Saturday, November 28, 2020

Estoques reguladores: quem tem, se salva...

Introito

   Empobrecemos. Ainda não percebemos o quanto. Temos 'pistas', mas acho que ainda não caímos na real. Ou apenas eu não percebi, quem sabe? Sei mesmo que vi nessas bléquis por aí um Pagodes de Cos pela bagatela de uns R$ 700,00. Deixei de comprar por uns R$ 300,00, há dois anos. Não me arrependo - estava caro mesmo. Mas o que estava caro a R$ 300,00 com dóla a uns R$ 4,00, imagine agora, a R$ 700,00 e com um dóla muito menor do que R$ 8,00... A não-compra do Pagodes aconteceu junto da compra do Prélat de Pape Clément e está narrada aqui. Enquanto não volto a enriquecer - junto da maioria dos brasileiros - vou mantendo-me com meus estoques reguladores. Felizmente ele tem algum tamanho; posso passar anos sem comprar vinhos...

Estoques reguladores

   Comentei há algum tempo ter comprado várias garrafas de Bordeaux a ótimo preço na rede Savegnago. Esse ótimo preço aconteceu após as garrafas mofarem mas prateleiras por uns dois anos ou mais por causa de preços exorbitantes, quando a rede se convenceu do engano e queimou tudo, na faixa de R$ 120,00-150,00. Este estava mais na faixa dos R$ 120,00. Comprei umas 10 garrafas de diversos Bordeaux que ando queimando estes tempos. Invariavelmente, safra 2011. Não foi uma grande safra - alguns detratores dizem que foi verdadeiramente ruim. Opiniões mais abalizadas dizem que foi uma boa safra, mas eclipsada por duas excelentes safras anteriores, o que quebrou um pouco a magia da coisa. Como se a coisa tivesse magia para ser quebrada... Ainda tenho alguns exemplares... parece que nem o tempo ao 'relento' na prateleira do Savegnago comprometeu sua qualidade. E é hora de desfrutá-los mais e mais...

Fleur de Pedesclaux 2011

Segundo rótulo do Chateau de Pedesclaux, pertence à região de Pauillac, no Médoc. É um quinto vinhedo da classificação de 1855. Quinto vinhedo é mais ou menos assim: se a safra for ruim, de repente o vinho pode não ser 'grande'. Mas jamais será ruim. Não que eu conheça muito sobre esses vinhedos; antes é a certeza de que hoje em dia não temos mais vinho 'ruim' vindo de produtor que 'sabe fazer', e que seja 'responsável'. Quem sabe, sabe: sempre vai tirar o melhor da produção descartando uvas, ou não lançando o rótulo para não comprometê-lo. Assim, se você um vinho dessa estirpe, sabe que ele terá aquela qualidade mínima. É o caso. Com 9 anos, Fleur de Pedesclaux tem fruta vermelha bem marcada, e tabaco (chocolate?) 'evidente'. Não sei se um ou outro (rs), mas está lá, bem vibrante. Difícil para este enochato é identificá-lo corretamente 😔. Boca equilibrada, corpo médio, taninos pegando um pouco, ainda, sem comprometer. Tem boa persistência e bom retrogosto. Agrada bem. É um Cabernet mais 'clássico', mais fácil de reconhecer. Digo, mais próximo do Cabernet 'rústico' a que estamos habituados, nada a ver com a delicadeza de um segundo vinhedo. Não sei - não sei tipo... nem tenho ideia - do que tem entre um quinto e um segundo vinhedo... Mas dá para dizer que Pedesclaux é bom 'o suficiente' como vinho em si.
   Como disse, comprado a uns R$ 120,00 estava a muito bom preço na época. Um vinho de cerca de USD 25,00-30,00, com dóla a R$ 3,50, seria ótima compra a R$ 120,00. Estaria ainda dentro do conceito de 'boa compra' mesmo a R$ 150,00-160,00. É aí que vem a decepção, a constatação do nosso empobrecimento. Veja só:
   De R$ 479,00 por R$ 375,00(!) No... nooo... nooooo..... no se puede... percebe o leitor quando digo que empobrecemos? Não consigo ver-me comprando um vinho como esse nesse valor em 2020... ainda mais tendo pago R$ 120,00 em algum momento da minha vida... O tempo da inflação ficou para trás... e que não volte...🙏

Impressões da bléqui

    Vim recebendo uma miríade - não, um Googleplexo - de mensagens das principais importadoras já bem antes da bléqui. Por 'principais' entenda-se as tubaronas (sic) de sempre e aquelas que habituaram-se a, depois de subir os preços, a cada quinze dias aparecerem com ofertas dignas de bléqui antecipada. Quase tudo, enganação pura. Deveria haver uma lei contra isso... houve uma proposta, uma vez...  tipo... primeiro parágrafo da Constituição - parece que não vingou, foi retirada do texto final:
   As pessoas precisam, antes de mais nada, ter vergonha na cara
   Pois é, não vingou, e assim estamos hoje: empobrecidos.
   Duas 'promos' causaram boa impressão: Enoeventos, já com margens apertadas, ofertou alguns rótulos com descontos de 30%-40%. Preços já admiráveis ficaram espetaculares. Não resisti e peguei dois borgoinhas (sic). A Vinho & Ponto em S. Carlos, dentro do grupo Shot Café, ofertou 70% de desconto na segunda garrafa de cada vinho comprado. Isso significa levar duas garrafas com 35% de desconto cada. A Vinho & Ponto é uma franquia com fama de careira. E é verdade. Acontece que com a crise econômica dos últimos anos, ela segurou os preços - leia-se: queimou sua margem. O preço dos vinhos estacionou, a despeito das altas consecutivas do dóla. 'Prova' disso é que os vinhos não sofreram reajustes desde que a loja abriu em S. Carlos, há uns 4 ou 5 anos. Com preços nessa situação (congelados), acrescidos de um desconto de 35%, as opções ficaram verdadeiramente atraentes. Sem desconto, a franquia ainda mantém boas compras. A grande pergunta é: quanto tempo vão durar esses preços, e quanto eles subirão no reajuste? Por hora, e mesmo no preço normal, vários produtos são muito boas oportunidades. Exemplo: os Torre Oria.

Resenha de filme

Deveria cometer (sic) mais resenhas. Não é que tenha assistido ou lido pouco. É falta de lembrança mesmo. Mas assisti um filme bom como não via há muito tempo, e da minha linha preferida, a ficção científica. Nada indica ser o que na verdade é. Primeiro mandamento do Enochato: filme com sujeito armado no cartaz não presta. É uma premissa, e é verdadeira para 99% dos casos. Diga que não (risos). Depois, o mote: "invasão da Terra" 😖. Vimos por aí drogas absolutas como aquelas estórias dos Transfórmis (sic). E aquela porcaria com o Bill-quem?, dos aliens invadindo o planeta e sendo derrotados em três dias - justo no 4 de Julho - pelos (claro!) americanos. Alien burro! Invadir a três dias do 4 de Julho?! É dar motivo pro fracasso... e depois reclama...😔 Só faltou mesmo o Chuck Norris - que já cobriu o próprio Demo de porrada em algum filme dos anos 90 - dando uns roundhouse kick em aliens desavisados. Má péra í (sic)... The Blackout é um filme russo... aos não iniciados, os russos têm feito os melhores filmes de FC dos últimos tempos. Dos últimos 10 anos, quem sabe... não são muitos - pelo menos o que vi - mas são bons... Não vou descer a Solaris (risos). Falaria de Attraction (2018), vide trailer, e sua continuação, Attraction 2. E, até antes de 2010, veja Night Watch (e suas continuações), de 2004. Onde estávamos, mesmo? Um filme com o sujeito armado no cartaz, e uma estória sobre a invasão da Terra. Pois é, repito: não duvide da qualidade dos filmes russos (tá, despreze Guardians...). Quer um filme inteligente, instigante, ótimo suspense, que não vai tirando a calcinha para o telespectador logo nas primeiras cenas? The Blackout entrega tudo isso, e mais. Uma invasão alienígena 'crível', com ótimas sacadas - a forma como o alienígena domina a situção com a Coronel Nikolay é genial - um cenário de incertezas crescente num pós-apocalipse digno dos melhores romances do gênero (viu? digno dos melhores romances). Se você gosta apenas de ficção científica e não viu, está perdendo. Se gosta de suspense em geral e não viu, está perdendo. Se gosta de 'apenas' uma boa estória e não viu, está perdendo. Corra... caso contrário... já sabe, está perdendo...

Sunday, November 22, 2020

Quando se Opta pela coisa certa...

Encontrei esta postagem parada - ou revertida a rascunho -, desde 2020... Republico, comentando ter envelhecido um pouco. O mandatário não é mais o Jair.


Introito

   Ditados são muitos e, invariavelmente espelham uma boa dose de sabedoria. Alguns que eu gosto vêm do oriente,
Paciência é sentar-se à beira do rio e esperar o corpo do seu inimigo passar boiando.

 Conheces teu inimigo e conhece-te a ti mesmo.

 Mantenha os amigos sempre perto de você, e os inimigos mais perto ainda.

e é curioso como aplicam-se ao mercado de vinhos - principalmente aos importadores. Já disse aqui que importadores são energúmenos. Claro que sob o ponto de vista próprio, eles são os maiores benfeitores do povo brasileiro - maiores que o Jair! - , suando o próprio sangue para trazer-nos os mais finos vinhos nas melhores safras ao preço mais justo possível. Mas bom... se chamo esses tipos de energúmenos, e há um abismo entre a santificação e a energuminice (sic), fica claro que a 'verdade' deve estar em algum ponto entre esses extremos. Parece razoável, já que existem importadores que não são energúmenos. O mais curioso é que esses não ficam batendo no peito a dizer que nos trazem os melhores vinhos, possuem os melhores preços, etc... eles apenas trabalham. Tá, alguns são chatinhos. Deixemos passar.

Dão

   Acho que já falei do Dão. Fica um pouco abaixo do Douro. Seu solo é dito 'pobre', o que destina as uvas a certa sofrência (sic) e gera vinhos de boa personalidade, algo pegados. Por não ser a atual estrela portuguesa - não sei, parece que o país não suporta mais de uma estrela ao mesmo tempo (ou assim querem fazer com que acreditemos)... deviam trocar o brasão e a esfera armilar por estrelas, como nós, ou como os ianques. O Jair adora! - seus vinhos tendem a ser subvalorizados. É um prato cheio para importadores energúmenos: aumentam a margem 2x a mais só por causa disso. Como consumidor, não tenho culpa se a região é subvalorizada. Quero comprar o vinho pelo preço que os próprios fabricantes vendem como 'justo'. Inaceitável é um energúmeno jogando seu preço para cima a troco de apenas aumentar a margem. Tinta Roriz, Alfrocheiro e Touriga Nacional são as castas presentes nos melhores vinhos. 

Quando se Opta pela coisa certa...

   Sim, o nome do vinho e a brincadeira com o verbo optar transparece alguma picardia adolescente. Mas é a mesma filosofia dos produtores de Optao nome Opta, derivado da palavra opção, surge com o propósito de incitar o consumidor a optar pelo que é português, a optar por Portugal.
Opta foi importado pela Cantu. Os preços não são pornográficos, mas não são tão bons. Ficam bons quando aparecem em alguma queima. Como não vendem pelo sítio da empresa, ás vezes correm algumas listas fechadas que - típico da tecnologia - acabam por se espalhar além dos limites pretendidos. Foi assim que comprei algumas garrafas de Opta: pela metade do preço de tabela, que, fazendo as contas, estavam no limite de ser uma boa compra. A estória se repete, como tragédia ou como farsa. Cansei disso, atualmente. Tenho sido mais fiel a importadoras que praticam preços honestos sempre, e desprezado 'promos'. Não desprezo todas... só a maioria. Voltando: comprei Opta Reserva 2012 por uns... R$ 50,00, lá por 2015 ou 2016. Esta era a última das três garrafas. É um corte de... acertou: Touriga Nacional, Alfrocheiro, Tinta Roriz, 13% de álcool, 9 meses em barricas. Nariz com fruta bem presente, chocolate (café? - rs), bela harmonia. Boca com acidez bem presente, boa mineralidade, os taninos agora estão 'amansados' (rs), bom final e boa persistência. Conjunto da obra acima da média. Tentei encontrar em alguma loja por aqui, mas só achei o 'colheita' (não reserva), na média de R$ 120,00 (mais caro do que então o reserva, há alguns anos, em seu preço regular). Não dá...  Opta é um bom vinho, mas a R$ 120,00 (pelo 'colheita') o bebedor encontra por exemplo um Lavradores de Feitoria  reserva, e aí a coisa fica feia... Puxando pela memória, Opta reserva deve bater o Lavradores reserva...mas a que preço? Bem, caro leitor, se encontrar Opta reserva, fique esperto. Pode ser uma boa compra... pode não ser. Confira o preço. Seja cidadão. Não pague um preço absurdo por ele, ainda que este pobre Enochato rotule o produto como 'muito bom'. Sempre acho que a qualidade tem relação direta com o preço.

Saturday, November 21, 2020

Quando as coisas ficam Graves

Introito

   Não é sempre que acontece, mas às vezes as coisas ficam Graves. A gravidade (sic) sempre traz algum risco, mas este faz parte da brincadeira. O degustador que tem suas curiosidades também gosta de forçar os limites.

Graves e Château Magence

   Graves é uma denominação da margem esquerda de Bordeaux, onde as uvas são eminentemente Cabernet Sauvignon e Merlot, e com alguma participação de Cabernet Franc, Malbec e Petit Verdot. Tá vendo? Petit Verdot - principalmente - é coadjuvante. Normalmente entra com 2% ou 3% do corte. É uma uva de amargor marcado - pelo menos aqui na sulamérica (sic). Por isso ninguém por lá faz vinhos 100% Petit Verdot. Quem é esperto e bebe sulamericanos (sic! - difícil esse binômio andar junto) já sabe que deve ficar atento...

Graves... uma das primeiras regiões do que seria a França a receber vinhas plantadas pelos romanos. Moedas do Século I Antes Cristo(!), encontradas em um poço do próprio Château Magence, atestam os fatos. Daí que a própria moeda ilustra o rótulo dos vinhos da propriedade, como a alertar o bebedor da antiguidade da região. Dizem que ela foi a primeira a produzir vinhos de qualidade em Bordeaux. Consequência direta, foi a primeira região a exportar vinhos para a Inglaterra, ainda na Idade Média(!). Como se não bastasse 😱, Graves é também o lar do clarete. Clairet para os franceses, e Claret para os britânicos, esse estilo de vinho é menos concentrado que um tinto, e mais potente do que um rosé. Para quem prestou atenção - mas não entendeu (risos!) - é citado por lady Mary Crawley no seriado Downton Abbey, ambientado a partir da segunda década do Século XX. Ela cita que o clarete estava servido - antes da refeição - sugerindo um vinho para abrir o apetite. Fontes pouco suspeitas me afirmam que bons claretes são vinhos de personalidade; podem ser usados como aperitivos ou mesmo acompanhamento para certas refeições. Algum dia tento encontrar um...

   Château Magence foi fundado em 1761 por Jean de Majence (assim, com "j"), e hoje é administrada pela sétima geração da família. A próxima está pronta para continuar o trabalho de seus antepassados.

Château Magence 2001


Comprei minha garrafa do Château Magence 2001 há muitos anos, enquanto conversava com o Daniel, então gerente da de la Croix. Tinha pego por escolhas próprias o bom Carinator (que levara anteriormente por indicação dele), umas garrafinhas da safra 2009 do borgoinha (sic) Premier Cru do Comte Armand - depois de, também por indicação, experimentar os bons Domaine Clotilde Davenne -  e então virei-me para ele: - Daniel, o que é que estou deixando passar? Que gema escondida você tem aqui e eu não conheço? O Daniel riu e não hesitou em apontar para o Château Magence 2001: - Tem 15 anos, está pronto para beber, mas pode guardar por mais cinco ou seis, tranquilamente. Lá fui eu para casa todo feliz, levando também um Magencinho (sic), que agora degusto, no limite de sua boa idade. Nesta safra, é um corte 50% Cabernet Sauvignon, 30% Merlot e 20% Cabernet Franc. Notemos que a safra 2001 não foi exatamente uma grande safra. Foi 'boa', mas não 'grande'. A 2005 foi 'grande', parece. Falemos desta, a 2001. Frutas ainda sobrevivem. Negras? Vermelhas? Ambas? Então, não consegui distinguir. Tabaco (café?). Algo mais, não consegui perceber. Tento dizer que ainda é um vinho de boa complexidade no nariz. A Cabernet está presente na boca pela picância, mas precisa estar atento. É uma picância leve - não lembra exemplares mais rústicos da CS. Os taninos estão resolvidos; harmonizados com o álcool e a madeira. Corpo médio, acidez viva! Foi um belo par para o bifão ao molho gorgo (única especialidade da casa). Para 19 anos, uma surpresa! Taí mais uma daquelas classificações de 'felicidade engarrafada'. Bebi poucos Graves na vida. Mas arrisco dizer que quando sua vida ficar Graves, será sinal de bons momentos pela frente. A safra 2010 estava à venda (esgotou recentemente) por R$ 210,00. Uma pechincha. Quem teve a sorte... parabéns... Sobrou um pouco. Acho que deixarei para entrada do jantar de amanhã...

Saturday, November 7, 2020

Bacio Della Luna 2019

Introito

   Essa vai rápida. Seu contexto esta entre divulgação e crítica. Divulgação pela iniciativa, que vale a pena; crítica porque... ora, é a alma do blog...

Bacio Della Luna

   Bacio Della Luna é um Prosecco (italiano, portanto) Extra Dry. Recebido em outubro pela Enoeventos na promoção 'compre uma caixa (6) e ganhe uma magnum', chamou atenção deste enochato pelo preço e condições. É exatamente a mesma oferta encontrei em algum lugar na Europa - não registrei onde: 6 garrafas + 1 magnum de brinde, por 32 euros (seriam 27, mas acrescente 20% de impostos. Tá pensando o quê?).

É produzido no Veneto. Esta versão, um Extra Dry 'Blanc de Blancs' indica ser produzido com apenas cepas brancas (no caso, Chardonnay e Pinot Bianco). Tem 11% de álcool, o que torna-o muito bom para 'entradinha', com um queijo tipo Gruyère. Cítrico. Achei que no nariz tivesse abacaxi, o Akira disse maçã. A ficha técnica aponta ambos... Tem acidez agradável, adstringência que dá uma boa 'limpada' na boca. Para um Extra Dry é engraçadamente docinho... As amigas Carol, Regiane e Dani que passaram 'para um bolinho' da aniversário piraram na batatinha com ele 😂. Seu preço na 'promo' é R$ 360,00, pela caixa de 6 garrafas + 1 magnum. Contas: aproximadamente 30 x R$ 6,00 = R$ 180,00. A margem de Enoeventos é 100% - 2x 'preço lá'. Uma das menores do mercado. Um parênteses: leitores perguntaram-me em off sobre minha conta usando dóla a 4,50. É assim: se você faz a conta com o dóla nesse valor e ainda assim o vinho está 2x 'preço lá', podemos afirmar tratar-se de uma verdadeira pechincha. É o vinho que você precisa levar. O valor usado agora, R$ 6,00, reflete apenas o dóla atual, e 2x é uma boa compra nessa nova realidade que estamos vivendo após empobrecermos 40% com a última desvalorização. De qualquer maneira, o preço 'por garrafa' (contando a magnum como duas garrafas) fica em... R$ 360/8 = R$ 45,00! Peguei aleatoriamente duas telas de loja online com espumantes nacionais:





   Não compro espumantes nacionais nem - já comentei aqui - vinhos chilenos ou argentinos. Não mais. Não há motivo, seja por qualidade, seja por preço. Não deixo de bebê-los com gosto, quando servidos. Mas não compro. E não os compro porque não me canso de experimentá-los em degustações justamente para notar que não melhoraram! Experimento todos (espumantes e vinhos), à exaustão. Alguns colegas chegam a perguntar por que estou bebendo 'tanta porcaria', e 'com tanta fúria' 😜. O Deonísio da Silva, meu professor de literatura na faculdade, dizia que o cardápio literário do estudante de Letras deve incluir os clássicos, mas também 'Sabrina' - uns romancezinhos água com açúcar que rolavam por aí, então. Estes serviam para realçar a excelência da obra-prima, explicava ele. É mais ou menos o mesmo caso. Experimento nacionais e sul americanos em geral para acompanhar como estão. Estão ruins. Não, incorreto. Quando melhorarem, estarão ruins. E, mais ou menos, vários espumantes nacionais estão no mesmo preço de Bacio Della Luna. Vou além. Timidamente, pergunto 'se ele não bate' o 130 da Valduga - achei que 130 fosse pelo preço, R$ 130,00, 'má quê'... Está R$ 200,00 por aí... Certo, no sítio do produtor, está R$ 120,00.


   Eu acho que não perde, ou no mínimo não perde tão feio - estou generoso hoje; acredito que perca... Mas Bacio veio 'lá de longe', e custa a metade (R$ 60,00 é o preço de uma garrafa, fora da 'promo', portanto). Seu preço na Itália deve ser 'marginal'. Basta faze a a conta da 'promo' por lá, 32 euros por 6 garrafas + 1 magnum, dá 4 euros por garrafa... É um preço marginal ou não?

   A tragédia não acaba aqui. Estes dias mesmo estava em uma degustação 'pós-pandêmica-controlada' - eram 11 pessoas. Serviu-se um espumante nacional (preço: R$ 45,00). A certo momento alguém comenta: - Acabaram as bolhinhas... Servi um final de Bacio Della Luna após dois dias, tendo usado uma tampa para espumantes apropriada. No segundo dia, estava carregado de bolhas. Pequenas, discretas. Claro, a qualidade havia decaído. Ei, quer o quê, por 4 euros? Nesse mesmo dia ainda abri outra garrafa de Bacio, para comparar com aquela aberta. Esta sim muito mais fresca. Mas sobreviveu, e bem. Tente com um espumante nacional...

   Então, é assim que ficamos: comparando 'corpo a corpo', nosso espumante é caro e ruim. Claro, vai continuar vendendo bem, enquanto nosso consumidor continuar ignorante e despreparado. Está vendo no que dá a lacuna na educação? Produto caro e sem qualidade, 'admirado' pelo bebedor sem noção. Há de mudar. Nem que na próxima gestão do Senhor.

Rata! 🐭

   Escrevi que este Bacio Della Luna seria um Prosecco. Um erro grosseiro, conforme o leitor pode conferir nos comentários. De qualquer maneira, o propósito da postagem é comentar o preço de espumantes simples 'cá' e 'lá'. A conclusão não muda: o que se cobra por um espumante nacional é um absurdo de caro.

Revisitando o julgamento de Paris: A vingança

Introito

A vingança, O retorno, "II", A desforra... o cinema nem nos escandaliza mais com tantos clichês. Para cometer mais uma postagem voltando ao mesmo tema da anterior, nada como avisar o leitor de antemão que vem mais do mesmo. Ao melhor estilo da mediocridade estabelecida, para não parecer diferente...

Brancos...

   Claro... faltavam eles, os brancos. Tenho alguns franceses, não tinha nenhum americano. O Vinícius, filho do Paulão, estava indo para "lá"; a mentira toda está aqui. Conversando com a vendedora da Benchmark, fui direto no ponto: - Quero um branco para competir com Borgonhas. Lá veio ele na mala do menino.
   Dias atrás, por coincidência, recebi um mailing da mesma Benchmark sobre esse mesmo vinho, e enviei para Don Flavitxo, . Chegou o comentário, e passamos a conversar:
   - Não conheço... Mas não sou fã de Chardonnay e Pinot Noir da California, ainda que tenha uns bons. Prefiro com sobras os do Oregon...
   - Ah... 🤔  Fresco! 😂 - respondi.
   - Fresco não... Já bebi uma boa amostra de vinho californiano. Desde os tops do Paul Hobbs, Insignia, Opus one etc, até outros mais "modestos" (mas nem tanto). Não só em degustação, mas beber mesmo. Até bebi uns bons Chardonnay do Paul Hobbs, o Chateau Montelena etc, mas mesmo assim, a madeira dos californianos me incomoda...
   - Tindi... 🙄   fresco! 😂
  Assim, sabendo da experiência de Don Flavitxo com californianos, preparei a vendeta... Disse que tinha uns branquinhos nojentos para abrir; ele não se fez de rogado, respondeu que viria com um bacalhau.

Dois brancos. Não, três. Um estragado?

   Um chegou e ainda estava abrindo a garrafa inicial. O outro tocou a campainha em seguida; nem tinha aberto a outra garrafa. Servi o primeiro às cegas. O Akira achou que talvez fosse Chardonnay. Mas que não estava bom. Don Flavitxo preferiu não arriscar, mas também apontou que não estava bom. Provei. Estava um pouco estranho mesmo. Servi o segundo, praguejando. Pensava no plano B. - Chardonnay! - disseram ambos. Flávio disse que era bom. Akira: - Mexerica. Isso é Charlemagne.
   Disse que não estava satisfeito. Precisaríamos dar um tempo, eu queria fazer um teste melhor e teria que trazer outra garrafa para compensar a primeira. Desci para a adega, voltei com a terceira garrafa. Um tempo para resfriar, foi servido um tanto às pressas. - Chardonnay - disseram ambos. - Ninguém arriscou palpite(!). A ordem na foto abaixo acabou trocada: o da esquerda foi provado em primeiro; o da direita foi provado em segundo, e o do centro foi provado por último. Interessante observar a cor dos vinhos nas taças.


O Redentor ladeado pelos
picaretas? Não exatamente...
   Corton-Charlemagne Grand Cru Bouchard Pere & Fils 2004: O primeiro vinho degustado não abriu bem. A Chardonnay não foi claramente reconhecida. Foi considerado envelhecido - estava mesmo. Apresentei a rolha um pouco infiltrada (menos de 30%). A infiltração não causaria a queda de qualidade, concordaram os convivas.
    Sonoma Coast Aubert Wines Ritchie Vineyard Chardonnay, 2004: No segundo vinho provado, a Chardonnay foi imediatamente reconhecida. Foi confundido com um Charlemagne, pela clara mexerica! Estava bem cítrico, boa acidez, mineralidade presente. Acho que alguém falou "mel" nele. Será que confundi? Foi considerado o vinho mais novo dentre os três. Bom final, boa permanência, muito apreciado.
   Corton-Charlemagne Grand Cru Bouchard Pere & Fils 2007: O terceiro vinho foi provado com calma após resfriar um pouco mais e melhorar. Havia sido reconhecido imediatamente como Chardonnay, mas não como Borgonha(!). Bom frescor, mineralidade presente, cítrico. Foi considerado o mais novo, com bom corpo e também com bom final. 
   Um americano 14.9% de álcool, dois franceses na faixa de 13,5%. Preços similares. Corton 2007 e Aubert 2003: foi considerado um empate técnico. Corton 2003: prejudicado.

Não acabou...

   Dia seguinte passo um zap para o Jairo: - Tem um vinhos rebas que sobraram... se estiver a fim..
   Ele estava, claro... Mal chegou, recebeu uma taça do Charlemagne 2003 - o que estava 'prejudicado'. Mal cafungou, levantou os olhos e disparou: 
   - Chardonnay clássico... Não sei se americano, mas muito bom. 
   Eu ainda desacreditava do que tinha na taça: mineralidade, acidez não tão alta, mas melhorou, os toques cítricos que faltaram anteriormente, estavam todos lá! Manteiga? Sim, estava oxidado, mas misteriosamente aberto, quase resuscitado. Os outros dois estavam bons, embora o Aubert tivesse decaído mais. Vejamos suas cores no segundo dia.
Charlemagne 2003, 2007 e Aubert 2003

   Se Aubert não sobreviveu tão bem ao segundo dia, estando inferior aos demais, não 'desandou'. O Charlemagne 2007 estava melhor que ele. E aí, caro leitor? Quando valem os vinhos? No dia seguinte? Não, claro. Valem quando servidos em seu correto serviço. Aqui, Charlemagne 2003 enganou a todos. Charlemagne 2007 tirou empate técnico no primeiro dia. Ganhou no segundo, mais pela decaída do concorrente do que por mérito. A conclusão permanece: sem a preocupação primeira em apontar um 'vencedor', é inescapável: nessa faixa de preço (USD 150,00), os americanos competem com os franceses. Não podem ser descartados, em hipótese alguma. Não conheço muito de brancos americanos, como não conheço italianos e espanhóis. Um Gravner daqui, um Heredia dali, mas nada que permita um melhor juízo. Sei do seguinte: não fico na sala, se cada um estiver com uma foice e a energia 'cair'. A briga fica feia. Está bem que Gravners (antigos!) e Heredias Gran Reserva custam a metade destes. Nessa briga de gigantes, e por ter provado poucos, não posso contextualizar tantos atores. Todos eles valem a pena.

Sunday, November 1, 2020

Revisitando o julgamento de Paris

Introito

   A Prova de Vinhos de Paris, que ficou conhecida como Julgamento de Paris, aconteceu em 1976, - parece - como forma de celebrar os 200 anos da independência norte-americana da coroa britânica. Não surpreenderia se o 'inimigo natural' desta à época, a França, fosse então a primeira nação a reconhecer esse ato. A Prova foi levada a cabo pelo inglês Steven Spurrier que - parece (rs) - era um lojista falido dedicado também a ministrar cursos de degustação para turistas, na França. Tem um filme engraçadinho, Bottle Shock - e (parece 😁) outro a caminho, sobre esse assunto. Bottle Shock teve como protagonista o impagável Alan Rickman, não por interpretar o professor Snape em Harry Potter, mas pelo papel de Alexander Dane em Galaxy Quest. Em uma cena, logo no começo, ele se queixa da posição de protagonista em uma série de ficção científica que imita Star Trek:
   Assista a ambos, se puder. Bottle Shock é no fundo (mais) uma patriotada americana, mostrando um bando de matutos descobrindo sozinhos e na sua geração o que os franceses levaram mil anos para desenvolver. Americanos são Phoda. Assim mesmo, com Ph (e "P", maiúsculo). Qualquer dia vão dizer que eles próprios descobriram a América...

O julgamento de Paris

   O julgamento de Paris foi então um evento de prova de vinhos produzidos nos dois lados do Atlântico, envolvendo vinhateiros norte-americanos e franceses, e provadores franceses. Tinha uma americana, parece 😂, e o próprio Spurrier no corpo de 11 jurados. Assim, nove eram franceses. Provaram-se diversos tintos e brancos, às cegas. Os jurados avaliaram cada vinho com notas, alguma conta foi realizada e o resultado surpreendeu a todos: os vinhos norte-americanos - tinto e branco - foram declarados os melhores do encontro. Muito se comentou a respeito. O argumento mais forte foi que os vinhos americanos podem ser consumidos mais jovens, enquanto os franceses precisam de mais tempo para desabrochar.
   Acho que nada pode ser dito quanto à honestidade intelectual dos jurados - afinal, eram quase todos franceses. Ademais, eles sabiam o que estava se passando: era um evento de provas envolvendo vinhos americanos e franceses. Eram pessoas do metiê: produtores de vinho, donos de restaurantes, colunistas de revistas especializadas. Um resumo dessas informações está aqui. A pergunta que não quer calar é: como essas pessoas não perceberam 'de cara' quem era quem? Notem que estou avalizando a honestidade intelectual de todos eles. Poderiam até ter escolhido os vinhos americanos e comentar, decepcionados consigo próprios, ou cheios de surpresa, que os americanos tinham vencido. Antes da contagem dos votos. Não consta que tenha sido assim. Então, novamente: o que aconteceu?
   Até à luz da última postagem, quando comentei matéria 'jornalística' a aventar sobre toda essa estória de avaliações e percepções sobre vinho ser uma fraude, precisamos contextualizar alguns pontos.
  1. Os vinhos produzidos nos anos 70 eram muito diferentes dos de hoje em dia. A proposta do Émile Peynaud de controlar a temperatura da fermentação ainda não era plenamente aceita.
  2. A revolução causada pela engenharia genética nos anos 90 forneceu aos vinhateiros leveduras de qualidade superior, e fez com que nos anos 2000 os vinhos atingissem uma qualidade nunca antes alcançada.
  3. Finalmente - mas não menos importante - acho que os franceses estavam em uma bolha, acreditando que sempre produziriam o melhor vinho do mundo. Eles não tinham padrão de comparação; tirando alguns vinhos estrangeiros de boa aceitação na França (Riojas, por exemplo), seu universo era restrito. E, por saber de vinhos, eles os bebiam (bebem) no tempo e em condições corretas. Algo 'novo' poderia muito bem deixá-los perdidos, perdidinhos da silva...
   A boçalidade desceu para a soberba, e deu no que deu (risos!). Nunca saberemos o que se passou exatamente. O Chateau Montrose 1970, por exemplo, pode ser encontrado. Mas mudou demais, desde então. E os vinhos norte-americanos, estes sumiram... Ao  que importa: dizer que os norte-americanos 'ganharam' importa, de verdade? Bem, para eles, importa sim (gargalhadas!). Acho que importa mesmo é se de fato eles produzem vinhos que possam ser competitivos com os franceses. Uma lista dos melhores produtores de vinho do mundo apontaria - na minha opinião, França, Itália, Espanha e Portugal, nessa ordem. Será que os EUA conseguem algum lugar entre esses produtores? Qual posição? Após a Itália? Após a Espanha? Isso eu não sei - escrevo à priori à experiência que se seguirá. O que gostaria de descobrir é se, de fato, os vinhos americanos podem encostar nos franceses. Já terá sido um grande feito. Principalmente para um país que viveu a Proibição, cuja indústria vinícola colapsou e passou décadas na estagnação, para começar a recobrar-se somente em meados da década de 1960.

Preparando um evento

   Por ocasião deste meu 56° aniversário, passei a semana toda tocando o terror para cima do Flavitxo. Dizia precisar voltar às origens, beber uns chileninhos... que havia comprado alguns Carmenères surpreendentes, e que ele deveria provar.
   - Pô, você vai estragar sua festa de aniversário - choramingava ele. Foi com andar um pouco reticente que chegou em casa, precisamente às 20:00 do dia 30 (níver é no 31). Trazia o sorriso alegre de sempre, uma panela em uma mão, um Borgonha 2009 na outra. Em sua inocência, tentava salvar o evento. Sentamo-nos para uma entrada;  Romeu e Akira não tardaram. Estávamos perto do final da entrada, cheguei para Flavitxo com uma taça. Ele mal aproxima do nariz e ergue as sobrancelhas enquanto um sorriso maior ainda aflora, ele olhando para mim:
   - Esse negócio está começando forte... - deu uma cafungada, olhou para cima e voltou-se para mim. - É nervoso! - depois aprumou-se na cadeira, deu mais uma cafungada e quando voltou era Don Flavitxo Vinhobão falando: - Tem um doce diferente... frutas, couro... tem 'camadas' - enfatizou 'camadas'. É bom, heim?!
    Deixei que ele se divertisse com o nariz, e a conversa andou mais um pouco. Quando atreveu-se a beber (rs), meus olhos já o interrogavam. Ele não demorou a responder, depois de gastar um tempo terminando o gole:
   - Na boca também tem um doce. A madeira é discreta, é bem equilibrado, e o final é marcado... rapaz, é longo...
   - Nota?
   Ele pensou um pouco: - 93.
   "Mão de vaca", pensei. Dei um tempo e fui buscar a segunda taça. Lá foi ele:
   - Ô, isso não está mole não... tem fruta explodindo aqui... também tem um doce, e mais... café, couro, madeira... - cafungou mais um vez e deu um gole. Fechou os olhos. Mastigou, mastigou, engoliu, e mastigou enquanto virava os olhos.
   - Nota?
   Ele pensou um pouco antes de responder: - Se aquele é 93... este é 94.
   "Mão de vaca" - pensei novamente.

Os atores

Cada qual com seu bifim, passamos a uma coversa mais animada e uma degustação não menos atenta. Depois de alguns goles, sem muita frescura (rs), resolvi apresentar os atores. O primeiro vinho foi um Quilceda Creek 2004 de Columbia Valley, corte 96% Cabernet Sauvignon, 3% Merlot, 1% Cabernet Franc. Nariz muito complexo... por isso fico com a análise do Flávio. E boca? Sim, o doce, a fruta, chocolate/café, especiaria. Boa acidez, boa madeira, final longo mesmo. Pelo preço, tem obrigação de sê-lo, mas cumpre o dever: felicidade engarrafada. Um vinho para 'sonhar com'. Na hora, e nos dias seguintes, porque fica na memória. O segundo foi o Chateau Montrose 2003. É um Saint Estèphe. Grand Cru Classé de Médoc, segundo vinhedo pela classificação de 1855, encarna um daqueles bordosões objeto de desejo de qualquer onófilo mais esclarecido. Nessa safra, é um corte 62% Cabernet Sauvignon, 34% Merlot, 3% Cabernet Franc and 1% Petit Verdot. O leitor já bebeu CS chilenos? Que chilenos! Esquece. Franceses, Bordeaux mesmo, tipo Grand Cru 'comum' de Saint-Émilion? Esquece também! Tudo o que vc já bebeu de Cabernet Sauvignon perde o sentido quando o assunto é um vinho desse nível. Lembra quando escrevo que vendem uma garrafa com 'vinho' escrito no rótulo, e compramos o produto por 'vinho', como se o fosse de verdade? O mesmo para esses exemplos de Cabernet Sauvignon. Se Montrose é um padrão para a CS, tudo o que bebi antes, e até hoje, estava errado. É muito delicado. Na boca, a picância que sempre denunciou essa uva para mim é bastante diferente. Está lá sim, mas de outra maneira. Mais elegante, mais sutil. Inaugura um novo padrão de 'aveludado'. Felicidade engarrafada novamente - outra vez, entrega com sobras o que seu preço diz ser a clara tarefa. Don Flavitxo deu-lhe um ponto a mais do que a Quilceda. Enquanto os avaliadores concederam 98, 99 pontos a eles, Don Flavitxo ficou com 93, 94. Justo: seu padrão está claramente acima desse pessoal, que às vezes não mede e$forço$ para divulgar avaliar um bom vinho. Não é o que importa, neste momento.

A avaliação

   Ficou muito claro: dois vinhos de ótimo nível, compatíveis em qualidade. O Akira detectou e matraqueou que ambos tinham CS desde o início. Como não está bebendo, foi gentil e cordialmente negligenciado pelo Flávio e pelo Romeu (rs). Mesmo Flávio, apesar de aventar que o primeiro fosse americano, não cravou. E, no segundo, mesmo em algum momento deixando escapar um 'Bordeaux', não descobriu o que era. Sinal de que o evento foi um divisor e águas para todos. 
   E assim chegamos ao propósito do encontro, Revisitar o 'Julgamento' de Paris sob a perpectiva de analisar a qualidade de um grande vinho norte-americano face a um grande francês. Ambos com idades próximas, boas safras, algo envelhecidos. Ambos, sem dúvida, no limiar de sua maturidade. São vinhos com uma década (Quilceda) ou mais de duas (Montrose) pela frente. Mas podem ser degustados com muito prazer agora.
   No segundo dia, Quilceda perdeu muito do doce, o que deixou-o mais balanceado. Na boca, apareceu muita mas fruta, café chocolate. Bebi com igual prazer. De fato, sobrou um porquinho de álcool - foi apontado pelo Romeu no primeiro dia. Também... 14.9%... Montrose deu uma galopada mais vigorosa para frente. Menos álcool (13%), manteve o equilíbrio. O chocolate (café? - rs) apareceu melhor. A primenta continuou sutil. Está no fim, e apesar de grandioso vai gerar uma lágrima no gole derradeiro. Não lágrima de tristeza, mas de saudades antecipadas... Montrose é um pouco mais vinho que Quilceda. O que, convenhamos, não representa o menor demérito para este segundo. Montrose é menos vinho do que vários Bordozões de primeiro vinhedo - parece(!) 😂. Tendo a acreditar.
   Não há dúvida: para quem tem a classificação como mais importantes produtores de vinho os do Velho Mundo (França, Itália, Espanha, Portugal), é preciso repensar tal ordem. A América entra nessa lista. Particularmente, acho que em quarto lugar. Não conheço tanto de espanhóis, mas apoio-me na experiência de um Sanchomartin para manter a Espanha na frente dos americanos. Experimentei uma pequena taça de Barca Velha. É muito bom. Mas... 1) Custa o dobro desses; 2) Não tem uma base tão larga de outros 'bons camaradas' a seu lado em um embate entre nações. Bem, minhas experiências com grandes espanhóis e portugueses de fato são poucas, assim como com bons americanos. Refugio-me na proposta e apresentação deste blog, "Resmungos de um deficiente nasal que sabe pouco para iniciantes que sabem menos". Pelo que experimentei até hoje, o veredito é esse. Não quer ser ser final (gargalhadas!), nem tão preciso. Ainda abordo a questão que surgiu outro dia em uma roda: até quanto ($) justifica-se o valor de um vinho? De outra maneira: até quanto o bebedor desembolsa e chega a um limiar onde a percepção da qualidade já não é tão evidente? Ambos os atores desta postagem custam um pouco mais de USD 200,00. Nesse patamar, ainda encontramos um salto de qualidade evidente, e marcante. Acima disso, não sei dizer. Tive muito poucas experiências nesse espaço amostral...