vinho também causou impacto e igualmente trouxe alegria à mesa, e todos ficaram surpresos. O Akira chutou entre americano e australiano, deixando-se levar pela última nacionalidade. Foi a deixa para que eu encaixasse os dedões próximos aos ouvidos, mãos abertas, e as abanasse para cima e para baixo: 
   - Urrú! Errou! - não era sem tempo... ele tinha acertado tudo desde a primeira reunião com o Renê!


Trasnocho 2008 é produzido pelo tal do Remírez de Ganuza, bodega de produtor homônimo, estabelecida em 1989 em Rioja Alavesa. Trasnocho, corte de Tempranillo, Graciano, Viura e Malvasia (Tempranilho lá pelos 90%) é assim: pensa num vinho potente. Guarde seu conceito do que seja potente, vá estudar e volte. O vinho foi aerado por umas três horas até o serviço. Logo de saída percebemos que está bom para beber, mas pode ficar guardado muito muitos anos. Muitos... não é difícil notar que no nariz é o que costumo chamar de tridimensional. Tem de tudo, muita fruta vermelha e negra, madeira (sem excesso!), algo na direção de chocolate/café/couro, arrisco que algo herbáceo. Álcool de 14,5%, só é perceptível se prestar atenção. Apesar da intensidade, está perfeitamente bebível, e com muito prazer para as papilas: enche e boca, tem ótimo corpo sem ofender, se me entendem, a persistência é larga, o final volta completo após engolirmos as últimas gotas. Uma verdadeira felicidade engarrafada, no seu mais profundo significado. Safras recentes (2012+) custam por volta de 100 dóla. Aqui, nas mãos de tubarões, R$ 1.700,00. Paguei uns R$ 350,00. Outros tempos, outros dóla (sic). Foi trazido pelo Romeu, há muito tempo, e no final lá estava ele para degustá-lo. Disse ter gostado bastante... 
   Agharta Black Label 2004 também surpreendeu. Aerado por mais de cinco horas até o serviço, chegou explosivo. Ótima estrutura - álcool, tanino, acidez e açúcar - competiu bem com Trasnocho. É mais concentrado, mas acho que menos complexo. Só um pouco menos... falamos de vinhos opulentos. Ótima persistência, a fruta e o tanino duram na boca. Apesar de 2004, mostrou-se novo; pode ser guardado por muito tempo. É produto da AVA (Área Vitivinícola Americana - para nossa sorte a tradução do inglês apenas inverte os 'A's) de Sonoma, um corte 92% Syrah, 5% Grenache, 1% Viognier, 1% Marsanne e 1% Roussanne, estas três últimas, cepas brancas. Os Rhône Rangers são viticultores que pregam ser o clima quente da Califórnia mais adequado às cepas mediterrâneas do sul do Rhône, e centram-se em seu cultivo em detrimento das cepas bordalesas ou borgonhesas. Aliados à sua vasta tecnologia em leveduras, os produtores americanos realmente conseguem produzir vinhos à altura dos franceses. Trasnocho e Agharta: taí dois vinhos que eu repetiria. No final tivemos o já batido (rs) Sauternes do Château Doisy-Védrines 2016 com bombom de morango, sobremesa um tanto doce mas muito requisitada no Cantos e Contos. Se usassem Lindit amargo, a qualidade seria outra. O preço também, claro... Teve bão. Mais vinhos nas festas de aniversário que seguiram-se...

Thursday, November 4, 2021

O segundo dia com o Renê

Introito

A transformação (da sociedade) só virá pela soma dos nossos esforços... Nós podemos sim transformar o Brasil por meio do exercício da cidadania, do voto consciente e da participação de cada um de nós nos problemas sociais.
Deltan Dallagnol
4/12/2021,


   Com a falha e decepcionante apresentação de armas pelo Renê na postagem passada, decidi que no segundo encontro faria mais um desinteressado serviço à humanidade na tentativa de desentortar outra boca. Porque em nosso encontro ele não cansou-se (mas cansou a mim e ao Akira! 😱) de falar de ótimos argentinos que ele estava provando. Certo, não há dúvida: Felino (Cobos), Numina, Carmelo Patti, os El Enemigo, os DV Catena em geral, Zuccardi e mais alguns, para citar esses, são sim bons vinhos. Apenas, a exemplo dos chilenos, precisam brilhar sozinhos. E andam muito caros por aqui. Caríssimos, para relembrar os superlativos da última postagem. Mas ele comprou alguns com bom desconto, então mereciam mesmo a citação que nos fez. Mas eles continuam sendo vinhos sul-americanos...
   Sobre a citação desta postagem, o sr. Deltan deixou-me gratamente surpreso pela opção que escolheu. Dispôs-se a largar o conforto de seu (ótimo!) cargo de funcionário público para se enlamear até o pescoço em favor de todos nós. E sua mensagem é clara: a transformação virá por meio da cidadania. Assim como este Enochato reclama contra os importadores energúmenos que enfiam a mão em nossos bolsos sem receio nem cerimônia, outras pequenas manifestações diárias de cidadania é que farão deste país uma grande nação. Resumindo, é assim: se é ruim para os importadores energúmenos e políticos em geral, é bom para o brasileiro.

Dois vinhos de melhor porte...

Estou sempre na linha de frente da disposição de analisar vinhos, por algum viés. Acho que o da qualidade e preço é uma abordagem importante, ainda mais nestas plagas. Daí que destaquei dois vinhos simples para combater um chileno, porque eu já sabia que eles dariam conta do recado, como deram. Mas a semana passada foi a semana do meu aniversário, e nada como começar a aquecer os motores, bocas e taças para uma esbórnia programada e aguardada há um ano (😂). E se o leitor acha que já estou planejando a festança do próximo ano, saiba ele que tenho planejada a de 60... sem pressa, e um dia de cada vez, aguardando os vinhos maturarem, espero apenas que o céu não caia sobre nossas cabeças...

Abri com alguma antecedência (1 hora) o Il Drago e le Otto Colombe 2016 e o Pago de los Capellanes Joven 2019, vinhos já degustados há não muito tempo. O Il Drago mostrou boa fruta, boa estrutura, boca equilibrada, bom corpo com a acidez adequada que tanto prezo e teve boa receptividade. O Renê viajou na maionese sem perceber, comentando que poderia ser ibérico, ou italino... Pow, mas aí só deixou a França de fora, Renê! 😂 O Akira foi certeiro: tem algo esquisito, e para mim algo esquisito costuma ser italiano... E matou na lata. Como o corte é 65% Sangiovese, 20% Merlot e 20% Sagrantino, ele considerou que o estranho na jogada era esta última cepa. Mas acertou a nacionalidade só no buquê, porque não bebe. O Capellanes também teve boa presença, com muita fruta no nariz, corpo médio, acidez menor mas presente, e em comparação o final é mais curto. Mas é aquela velha estória, a comparação que só aparece com ambos os vinhos degustados juntos, taça a taça. Ainda assim fez um bom par com Il Drago, e ambos acompanharam bem um bifim mais leve que o Renê encomendou em algum restaurante local. O Akira, claro, matou que era um espanhol, enquanto o Renê ficou entre espanhol e italiano. Se saiu de S. Carlos mais convencido da qualidade dos europeus, é assunto para outra postagem. A próxima brincadeira é colocar algum europeu com alguns dos vinhos que ele citou no começo da postagem, e dos quais ele comprou diversas garrafas. Os próximos encontros prometem ser eletrizantes... (risos!)
   Ah, sim! Ambos foram comprados na Enoeventos, importadora de onde jamais ganhei qualquer vinho - e não aceitaria! - e que sempre faço questão de citar como ótima opção para vinhos a bom preço. Como de hábito, pago pelos vinhos degustados, o que é posição importante para quem deseja manter a seriedade do espaço. Il Drago está esgotado, mas existem outros produtos da Donatella Cinelli Colombini; a linha Capellanes ainda dispõe de muitas opções, inclusive o Joven. 

Tuesday, November 2, 2021

(Quase) Ganhei um Carmenère... 😣 Ainda bem que não... 😀

Introito 1

  Tempos difíceis. Dificílimos! Assim como José Dias em Dom Casmurro, chego nesta terça-feira com um ataque de superlativismo (sic! rs!); é com pesar amaríssimo que privei os leitores da coluna no final de semana que passou. Venho comemorando (e bebemorando, principalmente) desde a última terça-feira. O Renê ficou de terça a quinta, para descontar o atraso de não nos termos visto desde o início da pandemia. Chegou, nos abraçamos como se o gesto compensasse todo o tempo separados, sentamos e começamos a conversar. Já parecia que o último encontro ocorrera na semana anterior. Nada mais senão forte indicativo de velha amizade. Como ele ficaria nas noites de terça e quarta, a esbórnia estava declarada.

Introito 2

 - Estou indo armaaado! - Quando o Renê faz essas ameaças tão logo digo Alô ao telefone, é porque a coisa está séria. Ele foi logo comentando: - Conheci um produtor de vinhos do Chile, e peguei dois Gran Reserva para experimentarmos. 
   Chilenos? 😓Gran Reserva? 🙄 Sei... 😂🤣 Da outra vez ele trouxe um Catena Zapata Estiba Reservada, que é um grande vinho argentino. Desta vez, fiquei apreensivo. Chileno... Gran Reserva... eu sabia bem o que poderia colocar para bater de frente. Afinal, venho propalando isso há tempos, e aos quatro ventos, a troco de quê?

Deixai chilenos brilharem sozinhos... (Bíblia Enochática, Livro dos Vinhos Sul-Americanos, Vinhos Menores, capítulo 2, versículo 15)

Evangelhos não são precisos, por isso esse acima também não pretende sê-lo. Claro que chilenos podem brilhar sobre alguns concorrentes. Basta competir com vinhos brasileiros. No mais, brilham entre si, e está bom. O Renê veio com seu Santa Vita Cabernet Sauvignon Gran Reserva 2018. Sem má fé: madeira curta - curtíssima! - para um padrão Gran Reserva chileno. Nariz com alguma fruta na sensação de ter sido batizado com aromas artificiais. Boca modesta - modestíssima! - com pouco taninos e nenhuma - nenhumíssima! (sic! rs!) - acidez. O Renê ainda pagou quase R$ 70,00, embora tenho encontrado por... R$ 55,00 em dinheiro em algum lugar por aí. Veja a 'análise' do produto: Gustativo: no paladar mostra suas virtudes. Um vinho de grande equilíbrio onde a acidez é envolta por taninos macios e redondos... Bom... o que posso dizer? Alguém está usando da 'fama' do rótulo Gran Reserva para perpetrar (😨) - risos! - em nosso desavisado consumidor um produto de décima quinta quando deveríamos esperar, vai, um de décima terceira. No... no se puede... Basta dizer que o Renê bebericou duas vezes e comentou que não voltaria a repetir dele. Segundo seu comentário, deveria ter pego um Cabernet e um Carmenère. As garrafas deviam estar misturadas, porque ao pegar as garrafas na gôndola vieram dois Cabernets. Ainda bem! Já não é ruim o suficiente beber um Cabernet de baixa qualidade... imagine se tivesse sobrado um Carmenère para o dia seguinte 😫. Porque eu ia querer experimentar sim!


Da minha parte, coloquei, às cegas, os valentes Cheda Lavradores da Feitoria 2016Chianti Classico Coli 2016. O Cheda foi comprado há muito tempo, por menos de R$ 60,00 (na verdade, acho que menos de R$ 50,00). Esgotado no importador, creio que estaria hoje na faixa de R$ 75,00-80,00. É, empobrecemos. Minha última garrafa, manteve suas características básicas: alguma fruta, taninos leves, acidez baixa mas presente, bom equilíbrio geral e final um tanto curto. Corte de Touriga Franca,  Tinta Roriz e Touriga Nacional, como dito em outra postagem o 'curto' deve ser relativizado. Muito melhor do que Santa Vita, foi a prova de que Cheda 'mata'  Gran Reservas vagabundos e provavelmente compita muito bem com vários outros Gran Reservas. O Akira cafungou e falou de primeira: é português. Não chutou a região (Douro), mas convenhamos: em vinhos muito simples, é uma tarefa ingrata. No Coli, o Renê pôs no nariz e disse que poderia ser italiano. Calado, o Akira concordou. O Renê foi além: - Sangiovese? O Akira arrematou: - Toscano. Bem, esse eu tive o cuidado de abrir com umas 2 horas e meia de antecedência, e ele estava mesmo expressando bem suas características. Seu desempenho foi similar aos passados e descritos muito recentemente, sem muito o que acrescentar: nariz com fruta vermelha, algo mais que me não identifiquei bem - o Akira mencionou, mas não guardei. Algo meio torrado? Não lembro... acidez melhor que os anteriores, bom final. Um vinho bem honesto, nunca é demais repetir. O Cheda ficou um pouco de lado na foto para vermos o quanto sobrou dele, comparando-o com Santa Vita. Coli estava seco - sequíssimo! Não era para menos...

   Esta postagem - 2 de Novembro, terça-feira - foi embalada a um restinho de Agharta 2004. Ainda mantinha fruta vermelha viva, especiaria, chocolate/café e ótima boca. Falo dele quando chegar a hora...