Monday, August 31, 2020

Oferta 'imperdível'

   Certa importadora faz-nos chegar uma oferta relâmpago. Compre logo. Compre sem pensar... porque se pensar acho que não compra... vejamos.

Montes Alpha Cabernet Sauvignon 2017

Já bebi muitas garrafas desse produtor e desse vinho, em suas diversas cepas. Gostava mais do Shiraz.


   Foi ofertado de R$ 227,80 por R$ 179,90. R$ 180,00, tá? Mais frete, claro... O Dóla tá R$ 5,50, aproximadamente. No Chile, seu país de origem, onde a moeda corrente tem a casa dos milhares (de Pesos) para qualquer coxinha, pastel (lá se chama empanada) ou Coca-Cola, o preço está entre $ 9,690 e $ 12.290 Pesos. Dizemos que está mais ou menos entre 10 e 12 "Luca" (1 Luca = 1,000 Pesos).


   Convertendo 10,000 Pesos para Reais, dá aproximadamente R$ 70,00:


   É sabido que a importadora trabalha seus preços baseada na cotação do Dóla. Dóla subiu, vinho subiu. Assim, temos a oferta custando "aqui" aproximadamente 2.5x do preço "lá". Sem a promoção, os R$ 227,80 somam um pouco mais de 3x - e permanece a margem média que tenho notado nos vinhos dessa casa. Para um produto que - parece - é do Mercosul, e, - parece - paga menos impostos que os concorrentes europeus...

   Acompanhei nesses meses de pandemia - e de subida do Dóla - importadoras que não subiram seus preços e acabaram com seus estoques ao mesmo valor daquele praticado antes da disparada da moeda internacional. E, claro, importadoras que subiram seus preços à mesma proporção. No primeiro time, acompanhei a reposição de produtos que haviam acabado entre o final do ano passado e o início da pandemia. Notei os preços subindo cerca de 20% - contra os 40% de desvalorização do Real face ao Dóla. O que será que esses importadores fizeram? Conversaram com os produtores, tentando conseguir uma condição melhor, repassando-a para o consumidor? Diminuíram suas margens? Uma combinação qualquer de um e outro? Bem, é o que eu faria. Se eu fosse importador, um produtor que vê essa situação e não faz alguma condição melhor não seria mais o meu parceiro. Muito menos continuaria parceiro dos meus clientes

   Precisamos entender ainda que o preço de (aproximadamente) $ 10 Luca no Chile não deve ser o preço pago pelo importador. Ora, acho que o importador não compra no supermercado do Chile, compra? Deve comprar direto do produtor, concorda? Pelas minhas conexões chilenas, sei que os supermercados lá praticam margem de 25%-30%, aproximadamente. O preço do importador deve ser ainda menor: é normal que, para estimular a importação, impostos sejam retirados do produto (pelo menos os 14% cobrados internamente sobre bebidas). Assim, o custo vinho não deve chegar à metade dos $ 10 Luca. É sobre esse preço que incidem o frete (estimativa de US$D 0,50 por garrafa) e os pesados impostos brasileiros. Se refizermos as contas, só fica pior para o consumidor.

   Para terminar, a pergunta que não quer calar: o chabu vai sempre para o consumidor? Naquela estória de que quando o Dóla sobre, o produto sobe, e quando o Dóla desce o produto... se descer, desce muito menos? Mané, abre o olho...

   Já comentei que compro vinho pela importadora, e não mais pelo produtor? Pois é... experimente fazer assim. Seu bolso vai agradecer. E, não menos importante, sua garganta vai refestelar-se toda feliz...

Sunday, August 30, 2020

Barolo Langates 2010

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 Introito

   Há muito tempo, numa conversa com o Flávio Vinhobão, ele fez um comentário que, tempos depois eu conseguiria verbalizar como uma máxima: toda uva vira vinho. Quero dizer o seguinte:

  1. O descarte de uvas muitas vezes é parte do processo. Descarta-se para aumentar a qualidade daquela produção já minúscula. Vinhos de alta qualidade passam por esse processo constantemente.
  2. Às vezes o vinhedo pertence ao patriarca. Os filhos, estudados em outras áreas, não tiveram interesse em tocá-lo. O patriarca falece, a viúva não conseguirá tocar a produção sozinha, o vinhedo fica literalmente parado um tempo: padece pela falta de poda; quando alguém se toca a época da colheita está até passando... as tragédias que podem acontecer são muitas...
  3. O vinhedo é ruim mesmo: está na posição errada, porque foi plantado por alguma teimosia, ou porque se chove um pouco mais ele fica inundado, ou... o leitor percebeu.

   Toda essa uva vai virar vinho... Mas o contexto da conversa era assim: encontrara um Brunello com apenas seu nome e uma sigla a identificar o produtor. Sem maiores informações, Don Flavitxo faz a seguinte consideração: talvez alguém tivesse as uvas (da região de Montalcino) e após a vinificação faltou coragem de colocar o nome no vinho produzido. Não deixa de ter sentido. Por outro lado, às vezes lendo sobre produtores, vinhedos, safras, ficamos 'acostumados' àqueles de maior nome, fama ou importância. Mas como em quase tudo - nas artes, nos esportes e, por que não, na produção de vinho? - precisamos ter aquele grosso que faz o básico - a mediocridade - para que desse caldo surjam os expoentes. É só uma reflexão, mas tem algo a ver com o vinho desta feita.

Barolo Langates 2010

Barolo Langates 2010 apareceu em S. Carlos por uma pequena adega. Seu proprietário, um italiano recém-chegado ao Brasil, tinha por ideal vender produtos de sua saudosa pátria. Encontrei Lagates lá, com a seguinte informação no contra-rótulo: Produzido e engarrafado por CN/5190 em nome de Nova Terra SRL, seguido por dados do importador e distribuidor. Depois de comprar alguns produtos simples, como o simpático 'La Fata Galanti' e alguns exemplares do Terre dei Savoia, achei que valeria a pena arriscar um pouco mais. Todos esses vinhos são representados pela Italyswine,  um projeto italiano destinado a alavancar o vinho de pequenos produtores (ou nem tanto) no mercado mundial, com ênfase nos EUA e no Brasil. Bem, voltando: havia encontrado na internet apenas uma 'entrada' para o Barolo Langates, e seu preço apontava para a faixa de 40 dólares, ou euros. A loja acabou entrando em colapso, e pelo preço ofertado pelas garrafas acabei ficando com duas. O Jaci ficou com uma também, que bebemos há cerca de três anos. Estava muito bom, boa fruta, bem equilibrado, pronto para beber. Eis que passado algum tempo, resolvi visitá-lo. Sempre tive comigo - muito mais da literatura do que da experiência - que Barolos precisam de uma década para amadurecer. Langates 2010 alcançou a maturidade. Acho até que não será longa. Mas quem sou eu... Tem presença de fruta, mas não tão marcada. Poderíamos dizê-lo 'austero'? Mostrou-se, com 10 anos, um vinho um pouco diferente daquele tipo de vinho com o qual estou mais acostumado. Menos nariz, mais boca. No segundo dia (quando escrevo), continuava de igual proporção, boca melhor. Mas apareceu algum chocolate, também presente na boca. Ainda mostrou evolução. Acidez e persistência boas, álcool aparece discretamente. Tem suas arestas. Fiquei pensando como ele se encaixaria no contexto da introdução. Um vinhedo de segunda? Terceira? Que tipo de vinho é esse? Um grande vinho? Jamais. Um bom vinho? Em qual contexto estamos falando? Somente europeus? Sendo assim, tenho muitas compras melhores (de vinho europeu, não necessariamente de Barolos). Um vinho de terroir? Não conheço tanto Barolos, mas de uma coisa eu sei: tem boa acidez, característica para mim muito cara. Sua persistência é agradável. Não é tão grande, mas é fácil de notar como tem boa presença. E isso faz toda a diferença... para o bem ou para o mal.

   Gosto de tentar contextualizar o vinho que provo com o que está no mercado. Talvez em outros lugares isso não faça sentido. Aqui fez, e todo ele: o mercado está desregulado, o consumidor é um otário... (lamento dizê-lo). Vou compará-lo, qualidade e preço, com um vinho do qual já bebi várias garrafas, e venho bebendo de duas safras ao longo do tempo, em suas cepas Syrah e Cabernet. O Terrunyo, da Concha y Toro. Seu preço subiu no Chile, desde que trouxe uma mala dele. Foi minha última compra mais pesada de chilenos, logo depois dos tempos da Grande Alta de Preços, que aconteceu ali por 2009. Essa remessa veio provavelmente em 2011, 2012. Paguei então 16 ou 17 'Luca' (mil pesos). Atualmente, 26. OK, teve inflação por lá. Aqui, há um tempo estava por até R$ 160 na 'promo', R$ 230 fora dela. Atualmente (pasme!) R$ 378 no sítio do importador https://www.terrunyo.com.br/. Mas também R$ 350 na Wine e... R$ 240 na www.vinomundi.com.br. Não vou entrar no mérito da safra ou da uva. É um vinho 'De Prodecência' como disse algum tolo certa vez, então vamos assumir que seu custo não deveria variar muito de safra ou de uva. Mas como vimos, varia. O preço, quero dizer. 😕 A qualidade é sempre a mesma...

   Bem, comparado a Terrunyo (CS/Syrah), safras '08/'09, Langates é francamente superior. É como aquelas velhas estórias: categoria, honestidade, caráter... têm-se ou não se tem. Quem tem, não menciona. Quem não tem, invoca. Estou falando da acidez. Terrunyo fatalmente tem melhor nariz, mas comprando ambos, boca a boca, a acidez faz toda a diferença quando a harmonização proposta é um bifão de angus com um acompanhamento básico. Encontrei safra mais recente de Langates em uma loja de internet com a qual estou enfrentando problemas na compra de outro produto. Ainda não darei seu nome, mas volto ao assunto se o desfecho não for satisfatório para o consumidor. Bem, nessa loja o preço de Langates é... R$ 250,00. Esse preço iguala o patamar inferior de Terrunyo. Lembremos que Terrunyo situa-se no patamar superior de seu produtor, ficando abaixo somente do Don Melchor. Langates é um produto até quase sem produtor. Qem o fez, sequer arriscou a colocar o nome no rótulo; preferiu identificar-se um obscuro nome "CN/5190"...

Então, a pergunta que não quer calar: o que estamos bebendo, em termos de vinhos sul-americano? Quanto estamos pagando por isso? Estamos presenciando o crème de la crème sul-americano fazendo força para encarar um concorrente que tem vergonha de estampar o próprio nome no rótulo? É isso? Paro para pensar, levo as mãos à cabeça e penso comigo: - Tô tão errado? Então onde foi que errei, nessa análise?

Tuesday, August 18, 2020

Terres Secrètes Pouilly-Fuissé 2016

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 Introito

   Não era para beber tanto tinto entre a abertura da temporada de caça aos brancos e esta postagem. Calotes, fugas, desculpas furadas, promessas não cumpridas... encontrei de tudo. Ninguém queria dividir uma taça comigo 😔. Mal sabiam o que estavam perdendo... 😃.

   Já falei sobre os Vignerons des Terres Secrètes, pois iniciei a brincadeira dos brancos justamente com um Les Cras, produto mais simples dessa cooperativa do que este vinho que agora experimentado. Já havia bebido dele em outro momento. Infelizmente uma daquelas degustações não postadas, de época complicada, estima em baixa, quando parece faltar tempo para tudo e o pouco trabalho não rende. Todo mundo passa por isso, em algum momento. Para felicidade e gáudio deste travesti de colunista, ele sobrou sozinho para molhar minha garganta ávida e merecedora de (mais) um bom branco. Como já entreguei no título, falamos de Terres Secrètes Pouilly-Fuissé 2016.

Pouilly-Fuissé

   Pouilly-Fuissé pertence ao distrito de Mâconnais, esta conhecida principalmente pelos vinhos brancos de Chardonnay ali produzidos. Também produtora de brancos, Pouilly-Fuissé tem a melhor reputação do distrito. Não há vinhedos Premier Cru por ali. É curioso como outras regiões da Borgonha não possuem, por exemplo, vinhedos Grand Cru. Uma possível explicação geral é que regiões com maior status pagavam (pagam?) mais impostos, o que levou várias delas a não se esforçarem tanto para adquirir essa distinção. Hoje acaba sendo importante - já dizia o 'fisósofo', ou não... - para cada região valorizar mais seu vinho. Da minha parte, prefiro um bom vinho sem tal classificação, e a um preço modesto, do que pagar o dobro por um selo. Claro, é preciso experiência para saber o que vem de onde. E isso eu não tenho. Tive mesmo foi a sorte de descobrir este produtor de excelente custo-benefício, representado por uma importadora que não abusa das margens...

Terres Secrètes Pouilly-Fuissé 2016

   Pois é, Vignerons des Terres Secrètes surpreende novamente. Quase não reparo nisso, mas não pude deixar de notar a cor clarinha, clarinha (rs) de seu Pouilly-Fuissé. É quase um milagre que essa cor tão singela possa esconder tanta surpresa. Preciso comentar também minha recente descoberta da harmonização com brancos. Óbvio que brancos harmonizam à mesma razão de tintos - e de sobremesa, e... bem, o leitor entendeu. Eu só não tinha tido tantas experiências tão boas em tão pouco tempo como nos últimos anos - ou talvez apenas não tivesse pago a devida atenção. Se liga, inexistente leitor! Essa harmonização talvez propicie alternativas mais ricas do que tintos em geral - que, para mim, sempre casam muito bem com um 'bifão'. Com brancos, talvez seja mais fácil uma harmonização mais 'espalhada', uma vez que não dependemos apenas de um 'bifão', o que, por si, ocuparia o prato todo. Assim, acho que as harmonizações com brancos tendem a ser mais interessantes pela variedade de opções à disposição do intrépido experimentador.

   Trouxe para casa um pão italiano para assar. Desses de casca grossa. Um queijo Gouda, salsicha de vitela e peito de peru em cubos. Algum dia aprendo a fazer algum tempero para acompanhar essas iguarias. Por enquanto, vai tudo ao melhor estilo caverna-com-carpete-de-madeira mesmo. Deixei a garrafa aberta enquanto preparava os petiscos, assava o pão. Após resfriá-lo um pouco (o vinho! - rs!), mostrou muito frescor e característica cítrica muito marcante; limão. Pensei na hora que estava ali o tempero básico para a salsicha e o peru. Boca com acidez bem presente, alguma especiaria - só acentuou a harmonização - álcool bem contido (apenas 13%), não apareceu, 'apenas' combinou. Seu preço lá fora parece ser superior a USD 20,00. O meu dóla vale R$ 4,50 x 20,00 = R$ 90,00 (preço lá!). Aqui, estava menos de R$ 150,00 em seu importador, a Enoeventos. Antes de comentarem que o dóla está R$ 6,00, vai a resposta: se eu fizer a conta nesse valor, e o vinho estiver o dobro do que está la fora, não preciso comprá-lo. Espero o dóla cair, o produtor desovar seu estoque e volto a comprar da outra safra num dóla mais humano (rs). Vai demorar? Talvez. Vou esperar? Seguramente. Ter um estoque regulador razoável tem que valer a pena em algum momento. E o momento é esse... Ainda existem no mercado boas compras que resistem à conta de um dóla a R$ 4,50. São esses vinhos que ando comprando nestes tempos... E, apenas para recobrar a abordagem inicial, Terres Secrètes Pouilly-Fuissé estava mesmo sobrevivendo à conta do dóla a R$ 4,50! Afinal, a R$ 4,50 eu preço seria R$ 90,00 (lá), e cá estava menos de R$ 150,00! Entendo que sua reposição talvez chegue a preço um pouco maior. A ver em quanto chegará...

   Para quem torce o nariz, lá vai: pela faixa de preço, pela harmonização que propicia, outro exemplo de felicidade engarrafada. Claro que com um Coche-Dury a felicidade seria exponenciada. Mas o Terres Secrètes eu posso beber 'sempre'. O outro... nunca! 🤣 O vinho está esgotado na Enoeventos, mas o sr. Oscar me garantiu que chega em setembro, junto do Les Cras.

Friday, August 14, 2020

Mooiplaas Pinotage 2017

 Intróito

   Outro dia experimentei um Sul-Africano que não preencheu bem as expectativas. Nem as papilas, nem nada (rs). E esvaziou meu bolso. Não que fosse ruim, que (sic) não era. A tal relação custo-benefício é que não agradou. Só reforça minha máxima, compro vinho mais pelo importador, conhecendo sua margem média, e ainda assim conferindo qualquer vinho novo ou que decida comprar. Pão-durice? Não, cidadania mesmo... infelizmente é necessária uma pitada dela, aqui no Brazio. Aí estava comprando pão, fígado e água no supermercado Savegnago de S. Carlos e - hábito... - fui olhar aquela prateleira. Dou de cara com outro Sul-Africano, outro Stellenbosch... Cenzão. Importador? Verde Mar, aquele supermercado de Minas que importa seus vinhos e tem margens interessantes. Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? 😜

   A senha do fígado chamou. Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? 😜 

   Cheguei, pedi, fiquei matutando... Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? 😜

   Normalmente confiro o preço 'lá', antes de adquirir um vinho desse valor. Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? 😜

  Já levara do Savegnago outros produtos dessa parceria. Por que não dar um voto de confiança? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? Levo-não-levo? 😜

   O leitor adivinhou, claro... apostei no importador, apostei na parceria, e levei. 

Mooiplaas Wine Estate

   Mooiplaas Wine Estate é um produtor estabelecido em Stellenbosch, próximo à Cidade do Cabo. Produz ampla gama de vinhos; os exemplares da linha Classic Mooiplaas parecem ser um produto intermediário, de onde saem garrafas de várias cepas: Cabernet Sauvignon, um corte Merlot/Cabernet Franc, o Pinotage e duas brancas, Sauvignon e Chenin. A linha Classic ocupa 70 dos 100 hectares dos vinhedos, sendo então o carro-chefe da vinícola.

Mooiplaas Pinotage 2017

   Joguei Mooiplaas Pinotage na geladeira, sem muita consideração. Não que não merecesse mais... (rs). Os dias seguem estressantes por aqui. Só fui retirá-lo no começo da noite, quando desarrolhei e desci para a adega, direto para a degustação. Fruta vermelha bem marcada, um 'defumadinho' como diria a Carol. Não notei madeira - mas segundo o sítio do produtor, tem. Ou estou cansado demais ou ela está muito discreta mesmo... (rs amarelos). Boca agradável: corpo médio, acidez um pouco abaixo do que eu gostaria, deixando-o um pouco ligeiro. Puxando pela memória, diria que toma uma 'sova' do Cheda, mas bate em todo o resto (risos!), nessa faixa de preço. Espero que os eventuais leitores não levem essa última declaração tão a ferro e a fogo. Pelo menos, bate em um monte de sul-americanos chinfrins. Pow, um Montes Alpha, que acredito até faria frente a ele, está mais de R$ 220,00. É além do dobro! Voltando... Tem um travo doce. Dá pra confundir com aquele doce do português, se não prestar atenção. Mas o bebedor mais experiente saberia distinguir. A acidez denuncia... (rs). Os taninos são discretos, o final não marca - para o meu paladar agora acostumado aos europeus - mas não faz feio. Tem seu equilíbrio, sua presença, casou bem com pizza, meu prato de todas as noites, ou quase (rs). Como disse, seu preço aqui está na casa dos R$ 100,00, rasos. No sítio do produtor, está à venda por 130,00 Rands, o que dá R$ 41,00. Estando R$ 100,00 aqui, é um pouco mais que o dobro. Estou de fato cansado para ficar checando o preço em dóla (sic), então vou simplificar: o  Old Museum Merlot analisado anteriormente custa na África do Sul 75,00 Rands, contra os 130,00 Rands de Mooiplaas. Aqui,  Old Museum Merlot custa R$ 130,00+, contra os R$ 100,00 de Mooiplaas. A impressão é que Mooiplaas é muito mais vinho. Notou que é 'muito mais'? Um vinho que comparado a outro custa 'lá' quase o dobro, enquanto 'aqui' é vendido por menos... e eu diria que nesse caso o preço maior justifica-se de maneira clara (avassaladora, até).

   Tá vendo a estória de que o importador (e sua margem) conta muito? Depois ficamos com a impressão que nosso dinheiro não tem poder de compra. Não tem mesmo, se formos comprar do importador errado... Não quero ser vil ao fazer esse tipo de comentário. Ao contrário. Fico até envergonhado. Envergonhado de dizer a pura verdade...

Sunday, August 9, 2020

Perbruno 2013

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 Introito

   Há muito, muito tempo atrás, num blog distante - não! neste aqui mesmo! - comentavei sobre o Nemorino, da I Giusti e Zanza, ao mesmo tempo em que apresentava a casa. Produzindo supertoscanos baseados em cepas francesas desde as consagradas Cabernets (Sauvignon, Franco), Merlot e Syrah, dialoga ainda com a Petit Verdot além, claro, da nativa Sangiovese.

  Seus vinhos são bons, principalmente pela faixa de preço. Lembro-me de ter voltado de uma Expovinis com grata surpresa deles, para descobrir depois que o Dulcamara fora eleito o melhor vinho do evento. Menos, menos - não é possível que só tivesse 'isso' por lá, e o serviço às vezes conta muito... Essa estória da faixa de preço também precisa ser relativizada. Acho que por conta do sucesso na Expovinis (foi há muito tempo), o preço inflou. O problema é que são vinhos que precisam de bom serviço. Lembro que o produtor é quem estava servindo a linha toda, cuidando da temperatura, tirando do gelo uma garrafa que ele achava já na temperatura adequada, devolvendo outra que talvez precisasse esfriar mais... Esse vinho foi servido em uma degustação em S. Carlos algum tempo depois. O péssimo serviço vez que passasse desapercebido. Foi num evento em que o pessoal pagou um pau desgraçado para o Pangea, enquanto o Akira matava quase sozinho um Vallado Field Blend para quem os bocas-tortas de plantão não estavam dando a mínima. Os mais expértus (sic) chegavam apenas para passar uma cantada barata na gentil representante de além-mar que estava promovendo o vinho, para a completa vergonha do Akira, um dos poucos a reconhecer a qualidade daquele vinho numa noite tão  fatídica. Bocas tortas que infestam esse universo... Voltando... sendo um vinho um pouco mais 'difícil' - precisa de bom serviço mesmo para o simples Nemorino, conforme relatado n'A Noite dos Barolos Sanguinolentos - o produtor, antes do vinho, não 'pegou' por estas plagas. Tivesse a Cantu gente melhor preparada para mostrar o produto ao grande público, a estória seria outra. Cheiro à 'faz a fama de deita na cama', acho que pensaram ser suficiente a boa acolhida do produto na Expovinis. Bem, não foi... e, para sorte de alguns, algum tempo depois estavam rifando garrafas na Internet e junto a revendas por fração do preço então praticado. Aí sim, o preço ficou 'justo'. 😊 Justo para o consumidor, porque acho que o importador sentiu o baixo volume de vendas, e estava desovando-o por um preço algo baixo, possivelmente para 'fazer caixa'. Assim andam muitas e muitas importadoras - e porque não dizer - muitas lojas também...

Perbruno 2013

   Feito com 100% Syrah, é uma homenagem - Per Bruno - ao falecido proprietário da vinícola. Abriu com boa fruta - talvez pela idade - mas acabei não experimentando ao abrir: era hora de sair c'os dogs, então preferi deixá-lo apenas aerando, sem tentar um dedal que fosse. Comecei a degustá-lo duas hora e meia depois. Ainda na fruta - cereja evidente, e eu sou ruim de pegar cereja...- especiaria, madeira discreta com boa acidez, final um pouco curto para o padrão a que ando acostumado, mas ainda assim fazendo 'boa presença'. Gosto de taninos mais presentes. Sinal de que está decaindo? Não sei... Álcool (14%) escapa um tantinho. A cor não evidencia a uva, se nos lembrarmos de exemplares franceses ou mesmo sul-americanos, bem escuros. Ainda bem que que isso não é pecado. Perbruno e pizza de pepperoni, se não é uma combinação perfeita, agrada. Lembro de ter pago menos de R$ 100,00 nessa estória de queima. Atualmente vi a R$ 196,00, e nesse preço ele 'sobra' frente a chinelos chilenos do mesmo preço - ou mesmo mais caros. Digo e repito: vinho chileno tá caro. Você gosta? Vai lá, bebe... enquanto os vinhos bons não são consumidos, em detrimento a outros, o preço deles permanece dentro do 'razoável'. Imagine se tudo quanto é boca torta que tem por aí deixasse de beber as porcarias do mercado... o que seria do preço dos vinhos bons e honestos?

Monday, August 3, 2020

Chianti Barone Ricasoli 2016

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Introito

   Já comentei um pouco sobre a Toscana e a região de Chianti. Vamos avançar um pouco mais. Ela foi estabelecida inicialmente (Século XIII) em torno das cidades  Gaiole, Radda e Castellina. É aquela estória do galo preto, que virou símbolo das garrafas da área que hoje temos como 'Clássico', lembra? Em 1716 o Duque Cosimo III decretou o reconhecimento desse limite, criando efetivamente o distrito de Chianti. Diz-se que esse é o primeiro documento do mundo a definir uma área vitivinícola. 

   Um pouco mais para frente, e após 30 anos de estudos, o Barão Bettino Ricasoli 'codifica' o Chianti como um corte de  Sangiovese, Canaiolo e Malvasia (70%/15%/15%). Já tinha ouvido que o corte seria Sangiovese, Canaiolo e Mammolo. Talvez a Mammolo fosse usada antes... se alguém souber, por favor, participe! O fato é que recentemente (final dos anos 90) o corte passou por uma revisão, excluindo a cepa branca e acrescentando inclusive as internacionais Merlot e Cabernet Sauvignon, permitindo, ainda, a produção de Chiantis 100% Sangiovese.

Ricasoli

  O Castello di Brolio está localizado na cidade de Gaiole, e pertence à família Ricasoli por cerca de 800 anos. Produz o ícone Castello di Brolio e outros bons vinhos a partir de denominações específicas. Em sua linha mais básica encontramos dentre outros o Chianti Barone Ricasoli (é um Chianti não-'Clássico'). Dizem que a safra '16 foi muito boa por lá. Um tanto melhor que a '13, para futura referência. Bebi a garrafa em dois tempos (dois dias seguidos), e escrevo as impressões mais baseadas no segundo tempo, embora não tenha mudado muito, guardado com um simples vácuo manual. Fruta vermelha bem marcada, herbácio, bons taninos. Um vinho de corpo médio potencializado por boa acidez, o que faz parecer ser mais encorpado. Precisa estar atento para distinguir... ponto para a acidez. Persistência 'boa' para o tipo de vinho - de entrada. Queria o quê? (risos). É impressionante para um Chianti comum na faixa de preço. Muito, muito melhor do que o Malaspina Riserva '13. Repete-se a história que já ouvi de Don Flavitxo: Rossos de bons produtores podem ser melhores do que Brunellos feitos com menor capricho. Custava cerca de R$ 130,00. OK, perto de um Malaspina em 'promo' por R$ 80,00, fica um pouco mais caro - ainda assim, diferença que vale a pena. Face a uma Malaspina em preço normal, não há dúvida: Ricasoli é muito mais vinho. Pesando que as safras '13 x '16 são um pouco díspares ('16 é melhor), mas ambas boas, a diferença fica mais marcante. Não consegui confirmar, então fica por extra-oficial: é um corte Sangiovese 60%, Merlot 30%, Cabernet Sauvignon 10%. Felicidade engarrafada.