Saturday, December 25, 2021

Um Xatenefinho 20 anos

Introito

Teoria é quando tudo se sabe mas nada funciona. 
Prática é quando tudo funciona mas ninguém sabe o porquê.
Neste blog, associamos prática à teoria:
Nada funciona, e ninguém sabe o porquê... 

Ontem estava pensando no vinho que beberia na noite do dia 24 quando recebo uma vídeo-chamada do Akira. Atendo e, para completa surpresa, quem não aparece na tela? O Joaquim, nosso sobrinho, filho da Terumi, irmã dele. - Tio Carlossssss! Você vem jantar conosco hoje????? Golpe baixo; eu havia comentado com ele que pensava permanecer em casa. Bem, não se pode decepcionar um sobrinho tão amoroso assim, não é mesmo? De modo que às 20:00 estava chegando para a festa no apê, com a família do Akira somente. Como ele não pode beber e o restante da família não cultiva o hábito, deixei o vinho para o dia seguinte. Mas já tinha um safadinho em mente...

Châteauneuf-du-Pape

Não tenho certeza se já comentei... Châteauneuf-du-Pape é parte do Rhône, ficando na parte sul dessa apelação. Tem um enorme número de cepas permitidas que podem entrar em seu corte (Tintas: Cinsault, Counoise, Grenache, Mourvèdre, Muscardin, Piquepoul, Syrah, Terret e Vaccarèse. Brancas: Bourboulenc, Clairette, Clairette Rose, Grenache Blanc, Grenache Gris, Picardan, Piquepoul Blanc, Piquepoul Gris e Roussanne), embora raríssimos produtores cultivem todas elas. E, ao fim e ao cabo, a Grenache é quem dá o tom. Experimentei poucos, e alguns eram muito bons, inclusive um branco, excepcional. Bons Xatenêfis podem ser vinhos mais leves e delicados ou potentes e encorpados, a depender da vinificação; é preciso conhecer os produtores e seus estilos, que às vezes estão misturados. Mais ou menos como a epígrafe desta postagem...

Domaine du Pégau 

   O Domaine du Pégau tem estória que remonta a 1670. Produz uma gama de Xatenêfis, alguns Côtes-du-Rhône/Côtes-du-Rhône Villages e vinhos mais simples. Com seu nome todo pomposo, Domaine du Pégau Châteauneuf-du-Pape Cuvée Réservée parece ser o Xatenêfi mais simples da linhagem... bem, foi o que deu para pagar... 😔

 Domaine du Pégau Châteauneuf-du-Pape Cuvée Réservée 2001

Disse que o Cuvée Réservée é o mais simples? É mesmo, e ainda assim andou frequentando a lista dos 100+ da Wine Spectator de 2004, nessa safra de 2001. Corte 85% Grenache, 9% Syrah, 4% Mourvèdre e 2% outras variedades, foi muito bem avaliado pela crítica especializada, mas o surpreendente são suas notas pelo sítio amador Cellar Tracker, conhecido por renormalizar as pontuações em excesso concedidas pelos profissionais menos pés no chão ao estilo James Sucks e outros. Abri às 17:30 e estou provando com mais atenção agora, às 22:00. Ele parece estar volátil... 😕 sirvo pequenas porções para não perder a temperatura - tirando e voltando a garrafa ao balde como um bom vinho merece, tentando manter a temperatura mais ou menos constante - e quando dou conta o conteúdo da taça foi-se... 😂 Casa muito bem com um bife ancho. O nariz está naquele estilo que costumo dizer tridimensional: tem notas sobre notas, é realmente complexo; fruta madura, café/couro, terroso, mais toques que não consigo distinguir. Boca muito bem elaborada, demonstrando que está em seu auge, e arrisco que com estrutura para manter-se assim por mais tempo. Os taninos são suaves, há um dulçor agradável misturado aos 13,5% de álcool, recheado de fruta e algo na direção de couro. Madeira presente e harmoniosa, acidez verdadeiramente elegante - a boca saliva à vontade - complementa o sabor da carne com ótima permanência e final muito marcado e longo. É fácil descrever um vinho desses, as qualidades estão saltando em nossa frente, a despeito da dificuldade em separá-las adequadamente... acho que daqui pra frente só vou beber vinho assim... 😝; descrever vinhos médios é-me complicado e às vezes maçante... Veja, não é um vinho pegado. É um daqueles Xatenêfis que vai mais o lado da elegância, mas nem por isso deixa de ter presença. Às vezes classifico vinhos bem mais simples como felicidade engarrafa porque de fato o são, em sua faixa de preço - é uma classificação minha, onde o preço conta. Não conheço tanto de vinho, e meu limite (vinhos comprados quando eu era rico) está em USD 230,00 lá fora. Até essa faixa de preço, Domaine du Pégau Châteauneuf-du-Pape Cuvée Réservée 2001 é uma verdadeira felicidade engarrafada. Digo, em seu sentido mais amplo. Não sei o que vem depois...
   Deixarei meia garrafa para amanhã à noite. Contando com o impossível, convido os dois primeiros leitores que se manifestem em meu uatizápi ou no blog (vou conferir os horários!) a juntarem-se a mim para terminar com o vinho. Mas lembrem-se de Peter Ustinov em seu impagável papel como Batiatus em Spartacus (1960): Vinho de primeira, taças pequenas...

De como a vestal Luciana salvou minha combalida honra

Introito: um presente de Natal

   Espaço, a fronteira final. Começarão em breve as observações do Telescópio Espacial James Webb (JWST na sigla em inglês). Sua missão de dez anos: explorar novos mundos, buscar formas de vida e perscrutar os confins do Universo, corajosamente olhando onde o homem jamais poderia ver. Esse arremedo introdutório à la Star Trek alardeia que hoje de manhã (horário de Brasília) a humanidade ganhou um belo presente de Natal: foi posto em órbita, primeira etapa da jornada que levará a seu posicionamento final, o mais novo telescópio espacial que vai suceder e complementar o Hubble em nossa jornada pelo conhecimento. O JWST foi construído para olhar o universo da faixa do infravermelho, região de espectro que não podemos pesquisar a partir do solo devido à grande interferência da nossa própria atmosfera, e o Hubble não foi construído para essa finalidade - sua temperatura de operação, cerca de 15 °C, já emite radiação térmica o suficiente para inviabilizar a captação de dados. O JWST tem múltiplas finalidades, como estudar a luz das primeiras galáxias que se formaram após o Big Bang; estudar a evolução das galáxias e a formação de planetas e sistemas estelares, e procurar por planetas que possam conter vida inteligente. Enquanto os primeiros tópicos sejam da área da astrofísica, este último é talvez o Santo Graal da astronomia moderna. A ideia é simples: planetas habitados por espécies inteligentes devem ter uma assinatura térmica diferente dos demais planetas, uma vez que qualquer civilização técnica vá dispersar o calor de seus equipamentos na faixa do infravermelho. Mais um pouco, aproximamo-nos de um futuro antes só especulado pela mais desvairada ficção científica. O JWST homenageia James Edwin Webb, administrador da NASA no período entre as missões Mercury e Gemini. Com o incêndio na Apolo 1, que vitimou os pilotos na plataforma de lançamento em pleno teste de rotina, Webb aceitou assumir a culpa e trabalhou sutilmente para desviar a atenção do público tanto da NASA quanto da própria administração nacional - exercida por Lyndon Johnson desde o assassinato de Kennedy. Esse gesto custou-lhe o cargo. Em algum momento a homenagem foi posta em suspeita pela alegação de que Webb participara dos expurgos de funcionários públicos por serem homossexuais, incluindo um da própria NASA; evento conhecido como o susto de lavanda. Sem provas concretas que atestassem tal alegação, a homenagem continuou. Mas ora... um fedor de revisionismo histórico tem nos cercado de algum tempo para cá. Fruto de mentes seguramente afetadas pela falta de oxigênio, esse comportamento tem se unido ao tal do politicamente correto para cometer atrocidades. As pessoas são fruto de suas épocas. Na Grécia Antiga, enquanto víamos o nascer da democracia, havia clara aceitação da escravidão. Escravidão que, mesmo às portas do Iluminismo, teve na Igreja Católica um de seus maiores bastiões. Na década de 1920 as teorias de eugenia originadas no final do século XIX ainda estavam em voga na Europa. Apenas aconteceu do Hitler levar toda a culpa, mas seus defensores espalhavam-se por todos os continentes. Então, o revisionismo não pode querer recontar a história pela supressão dos fatos ou personagens. A evolução humana se faz com o aprendizado de seus erros, e esquecer-nos deles é que nos levará à derrocada. Pessoas em posição de comando não são imunes a enganos; devemos olhar o conjunto da obra com orgulho dos acertos e sem tentar jogar para baixo do tapete o que possa nos envergonhar. Devemos, antes de tudo, saber o que aconteceu sem jamais nos esquecermos disso, sempre evitando o caminho fácil da ignorância e do obscurantismo. E isso é tudo o que eu eu tenho a dizer sobre isso (sic).

O encontro de final de ano das Noivas de Baco

Da esquerda: Ricardo, Eduardo, Tatiane, Gustavo, 
este Enochato, Luciana, Renata e Dayane.
Foto: Sofia, filha da Renata.
Após o encontro da quinta-feira no Shot Café, as Noivas de Baco reuniram-se novamente no sábado. Até o Ricardo, ainda sem poder orar a Baco com todo o fervor que a prática requer, afastado da taça que está, uniu-se a nós para o culto. Cheguei pontualmente como compete a um prelado, e fui o primeiro. A anfitriã Luciana mostrou-me sua sugestão e considerei que seria (mais) uma ótima experiência servirmos às cegas. Havia aerado e embrulhado meu vinho e levei-o também às cegas. Combinamos um amigo secreto onde o presente seria uma garrafa de vinho e o ganhador colocaria a própria garrafa na degustação. Alguém estava prestes a levar a fama com meu vinho, e pensei comigo que não podia deixar por isso mesmo. Chegaram todos, cumprimentos daqui, conversas de lá, e de repente estávamos à mesa com os nomes de cada um nos papeizinhos trazidos pela Dayane. Passei a mão palma da mão sobre eles como a sentir suas emanações enquanto avisava: quem tirasse o próprio nome que tivesse a decência de ficar quieto, para evitarmos repetir o sorteio vezes e vezes sem fim. Sugeriram que eu começasse revelando meu contemplado. Porque você é o prelado - respondeu alguém à minha pergunta. Olhei para todos:
   - Vou começar cometendo um sincericídio, então. Peguei uma pessoa que pensa saber sobre vinho, mas precisa estudar muito para poder dizer que sabe pouco. - todos olharam-me surpresos. - Nada entende de harmonização e vive confundindo uvas - ou ouvintes começaram a olhar uns para os outros preocupados. - Já viajou um tanto mas de nada adiantou, continua dando mancadas sempre que pode, - precisei interromper meu discurso para soltar um Não é você para um confrade que apoiara a cabeça na mesa, escondendo-se com os braços. Ele levantou-se tentando sorrir, enxugando algumas lágrimas enquanto todos olhavam-no. - e garanto que continuará assim pelos próximo anos - fiz uma rápida pausa e todos miraram-me atônitos. Não sabiam o que dizer. Alguém engoliu seco. Levantei o papelzinho contendo o nome do meu amigo secreto ainda fechado, segurando-o com o polegar, o indicador e o médio, e com um gesto teatral abri-o na frente de todos - Meu amigo secreto sou eu mesmo! - todos riam; ninguém havia percebido minha prestidigitação. Houdini que se cuide...

Servi o primeiro vinho, ofertado pela Luciana - não lembro quem ganhou - e era um branco. O Eduardo acho que aventou Sauvignon Blanc, mas mudou para Chardonnay. Não lembro bem o que outras pessoas avaliaram, mas alguns também ficaram com Chardonnay. Não me recordo se mencionei um toque salgado na boca antes ou depois da revelação, mas tratava-se de um Domaine Chatelain Les Chailloux Silex 2018 da região de Pouilly-Fumé, Vale do Loire. 100% Sauvignon Blanc, notas muito cítricas - acho que alguém falou em pera - boca com ótima acidez, também cítrica e o toque salgado já mencionado, com boa permanência e bom final. Relembrei aos confrades a minha percepção do salgado, que no encontro anterior levara-me a opinar que vinho degustado era um Sauvignon Blanc e não um Chardonnay. Houve boa concordância: um lembrava o outro. Assim a vestal Luciana salvou o pouco da minha honra depois do fracasso da quinta-feira. O Eduardo apresentou um 5TA Generacion Gran Reserva Malbec 2015 da vinícola Goyenechea. Gostei; boa fruta, madeira e algo de café/chocolate, boca equilibrada, bons taninos, corpo médio, final e permanência bons para um sul-americano. Faltou um tanto de acidez, mas esse mistério não costuma mesmo frequentar as garrafas daqui. Apareceu um Flor de Crasto 2020, Douro que já bebi muito. Minha percepção foi que mudou um tanto desde os idos de '06, quando era um pouco mais pegado. Claro, minha boca mudou também, mas já naquela época a comparação entre duas safras distintas surpreendeu os degustadores. Estava claramente mais para o lado daquele 2009, com fruta e baunilha, fácil de beber e agradável se acompanhado de um salame. Veja as impressões do vínculo para sabe mais. Meu Leone Rosso 2018, produzido pela Donatella Cinelli, entrou em cena e praticamente evaporou. Era o quarto vinho, o pessoal já tinha bebido bem, mas não se fez de rogado. Servido mais ou menos com a saída do churrasco, fez um bom par. Como teve um bom serviço, as características aproximaram-se bem da postagem passada, que o leitor acompanha aqui. Teve ainda um Anciano Criança Tempranillo 2015, vinho rápido e barato que não fez má figura. É bem simples, e sua maior qualidade é não ser desbalanceado - a menos de um toque doce a mais. Mas não tem álcool aparecendo, a acidez se é baixa não destoa dos taninos que também são discretos, enfim, é um vinho que bebemos sem reclamar, ao contrário de alguns sul-americanos que podem ser um tanto enjoativos. Não senti que o doce fosse enjoativo, mas bebi pouco. Tinha ainda um Beauty in Chaos 2017, que pretendi deixar para mais tarde mas não avisei os confrades; quando vi, era-se uma vez... 

A Luciana ainda nos surpreendeu com prendas natalinas e, para completar, degustamos novamente do Jerez Viña 25 recentemente comentado, desta vez acompanhado com marzipan. Foi uma ótima harmonização, que deixou a todos extasiados. No final, a galera saiu xingando - acabou rápido demais - e prometendo mais para 2022. Estaremos a postos...
   O Ricardo? Só no suco de uva, um pouco deslocado na foto junto dos vinhos. Baco entendeu...

Thursday, December 23, 2021

Encontro Vinho e Turismo

 Introito

   Vinho e Turismo é um encontro promovido em São Carlos pelo Shot Café/Vinho e Ponto e pela agência de viagens Caminhos do Turismo. O Shot Café tem atuação cultural extensa, apoiando diversas manifestações artísticas na cidade; recentemente recebeu o autor Vinicius Gomes no lançamento de seu livro Cadafalso, na loja da 9 de Julho. Mensalmente, vem hospedando o evento Vinho e Turismo onde os participantes assistem a uma palestra sobre turismo e degustam o vinho de um determinado país. O próximo encontro versará sobre vinhos da Itália. Sei que não conta muito... mas eu vou!

Vinhos pelo mundo

O último encontro versou sobre vinhos e turismo pelo mundo. Os principais destinos foram rapidamente apresentados, junto dos produtores mais conceituados; uma recapitulação de encontros ocorridos ao longo deste ano. Já havia promovido uma degustação dirigida com a confraria Novas de Baco por ocasião do aniversário da vestal Luciana, quando provamos dois vinhos do mesmo produtor mas de qualidades distintas. Aproveitando a deixa do assunto, propus ao Jairo (do Shot) e ao Eduardo (do Caminhos do Turismo) uma brincadeira focando outra característica de vinhos. Eu levaria um às cegas, e propus a eles outro, que seria servido também às cegas para os ouvintes.

Iniciamos os trabalhos (rs) degustando um espumante Glamur Brut da Peterlongo. Como nota introdutória, destaco a grafia é essa mesma, Glamur. Corte Trebbiano e Riesling, é produzido na Serra Gaúcha. Não tem a expressão mais conhecida da Riesling, aquele toque de óleo Singer, como costuma destacar o Akira. Observe, não é qualquer óleo. É o Singer. Preciso concordar que é assim mesmo. A Trebbiano, nunca experimentei. Glamur tem notas cítricas na frente, e alguém mais sugeriu algo além, mas não guardei. Perlage melhor do que a de muitos espumantes que existem por aí - bolhas menores, que não estufam as bochechas mesmo em um pequeno gole - mostrou boca rápida, corpo leve, acidez baixa. É mais ou menos a média do que podemos esperar de um espumante nacional. Sim, existem melhores, mas em nenhum dos casos o preço convence. Espumante nacional é dito o segundo melhor do mundo, perdendo apenas - e olhalá (sic!) - para as verdadeiras Xampas francesas. Depois acusam o pobre bolsonésio e o sem vergonha do sapo barbudo de mentir até para a própria sombra... Se os preços caíssem para 1/5, eu teria em casa. Nem que para abrir estourando a rolha e mirando na fuça de algum cunhado, canalha ou desavisado em geral. Falando sério: a preço razoável, faria frente a espumantes de 5 Euros que chegam aqui a preços quase similares. Mas o brasileiro gosta de acreditar em mentiras, e vai aceitando essa precificação além do razoável.

Na sequência serviu-se um branco, às cegas. O cítrico veio na frente, mas alguém comentou outra nota - não guardei (😕). Boca com acidez média a baixa (mesmo para um branco), um tanto ligeiro, terminando rápido. Acho que alguém comentou Chardonnay. Reparei melhor. Um fundo salgado no final chamou-me a atenção e arrisquei Sauvignon Blanc. Depois que citei o travo salgado outras pessoas também notaram. E, para meu desespero, era um Chardonnay mesmo... 😖 Orfila Chardonnay 2019 é um vinho argentino que está na faixa dos seus R$ 80,00, algo assim. Há algum tempo encontrei algumas 'promos' de borgonhas - Chablis, na maioria das vezes - a partir de R$ 120,00. Prefiro menas garrafas (sic! rs!) e mais vinho. Sul americanos não sabem fazer tintos. O que dizer de brancos. Em seguida vieram às cegas dois tintos que conduzi a apreciação. Sugeri que os ouvintes bebessem um e depois o outro, e depois de algum tempo invertessem a ordem, reparando nas características básicas de vinhos: álcool, tanino, açúcar e acidez. Alguns notaram, quando questionei, que o primeiro vinho, no segundo tempo (ao ser degustado depois do segundo) apresentou uma boca mais doce do que da primeira prova. O primeiro chegou com perfumes à fruta e especiaria, boca com taninos presentes, acidez não tão marcada, madeira discreta e final rápido. O segundo mostrou fruta um pouco mais contida, algo herbáceo - acho que o Jairo associa com um lodo de fundo - madeira discreta, boca com taninos leves, acidez bem presente, final e permanência médios. Claramente não um grande vinho, mas que chama a atenção pela completeza: tem tudo, e está equilibrado; para seu estilo, nada falta ou sobra. O primeiro era um Irurtia Tannat Reserva 2015, 12,6% de álcool, e o segundo um Bouchard Pere & Fils Bourgogne Reserve 2014, 12,5% de álcool. Comparar sul-americanos com um borgonha pode parecer covardia, mas eu queria provar da força da Tannat contra a sutileza da Pinot borgonhesa. E deu o que eu apostava: a Tannat não sobrepujou a Pinot! Pelo contrário, recuperando o comentário do segundo tempo: provado depois, o duro e pegado Tannat ficou um tanto doce... quase virou uma menininha (rs) correndo no parque para fugir do lobo mau. Eu queria na verdade ter experimentado o Irurtia Tannat Gran Reserva, com seus 13,5% de álcool. Aposto que ainda não teria sobrepujado o borgoinha. O quesito preço não pode entrar na comparação. Borgonhas são vinhos mais raros e caros. Um Bouchard, mesmo simples como o degustado, custaria cerca de R$ 350,00, contra R$ 120,00-R$ 170,00 dos uruguaios. É o preço de um Borgonha (agora sim, com "B") de bom produtor. Resumo da ópera: não adianta ter tanino, álcool e madeira. Isso não é potência... para falar em potência precisamos sim deles, mas com acidez. Sem ela, um concorrente com menos desses três, mas mais equilibrado na acidez se mostrará mais potente. Para quem está acostumado com a acidez e sabe reconhecê-la, claro. Mais uma desinteressa reflexão deste Enochato em prol dos demais interessados que estão trilhando os primeiros passos nessas lides.

Tuesday, December 21, 2021

Espanholetos à vista e o fio desencapado

Introito

Período complicado, cidadanísticamente (sic!) falando. bolsonésio bate recorde no número de delegados do Prato Feito (PF; achou que invoquei o quê?) substituídos por investigações indesejadas contra pessoas próximas a si. Esse pessoal (PF) não está sabendo cozinhar o galo conforme manda o figurino... e ninguém dá um pio para apoiá-los?! Pouco mudou, na verdade: ser tolo, corrupto e processado pela justiça em todas as instâncias possíveis e existentes, e solto por mero e completo casuísmo, há vinte anos, algo assim, cancelava o visto de um jornalista estrangeiro que por aqui trabalhava. Regredimos, porque naquele momento pelo menos houve uma grita geral da imprensa, corporativa que é. Disse uma vez, o pior e o melhor da humanidade, porque é preciso muito cuidado com essa gente (jornalistas), à mesma proporção em que são necessários. Por isso não coloquei o pior em primeiro a troco de nada, que aqui no blog não tem ponta solta nem fio desencapado. Aliás, fio desencapado tem. Às vezes enfio nos fundilhos de alguém, achando-me proctologista de mão-cheia... 😣. Tolos, apresentem-se em fila indiana; não poupo energúmeno! Falemos de vinho.

Jumilla

   Comentei sobre Jumilla há priscas eras (2012), e só voltei a comprar algo da região muito recentemente. Havia experimentado um vinho de importadora que passei a frequentar pouco e sem seguida nada porque a experiência com as 6 garrafas do mesmo produto não foi tão animadora. Perdi alguma 'promo' melhor? Certamente. Mas canalizei meus suados cruzeiros para importadoras honradas que fazem meu dinheiro valer a pena e não que oferecem promos quando o vinho está no bico de corvo, além de nos proporcionarem boas ofertas de verdade. Onde está meu fio desencapado, mesmo?!

Juan Gil

   A despeito de Jumilla não ser um grande polo produtor de vinhos - o leitor sabe indicar algum excelente vinho espanhol da região? Sabe indicar algum grande produtor dentro da elite (10+, 20+), pertencente a essa procedência? - ela oferece-nos boas opções para comermos (bebermos?!) pela beirada. Ah, tem o El Nido, antes que algum safado venha falar nele. Voltemos ao ponto: o leitor anda abonado a ponto de poder comprar Vega Sicília? Ou Aalto PS? Ou Pingus? Bem, o Vega eu experimentei, é um ótimo vinho, mas não para sua faixa de preço (USD 300,00+). O Aalto também, mas comprei em uma época em que custava USD 60,00... está USD 100,00+, atualmente (safras recentes). Pingus, nem se fala. Mas as Bodegas Juan Gil oferece-nos boas opções abaixo de € 30,00 (menos o El Nido, claro...). Ele não é o único bom produtor da região, conforme vemos na imprensa internacional e sítios de avaliações coletivas, por mais que não goste do Vivino, e aqui. Experimentei há algum tempo duas garrafas de seu Etiqueta Plata, aqui e aqui.

Juan Gil Etiquetas Plata e Azul

Acompanhados principalmente de alguns queijos e salames, provamos o Etiqueta Plata com aeração mínima - uns 15 minutos. Tem aromas agradáveis de frutas (vermelhas?) e madeira, com alguma especiaria. Boca com corpo médio suportada por taninos e acidez adequados, álcool pegando um pouco (15%). É um 100% Monastrell (ou Mourvèdre), uva típica da região, e que não desaponta. Já o Etiqueta Azul, que aerou enquanto degustávamos o Etiqueta Plata, é um corte de Monastrell, Cabernet Sauvignon e Syrah (não especifica as proporções), e mostrou-se em patamar superior: tem nariz mais profundo e complexo, com muita fruta, chocolate/café (qual? 🙄; sempre fico em dúvida), especiaria e mais, mas não consegui distinguir bem. Madeira bem mais presente, mas não em excesso; tem de fato uma ótima complexidade no nariz. Os confrades se olharam surpresos. Seus 15,5% de álcool estão melhor integrados; boca muito viva, fruta, algum dulçor que é mais característica do que defeito, boa acidez, conjunto mais encorpado do que o anterior, final mais longo. É claramente melhor mesmo. Bem, lá fora custa o dobro, e a qualidade justifica o investimento. Para minha completa surpresa, com queijo que cabra a boca expressou alguma baunilha! Não percebi se estava presente antes - e acho que não estava! - e essa harmonização pegou muito bem. Dona Neusa comentou gostar muito de harmonizar esse tipo de queijo com espanhóis. Bela dica...
   Ao fim e ao cabo, ambos apresentam bons preços quando comparados a seu custo internacional. Como mencionado anteriormente, fiquei triste ao pagar algo como R$ 120,00 e notar que foi reposto a R$ 199,00. Claro, antes era uma 'promo' (acho que valia R$ 150,00), e a reposição deu-se com um dóla explodido. Mas faça assim: em vez de comprar direto da internet, ligue e pechinche; você se arrisca a ganhar um desconto (10%) comprando uma caixa, que pode ser mista (qualquer vinho, nem precisa ser do mesmo produtor), o que é uma bela vantagem. O Etiqueta Azul tem uma relação custo benefício até melhor, embora custe mais caro. Proporcionalmente, deveria custar R$ 400,00, mas estava R$ 330,00. Na confraria, compramos uma caixa (sortida) e saiu por R$ 300,00. Um preção. Infelizmente esgotou no importador, mas o senhor Oscar disse-me que está brigando por uma reposição a preço competitivo a despeito da desvalorização da nossa moeda. Eu acho que sim, temos que chamar o produtor à conversa e mostrar a situação do país. Afinal, qual é a dos gringos? Querem parceria somente nos momentos de bonança? Onde está meu fio desencapado?!

Friday, December 10, 2021

O níver da Vestal

Introito

   Existem várias brincadeiras que podemos fazer com vinhos. Experimentar da mesma uva, da mesma região ou país, experimentar às cegas... Existem dois conceitos bem difundidos nesse contexto de experimentação:
  • A degustação horizontal, com vinhos de uma mesma safra, e pertencentes ao mesmo produtor, ou à mesma região, ou a um varietal de diversos produtores.
  • A degustação vertical, com diferentes safras do mesmo vinho.
   É imediato que a degustação horizontal oferece um leque bem maior de opções, enquanto a vertical propicia apenas que acompanhemos um determinado vinho de acordo com sua evolução e agucemos a percepção para as sutis (às vezes nem tanto...) variações advindas das condições climáticas que mudam a cada ano. Verticais não funcionam muito bem com vinhos simples. Claro, mesmo sul-americanos de nível razoável podem ser guardados por cinco ou seis anos, sendo possível então uma vertical com digamos cinco garrafas. Fiz uma, certa vez. Quem mais acertou (três) foi meu enteado, então com 17 anos e absoluto neófito nessas lides; quem mais errou foi o mais experiente dentre os bebedores (todos!). O mais engraçado foi ver os marmanjos tentando justificar seus fracassos... 😂🤣

Níver da Vestal Luciana

  A Luciana avisou em alto e bom som que comemoraria seu nível com a confraria, e acordamos em um churrasco. O Gustavo 'Graxaim', que incorporou o nome do seu bistrô, e a vestal Dayane estariam a cargo da churrasqueira - ainda bem! 🙃meus dias de churrasqueiro vão longe, e não consta que tenham deixado saudades... - mas achei que poderia brindar a turma com uma brincadeira inspirada no conceito da degustação horizontal; embora os vinhos não fossem da mesma safra, eram do mesmo produtor e a ideia era analisar um tipo de contraste: aquele presente entre vinhos de qualidades diferentes. Quando temos um vinho mais simples - por exemplo, em se tratando de chilenos, um varietal, e outro de nível Gran Reserva, é possível perceber a maior presença de tanino, a pegada ou contraste da madeira (se ambos tiverem ou se apenas um tiver), o nível de álcool (espera-se em vinho de melhor nível uvas de melhor procedência, portanto mais alcoólico), etc. Via de regra, bebemos primeiro o mais simples, depois o mais complexo. Nota-se a evolução com certa facilidade. E se depois invertemos a ordem, fica evidente - na maioria das vezes... - que o mais complexo até atropele o menos complexo. É por isso que a regra de serviço recomenda que vinhos menos complexos sejam servidos primeiro.

A experiência não correu tão bem quanto imaginei. Talvez (sic! rs!) o erro tenha sido começarmos abrindo um Tannat, o que acabou por entortar a língua do pessoal. Na vez deles, o Casillero del Diablo 2019 e o Terrunyo 2015, ambos Cabernet Sauvignon, não foram notados como sendo tão diferentes. Estavam sim, embora admito que precisa prestar atenção. Ambos tinham a pegada picante da Cabernet. Terrunyo tinha mais corpo, enquanto Casillero era mais... mais... delicado. Terrunyo tinha fruta combinada com chocolate (café?) e madeira, Casillero tinha mais fruta vermelha, e não peguei madeira - tem. Longe do estilo amadeirado que os chilenos geralmente exibiam anteriormente à década de '10. Nesse ponto, souberam se reinventar. Ou, como prefiro, estão aprendendo (estão aprendendo...). Terrunyo tinha melhor permanência e final mais longo, enquanto Casillero apresentou-se mais ligeiro. Mas é mesmo possível que o Tannat da Garzón tenha eclipsado a experiência.

A noite foi longa e animada. Degustamos ainda o Tannat Plaza del Torres 2014, e os argentinos Luigi Bosca Cabernet Sauvignon 2019 e Punta Nevada Malbec 2019. Passou-se algum tempo desde o encontro, e não tive o cuidado de anotar as características dos demais vinhos. Não creio que tenham verdadeiramente harmonizado com o churrasco. Combinaram como o peixe combina com o anzol - sob o ponto de vista do pescador, claro - significando não haver uma harmonização verdadeira entre esses vinhos e carne assada. Motivo? A acidez estava em falta. Não adianta, depois de nos acostumarmos com ela, parece que vira uma maldição; sua falta nos incomoda sempre. Assim, teria preferido um Rioja, talvez um Rosso de Montalcino, ou mesmo um Languedoc mais pegado - nessas horas lembro-me do Chateau Camplazens Reserva, infelizmente esgotado no importador. Chegou o mais simples, ou não reserva, que talvez mereça um chance.

O melhor da festa estava reservado para seu final: Dona Luciana aprece-nos com um Jerez Viña 25, produzido com a Pedro Ximénes. Isso lá é nome de uva? É sim (rs), e faz um excelente vinho. O Jerez não tem safra. É produzido pelo sistema Solera, que talvez tenha sido inspirado no conceito medieval da panela de caçador, comum em tabernas: não se deixava o conteúdo da panela acabar; acrescentavam-se alimentos à medida em que o nível baixava. Esse tipo de mistura, de alimentos já cozidos e novos, segundo acreditavam, daria à comida um sabor diferente e para melhor. Da mesma maneira, no Solera o vinho de várias idades é armazenado em um sistema de barricas empilhadas, sendo misturado entre outras barricas mais abaixo e aos poucos o vinho vai sendo escoado pelas barricas do nível mais inferior. As barricas superiores são continuamente abastecidas, e o vinho vai sempre baixando para outras barricas até chegar na última, num ciclo de realimentação perpétuo. O Jerez normalmente tem um aroma muito marcado e quando é doce, é doce mesmo. Apresenta notas de frutas passas, notadamente figo. O doce e o figo repetem-se na boca, e sua harmonização com uma boa gama de sobremesas é fácil. Na foto, os alegres bacantes: Dayane em primeiro plano, Renata, Luciana, este Enochato, Eduardo, Tatiane e Gustavo Graxaim. Quem não pôde participar, uma pena. Teve bão...

Sunday, December 5, 2021

Academia Brasileira de (poucas) Letras e vinho véio não combinam

Introito

 
Postagens atrasadas por diversos motivos acabam deixando para trás fatos importantes da história recente. Com o país ladeira abaixo, repito sempre, deixar de manifestar-se sobre nossas incongruências é uma forma medíocre de escapismo indesculpável para quem usa a pena - em qualquer área. As gerações futuras nos julgarão. Recentemente uma atriz foi eleita para a... Academia Brasileira de Letras(!). Qual o nome, mesmo? Irrelevante. Atrizes são assim: várias com 50 anos de carreira começam a autoproclamar-se - cheias de confiança - como excelentes. Muito mais pelo tempo de janela, claro, porque volta e meia nenhum fato suporta essas opiniões. Isso diz tudo sobre a classe. No caso em pauta, assisti a Central do Brasil em um dia e A Vida é Bela no outro. Não lembro a ordem, mas saí da sala de exibição no segundo dia com a certeza de que não teríamos a menor chance no Oscar. Atuações que vi (poucas) absolutamente não me comoveram, mas foram suficientes para garantir-lhe uma vaga na Academia Brasileira de (poucas) Letras, onde estão ou estiveram cirurgião plástico, jornalista, escritor de quinta categoria e general do exército cuja obra mais relevante foi a assinatura do Ato Institucional Número 5 (o AI-5). Como lembra o professor Deonísio da Silva, Aurélio de Lira Tavares escrevia sob o pseudônimo de Adelita. Quem aí assistiu Beleza Americana? Eram tempos em que certos eventos no seio (sic) das forças armadas eram mais contidos. Hoje o sujeito declara até o nome do noivo, e todos ficam se perguntando: Mas quem é o Aristides? Voltando à Academia, a coisa vem mal desde a eleição de Paulo Coelho. Bem, Tavares e Pitangui vieram antes, mas eles não eram escritores de fato, no sentido de exercerem a literatura ou pelo menos terem escrito uma obra solitária mas de tal qualidade que justificasse suas presenças ali. Foram apenas uma excrescência. PC (e demais) na Academia representou um desvio de conduta já não explicável pela subserviência explícita de alguns velhinhos caquéticos a modismos, chiquismos ou maneirismos ao elegerem os últimos membros a seu grupelho. Com o advento de Coelho eu simplesmente deixei de comprar livros de imortais da época que o elegeram, ainda que diversos não tenham participado do engodo. Eles eram livres para deixar a instituição. Depois da fulana, e ainda mais com Merval Pereira - que até pode ser um bom jornalista, embora para mim isso não exista - deixei de comprar ou ler livros de qualquer membro da Academia, desde sempre. Os autores já falecidos, se insatisfeitos, que virem-se em seus túmulos e voltem para pegar nos pés dos culpados que fizeram da ABL o que os políticos ordinários fizeram da nossa nação mais ou menos nesse igual período de tempo.

Brancos

Na reunião com Dona Neusa, Elvira e Akira - Margarida não pode vir de última hora - tivemos por prato principal um pappardelle ao molho de frutos do mar acompanhado por dois brancos de mesma uva. O La Chablisienne Chablis Premier Cru Beauroy 2016 já foi degustado algumas vezes antes. É uma aposta certeira para pratos de massa e molho branco, ou frutos do mar em geral, além de casar bem com camarão à provençal e alguns queijos. Continua com ótima mineralidade, toques cítricos e florais, amanteigado, boa acidez e persistência. Seu preço cheio é algo proibitivo, mas se pegar em 'promo' pode compensar. O vínculo acima, de postagem passada, está mais completo. Das mãos de Marcolino Sebo veio o QP Chardonnay 2014, Vinho Regional Alentejano com 14% de álcool bem equilibrado. Acho que alguém mencionou nariz com baunilha, provavelmente da madeira. Tinha ainda boa fruta branca e boca com ótimo frescor; acidez pegando só um pouco, mas combinou bastante bem com o pappardelle. Havia ganho essa garrafa; pela coincidência da proximidade com a bléqui fraidi, voltei na loja - estava com 75% de desconto na segunda garrafa - e comprei duas por R$ 100,00 cada. Nesse preço, ficou ótima compra. Pena que a franquia precise dar um desconto desses - cerca de 40% na média para o vinho transformar-se em boa compra... se praticassem o preço sempre, seguramente compraria mais.

O vinho véio

O Caves Aliança Garrafeira Particular 1966 já foi comentado aqui. Ainda bem. Um assunto tão interessante e um vinho de tamanha qualidade não poderia jamais ser misturado com assuntos mundanos protagonizados por gente desprezível. Muito embora os brancos degustados e comentados aqui ainda permaneçam interessantes e de maior relevância do que a caterva mencionada na introdução. E olha que nem são lá grandes vinhos no sentido de verdadeiros grand vins... mas o seguinte...

Sobremesa

Aí sim, Baco gostou... e, claro, eu contradizendo-me quase sem querer. Tem bons assuntos nessa postagem... Um rolo de chocolate com gelato da Borelli acompanhou um Recioto Le Colombare 2015, produzido pela Pieropan. Uma nota rápida: Recioto e Passito são estilos de vinhos doces típicos do Veneto. O Passito é composto de um corte das uvas tintas típicas da região, Corvina, Rondinella e Molinara, também presentes no Amarone, enquanto no Recioto é usada a branca Garganega. Pieropan é uma vinícola clássica da região, estabelecida de 1880 e, segundo a crítica, sempre honrou a tradição. Bastante floral, com mel, e o Akira chamou atenção para uma nota que lembrava a sal. Surpreendente. Boca com dulçor equilibrado pela acidez, muito agradável; mineral, ótimo frescor com corpo médio e final longo. Um prazer comparável aos bons Sauternes, embora - deixemos bem claro! - sejam estilos diferentes. O mel pareceu repetir-se na boca; casou muitíssimo bem com o rolo e o gelato. Fechamento de postagem muito mais atraente do que a abertura, esse é um assunto - vinhos do Vêneto - sobre o qual vale a pena refletir. Embora o tema inicial jamais possa ser esquecido, sob pena de repetir-se num futuro próximo.