Saturday, July 31, 2021

Cedro do Noval 2015

Introito

   Jorge Lucki, um dos maiores especialistas sobre vinhos nesta terra de nós-cegos, tem coluna constante em Valor, importante jornal de economia. Faz sentido; o público desse veículo tem alguma sofisticação (nem que seja para segurar a taça da maneira mais afetada possível) e o jornal supre sua audiência com um assunto que, graças ao colunista, fica leve e informativo. Avisado pelo Ricardo, uma Noiva de Baco (rs! sic!), fui correndo olhar uma live armazenada no Youtube, está aqui, onde, em 51 minutos, Lucki discorre sobre muitos e muitos assuntos como evolução e métodos de produção, vinho nacional, importação e preço, considerações sobre consumidores, produtores e muito mais. Vale a pena conferir.
   Preciso dizer que concordo com muitos e muitos pontos abordados pelo Lucki, mas ainda discordo de uns tantos. Antes, também preciso dizer (desculpe a repetição) que ele é um profissional do mercado, oferece seus serviços de avaliação de vinhos a diversas importadoras e portanto não pode passar uma descompostura com bucha e sabão em quem, eventualmente, pagará pela sua consultoria. Ele faz certa crítica, mas dá o que vem-se chamando de uma boa passada de pano nas questões mais sensíveis. Nesse ponto este Enochato tem muito a ensinar ao Lucki. Os detratores dirão que será o único (ponto), e nem discordo. Mas e eles? Conseguem ensinar algo ao Lucki? Pois é...

Cedro do Noval 2015

Para minha surpresa - achei que fosse há mais tempo - recentemente experimentei um Cedro 2010. Já estava, portanto, com seus mais de 10 anos. Este, está com quase seis. Sua maioridade (no contexto da expectativa de vida) vem bem expressa em fruta vermelha viva e imediata, parecendo cereja. Especiarias? Chocolate? Na boca, a... cereja(?) acompanha, com o travo algo doce do vinho português. É um vinho médio: corpo, acidez, taninos não tão pegados... médios... álcool equilibrado (13,5%), boa permanência e retrogosto. Como a outra garrafa degustada, e como neste espaço faz todo sentido, dependendo do preço é felicidade engarrafada. Note que esse conceito é tão abrangente quanto etéreo. Um vinho bom mas muito caro jamais o será, enquanto um vinho mais simples a um preço honesto o será sem dúvida. Quem atribui esse conceito? Seu criador, este Enochato, é claro. Quer sistemas de notas até 20 pontos, até 100 pontos, estrelas, tacinhas, etc., veja todos os outros avaliadores. Aqui o leitor encontra um sistema único. E, claro, muito mais preciso, confiável e plenamente reprodutível... 😂😆  Claro, o sistema pode ser tudo, menos reprodutível. Ora, você não esperaria que eu entregasse algo de graça, esperaria? Não, não é assim. Custa escrever uma coluna. Cobro atenção e perspicácia do leitor. Não gostou? Youtube.com; vá no trends que tem (sic) um monte de coisa fácil e engraçada.

Preço

   Cedro é um vinho de preço médio em USD 18,00, atualmente. Dá R$ 90tinha. Aqui, encontra-se de R$ 169,90 por R$ 129,90. Também de R$ 192,00 por R$ 129,00. Se bobear, encontra a R$ 119,90, sem 'promo'. Para um vinho de mais de R$ 90,00 'lá', está um preção. Mesmo a R$ 180,00, ainda é 2x.  Continuo achando que destroça sul-americanos de R$ 200,00. A importadora é uma só. E, no final, quase todos os revendedores caem na mesma faixa de preço (notou?). Curioso, né? 
   Cedro sofre (sic) da mesma maldição de Terrunyo - já comentei em alguma postagem. Ficam naquela, tensionando o preço a R$ 320,00+ e fazendo 'promo' a todo momento, por R$ 240,00. Antes, era preço de R$ 240,00 com 'promo' a R$ 170,00. Por que não vendem logo ao preço menor, em vez de tentar praticar golpinhos em cima do consumidor desavisado? Quer dizer... estamos na Era da Informação. O consumidor já não pode ser chamado de desavisado. Otário cabe-lhe melhor. Invoco a máxima de Marx e Engels devidamente atualizada para nosso tempo e espaço: Consumidores do Brasil, emendem-se!





Monday, July 26, 2021

O Prelado e as Vestais

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Introito

   Desta vez dirijo-me a um grupo específico e não ao eleitor inexistente, a confraria Noivas de Baco. No sábado apenas duas vestais do templo atenderam ao chamado para o culto. Sim, somos uma fraternidade relativamente pequena - mas valorosa, dado o interesse de cada um no assunto - e claramente cada um tem sua agenda. Gostaria de comentar que uma confraria se faz com seus membros participando dos eventos. Sim, ainda estamos em tempos de pandemia, e é necessário todo cuidado e responsabilidade. Por outro lado as reuniões que temos feito são levadas com distanciamento, de maneira tranquila e ordeira, muito diferente de festas em boates. Sim, claro: quem sentir não ser apropriado não deve mesmo participar. Todos sabemos, inexiste penalidade ou recriminação. É uma reunião entre amigos em torno de um interesse comum, jamais uma obrigação de qualquer tipo. E, agora que ameaçamos sair debaixo da terra como marmotas após o inverno, ainda não temos um calendário definido de encontros. Apenas atento sobre podemos começar a respeito. Se os encontros de vinho e turismo serão mensais a partir de agora, encontros igualmente mensais espaçados destes por quinze dias proporcionaria degustações a cada quinze dias - e cada um pode julgar por si se é apropriado ou não. 

Sexta de degustação solitária...

   Na sexta-feira abri uma garrafa que estava muito boa, e da qual bebi pouco mais da metade. Apostei que poderia apresentá-la no dia seguinte, sem o perigo de passar vergonha. Claro, selecionara meu candidato para o dia seguinte e pensei comigo que nenhum adorador de Baco reclama de ser recebido com uma garra suplementar para o culto, mesmo que pela metade.

...Sábado de Aleluia

   A adoração a Baco é francamente anterior à religião católica, portanto não há o que se falar de plágio na invocação desta seção. A palavra, nos dias de hoje - alguém sabe desde quando? - é sinônimo de alegria e júbilo. É nesse espírito de congraçamento que fazemos uso da palavra para manifestar a satisfação do reencontro. Assim, receber as vestais Renata - recuperada da operação - e Dayane encheu este prelado de renovadas esperanças de um 2021 melhor que 2020... e pior que 2022... 😊

Cardápio e atores

   Por conta deste que escreve, o cardápio do cozinheiro de um prato só ficou por conta do indefectível filé ao molho gorgo. Por conta do número do número elevado de participantes, as batatas de fritadeira a ar queimaram um pouco 😖. Mas só um pouco... 😇 nenhum grande pecado. A já famosa entrada de frios também esteve presente, e acompanharam bem o vinho já aberto e bem aerado. A 'sobremesa' foi regada a vinhos já abertos. Novamente, ninguém reclamou...

Havia aberto no sábado um Mocali Mirus Rosso di Maremma 2008. Maremma era um pântano na época dos Etruscos,  e assim permaneceu - a despeito de várias tentativas de drenagem, inclusive já pelos romanos - até a década de 1930, quando sob ordens de Mussolini deixou de ser uma região entregue à malária em plena Europa. Ei, o idiota fez algo que prestasse. Lá pelos anos '90 os produtores mudaram-se definitivamente para lá, apesar de regiões próximas como Bolgheri estarem então bem estabelecidas. Maremma tem seus patéticos detratores por diversas razões, dentre elas a de permitir muitas cepas internacionais (Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlo, Petit Verdot, Syrah) misturadas às locais (Canaiolo, Ciliegiolo, Sangiovese, Pugnitello) mas... ora, se até este insignificante blog tem seus detratores... o que dizer de uma região nova que ousou afastar-se do cerne da produção toscana? Sobre o produtor, já comentei aqui, e aqui. Mesmo no segundo dia manteve fruta fruta vermelha, café/chocolate, açúcar residual com alguma presença mas o conjunto manteve-se harmonizado. Taninos muito bons, boa persistência, acidez equilibrada, bom final. Belo acompanhante para salame e presunto tipo alemão. Pêra-Grave 2017 é outro vinho muito bom, trazido pelas vestais Renata e Dayane. Vinho regional do Alentejo, bebi no ano passado um exemplar da safra 2016, que está comentado aqui. Assim, pouco mais de um ano depois atualizo a degustação de uma garrafa igualmente um ano mais nova, para certificar o que já conhecia: fruta muito fácil, café (chocolate?), um vinho alegre, equilibrado, taninos e acidez elegantes, corte de Cabernet Sauvignon, Syrah, Aragonez e Alicante Bouschet, cepa vastamente cultivada no sul da França e que aportou no próprio Alentejo nos idos de 1800, encontrando ali, segundo alguns, sua verdadeira residência. Com o bifão, veio também o Ferraton Crozes-Ermitage Le Grand Courtil 2009. Essa foi uma safrona no Rhône, que ajuda na sua 'janela de beberagem' (rs! sic!): até 2039... Bebi dele há algum tempo (não postei) e estava ótimo. Este mantém notas herbáceas, fruta e algo na direção de fumo. Boca com ótima acidez, taninos vivos, boa persistência e bom final, um vinho redondo. Comentei sobre outros Ferratons que bebi aqui e aqui, quando propalei (rs) um dos grandes blefes destas páginas, supondo que um vinho chileno teria - teria - batido franceses em degustação às cegas. Foi divertido ver algumas reações. Como comentado, Ferraton não tem encontrado uma casa fixa no Brasil, mas parece que alguns vinhos estão disponíveis a preços razoáveis. Comprei 3 garrafas de Enoeventos este ano e ainda tinha uma lá (bobeei, achei que tinha rapado o estoque). Não sei se durou muito... No final servi um queijo tipo gorgo com o Sauternes do Château Doisy-Védrines 2016, um  Adriano Reserva Particular sem vintage e um Tokaj Leonis Selection 3 putônios 2006, vinhos mencionados em postagens recentes. O Adriano, engarrafado em 2001, permaneceu alguns meses em geladeira, sendo servido em dedais aqui e ali para certos felizardos. Seus aromas terciários - nozes, principalmente - estavam deliciosos. Acabou, infelizmente. Ainda tenho um ou dois Portinhos (sic) de vintage ou engarrafamento mais ou menos dessa data. Aguardem episódios dos próximos capítulos.

Valore$

   Mocali anda à venda em safras mais recentes por uns R$ 250,00 (USD 50,00), e é um vinho 'lá' de USD 22,00. Vale a pena. Pêra-Grave foi comprado pelas meninas (sei porque compramos alguns vinhos juntos) a uns R$ 150,00, e é um vinho de uns USD 12,00 (ou pouco mais) 'lá'. Na 'promo' é bão tameim (rs! sic!). Ferraton, vinho de USD 50,00, paguei cercade R$ 260,00 'cá'. Essa sim foi uma comprona, arrematei aqui pelo preço 'lá': 1x. Baco gostou...

Saturday, July 24, 2021

Patriotas de araque

Introito

   Um general de araque - literalmente - manda um recado para outro poder, que reclama com a boca no trombone. O araque recua, desmentindo que fosse seu o recado. Para que isso seja verdade... onde está sua vontade, seu ímpeto, sua adoração pela Verdade, fazendo que os portadores de tal boato sejam expostos e execrados em praça pública? Fazendo menos do que isso, o araque na verdade endossa o que se falou dele próprio. 
   Toda a imprensa marrom e pseudo formadores-de-opinião-marrons bradam que o araque faz parte da banda podre das forças armadas. Então em expliquem: onde está a banda boa das forças armadas, que insiste em permanecer caladas? É assim?! Ninguém se manifesta? E querem me enganar dizendo que existe banda diferente da podre? Onde está? Na parte íntima da progenitora desses milicos? Corja! Se os bons não cuidam da caserna com hierarquia e disciplina - pedra angular da cadeia de comando - misturam-se todos ao que há de pior, e não há desculpa, explicação ou justificativa para tal. 
   Embalem-se no acalanto de jornalistas e 'articulistas' marrons, cor relacionada com a fétida excreção humana que se iguala à qualidade das ideias que propagam, e deixem passar mais essa. E só mais uma em um currículo já pouco invejável, onde vacinas destinadas ao Amazonas (AM) vão para no Amapá (AP)!
   Já comentei: o espaço é para falar de vinho. Mas deixar de se posicionar perante os fatos de hoje em dia não é apenas escapismo. É anti-patriótico!

La Cave des Hautes-Côtes Morey-Saint-Denis 2015

Já falei de La Cave des Hautes em outro momento. Este Morey-Saint-Denis 2015 é produto de outra região. Bebi no final de semana passado enquanto escrevia a última postagem, mas já havia escrito duas no dia anterior e não tive pique de repetir a dose. Diverti-me com ele domingo (quase tudo), segunda e terça-feira (uma taça cada dia), quando rascunhei esta postagem. Confesso que na abertura (meia hora aerando até verter os primeiros pingos na taça) não entusiasmou muito. Achei que estava aquém do mais simples Côtes Baune anterior. Com mais algum tempo apareceu fruta viva, rica, misturada com algum toque herbáceo, que ficou mais cativante nos dias depois de aberto. Boca equilibrada, taninos discretos com ótima acidez; madeira que não se nota - a ficha no sítio do importador me salvou! - e álcool integrado ao conjunto da obra. A safra 2015 foi muito boa, e ajudou que mesmo este vinho algo simples para o padrão da Borgonha seja singular. Ele está degraus abaixo de alguns que bebi nos últimos anos, mas convenhamos que eles foram-me muito generosos. Desde meu primeiro Valisére, postagem que mostra meu debut em Borgonhas de qualidade, passando por outras ofertas do próprio Akira ou de Don Flavitxo, algumas compras minhas 'lá' e algum convite fora da curva aqui e ali, venho desfrutando de Borgonhas entre muito bons e excelentes, onde Premier Crus foram uma constante e Grand Crus não ficaram tão atrás em número. Daí que Borgonhas mais simples podem parecer um tanto defasados, mas isso realmente precisa ser bem compreendido. Quem conhece, sabe. Quem não conhece, saiba que este é um bom Borgonha para sua categoria.

A cor chamou um pouco a atenção. Bem mais escura dos que os Borgonhas aos quais estou acostumado. Não é um defeito, é apenas um comentário. Confesso que nunca entendi essa estória de se admirar (tanto) a questão da cor de um vinho. Oxidados, bons vinhos apresentam coloração bastante derrubada, mas sendo bons vinhos, e atingindo a terceira idade em seu esplendor, eles não deixam de ser grandes vinhos a despeito da cor. E já bebi vinhos de ótima coloração - segundo os demais degustadores - que, ligeiros pela falta de acidez, pouco me cativaram. A cor - a ser conferido - ainda entra com 5% da nota de um vinho. Na verdade, 10%, se levarmos em consideração que todos os vinhos começam com 50 pontos e pontuamos apenas os 50 seguintes, com a cor recebendo até 5 pontos. Acho uma baboseira - esse quesito, pelo menos - mas são as regras. Venho adiando essa discussão - pontuação de vinhos - há bastante tampo... preciso de algum incentivo... inexistente leitor, vamos lá... 😂 Agora so estou atrasado com o vinho de hoje (qual? Surpresaaaaaa...)

Valores

   La Cave des Hautes-Côtes Morey-Saint-Denis 2015 é trazido pela Enoeventos, que sabemos ter margens sempre muito razoáveis. Comprar preços de algum tempo para cá ficou mais complicado. Conversando com um amigo do Chile, ele comentou-me que trazia um container da China por USD 2.000,00; com a pandemia o valor do frete passou a USD 10.000,00. Quintuplicou. O frete é uma combinação de volume e peso. Assim, o container dele não pode ser comparado ao de um container de vinho, muito mais pesado. Até onde sei, o frete de um container de vinho estava na faixa de USD 5,000,00, para 10.000 garrafas. Dava USD 0,50 por garrafa. Se aumentou 5x, o frete passou a custar USD 2,50 por garrafa. Nem isso justifica 5x de margem no preço do vinho, pelo menos não para vinhos com valor a partir de uns USD 6,00 a garrafa - conta 'de cabeça'.  Mas ao fim não fui atrás dos preços lá e cá. Alguns preços de Enoeventos subiram um tanto. Este custa atualmente R$ 437,00, mas acho que paguei cerca de R$ 280,00, ano passado. Só a desvalorização do dóla corrige esse valor (de promo) para R$ 400,00. Não adianta, empobrecemos... Valorize seu voto nas próximas eleições. Fora medíocres como Alckmins, Pachecos, Kassabs e similares. Xô corruptos e incompetentes como Lulas e Dilmas e todas as esquerdas que os apoiam até hoje, o que significa apoiar a ladroagem, a corrupção e a burrice em pessoa. Não estoco vento nem deixo de fixar metas para depois querer dobrá-las. E vão de retro energúmenos bolsonésios e sua corja de aproveitadores.  Um brinde ao futuro, que ainda o persigo.

Sunday, July 18, 2021

Noivas de Baco 2 - A vingança

Introito

   Róliúdi já nos soterrou em milhares de toneladas de fétido material orgânico disfarçado de suas sequências que danificam nossa inteligência com sequelas graves. Títulos como 'o retorno', 'a vingança', 'agora é pessoal' e assim vai ad nauseam, sobram na programação de tv (suadamente) paga com nossa labuta diária. Que as pessoas acordem desse torpor é, reconheço, sonho de uma noite de verão. O ser humano gosta de famosa lei do menor esforço. E não falo do brasileiro não, falo do Homo sapiens. É triste, mas é a verdade. A parte boa de escrever sobre vinho no brasio é que esse público tende a ser mais crítico, colocando o cérebro a funcionar com maior frequência.  Então, se não podemos sonhar com usuários abandonando em massa os canais pagos, ouso imaginar que os bebedores brasileiros algum dia darão um via il culo aos importadores energúmenos e começarão a racionalizar suas compras. Estamos na Era da Informação. Ela se propaga... volto ao assunto.

A vingança

   De vingança, essa postagem nada tem. Aconteceu apenas que, no meio da degustação dos burge, a vestal Dayane propôs apresentar um vinho na quinta-feira. Foi a deixa para a Noiva de Baco Eduardo Viagens (sic!) imediatamente sugerir outra reunião, dessa vez em minha casa, local oficial dos cultos da confraria. A Noiva de Baco Gustavo ficou de pensar o cardápio, e não demorou para sugerir um Fetuccinne Alfredo com Bisteca Fiorentina. Entre adesões e algumas pessoas impossibilitadas, a adesão do grupo ficou clara e o encontro estava viabilizado.

Noivas de Baco e Vestais do Templo juntos deste Prelado. Da esquerda: Gustavo, Dirlene, Riana, este Prelado, Luciana, Tatiane e o Eduardo tentado operar o celular sem cortar nossas cabeças. Isabela, Dayane, Renata e Ricardo, participantes mais frequentes dos Cultos, não puderam comparecer, o que foi uma pena. Esperamos ainda que outros participantes juntem-se a nós tão logo professem sua fé. Anunciado o cardápio, lembrei providencialmente que sua procedência - Florença - situa-se na região de Chianti, e outras DOCs próximas seriam Brunello di Montalcino e Vino Nobile di Montepulciano. Nunca se perde a esperança de que alguém traga um Brunello, não é mesmo? 😝 Ainda que dificilmente alguém levasse... 😔

A bisteca e os vinhos

Alguém ofereceu entrada com salame e presunto, e claro ninguém recusou. Começamos com um tinto, enquanto o Eduardo não aprecia com o prometido espumante. Também não ouve reclamações. Em dado tempo, o Gustavo apareceu com seu prato, e também não houve quem se fizesse de rogado. Nota-se sem a menor dificuldade um fervor religioso profundamente arraigado em todos... Baco gostou... A maior parte dos devotos acabou comparecendo com Chiantis. A esperança é a última que morre... mas morreu mesmo (rs); ninguém levou um Brunello. Contudo, antecipando o fato, este Enochato guardara algo diverso para contrapor às demais oferendas.

Começamos as orações embalados no I Colombi Chianti Classico 2015 ofertado por este escriba tão logo o Gustavo chegou para iniciar os trabalhos. Fruta vermelha muito evidente, taninos e álcool harmonizados, corpo e acidez médias, embalou nossas primeiras conversas enquanto as pessoas iam chegando aos poucos. O clima de confraria não permitiu-me prestar maior atenção às características de cada vinho. O mais importante foi que nenhum decepcionou. Depois dele veio o Freixenet, um Cava muito conhecido e de bom equilíbrio, mostrando que não, o espumante brasileiro não é o segundo melhor do mundo, perdendo apenas para os de Champagne. Na frente dele estão - além dos Cava - os Cremant da Borgonha e Alsácia, os espumantes do Loire, os portugueses de Bairrada e Douro, os americanos, sul-africanos, australianos, argentinos, chilenos (até eles!), ingleses, suecos, dinamarqueses, suíços, finlandeses, suecos (eles entraram de novo na fila com sua segunda linha e ficaram na nossa frente! 😫) e noruegueses. Só pra citar alguns, claro. Saibam disso e sejam menos ignorantes; nosso espumante é um embuste. Bem, a Luciana chegou com um Chianti Clássico Malaspina 2018. Já experimentei da safra 2015, duas vezes uma está aqui. É um vinho que gosto, e destaca-se na faixa de preço. A Dirlene compareceu com um Chianti Podere Primo também 2018 e - olha lá! - pertencente ao catálogo da mesma importadora do Malaspina, a Cia Bel, mantenedora da loja de internet  Lovino - sucessora do Empório Festval (era assim mesmo, com "t" mudo). Este enochato apresentou um Gattavecchi Vino Nobile di Montepulciano Riserva 2013. Foi importado pelo Verdemar e esta à venda no Savegnago Passeio pela bagatela de R$ 200,00. É importado também pela... Lovino!, mas o preço lá está mais alto (R$ 350,00). Lá fora é um vinho de USD 20,00 (pelo menos R$ 100,00!), o que mostra que a Lovino dá um pulo fora da casinha pelo menos nesse vinho. Esse tentei reparar um pouco mais, afinal era meu vinho. Marcou pelas notas terrosas e fruta evidente no nariz, com boca marcada por boa acidez, mineral, taninos mais firmes aliados a 30 meses em barrica francesa. Está pronto e muito bem acabado para consumir. Um bom vinho que, acredito, arrancou suspiros das vestais e deixou arregalados os olhos das Noivas. Como sobremesa, brindei os convivas com um Sauternes do Château Doisy-Védrines 2016 acompahado de um roquefort francês. Apresentei finalmete um dedal  para cada do Adriano Reserva Particular sem vintage (mas engarrafado em 2001), que abri em fevereiro deste ano, e estava na geladeira.
   Como último registro, cito conversas com as vestais vindas de S. Paulo. Elas reclamam do preço dos vinhos por aqui, no umbigo do estado. O Akira, vindo da cidade grande para fazer doutorado por aqui nos idos de 2001, já dizia o mesmo em sua época. E pouco tem mudado desde então e até o momento, com a diferença de muitos e muitos compradores locais migraram para a internet como ponto preferencial de compras. Recuperando o dito, a informação se propaga... as pessos chegam de fora com suas impressões, os locais também percebem a diferença de preços cá e lá. Os lojistas, todos eles, parecem conformar-se com a situação. Não é o caminho.

Leone Rosso Orcia 2018

Introito - Agora vai como sair

   Escrever duas postagens em um dia é pesado. Ainda mais quando a precedente foi tão extensa. Mas não poderia deixar de falar do vinho que embalou tão alegremente a produção anterior - são 2:22 quando começo esta escrita; iniciei sua degustação por volta das 21:30 com meu famoso e temido medalhão de filé ao molho Gorgo. Famoso porque sempre o cito aqui (rs!); temido porque é o único prato que consigo oferecer a eventuais convivas (gargalhadas!). Encare quem tiver coragem...

Orcia DOC

   Orcia é uma DOC situada na Toscana e até pouco tempo absolutamente desconhecida para mim. O que não significa muita coisa, porque sei menos do que gostaria, embora muito mais do que poderia almejar em uma vida tão curta 😝. Se isso tem um nome, é esforço. Quem pratica, sabe. Acontece que a Donatella (Cinelli) tem umas terras por lá, e apronta das suas. Certo, ela é mais conhecida por produzir vinhos em Chianti e Brunello di Montalcino. Mas em Orcia ela faz suas mandracarias como Il Drago, já comentado aqui. A Enoeventos, sua importadora, pode não ter tantos vinhos clássicos em seu catálogo, mas é respeitada pela qualidade do que traz. Il Drago me encantou - um pouco pela relação custo-benefício, e o declarei felicidade engarrafada. É um conceito etéreo, que pode significar muito para mim e pouco para o leitor acostumado a vinhos notas acima do que costumo beber. Mas para quem bebe no nível em que bebo, faz completo sentido. Faz? 🤣

Leone Rosso Orcia DOC 2018

Leone Rosso Orcia DOC 2018 ficou em aerador por quase uma hora antes de ser apreciado. Mostrou nariz com boa fruta vermelha logo de saída, e que permaneceu até o final, quando notei alguma sugestão de chocolate (café? - como sempre...). Boca com taninos marcados mas não marcantes... quero dizer, corpo mais para médio, assim como a acidez. Bom álcool (13,5%) que não se nota excesso, algum açúcar sobrando (perde uns pontinhos) que parece-me não pertencer ao travo italiano mais típico, persistência média e final um tanto ligeiro mas bem equilibrado e agradável. Sem uma acidez mais presente, não foi páreo para o molho Gorgo, vindo de um queijo bem mais salgado. Estaria melhor se escoltado por uma pizza de calabresa, por exemplo. Calabresa sem pimenta, claro (rs). Seu preço lá fora é cerca de USD 20,00 (R$ 100,00), e está à venda aqui por meros R$ 170,00. Aí gostei! Se a memória não me engana, está um degrau abaixo de Il Drago, que esgotou custando apenas R$ 10,00 a mais. Se pudesse, compraria Il Drago antes de Leone Rosso. Mas não deixaria de comprá-lo também. Os estilos são um pouco diferentes. Il Drago é um corte de Sangiovese, Merlot e Sagrantino (que é uma cepa difícil: seu ícone, o Arnaldo Caprai 25 Anni, não me convenceu pelo preço, USD 100,00, 'lá'). Já Leone não tem essa mesma Sagrantino (cerca de 20% em Il Drago), mantendo apenas Sangiovese e Merlot, e parece que tal falta deixa-o um pouco menos marcante, talvez algo chocho. Observe: falamos em vinhos de bom nível pelo preço 'cá', e se você acredita no ditado quem não tem cão caça com gato, então não deixe de experimentar Leone Rosso.
   Como de hábito, os preços. Agora, 3:40. Chega...




Noivas de Baco em movimento

Introito: uma sociedade tentando voltar ao normal

- Que queres tu, meu pobre Diabo? As capas de algodão têm agora franjas de seda,
como as de veludo tiveram franjas de algodão. Que queres tu? É a eterna contradição
humana.
Machado de Assis
A Igreja do Diabo

   Mais de um ano isolados - não em confinamento absoluto, porque, como relata Machado em A Igreja de Diabo, sempre tendemos a algum deslize não importa qual seja nossa crença. Aos poucos vamos emergindo do solo como marmotas acordando de um inverno mais longo do que o usual. Mãos espalmadas esfregando os olhos, começamos a nos (re)acostumar à luz do sol (às antigas e novas amizades) e seguimos (re)desfrutando velhos hábitos. O leitor desavisado não tome nossa atitude como desobediência à prática do distanciamento social ou como incentivo à aglomeração. Promovemos um encontro em ambiente quase completamente aberto (não foi em uma sala fechada), com distanciamento (na maior parte do tempo) e os devidos cuidados nos cumprimentos e aproximação pessoal. Todo mundo prendeu a respiração pelos três minutos em que ficamos mais próximos para um congraçamento e pose para fotos. Os presentes atestam essa verdade. Ah, como se fosse necessário! Ora, este Enochato sempre provou, comprovou e re-provou (sic! rs!) todas as suas afirmações no blog; portanto tem moral absoluta - absolutíssima! - para assegurar a veracidade completa de seu relato sem o devido registro fotográfico ou fílmico. Essa tem sido uma máxima bolonésia de uns tempos para cá, 'provar' algo. O pior é que estão surgindo gravações aqui e ali, provando justamente o que se tenta esconder, e essa turma tem ficado cada vez mais acuada... 😓. Falemos de vinho...

Degustação de burgue (sic! rs!)

Tinha ficado para trás a proposta de uma harmonização de burgue (sic) e vinho, e resolvemos retomá-la. A ideia partira do Gustavo, chef do Bistrô Graxaim, em algum momento do ano passado. Com o recrudescimento da pandemia ela adormeceu, para ganhar asas na semana passada. Fiquei entusiasmado - como tenho relatado - com a proposta de harmonização. Algumas das quais participei, promovidas por Enoeventos, mostraram como belas combinações podem ser realizadas com vinhos de preços relativamente acessíveis (cerca de R$ 100,00), com pratos relativamente sofisticados (camarão) e alcançar resultados tão surpreendentes quanto sofisticados. Claro que uma degustação não tem o mesmo propósito de uma orgia baconiana como aquelas que promovemos em nossos encontros... daí que sugeri - ideia prontamente aceita pelo Gustavo - que ele conclamasse os devotos a comparecerem com outras garrafas na mão, para o segundo tempo. Ideia imediatamente aceita por todos, desnecessário dizer...

O evento

Terno, sapatos pretos, gravata (eu), ou fraques e cartolas para os homens, e longos, plumas e paetês para as madames, lá fomos em trajes de gala para o evento (agora tenho provas! Vejam a foto ao lado! Em sentido horário, começando pela esquerda, Renata - de aniversariante -, Dayane, Rita, Luciana, Eduardo, Enochato, Dirlene e Isabela). Brindamos o reencontro com um espumante Blanc de Blancs Bacio Della Luna 2019, já comentado aqui, e portanto pouparei o leitor de mais lenga-lenga. Enquanto colocávamos a conversa em dia, resolvemos abrir nossos vinhos e deixamos o Gustavo aguardando a ordem de hamburgar (sic) todo mundo. Talvez tenha sido um grande equívoco... 

Vinhos 'auxiliares'

Havia bebido um exemplar dele na semana anterior... Do qual gostei, apontados e respeitados os defeitos. Achei que outras pessoas também curtiriam conhecê-lo, e eis que a oportunidade apareceu em seguida: o burgue! Harmonização ainda é um mistério para mim. De um lado, temos tanino, acidez, álcool e açúcar (espinha dorsal do vinho) combatendo contra (ou a favor...) gordura, sal, acidez e açúcar (ei, eles aí de novo!) pelo lado da comida. Tecnicamente não sei quais outras características básicas a comida pode ter, que (sic) não sou cozinheiro, mas quatro a quatro parece bom. Bem, burgue não tem fama de ser uma carne com muita gordura (como uma picanha... tá, tem burgue de picanha, mas o Gustavo adiantara que o blend exclusivo dele não segue por aí); é uma carne de gordura média. Então levei um vinho de copo e acidez médias, o já comentado Juan Gil Etiqueta Plata 2018

A Dirlene levou um Primitivo de Manduria '1932' (ou algo assim - rs!), da cooperativa Produttori di Manduria. É uma turma que parece ter começa nessa data, veja melhor o sítio deles, vinho que recebeu minha imediata torcida de nariz e reprimenda enfática, em tom professoral (🧐). Não gosto(ava) de Primitivos. São vinhos doces (meio secos, na verdade) demais para meu gosto. Endosso a renormalização feita por alguém sobre o nome de outro produtor da região para Luccaralho Primitivo di Manduria, porque esse é enjoativo de fato. Bem, já ouvira dizer sobre a existência de Primitivos secos. Tanto quanto ouvi as estórias do ET de Varginha, do Saci-Pererê, da Mula Sem Cabeça e outras; uma lenda a mais não me ocuparia espaço por entre os neurônios - não é fato importante o suficiente para estar neles, fica entre mesmo. Mas eis que... encontro um Primitivo seco! Ora, foi experimentar e voltar-me para a Dirlene, que ainda compadecia-se de minhas críticas, refazendo minha posição. Não tenho problema em assumir meus erros e reduzir meus preconceitos a pós-conceitos. Um Primitivo seco, de corpo médio, boa fruta, acidez média, algo ligeiro no final mas ainda assim certa elegância. PENITENZIAGITE! Esta é e sempre será a posição do blog, sem medo de reconhecer os erros nem relutância em refazer posições. Tenha-se o registro. E aprendendo sempre. Não estou lembrado (🥴) de haver outro vinho na estória. Se houve, por favor, corrijam-me. O Eduardo ficou nas fotos, mas engoliu (rs! sic!) pelo menos uma delas, pois recebi apenas uma dentre os vinhos da degustação e não estou lembrado se mais alguém levou vinho. Quer dizer, quase certo de que a Isabela levou... mas não lembro-me qual...
 (batendo palmas): - Alô alô, Edu, tem que beber menos! 😂🤣

Vinhos principais

Que realizar a força que tem uma paixão
Eu vejo um novo começo de era
De gente fina, elegante e sincera
Com habilidade pra dizer mais sim que não
Lulu Santos

Os vinhos principais foram fornecidos pela Vinho & Ponto de São Carlos. Foram (supostamente) sugeridos como harmonização para os burgue (sic) idealizados pelo chef Gustavo. A proposta foi divulgada com antecedência. Primeiro burguer: Blend exclusivo Graxaim, no pão de brioche, com maçãs caramelizadas, bacon e creme de queijo brie. Guarnição: onion rings (cebolas empanadas) Vinho para harmonizar: Korta Selección Especial Grosse Mérille 2019. Segundo burguer: Blend exclusivo Graxaim, no pão de brioche, queijo reino, bacon artesanal feito na casa, cebola caramelizada, alface e tomate. Guarnição: batatas rústicas artesanais Vinho para harmonizar: Irurtia Tannat Reserva 2015. Bem, pretendia fazer uma postagem baseada na média entre as opiniões dos presentes. Mas considerei que este espaço sempre teve personalidade e senso crítico mais do que suficientes para prescindir disso. Não é que evitarei comentar as manifestações de outros. É que não hesitarei um instante em exercer o senso crítico deixando de lado a menor possibilidade de dizerem que escondi-me na opinião dos outros. Então é assim: Vinho & Ponto entrou em uma parceria de degustação e não enviou um representante ao evento. Uma falha (falha, para deixar barato). Sobre Korta Selección Especial Grosse Mérille 2019, vejamos o que diz o sítio da V&P: Em boca é leve, delicado e seus taninos são muito suave (sic!) no paladar, tem excelente acidez e doçura equilibrada, seu final de boca é ligeiro e fresco. fantástico vinho para o verão, e servir a uma temperatura mais baixa (mais um sic pelo conjunto do parágrafo). Tá. 'excelente acidez' com 'final de boca ligeiro'. É uma contradição. A boa acidez é quem garante quase que sozinha um bom final. Portanto apenas uma das declarações é verdadeira. E olha não é aquela sobre a acidez... é excessivamente ligeiro, desbalanceado no açúcar e a declaração mais verdadeira (sobre a acidez) está bem errada! Na verdade não apresenta acidez digna do nome,  e bota ligeiro para falar do final.
 (batendo palmas): - Alô alô, V&P (franquia 'central'), tem sommelier por aí? Sommerdiers (sic) tem um monte no mercado! Estão aceitando currículo? Um pelo outro, posso mandar o meu! Para trabalhar 20 minutos por dia. Nessa média ainda sou melhor do que o que vocês têm ai (se é que têm)! E olha que nem sou lá grande coisa...
   Ainda segundo o sítio do importador, a harmonização se faz com "Massas, Carne de Porco e Queijos". Não parece indicado para carne bovina mais magra, embora não consiga traçar uma correlação entre 'carne bovina mais magra' (do burgue) e 'carne de porco'. O fato é que não casou. E não é que passou perto; sequer tirou fina.
   O Irurtia Tannat Reserva 2015 não está mais disponível no sítio do importador, então não peguei suas notas de degustação. Gostaria de vê-las... seria outra piada engarrafa? (sic) Também não casou com o burgue. De forma alguma é um vinho ruim (o Korta é!) - para o padrão sul-americano. Mas a tal da acidez também é baixa, principalmente após já termos provado dos europeus. 
   Dando o braço a torcer: a degustação de vinhos auxiliares com acidez mais presente (embora apenas 'média') poderia comprometer os vinhos principais? Talvez. Mas o que classifico de acidez média (europeus) bate de frente com a declaração do sítio do importador, excelente acidez(!) para um dos vinhos principais (o Korta). Algo está evidentemente muito errado. E parece que não é a opinião deste Enochato! Se o sítio do importador estivesse correto (e vinho fosse aquilo mesmo que se descreve), algo de 'excelente acidez' deveria bater o que eu sabia (no caso do meu Juan Gil) ser de média acidez.

Conclusão

   Harmonização não é um assunto fácil. É fascinante, mas exige atenção e seriedade. Pode não dar muito certo, o que é um risco inerente às possíveis interpretações do prato e do vinho. Mas é uma mácula quando dá tão errado. A crítica não fica apenas à V&P São Carlos. O chef Gustavo deveria ter maior... maior... maior feeling. E, tendo-o, deveria rechaçar a(s) indicação(ções) oferecidas. Não o fazendo, entra na fogueira também. Onde está o fósforo? A gasolina, eu já trouxe. 😈
   Melhor sorte a todos da próxima vez.

Saturday, July 10, 2021

O ditado, o Korem e o um sábado a mais em nossas vidas

Introito

Tolo quem empresta um livro. Mais tolo quem o devolve.
Ditado popular 
  
A querida Angelina andava preocupada em círculos na ampla sala de sua casa. Pegou o telefone, discou nervosamente e aguardou que alguém atendesse. Estava realmente transtornada; não se fez de rogada, saiu gritando:
   - Carlos! Estou com seu livro há mais de um ano! Estou indo devolvê-lo agora!
   Detalhe: ela mora em Campinas; eu, em São Carlos. Aqui, recobro a invocação desta postagem e os poderes a mim investidos por Baco em Deussoa (sic! não é uma pessoa, é um deus!) quando tornei-me mensageiro de Sua Palavra: Há de fazer potente seu dito e desdito; há de conferir ao animado e inanimado o poder da tua sugestão! E eis que, quando empresto um livro, empenho a este o destino de volver às minhas mãos em algum momento. Sem pressa nem afobação, mas com a certeza do retorno. Daí que na pandemia, vítima da regra de ouro da devolução, a Angelina viu-se acossada pela necessidade devolvedora (rs! sic!) dos livros que continham contos de minha autoria - esse fato reforça ainda mais o poder da sugestão - retornarem a mim. De forma que mal tive tempo de responder:
  - Ah, Angelina, que bom. Vou preparar alguns vinhos para louvarmos a Baco nesse momento tão especial e... - o telefone já emitia sinal de ocupado. Imaginei-a em seu carro e a caminho... Poderes... nada como sabermos usá-los com parcimônia... 😝 Devo dizer ainda que a própria Angelina saiu de casa em descarrego, murmurando a Baco que cumprira seu destino e esperava tornar-se merecedora de algum descanso. Tenho certo comigo que Baco atendeu-lha (sic! rs!). A vida segue em linha reta. Até que procuremos o próximo desvio, claro. É uma prerrogativa do livre-arbítrio... só para quem pode...

Vinhos, vinhos à mão cheia...

Oh! Bendito o que semeia
Livros à mão cheia
E manda o povo pensar!
Castro Alves, Espumas Flutuantes (1870)


   Gosto muito da citação acima; tenho certeza de já tê-la utilizado aqui no blog. Não faz mal repetir - assim como não faz mal repetir vinho bom. O problema é repetir vinho ruim e citação sem-vergonha! 😣; vinho bão e citação inspiradora são bem-vindos a qualquer momento...
   Falando em repetir vinho, ofereci à Angelina um de produtor que é-me muito caro, a melhor cooperativa da Borgonha, La Chablisienne, em sua versão Premir Cru Beauroy, safra 2016. Beauroy é  uma região dividida entre vários produtores que realizam a colheita no tempo que julgam adequado e realizam a vinificação sem separado. La Chablisienne produz - dados antigos - 500 mil caixas por ano. É tido como um produtor 'consistente', com preços justos (lá fora, claro). Aqui, se você encontrar em 'promo' (40% de desconto sobre o preço de tabela) é uma excelente compra. Mesmo com esse dóla a R$ 6,00 (tá, um pouco mais de 5,30 agora, mas faça as contas completas no seu cartão). Mas com os 40% fica bom, asseguro. Sem os 40%, fica ruim, asseguro também! Compre na 'promo'; se ela não vier, teje (sic) de olho em outras ofertas, porque elas existem.
   Outra repetição (para mim) foi o Korem. Esse vinho é assim: põe de joelhos (para mamar 😂😝😱) sul-americanos de 5x seu preço. Motivo? O já extensamente discutido aqui: sul-americanos estão pornograficamente caros, enquanto na Itália o mercado é competitivo. Mais: o consumidor tolo deixa os olhos brilharem para qualquer porcaria in natura e não sabe apreciar a tão-me (sic) cara acidez. Assim, pagam pau para iconos chinelos chilenos que são vendidos, nos EUA, à metade do preço do que na terra natal. Tem algo errado com isso! Vejamos: o vinho (chileno) sai de cá (Chile, Pacífico), cruza o Equador, aporta na costa Oeste (o 'velho oeste'), vai para Noviorqui e é vendido à metade de preço do país de origem?! Metade! Cruzou o hemisfério! Depois cruzou um continente! Passou pelo importador, pelo distribuidor regional e chegou ao lojista do lado do Atlântico, ainda assim pela metade do preço do país de origem?! É assim?! É isso mesmo?! 😠 Picaretas! Cadê os energúmenos para justificarem isso?! Canalhas, apareçam! Bem, voltando... Korem é um vinho de preço médio a USD 30,00 que dobra a concorrência local. USD 30,00? Íconos chinelos custam USD 150,00 no Chile. Pois é, vem mais por aí. Economize estômago 😌.

Os vinhos...

La Chablisienne Premir Cru Beauroy 2016 apresentou a boa mineralidade esperada da região. Floral com toques de abacaxi (nariz), amanteigado (boca), boa acidez e ótima persistência, casou muito bem com queijos Gruyère e Gouda, e com xarxixa (sic) de vitela. Tem 13% de árco (e mais um tanto de frexa - sic! rs!), bom corpo, final muito redondo, se bem comprado é felicidade engarrafada. Tente, e seja feliz. Essa combinação já experimentei com outros vinhos do produtor - e curiosamente com o Korem no mesmo episódio! - E com a Porto Adriano! Em mais de uma ocasião! Os Chablisienne são vinhos realmente bons! Se puder gastar sem olhar para a relação custo benefício, mande ver sem 'promo'. Se for $deficiente$ (sic) ou mão de vaca (sou ambos), espere a promo ou traga de fora. No meu caso, pobresse oblige 😓...
   Argiloas Korem 2015 é aquele caso que menciono sempre que posso: se puder fechar uma caixa e beber um a cada seis meses, terá um ótimo vinho para beber por seis anos. Quando tiver seis caixas nesse padrão, terá completado o círculo, e poderá beber uma garrafa por mês durante o mesmo período. Tendo mais bala e fechando mais vinhos equivalentes... você é feliz! Poderá beber a cada quinze dias? Semanalmente?(!) Parabéns! Korem, comprei a cerca de USD 50,00 (Enoeventos) quando era vendido a USD 100,00 pelo importador anterior, e é um vinho de USD 30,00 'lá'. Está espetacular; choro a cada oportunidade em que o experimento. Esgotou na Enoeventos, mas fique de olho! Tem energúmeno sugerindo que a importação de Enoeventos não é feita sem container climatizado, etc. Olha, se Korem não foi importado por Enoeventos com os cuidados que se espera, se ficou 30 dias tomando sol no chão do porto do Rio de Janeiro e ainda é tudo isso... pow, então Korem é o melhor vinho do mundo! Mas experimentei Korems da antiga importadora, e estavam igualmente bons. Então afirmo: padrão é esse mesmo! Comprovação de que energúmenos são... energúmenos! Korem 2015 tem fruta muito viva - vivíssima! - , explosiva, ótima persistência, bons taninos, acidez e corpo médios e madeira elegante - justamente o contrário da madeira sul-americana de uma década atrás, em excesso - além de ser daqueles vinhos que entram no nariz e boca 'em três dimensões' - quem entende, sabe o que pretendo dizer. Um vinhão, sempre. Se comprar a R$ 300,00, é felicidade engarrafada com certeza. 
   Ao final, servi à Angelina o último dedo de um Tarapacá Late Harvest que estava há mais de um ano na geladeira, com um roquefort francês. Ela adorou. Depois, um Tokaj três putônios. Só ela experimentou, eu estava sorvendo - feliz e serelepe - o Korem. Angelina não conseguiu prosperar para o Sauternes ou para o Porto - Adriano, com vínculo mencionado acima. Mas eu tasquei um dedinho neste final de escrita. É um vinho não vintage, engarrafado em 2001 e que abri em fevereiro. Continua ótimo, com frutas secas - nozes - persistente, redondo, macio... felicidade engarrafada. Tenho ainda uns bons três dedos, para partilhar com quem se apresentar. Alistem-se!

Sunday, July 4, 2021

Jumilla... again de novo (sic)

Introito

   Bebi um Jumilla há bom tempo. Na verdade foram vários, mas apenas um acabou postado. Foi em um contexto de compra de safra mais antiga em queima, onde algumas garrafas estavam boas, e outras não. Não é que ficou alguma mágoa (rs); de repente faltaram outras oportunidades, ou até bebi e não percebi. Vai saber. Mas no vínculo acima tem um breve comentário sobre essa região localizada no sudeste espanhol, na DO de Múrcia. Não conhece? Nem eu... 😔 Então, se leu a postagem indicada, considere que sempre vale a pena conhecer ou revisitar. Só não caia na queima de safra antiga daquele vinho simples que a importadora tubarona trouxe, não conseguiu vender e de repente - não mais que de repente - aparece em 'promo' de 50%. É difícil uma região europeia que não produza vinhos com alguma qualidade. Alguma, pelo menos. E é apenas difícil, mas não impossível 😂. Curiosidade e cautela, andem juntas!

Juan Gil

   Juan Gil Giménez começou a produzir vinhos no começo dos anos 1900 na própria região de Jumilla, uma Denominación de Origen Protegida, e atualmente cultiva vinhas em diversas outras regiões como Montsant, Rueda, Castilla y León, Rioja, Priorat e outras mais. Seus vinhos volta e meia figuram em listas dos 100+ de avaliadores. Por mais que tais listas possam ser contestadas - e devemos sim recebê-las com algum senso crítico - diga-me aí: você já bebeu algum vinho ruim oriundo de alguma dessas listas? Qualquer que seja, mesmo do famigerado James Sucks... (rs!). Lembremos ainda que falamos de 'vinho ruim', e não de vinho que o ilustre leitor 'não gostou'. São coisas diferentes.

Juan Gil Etiqueta Plata 2018

Juan Gil Etiqueta Plata 2018 é um vinho 100% Monastrell, também conhecida como Mataro na própria Espanha, na Califórnia e na Austrália, e ainda como... Mourvèdre(!) na França. É uma cepa conhecida por produzir vinhos de bom corpo e altos níveis de álcool. Passadas duas horas desde a abertura, mostra aroma frutado com fundo adocicado e algum álcool sobrando - o vinho na taça está a uma temperatura um pouco mais alta, e com o frio que anda fazendo não é ruim, apenas pode encobrir um pouco outras características. O doce continua na boca, mas não é enjoativo. Nem é como o doce do travo português, tem sua característica própria. Toque terroso, corpo médio, alguma acidez - o álcool (15%!) sobrando um pouco atrapalha na apreciação - e é um tanto ligeiro no final, sem muita permanência. Tem seus defeitos? Tem. Mas vejamos: é uma boa opção na faixa de preço, vendido no sítio do produtor a 12 Euros, algo como 15 Dóla. A um dóla de R$ 6,00, dá 90tinha. Recalculando a R$ 5,00, dá 75quinho. Paguei R$ 117,00 - comprando uma boa quantidade de vinhos, negociei um pequeno desconto - o que deixa o produto como uma pechincha. Para meu desgosto, esgotou no sítio do importador, a Enoeventos... mas... a R$ 199,00 (😞). 
   (batendo palmas): - Alô alô, Oscar, o preço anda escapando! 
   Certo, com o dóla a R$ 6,00 ainda dá 2x, mas comprei aos R$ 117,00 em janeiro/21, o dóla de R$ 6,00 já tinha passado. Mantenho Enoeventos como uma das importadoras que mais respeita o consumidor. Mas, como sempre comentado no blog, não dê mole. Compare. Lembre-se: volta e meia vemos notícias onde os articulistas noticiam - escandalizados! - o preço dos produtores da Apple no Brasil, comparando-os com os preços no resto do mundo. E mal dá 100% de diferença! Veja aqui, e aqui. Esses matutos deviam escrever um pouco sobre vinho! Ou, de outra maneira, os energúmenos que tentam justificar margens de 3.5x,4x, 5x, deveriam olhar um pouco mais para o resto do mundo. Tolos! Queimem no inferno! 😅