Sunday, May 30, 2021

Uma harmonização descomprometida

Introito

   O telefone toca. É o Gustavo com seu tom alegre de falar: - Oi Carlos, estava pensando em fazer um teste de harmonização e você é meu mártir preferido... Oito horas, topa?
   Pensei comigo: harmonização? Então tem vinho na parada...😁 - Vamulá! Oito horas. Vou pegar aqui um tintinho nojento...
   Harmonização é algo muito mais sério do que aparentemente supomos, e muito mais interessante do que nossas vãs experiências de quando levadas a cabo por amadores que se fazem passar por especialistas. Separando e explicitando, nenhum restaurante da cidade - arrisco dizer da região - oferece refeições harmonizadas. Sabem que o assunto é complexo. Graças à política de cobrar o dobro pelo vinho com relação ao preço de loja, o que definitivamente espanta a clientela, acabam por enterrar de vez o interesse do cliente em consumir uma bebida mais nobre junto do igualmente nobre cardápio da casa. O que leva à pergunta de se a carta é de fato tão nobre assim... Cozinheiro de um prato só, que faço até sem capricho ou interesse além do mínimo para dar certo, sinto-me quase tão feliz ou confortável com minha própria gororoba - quando o assunto é bifão - do que frequentando as melhores casas do ramo nas proximidades. Se me esforçasse um pouco mais para aprender a trabalhar os temperos, estou certo de que ficaria melhor do que me servem por aí. Por um motivo bem simples: como vou cozinhar para mim, uso tudo de primeira qualidade - o que nem sempre é verdade por aí. É o caso onde o melhor trabalho no preparo e nos detalhes pode não requerer os mesmos ingredientes que utilizo para um resultado similar. O leitor entendeu onde quero chegar... Mas a verdadeira harmonização é algo que estou começando a perseguir, e seguramente abordarei o tema mais vezes.

Smash de mandioca

Cheguei no Bistrô Graxaim pontualmente. Como naqueles filmes B, os morcegos sobrevoavam a casa; um raio batia na chaminé e um barulho de explosão ecoava lá de dentro, abafando não de todo um grito de satisfação e uma prolongada risada. Percebendo minha chegada o mago Gustavo abriu o portão e entrei de primeira, a tempo de ver o pentagrama que se esvaía em fumaça na pequena sala. Tudo normal, portanto... Cumprimentamo-nos à maneira pós-pandêmica, traçamos a linha de distanciamento e tiramos as máscaras. O vinho dele já estava aberto. Taças na mão, fomos à cozinha onde ele faria o acabamento da refeição, enquanto sacava a rola da minha garrafa. A ideia era testar a harmonização de uma entrada vegetariana que o cozinheiro tinha bolado: smash de mandioca (a dita cuja amassada e frita) com molho de tomate, mussarela de búfala, tomate seco e agrião. Lá estávamos então, cada um seu prato acompanhado de um Schola Sarmenti Roccamora D.O.C. Nardo Negroamaro (não peguei a safra e o rótulo frontal não a apresentava; só notei depois). É um vinho semi seco; novamente, não é o meu preferido, mas como já comprovei a existência desse estilo (sic! rs!) tornar-se perfeitamente justificável para harmonizações. Digo: quem gosta do estilo semi seco, gosta. Quem acostumou-se ao tinto seco, acredita que nunca mais conseguirá degustar um semi seco. Aí a harmonização faz toda a diferença. 


O prato estava muito bem apresentado, convidativo. Schola Sarmenti apresentou buquê frutado e algum melaço ou açucarado que adiantava o paladar. Este, igualmente doce, mas sem incomodar - ah... um semi seco feito com mais capricho - corpo médio, taninos leves, acidez suficiente para contrapor o doce do estilo semi seco e equilibrar um pouco a experiência em favor de quem está acostumado com vinhos secos. Olhaí mais uma constatação; o estilo meio seco, que tendemos a desprezar, é uma vítima de nossos preconceitos. Decididamente, não compro... a menos que seja para uma harmonização! Bebido sozinho, não incomoda - pelo doce - é equilibrado. Italianos de fato sabem. A combinação foi interessante. Não tão boa quanto aquelas oferecidas pela Enoeventos, mas aprovei. Para quem está se aventurando nessas lides, o Gustavo saiu-se muito bem e está mostrando boa percepção para esse tipo de magaria (sic). Já já vai trocar o chapéu de chef pelo pontudo, e o avental pelo manto 😂. Seu preço aqui está entre R$ 130,00 e R$ 180,00, enquanto 'lá' tem um preço médio de USD 14,00. A dóla cheio (R$ 5,50), dá uns R$ 77,00. Não está tão ruim, mesmo no lugar mais caro. Mas acho que tem melhores opções no mercado.

Depois passamos ao meu tintinho nojento: O Civite Selección Especial 2011. Chivite é um produtor espanhol literalmente da época dos magos. Do final deles, pelo menos: estabeleceu-se em 1647 e há onze gerações preserva a arte. Aqui temos uma bola dividida: não encontrei o rótulo no sítio do fabricante. Mas as informações contidas nele levam a suspeitar que foi substituído pelo Legardeta Selección Especial: ambos são da Finca Villatuerta. Civite Selección Especial mostrou nariz com fruta marcada, alguma sugestão de café ou couro, bem alegre e descomprometido. Não evoluiu muito mais ao longo do tempo. Boca com acidez presente, mas sem impressionar, ainda assim compondo bem com os taninos. Final simples, mas sem comprometer. 'Lá', é um vinho de USD 12,00. Não tenho certeza de que entrega tanto pelo preço. Bem, são 10 Euros na Decantalo, sítio espanhol; a 10 'moedas', talvez esteja no limite. Se estiver por lá, aprecie. Mas nem de longe repita...



Acho que pode estar no limite, mas convenhamos que esse 'acho' já é por si uma bola dividida. Comprei, em 2019, a R$ 117,00, em 'promo'. Nem tão 'promo' assim, comparando o dóla da época, ainda que R$ 4,00-R$ 4,50. Se era 'promo', então foi oferecido com dóla a R$ 2,99 ou R$ 3,99 - como é praxe da importadora. Vemos que na 'promo' estava um tanto caro, então. Atualmente, Legardeta Selección Especial 2015 (tomando que seja o mesmo vinho com roupagem nova; mas não sendo, temos para efeito de comparação) está a risíveis R$ 284,55. Para um vinho de USD 12,00 x R$ 5,50 = R$ 66,00? Dá 4.3x! Taí um exemplo de tubaronice (sic) acabado.

Civite Selección Especial, preço 'lá', atualmente, USD 12,00

Lagardeta Selección Especial, preço 'lá', USD 12,00



Lagardeta Selección Especial, preço 'cá' 😟. Detratores, defendam o indefensável.


Saturday, May 29, 2021

Vendeu o voto e a alma pro diabo

Introito

   Um cidadão brasileiro insatisfeito com nossos (des)caminhos resolve protestar com suas armas: a astúcia, a elegância e a sensibilidade. Compõe uma música que vira hit e passa a receber ameaças de morte. Independente do gosto do leitor por este ou aquele ritmo, o que presenciamos é intolerável. Ameaçar a liberdade de expressão beira o pior do que presenciamos no último século. Mussolini, ele mesmo um jornalista, Hitler, um pretendente a pintor, Stalin, postulante a pai de uma nação... gente que flertou de fato com o diabo vem sendo atropelada por uma caterva ignara aprendizes de trombadinhas que extrapolou todos os limites da decência e agora quer posar de ofendida depois de desnudada. São tempos perigosos. Até energúmenos de plantão pensam que podem calar este espaço, e vivem questionando minhas posições apresentando alegações vis que beiram o acusatório. Meus argumentos são desprezados; o acusador é juiz, promotor e júri. Percebe, leitor? A canalhice não conhece limites; vai do comezinho ao sumamente importante com um estalar de dedos. E, cada canalha a seu nível, o ditadorzinho da vez tenta silenciar a opinião discordante sem jamais dialogar. Vade retro, sacana (sic!).

Vendeu

Vendeu o voto e a alma pro diabo

E agora não adianta ficar bravo

É deus por nós e cada um por si

Pode parar com o choro e o mi mi mi


E vendeu

Trocou os hospitais pelos estádios

E agora estádios viram hospitais

Você trocou jesus por barrabás

Sem mais, sem mais


Faustino I  Gran Reserva 2005

Já bebi algumas garrafas desse vinho, primeiramente em sua safra 2001, ofertada pelo doutor Marcão (rs) há muito, muito tempo. Contei essa estória em outubro de 2020, quando comecei a discutir a questão de repetir (ou não). Esse é um daqueles vinhos que, se você pode repetir uma garrafa a cada seis meses, mal não faz (pelo contrário... 😋). Com seus quase 16 anos, continua jovial: nariz com boa fruta - embora sobrepujada por algo que não sei identificar bem -, boca apresenta bom corpo, boa acidez e bom final. É um vinho bem acabado, e de safra distinta. Pede comida; acompanhou bem minha única especialidade (rs!), o já famoso daqui até Andrômeda filé ao molho gorgo. Atualmente encontramos Faustino I Gran Reserva na safra 2009, que não foi ruim. Pela longevidade, pode comprar sem medo. O preço é que não está ajudando muito, vale 'lá' cerca de USD 30,00, e aqui custa R$ 300,00, na Lovino. Dá bem próximo a 2x. Honesto. Só nós que... empobrecemos, vitimados por uma política não apenas econômica mas em seu geral catastrófica. Serei perseguido por falar isso? Bem... está dito...

Sunday, May 23, 2021

Rescaldos de uma degustação bem fadada

Introito

A degustação da Enoeventos que acompanhei no Bistrô Graxaim continua rendendo assunto. Lembram quando disse que tinha levado um vinho de minha adega? Pensei (tudo errado 😖) em um tinto mais simples para começar os trabalhos. Sisqueci (sic) que a entrada seria com branco... um tinto de entrada atravessaria a batucada. Claro que abri e deixei em espera. Vinho que sobra nunca é demais. Você só nota algo estranho quando ele falta... quando sobra, o máximo que pode acontecer é os bebuns saírem chorando, enquanto o anfitrião vibra porque no dia seguinte poderá degustar dos exemplares mais oxidados e acompanhar sua evolução. Um must, como diria alguém... simplesmente um luxo, como diria outro...

O chef Gustavo também se tocou lendo a última postagem e enviou duas fotos de seus preparos. Aí gostei... O Ghidelli deu uma sugestão que faz todo sentido: para não correr o risco de que o grão de bico não ficasse um pouco duro - na opinião dele estava - uma alternativa seria servi-lo em forma de purê. Se estava mesmo, não sei; estou pouco acostumado a essa iguaria e meus dentes ainda estão bem presos no céu da boca (no céu... porque no chão (sic), um deles balançou, uns poucos anos atrás. E foi embora. Era um dente de leite...), de maneira que estou sob suspeição. Mas voltando, se o grão de bico estava um pouco duro, não posso dizer. Mas se estamos conversando sobre isso, quando a assunto principal é vinho, então o assunto despertou interesse dos degustadores. O próprio Ghidelli disse que era um detalhe, e que a comida estava muito boa. Sempre acho que críticas (procedentes) ajudam mais do que elogios. Se ele não comentar com o Gustavo, fica o registro. 

MOB Lote 3 2017

 O vinho que tinha levado para a degustação foi o MOB Lote 3. O nome deriva da associação de três grandes produtores portugueses que juntaram em um projeto comum: (Jorge) Moreira, (Francisco) Olazabal e (Jorge Serôdio) Borges. O primeiro já produzia o Quinta da Poeira; o segundo, nada menos que os Meão, e o último - mas não menos importante! - é responsável pelo Pintas. O projeto conjunto focou em parreirais na sub região Serra da Estrela, localizada no Dão. MOB estava muito fechado, na quinta-feira. Expressou pouca fruta; a boca também estava fechada, mas notava-se taninos pegados, acidez presente. Na sexta-feira também não abriu - eu que abri outro vinho - e hoje, sábado, continua irredutível. O vinho não está estragado ou comprometido. Se estivesse, acho que teria decaído bastante nesse tempo. Não foi o caso. Vinhos do Dão sempre apresentam alguma aresta, talvez característica do solo vulcânico da região. Ora, nesse contexto não podemos considerar 'aresta' como 'defeito'; é algo que pode sobrar, mas no caso dá justamente a nota do terroir da região. Claro, tudo o que você leu aqui pode estar errado. Li isso em algum lugar, não lembro onde... Acho que Richard Bach. Para quem sabe, a referência basta. Não é um vinho complexo (no preço): cerca de USD 11,00. Seu corte é composto por Touriga Nacional, Jaen e Alfrocheiro, com modestos 13% de álcool. Não consigo dizer se o futuro dele será glorioso, se minha garrafa simplesmente 'miou' ou se o vinho é um ledo engano. Na verdade, pela trajetória dos produtores, é impossível que seja ruim; descartaria a terceira opção. Sei que está à venda na Adega+ por R$ 119,00. Custando 'lá' USD 11,00 (R$ 60,00), é um preço bem convidativo. Comprei três garrafas, e acho que é o caso de guardar mais tempo. Três anos? Quatro? Talvez compre outra garrafa com o tempo, e se o preço continuar assim; arriscaria guardar as três por um tempo. Ah, em outros lugares o vinho está... R$ 199,00... próximo dos pornográficos 3x, o que já é um acinte. 

Seismic 2015

Na sexta-feira, enquanto escrevia sobre o evento da quinta, estava acompanhado por um vinho da Saronsberg, que é um produtor da região de Tulbagh, na África do Sul. Seismic é um corte 42% Cabernet Sauvignon, 16% Petit Verdot, 27% Merlot, 10% Cabernet Franc e 5% Malbec. Escrevo no segundo dia. Mantém nariz com boa fruta, a madeira permanece evidente (mas contida; nem sombra do que eram os chilenos da primeira década, madeira que espetava), algum outro toque cuja conexão insiste em fugir e não consigo interpretar. Boca com leve picância da Cabernet, bons taninos, acidez média, embora um tanto ligeiro no final, mas deixa uma boa marca na boca. É um vinho de 150 Rands Sul-Africanos, o que dá uns R$ 62,00, ou próximo a USD 11,00. Aqui começa a bateria de testes - nesse caro, necessária. Seu preço no Savegnago S. Carlos é R$ 146,00. Dá 2x mais um tanto. Está no limite de ser uma boa compra. É importado pelo grupo Verdemar, a quem já cedi loas, inclusive em postagens recentes. Fui conferir o preço por lá, e está... R$ 192,00! Aí não! Voltamos aos pornográficos 3x. (batendo palmas): E aí, Verdemar, o que aconteceu?! Vendeu o voto e alma pro diabo?! Onde vos conduz essa indolência? Olhei o sítio deles estes dias, para ser surpreendido com diversos vinhos reajustados a preços acima da variação do 'dóla' entre 2020 e 2021 - os tais 40%. Repetindo, diversos vinhos, nem todos. De qualquer maneira, uma margem próxima a 3x, para um grupo supermercadista, é indesculpável e inaceitável. Como sempre, vale a sugestão que não me canso de registrar no espaço: ao pensar em realizar sua compra, principalmente para um vinho de maior valor, consulte o wine-searcher e verifique as margens. Para a do Savgnago, como disse, está no limite de valer a pena. Embora os Falcoaria pareçam-me compra mais vantajosa, por R$ 99,00. Pela acidez ainda é um vinho que bate os sul-americanos na faixa de preço do Savgnado. Para chegar a R$ 200,00, já há compras de franceses, e aí o chão afunda.

Friday, May 21, 2021

O Brunilde é o branco 😣

Introito

   Último dia 20 a importadora Enoeventos transmitiu via Youtube mais uma degustação virtual harmonizando vinho e comida intitulada Um rolé pela Via Appia. Já acompanhara diversos somente como ouvinte. Da última vez, criei coragem e desafiei o Gustavo, do Bistrô Graxaim, a testar seus dotes culinários no contexto de harmonização. O evento, levado a cabo como teste, deixou-nos gratamente surpresos e entusiasmados. Eis que, um mês depois, nos reunimos para outra experiência. Aí entraram em campo Nelson Rodrigues e seu Imponderável de Almeida: perguntado que vinhos pensava em comprar, escrevi para o Gustavo "O Brunilde e o branco", que o maldito corretor ortográfico (quem nunca?) transformou no título da postagem 🙄. O erro só foi percebido no dia 19... ainda bem que Baco sempre ajuda seus devotos...

Um rolé pela Via Appia

   A proposta de harmonização correu por conta da chef Ana Florião, que comanda o buffet de mesmo nome na cidade do Rio de Janeiro. Foi composto por uma entrada de camarão ao mascarpone e poró acompanhado por um Montemajor Passerì 2018 (Petit Manseng e  Chardonnay); o primeiro prato foi um cordeiro marroquino com grão de bico, toque de canela e páprica picante acompanhado por um Nativ Eremo San Quirico 2016 (Aglianico) e no segundo prato vieram polpettes de gnocchi recheados de queijo ao pomodoro e manjericão com ragu de linguiça artesanal e escoltados por um Brunilde di Menzione Brindisi Riserva 2017 (Negroamaro).
   Pela confusão, eu estava somente com o Passerì. Levaria um tinto da minha adega para acompanhar os demais pratos. Daí Baco saiu da penumbra e fez com as pontas dos dedos um daqueles gestos típicos dos deuses que nós mortais conhecemos bem, iluminando o Gustavo. Dois de seus clientes haviam partilhado uma garrafa de Brunilde. Ele faria a entrega fracionada. Ocorreu-lhe deixar uma taça para que eu pudesse acompanhar fielmente a harmonização. O Gustavo sabe quem são os clientes. Que transmita-lhes um cordial abraço deste Enochato e a promessa de uma garrafa a ser degustada entre todos assim que a pandemia acabar. Até 2022 (da próxima Gestão do Senhor... 😫) estaremos juntos. Mas se puder ser antes, melhor; torço pela vacina.

   Montemajor Passerì 2018 é produzido em Lázio. Tem buquê bem floral, o que torna-o alegre, nas palavras do Akira. Para mim, abacaxi, embora a ficha técnica diga pêssego (😕). A boca tem mineralidade bem marcada, notas cítricas, boa permanência e acidez. Combinou maravilhosamente com o camarão ao mascarpone. O vinho esgotou na loja, mas segundo o Oscar está chegando outra leva. Não conta muito para o vinho em si, mas o rótulo é verdadeiramente belo. Arrisco dizer que deixa o vinho melhor do que já é. Seu preço médio lá fora é USD 11,00, cerca de R$ 60,00. Estava à venda por R$ 113,00, menos de 2x. Um preço gratamente muito bom, praticado por uma importadora que faz jus à fama de bons preços. Enquanto isso os canalhas e patifes em geral perguntam por que tenho ódio dos importadores (querendo supor que tenho ódio a todos). Não há bile envolvida na questão - é só mais um exemplo acabado da má interpretação desses energúmenos que insistem em jogar no time dos medíocres e não se juntam aos bons. 

   O Brunilde di Menzione Brindisi Riserva 2017 é produzido na Puglia. Mostrou boa fruta no nariz, boca bem estruturada mas um tanto doce. O Gustavo comentou que é um vinho semi-seco 😖, que costumo não gostar muito. Mas com o cordeiro combinou muito, mas muito bem. Até comentei com ele: uma harmonização dessas justifica a existência de vinhos semi-secos (risos!). Como tinha apenas uma taça, não acompanhei muito da evolução, mas tinha boa permanência e equilíbrio, e para uma harmonização como essas recomendo 105%.  Seu preço aqui é R$ 96,00, enquanto 'lá' sai por USD 17,00(!) (seria USD 18,00 aqui!). Tá, a safra '16 custa USD 12,70, o que, convenhamos, só reforça o quanto seu preço está excepcional por aqui. 
   O Gustavo atendeu a 11 pedidos, todos entregues por delivery junto dos vinhos. Das pessoas que conversei, todas gostaram muito. Resta aguardar o próximo evento. Só ficou de enviar-me fotos os pratos e não o fez...  daí que a postagem ficou sem uma ilustração para quebrar a conversa murrinha deste travesti de jornalista. E, para evitar mal entendidos, farei meu próximo pedido por telefone de voz...



Saturday, May 15, 2021

Novamente as paralelas

Introito

   Estou repetindo um vinhozinho já degustado há três meses. Repiso a questão sob outro ponto de vista. Encontrou um vinho que gostou, a bom preço? Compre mais algumas garrafas; beba uma ou outra de vez em quando; mostre o produto às pessoas que gosta. Ou, como hoje está sendo para mim, caso sinta o dia 'morto', se não tem inspiração para beber algo mais intenso, se pensa em queimar algo melhor com as companhias que curte, repita esse algo que já o atraiu em outro momento. No presente caso é um vinho que, compradas três garrafas após experimentar uma na primeira 'promo', notei que seria boa compra e toquei os exemplares na adega. Só não vá ficar repetindo o mesmo vinho 'a vida inteira' - por muito tempo, quero dizer. Fiz muito disso. Mas não tinha ninguém ponderando comigo a enorme tolice do ato.

Line 39  Petite Sirah 2013

Como dito na postagem anterior de Line 39, adorador idiota do 'mito', importador energúmeno, vinho absurdamente caro e político desonesto encontramos em cada esquina. Assim vamos guardando na lembrança o importador que pratica preços honestos, o político que honra o mandato, vinhos com a tal boa relação custo-benefício e momentos alegres que seu consumo nos traz. O 'Latitude 39' (rs!)  dos gringos repete boa fruta, couro ou chocolate, e desta vez um quê de charuto apareceu com mais força. Seria o couro mais intenso? Boca com o dulçor já mencionado, chocolate novamente, bons taninos. Acidez presente, ajuda a compor aquele panorama harmonizado sempre agradável. Pelos R$ 85,00, justificou bem a compra. Ele aguenta mais um tempo, não há dúvida. Ali por 2011 lembro de ter bebido com o Akira vinho americano igualmente simples com dez anos de idade, e estava bom. O advento da engenharia genética no final dos anos 80, começo dos 90, ajudou na produção de leveduras de alta qualidade, e os americanos claramente aproveitam isso muito bem e desde cedo. Procure aí ao lado a postagem sobre o Cain Five, de 1998, bebido mais de vinte anos depois e tire a prova. Relembrando minha abordagem do Julgamento de Paris, acho que aquele evento apresentou um resultado que mais denunciava a soberba e a inocência. Mas não dúvida de que no século XXI os americanos fazem vinhos que rivalizam com os bons franceses. Estão sabendo cobrar bem por eles. Mas vejamos, um Quilceda Creek Cabernet Sauvignon 2010 - algo já envelhecido, portanto - tem como preço médio USD 220,00 (USD 200,00 na Benchmark) estraçalha qualquer sul-americano que custa no Chile USD 150,00 ou mais. O Almaviva tem preço médio de USD 247,00 no Chile, mas custa USD 150,00 na própria Benchmark. Como pode? Pergunte pros chinelos chilenos. Tá indo pro Chile? (depois da pandemia, claro, que por hora não aceitam cães sarnentos - aquilo  que nos transformaram! - por lá) Compre franceses... tá tendo (sic) bastante.





Tuesday, May 11, 2021

Uma grande mudança: de energúmeno a canalha

Introito: declaração de princípios (como se já não fosse óbvio)

   O blog tem um viés democrático, e não pode ser negado. Vejamos: todas as observações e críticas recebidas foram postadas. Observações sobre imprecisões ou erros grosseiros foram agradecidas e reparadas na forma de errata. As erratas foram citadas na postagem seguinte a que foram apontadas. Inexiste o expediente de corrigir a postagem e republicá-la em silêncio. Está registrado ao pé da própria postagem a rata. Todas as críticas à postura do travesti de jornalista são rebatidas com argumentos. À medida em que argumentos foram sendo repetidos - na vã esperança de que se tornassem verdade - foram repelidos muitas vezes com novas e diferentes observações. Este sempre foi e continuará sendo a premissa desta publicação. Como veremos, tudo tem um limite.

A detratação 😂

   Está na última postagem, onde aliás citei muitas importadoras que considero praticarem margens honestas em seus vinhos: Uvavinhos, Chez France, Cellar, Enoeventos, Casa do Vinho, grupo supermercadista VerdeMar, de Minas. Então o detrator aparece com o comentário:
Pergunto-me de onde vem seu ódio pelos importadores brasileiros, que depois dos EUA, são os que proporcionam a maior variedade de vinhos para os consumidores. Se não conseguimos praticar melhores preços, os motivos são muitos. Há algo chamado livre comércio e outro chamado livre arbítrio. O senhor tem toda a liberdade de escolher onde e o que quer comprar. A propósito, todas as vezes que trouxe vinho do exterior respeitou a cota de 500 dólares? Aposto que não. E se não o fez, não tem moral para atacar ninguém. É a velha máxima do "faça o que eu falo, mas não faça o que eu faço".

Respondendo ponto a ponto

1. Pergunto-me de onde vem seu ódio pelos importadores brasileiros, que depois dos EUA, são os que proporcionam a maior variedade de vinhos para os consumidores
Que ódio, quando estou falando bem das importadoras citadas? Não há bile na discussão. Ademais, o energúmeno vale-se de uma verdade - que a quantidade de rótulos importados aqui é realmente muito grande - para tentar esboçar uma desculpa sem sentido. O fato de algumas importadoras serem realmente grandes não lhes dá desculpa para perpetrar qualquer barbárie contra o bolso do consumidor. Aliás, a margem poderia ser melhor, já que operam em escala (argumento já apresentado). E a margem pornográfica são se fica somente nelas; importadores significativamente menores também possuem sanha excessiva pelo vil metal.

2. Se não conseguimos praticar melhores preços, os motivos são muitos.
Talvez... mas não apresentou nenhum que não fosse rebatido. Basicamente o que foi apresentado também recai sobre os importadores menores e portanto não pode ser usado como argumento para justificar a diferença de margem. Ridículo, como sempre...

3. Há algo chamado livre comércio e outro chamado livre arbítrio. O senhor tem toda a liberdade de escolher onde e o que quer comprar.
Ora, claro que sim. Isso é óbvio. Tanto que escolho mesmo. Falta explicar onde no binômio "livre comércio" vs. "livre arbítrio" se encaixa em seus excessivos (e inúteis) esforços em me contradizer. Ciente da discrepância entre os preços dos vinhos 'aqui' e 'lá', praticado por algumas importadoras, eu aviso os demais consumidores que ela existe e qual sua magnitude. O utente já leu aqui, alguma vez, uma declaração minha dizendo 'não compre' deste ou daquele importador? Não, né? Prova de que tanto o livre arbítrio como o livre comércio são respeitados pelo blog! Eu comento o que vejo. O leitor-consumidor decide o que fazer. Não consigo ver qualquer desrespeito - a menos de seu argumentos, que desrespeitam até a inteligência mais rasteira...

4. A propósito, todas as vezes que trouxe vinho do exterior respeitou a cota de 500 dólares? Aposto que não. E se não o fez, não tem moral para atacar ninguém. É a velha máxima do "faça o que eu falo, mas não faça o que eu faço".
Agora a coisa entortou. O utente passou de energúmeno a canalha. Infame não é qualificativo suficiente para esse ignóbil. Você não me conhece, mas aposta que eu sou um cidadão que desrespeita a lei?! É isso mesmo? Se não coloco outra pessoa no meio desta conversa já não é porque ela não mereça, mas para manter o decoro. Repudio o idiota e sua canalhice inata. Agora às explicações, que custaram-me algumas horas procurando em e-mails de anos atrás, produzindo imagens, etc.

Em primeiro, algumas considerações:
1. A cota do exterior não é USD 500,00. Ela é USD 500,00 acrescidos de outros USD 500,00 do free shop. Que não precisa ser o de entrada no Brasil, podendo ser o de saída do país por onde se está voltando para cá.
2. Viajo relativamente pouco. Acontece que... cara, ao contrário do que parece acontecer consigo, muita gente gosta de mim. Já citei mais de uma vez que minha irmã trouxe-me garrafas em suas diversas viagens. Mas você não sabe ler, não é mesmo? 😞 Não apenas minha irmã. Veja nesta postagem, sobre meu apadrinhado Paulo e seu filho Vinícius. A família viajou em 10 pessoas para os EUA apenas pela viagem, sem previsão de compras. Trouxeram-me 20 garrafas, e tinham USD 5.000,00 de cota fora o free shop. Entendeu?
3. Além das pessoas que viajam e trazem-me vinhos apenas porque gostam de mim, outras pessoas que viajam recebem minha proposta de trazerem-me três garrafas e beber comigo uma garrafa de um bom vinho. Muita gente gosta de beber um vinho de USD 60,00-80,00 na faixa. E não é que não ofereça o mesmo para quem me traz na boa vontade. Esses, beberam comigo mais de uma vez! Eu pago generosidade com generosidade. Algo que pode soar estranho a um estelionatário. Compreendo, não precisa se explicar.
4. Não sou apenas 'eu mesmo' adquirindo vinhos. Tenho confrades. Pessoas que viajam e, em alguns casos, me incumbem de fazer a seleção, compra e despacho dos vinhos, porque eles não estão dispostos a gastar tempo com isso! Eles querem beber o melhor pelo melhor preço, e sem conhecerem tanto, usam dos meus préstimos (gratuitos! porque daí será minha vez de beber o vinho deles!) e conhecimentos de vinhos e de lojas virtuais para fazer as melhores compras. Muitas vezes, antes deles viajarem, estou procurando e reservando os vinhos com meses de antecedência! É isso aí. Eu maximizo minhas compras e oportunidades ao extremo. Sinal claro de um bebedor de grana curta, mas que não é tonto.

Agora vamos passar às provas - ah... as provas... um sujeito cartesiano como eu ama qualquer demonstração. O Teorema de Pitágoras tem mais de 300 demonstrações diferentes! Sabia? Ara, claro que não... você é um energúmeno! 😂

A Ester é uma amiga muito querida que não bebe. A irmã dela, a Orlinda, é apreciadora de vinho. Ester adorou sentar-se conosco em um restaurante, degustar um suco enquanto a Orlinda e eu dividíamos um vinho. Ela amou saber sobre os vinhos que tinha trazido para mim. Um deles, o Montrose, está encoberto pelo endereço do vendedor. A Ester mora na Inglaterra, e pretendi deixar em evidência o nome da loja. Mas posso postar a imagem sem o endereço...

Dona Neusa, a Sra. N, já citada no blog diversas vezes, viajava com o marido e algum dos quatro filhos (todos casados). Quatro pessoas por viagem, portanto. Ao casal, só interessava trazer vinhos... e conhecer NY, dentro outros lugares, claro... não andar atrás deles. Baba no Gravner. Baba no Pradeaux. Baba no Bosconia '05 (degustado com ela estes dias!). Veja quando compramos ('18) e quando degustamos ('21) este último. E o Graver está na minha adega... só esperando...

Aliás... olha o Gravner aqui na minha mão! Rapá... a coisa tá ficando feia pro seu lado.. tudo o que digo, provo... vá acumulando vergonha...


Já citei no blog a minha irmã, que trouxe-me vinhos diversas vezes. Não das primeiras vezes de uma época em que, por questões profissionais, ela viajava aos EUA diversas vezes ao ano. Claro que não. Nas primeiras vezes ela esgotava a cota consigo. Depois que até a saboneteira da pia do quarto de hóspedes da casa dela era automática, despejando a quantidade 'certa' de sabão na mão do usuário era 'de lá', ela passou a trazer-me vinhos. Certa ela, e eu a agradeço de joelhos pelos favores! Vejamos...

Compra de USD 494,94... Está dentro do limite, certo? Mas ela estava acompanhada do marido, tinha mais cota ainda. Note que o quarto estava no nome marido...


E, cara, veja só o tamanho da sua babaquice contra minha eficiência em maximizar uma compra: USD 472,00 é bem próximo de 500tão... para 3 garrafas, é maximizar a compra mesmo...


O Romeu é um amigo de 30 anos. Fã de Casillero del Diablo que dói (risos). Ficava constrangido quando eu o chamava para uma noitada na confraria e colocava um vinho bom na cota minha e outro na cota dele. Até que tivemos uma conversa muito séria: meus vinhos são para mim e para as pessoas que eu gosto. Não importa se elas conhecem, ou se poderão tirar da experiência o mesmo que eu. Importa que eu tirarei a minha parte, e meu convidado vai tirar o que puder de experiência para ele. E acabou. Algumas vezes fiz o vinho chegar-lhe à mão, e tenho os comprovantes. Outras, ele mesmo foi buscar, porque tinha um dia livre e para ele faria parte do passeio, daí que comprou o produto na loja e trouxe. Tenho dois exemplos de quando cuidei e despachei a encomenda. Observe os idiomas dos invoices! 



Quer mais? Eu tenho! Mas a postagem está longa, e claramente atingiu seus objetivos. Aí está o pulha desmentido em todos os seus argumentos... como sempre! Você não ganha uma!

Conclusão

   O canalha me confunde por ricaço que viaja frequentemente, em vez da pessoa de modestas posses que sou. Note, não sou o pobretão. Pobretões não compram alguns vinhos no padrão aqui degustados. Mas, sem filhos, se não puder dar-me a alguns luxos, então seria mesmo um fracassado na vida. Estou entre o ricaço e o pobretão: justamente alguém que sabe maximizar suas oportunidades - como bem descrito e comprovado aqui! Então, vejamos: quem é você para querer dizer que não tenho moral para algo? Tenho, e muita! Tenho a moral advinda da honestidade! Que expulsa a lorota como a luz expulsa ao diabo! Vade retro, você e seus argumentos desavergonhados! Que repudio por podres! Não compro aqui os vinhos que degusto porque uma estrutura falida e emporcalhada, da qual você faz parte, crê os cidadãos deste país como um bando de estúpidos - que não somos! Aqui não! Resistir é preciso, e esse é o marco do blog! 
   Assim o bosfenetro (sic) tenta desqualificar-me esquecendo-se das regras mínimas da cordialidade e abraçando os conhecidos ideais lulo-bolsonésios (sic):
Acuse-o do que você faz.
Xingue-o do que você é.
   Isso mesmo. O sujeito acusa-me de bandido - ao apostar que burlo impostos. Deve frequentar as bocas; anda ladeado de outros gatunos. É gente baixa, posto que deve ser íntimo dessas paragens (as bocas). Sim, deve reunir-se sempre com donos de importadoras 'tubaronas' (sic). E pretende rebaixar-me a seu nível! Inaceitável, tanto que facilmente rebatido - e com excesso de provas e exagero de contra-argumentos!

   Dito tudo isso, depois de muitas e muitas postagens debatendo o assunto, argumentando no vazio, vejo-me agora questionado em minha honestidade - o que tenho como principal pilar da minha vida de 56 anos - por um idiota que se recobre com o manto do anonimato. Isso requer uma nova postura para o espaço. Esse tipo de comentário não mais será publicado. Quem desejar debater ideias radicalmente discordantes deve apresentar-se com perfil identificado - plenamente identificado! Gastarei uma chamada telefônica para confirmar a identidade do debatedor, e darei prosseguimento à argumentação  conforme a declaração de princípios, onde a honestidade intelectual seja de fato respeitada. Quem estiver fora disso será solenemente ignorado. Recorro à já consagrada máxima: deixe de defender os ignaros; faça parte do time dos bons!

Saturday, May 8, 2021

O vinho, a coragem e a cautela

Introito

   Sempre recomendo que, chegado de uma viagem, deixe-se o vinho descansar. Às vezes você ficou em casa, e só ele viajou, porque a compra foi realizada pela internet; outras, o leitor trouxe seus 12 litros de bebidas na mala, carregando seu objeto do desejo como um autêntico muambeiro. [Só que não é muamba, uma vez que 12 litros é o limite legal para um viajante trazer na bagagem, ao contrário do que propagam alguns energúmenos pagos pelo sistema para transmitir qualquer ideia ou conceito que justifique os altos preços dos vinhos nestas plagas. Sim, li em algum lugar onde, para o pseudo-articulista, o fato dos turistas trazerem vinhos 'de contrabando' na mala era danoso para as importadoras, uma vez que a prática inibia a venda do produto em escala... Ah, tá... temos que aceitar pagar os tubos para uma caterva de mentirosos que inventam custos e mais custos para justificar o preço cobrado por aqui. Quem lê os comentários do blog deve se recordar de um estúpido que, enumerando os fatores do custo do vinho, enunciou a despesa com 'movimentação do vinho para restaurantes'. Então é assim: distribuir o vinho nos restaurantes representa um custo, que... é pago por todos os clientes dessa importadora, mesmo que eles não o consumam em restaurantes! 😕 Ah, sim: na maior parte deles o preço do vinho ainda é o dobro do que pagamos em lojas... Vai ser picareta assim na casa do chapéu...] Parêntese longo, notou? Fechando o assunto: a recomendação do vinho descansar. É necessário. O problema é que, às vezes, acabamos perdendo boas oportunidades enquanto nossa paciência é exercitada e o vinho que compramos duas garrafas acaba esgotando... é quando a cautela não dá lá muito certo...

O vinho e o preço... ou o preço e o vinho... cá e lá... qualquer coisa assim

   Felizmente nem tudo é tristeza nesta terra de bolsonésios. Existem os importadores que trabalham com margens decentes. Atualmente venho encontrando boas ofertas na Uvavinhos e na Chez Francelojas onde nunca comprei!, mas onde tenho comparado os preços cá e lá via wine-searcher. Não comprei por detalhes, o que apenas significa um manancial de alternativas ainda não exploradas. Embora perdendo um pouco a mão, a Cellar continua sendo uma opção, enquanto os mineiros possuem os ótimos preços do grupo supermercadista Verdemar e da Casa do Vinho. Claro, o leitor deve sempre ter em mente que consultar o wine-searcher a cada compra e comparar a margem de cada exemplar é um ato de cidadania e de proteção ao bolso. É melhor que fazer seguro, já que nenhum tem cobertura para o roubo do dinheiro dentro da sua carteira, ainda mais quando a prática é levada a cabo com um sorriso no rosto e muita simpatia por parte do estelionatário vendedor que o atende em certas lojas. A loja onde mais comprei nos últimos anos (mais comprei; não a única) é a Enoeventos. Ela sempre conta com produtores não tão conhecidos do grande público, mas escolhidos com bom gosto e seriedade pela equipe da casa. Não ficam espalhando por aí conversas moles de que são loucos por vinhos e viajaram o mundo inteiro - sete vezes (custou caro! Ah, tá no preço do vinho!) para trazer-lhe os maiores achados dos sete mares e quantos continentes sejam. Voltando... Enoeventos aproveita bem algumas oportunidades do mercado e oferece ao consumidor boas opções. É preciso ter coragem para apostar nelas. Venho tendo alguma... e tenho me dado bastante bem...

Donatella Cinelli Colombini

   Donatella Cinelli Colombini é uma produtora da Toscana. Tem vinhedos distribuídos em Montalcino e em Chianti, principalmente. Não sabia de sua importância até que Don Flavitxo contou-me ser bem respeitada naquelas paragens. Enoeventos trouxera diversos rótulos de sua lavra, e fui mandando ver uma garrafa aqui, outra ali. A certa altura, o Brunello e o Cenerentola estavam com preços incríveis. Uma de um, duas de outra... Andei beliscando mais uma coisa aqui, outra ali, mas não experimentei coisa alguma, tentando dar um tempo para o vinho recompor-se após o trajeto. Grave erro...

Il Drago e le Otto Colombe 2016

Este sábado peguei uma garrafa do Il Drago... nome que homenageia o marido de Donatella (Il Drago - o dragão!) que convive com outras oito mulheres (as Otto Colombe) que dirigem a vinícola. Olhaí (sic) a força feminina marcando presença num dos corações (sic) da produção vitivinícola italiana. É um IGT, corte não convencional de 65% Sangiovese, 20% Merlot e 20% Sagrantino. A Sagrantino é uma cepa típica da Úmbria. Foi de enxerida para a Toscana fazer não sei o quê (😂). Já experimentei alguns Sagrantinos. Na média, são vinhos um tanto rústicos. O 25 Anni do Arnaldo Caprai é tido como sua expressão máxima e ele de fato 'domou' essa cepa. Mas a 100 dóla ('lá'), não considero uma boa compra. Contudo ela saiu-se bem com a modesta participação de 20% no corte de Il Drago. Aos 10 minutos de abertura, apresentou-se surpreendentemente bom. Escrevo passada a segunda hora da abertura, e mantém a fruta negra. Tem ainda algum couro, ou defumado. O nariz é rico; este Enochato é quem é pobre na descrição. Boca mineral, bons taninos, acidez correta, encorpado. Alguma especiaria pica na ponta da língua, mas não e aquela pimenta da Cabert Sauvignon. Não sei se poderia ligar com a Sagrantino ou mesmo a Sangiovese... não é uma característica que tenha guardado desta última, da qual consumi vários Chiantis... Il Drago é um vinho dos seus 30 dóla, à venda aqui por R$ 180,00, mas com desconto para o clube do vinho saía a módicos R$ 153,00. Conta de padeiro, USD 30,00 x R$ 4,00 (o dóla não está R$ 4,00...) = R$ 120,00. Estava 'cá' praticamente o preço 'lá'. Nem precisa fazer conta. Nesse dóla (R$ 4,00), uma verdadeira pechincha. Se atualizar para o dóla 'real', aí que a coisa despiroca... Bem, acabou... e faz um tempo... daí que lamentei não ter comprado uma caixa - e ir bebendo uma garrafa a cada seis meses, ir mostrando para um confrade aqui, outro ali. Agora só tenho uma. Quem experimentar comigo pode se considerar premiado. Ah, mas tem outros vinhos da Donella por lá. Aproveite...


Post scriptum

   Sobrou meia garrafa, que bebi no dia seguinte. A fruta estava presente, firme. A boca mantinha as boas acidez e persistência. O final continuou bom e longo. O conjunto caiu muito pouco, já que a oxidação apagou um pouco do ataque - primeira impressão na boca - inicial. Não escrevi ontem por mero esquecimento, mas a experiência de hoje confirma: felicidade engarrafa. Principalmente ao preço a que estava sendo vendido. Tanto que voltei no site da Enoeventos para documentar o valor, enquanto ainda consta lá, vide abaixo.


   Curioso mesmo é o comentário do detrator-mor deste blog, um anônimo energúmeno. Ultrapassou as raias da argumentação, e terá a devida resposta em breve. Novamente terei de gastar uma postagem com isso, uma vez que, para responder, preciso inserir imagens e isso não é possível na janela de comentários do blog. Mas a resposta será deliciosamente constrangedora... 😈. Não para mim, claro...

Friday, May 7, 2021

Quem tem medo de Oliver North?

Introito

   Quem Tem Medo de Virginia Woolf? é um filme que conheci como peça de teatro. A versão cinematográfica de 1966 foi estrelada por Richard Burton e Elizabeth Taylor no auge da beleza (ela fizera o papel-título de Cleópatra em 1963...); não sei de outra versão; espero que não: você conhece uma refilmagem melhor que o original? Pois é. A estória logo virou peça teatral. Por aqui, foi encenada já em '65 tendo como personagens principais ninguém menos que Cacilda Becker e Walmor Chagas. A versão da qual ouvi falar é a de '78, porque... anunciava na tevê! Que peça você vê sendo anunciado em horário nobre nos dias de hoje? Algo vai mal. No elenco, Tônia Carrero e Raul Cortez! Gente boa, embora quase solitária no mar das mediocridades ditas 'atores' que infesta o cenário tupiniquim. A versão de 2000 contou com o Marco Nanini, que junto do Tarcísio Meira e do José Wilker praticamente fecha o grupo de grandes atores que tivemos desde.. sempre. Note o praticamente. O que podemos dizer de 'nova geração' (depois desses) conta com igual (e reduzido) conjunto de nomes.
   Já Oliver North é uma referência mais sutil. Foi um milico americano pego no pulo fazendo podriqueiras durante o governo do Reagan, lá por '86. Imediatamente demitido pelo mandatário, foi a julgamento. Ao contrário do que se imaginava à época, assumiu toda a culpa pelos malfeitos, inocentando completamente Seu Presidente de qualquer aprovação, participação ou conhecimento dos fatos, ao estilo do um manda e o outro obedece. Você sente ter visto algo parecido, recentemente? Pois é, acompanhemos os próximos capítulos da novela CPI de uma Covid, transmitida ao vivo nos melhores canais. Apenas não acredito que o sargento Pincel será homem o suficiente para assumir toda a culpa e livrar a cara do capo. A ver...

Um deslize controlado em meio à pandemia

Tentando manter um encontro mensal com a confraria - ou o que restou dela - reuni-me com a Neusa nesta quinta-feira. Akira não viria, e ela convidou uma amiga, a Elvira. Risco minimizado: por médicas, estão vacinadas (e re-vacinadas). O perigo, portanto, correu por minha conta, em um grupo onde todos estão relativamente distanciados ou praticando suas atividades com máxima atenção aos protocolos. Degustamos, por ordem, o Astoria Prosecco Corderie Valdobbiadene Superiore Docg Extra Dry, o Chateau Teyssier Grand Cru 2011, o Lopes de Heredia Viña Bosconia 2005 e o Tokaj Leonis Selection 3 putônios 2006. Astoria é um Prosecco do Vêneto, tem bom equilíbrio, notas florais, mineralidade e surpreendentemente mantinha as bolinhas no dia seguinte - apesar de mal arrolhado. É um produto de 10 moedas (lá), e desnuda os produtos nacionais de 150 moedas sem a menor dificuldade. Com um dóla a R$ 4,00, seu custo 'lá' é 40 moedas, enquanto exemplares nacionais já custavam as tais 150 moedas, evidenciando o excesso descarado do preço dos produtos nacionais. O Chateau Teyssier 2011 repetiu a performance já comentada anteriormente, e foi o vinho preferido - secou antes do final do encontro. O Lopes de Heredia Viña Bosconia 2005 foi bem recebido mas mal servido. Culpa máxima deste que escreve. Já tive o imenso prazer de beber vários Lopes de Heredia. Inclusive um deles, Tondonia Gran Reserva, ofertado pela própria Neusa. Este Bosconia logo que aberto mostrou boa fruta - mais vermelha, pareceu-me - boa boca, equilíbrio entre tanino e acidez. Elegante, mas menos pronunciado que o Teyssier. A tragédia (sic!) é que sobrou para o dia seguinte, quando o escrevo. Novamente, o milagre da transformação: cara, jeito e trejeito do típico Borgonha: a acidez marcou mais; apareceram notas de café e especiarias, o arredondamento foi geral. A persistência subiu - será pela acidez que melhorou? Não sei dizer. Talvez precisasse de umas 4 horas de aeração para mostrar a que veio, mas... no dia seguinte estava inteirão. Lopes de Heredia, de preferência em alguma versão reserva ou gran reserva tinto, é um vinho que eu preciso comprar novamente antes de morrer (😆). Tenho um Tondonia branco reserva para degustar em algum momento... antecipo que será bom... A sobremesa foi torta de chocolate acompanhada do Tokaj Leonis Selection 2006. Seguramente à base de Furmint, cepa típica desse vinho, abriu com ótimo toque cítrico - casca de laranja, pareceu-me - dulçor muito equilibrado, ótima acidez, boa persistência, e combinou muito bem com a torta. Como fechamento, foi excelente. Ambos ofertados pela Elvira, que mostrou-se ótima convidada para o encontro da confraria 😆! Aprovadíssima para novas participações...

Monday, May 3, 2021

O Pacheco e a Pacheca

Introito: O Pacheco

   Ninguém nunca perdeu dinheiro por subestimar a inteligência do povo norte-americano. 

   Acho que li essa frase em O Mundo Assombrado Pelos Demônios, do Sagan. Não lembro se a frase é dele ou se é uma citação. O livro relembra também aquela do Reagan na disputa pela presidência dos EUA, "Por que devemos subsidiar a curiosidade intelectual?" (😱), ideia que sem esforço poderíamos considerar como a mãe de todas as tolices. Discorda? Teje à vontade... 
   Todos temos lacunas em nossa formação - seja ela moral, cívica ou intelectual. Ao lapso na formação moral chamamos à vezes pecado. Na intelectual, ignorância. Na cívica, é um pouco mais complexa. Acho que por aqui ela se reflete no jeitinho brasileiro, no pouco apego às regras e leis e à nossa bovinice em geral. Uma das minhas lacunas intelectuais reside nos autores clássicos portugueses; li bem poucos. Eça de Queirós é claramente uma dessas lacunas, e tive atenção a ele redespertada desde o ano passado pelo historiador Marco Villa em seu vídeo blog no Youtube, onde ele constantemente cita o Pacheco, personagem de A correspondência de Fradique Mendes, obra de acesso livre pelo Projeto Gutenberg. O Pacheco de Eça é um belo desenho de nossa classe política desde sempre:

Pacheco não deu ao seu paiz nem uma obra, nem uma fundação, nem um livro, nem uma idéa. Pacheco era entre nós superior e illustre unicamente porque tinha um immenso talento.

Embora datada do século 19 e dizendo respeito a Portugal, a obra espelha o brasio de hoje, "Pacheco e Portugal, de resto, necessitavam insubstituivelmente um do outro", à medida em que vemo-nos precisando de um candidado-presidiário para redimir (sic!) nossos pecados (quando no mínimo seria um candidato a presidiário) e onde gente detestável vem posando de guardião da moralidade em CPI's mais do que tardias. Os Pachecos não acabam aí. Alguém se lembra daquele torcedor fanático da Copa de 82, em campanha lançada pela Gillete, exemplo do mais tolo e acabado ufanismo nacional? Nada contra o torcedor, nem contra o futebol. Sequer contra o ufanismo! Um pouco de patriotismo em excesso é bom! Um pouco. Ora, estúpido que duvida, se você não gostar um pouco a mais da sua(eu) amada(o), da sua pátria, vai gostar de quê?! O que não podemos jamais, é perder a justa medida, o ponto em que a preferência do coração sobre a razão dá lugar à tolice e à insensatez. É o que mais temos visto no brasio, infelizmente. Finalmente, entre o Pacheco de Eça e o da Gillete, de quantos e quantos outros não esquecemos, e quantos mais são sua forma mais acabada, e não conseguimos percebê-los? O futuro - sempre ele - há de cobrar-nos. Com juros. 'Mórbidos', não 'módicos'.

A Pacheca

Falemos da Pacheca. Ou melhor, da Quinta da Pacheca, vinícola estabelecida no Douro. É uma daquelas vinícolas que tem tudo pronto para receber turistas com conforto. Não costumo, mas desta vez olhei melhor as acomodações e preços. Sai menos de € 1.500,00 por uma semana, para o casal. Não precisa ficar tanto tempo, claro... Depois de tanto tempo em clausura, às vezes é interessante ter ideia de preços... Quinta da Pacheca produz de brancos a tintos, passando por rosés, Porto, colheita tardia e moscatéis. Seu Pacheca Reserva Vinhas Velhas 2013 é o que experimento hoje. Não encontrei a composição no sítio do produtor, infelizmente. Wine-searcher dá como 'indicativo' um corte de Tourigas (Franca e Nacional), Tinta Roriz, Tinto Cão, Tinta Amarela e Sousão. Duas horas depois de aberto - com boa apresentação sensorial desde o começo - mostrou fruta bem viva, o dulçor característico do Douro carregando consigo algum chocolate amargo que repete-se na boca, acompanhado de taninos elegantes, boa acidez, boa persistência e final harmonioso. Álcool bem contido (com 13,5%) , assim como a madeira. É um vinho que teve importador em S. Carlos. O Plácido, do Solar dos Portuga - atual Dom Pedro - realizou algumas degustações apresentando-o aos clientes. Como eu era frequentador assíduo do restaurante, vendeu-me diversas garrafas e 'preço camarada', não significando que fosse 'de custo'. Nem deveria. Paguei, ali por 2015, 2016, cerca de R$ 80,00. É um vinho de uns € 14,00. No brasio de hoje, nas mãos de outro importador, simplesmente... despirocou 😲: entre R$ 366,00 e R$ 384,00 (com desconto!). No... no... no...
   Provar de Pacheca quando tinha bom preço foi ótimo. Hoje, o preço não convida mais. Lá se foi minha última garrafa, ao melhor estilo da imolação de Denethor... Como diriam... NEEEEXT...