Sunday, January 29, 2023

Postagem atrasada, 1 de 'x'... 🙄

Introito

A desistência é a maldição dos fracos.
Dito d'Oenochato

Ouvi a estória há muito tempo e não consegui proceder a uma cuidadosa conferência. Contou-me o interlocutor que em esforço supremo os idosos da Coréia (creio) doaram seus valores ao Tesouro Nacional e suicidaram-se, para que o próprio governo não tivesse de ocupar-se deles. Esse sacrifício máximo tinha como objetivo beneficiar as futuras gerações. Aconteceu que alguns engraçadinhos acharam que podiam usar aquele dinheiro no cartão corporativo, ou equivalente da época. Há estórias desses mesmos sujeitos - eventualmente junto de suas famílias - sendo literalmente picados por grupos organizados de cidadãos de bem. Em alguns casos, com maçaricos. Longe de mim propor tal atitude para nosso povo bovino - até porque o preço do maçarico está pela hora da morte! -, eu que sempre defendi o voto nulo quando as opções na mesa são manifestas nulidades. Sou defensor intransigente do voto, não do massaricamento (sic). E, agora que a eleição passou, o voto auditável (impressorinha) e se possível protegido por blockchain. Afinal, não é o próprio Tribunal Superior Eleitoral o primeiro a dizer que camadas de segurança nunca são demais? Então por que postergar isso? O candidato interessado em recontagem que pague uma módica mórbida quantia, proporcional às urnas que desejar averiguar, e estamos conversados.
    Leitor do blog enviou-me comentário com o qual concordei bastante. Apenas não coaduno com a reflexão de que devemos (sempre) conceder os tais 100 dias de trégua ao governo que se inicia - a tradição é americana, uma democracia mais antiga, séria e estável que a nossa. Talvez tivesse a ver no primeiro dia de mandato, mas deixou de ser o caso. Dizem que os gastos da festa já foram para o sigilo. É isso mesmo? O que você, eleitor PeTralha, pensa sobre isso? Não é o maior problema - embora grave! Para Ali Lulá, é necessário que financiemos projetos de engenharia em outros países, pois... O Brasil deve ajudar a seus parceiros. A ideia não é ruim, nem um pouco. Mas tenho uma alternativa: o Brasil (digo, o governo) ajuda os brasileiros primeiro, construindo uma nação rica e igualitária (não é discurso desde... sempre? E nada fizeram nesse sentido nos primeiros 14 anos de (des)governo; acredita que farão agora?). Voltando, esse povo rico passa a comprar produtos dos nossos parceiros pobres, faz turismo no país deles, até recebemos de braços abertos (já acontece hoje!) seus estudantes para contribuir com a formação deles, e assim nossos parceiros enriquecem também. Sugiro uma consulta popular sobre as propostas de Ali Lulá e a deste modesto escriba. Ainda queria comentar sobre as forças armadas, mas fica para outra hora.

Loucuras de verão

O Gustavo, do Bistrô Graxaim, está determinado a montar uma boa adega, com o tempo. Já vem tomando providências bem antes de conhecer este blogueiro, a quem volta e meia pede sugestões de compra. Aconteceu dele considerar certa garrafa, adquirida em viagem ao Uruguai em 2017, pronta para o abate. Convidou seleta comitiva para testar outra de suas propostas pouco usuais, e este Enochato não fugiu à convocação. Conversamos muito francamente sobre o valor que ele pagara no vinho e procurei algo à altura. Tinha lembrança de lição involuntária aplicada com delicadeza e elegância por Don Flavitxo nos idos de '11, quando seu Quinta do Vallado Reserva '07 massacrou sem dó nem piedade meu portentoso (só eu achava) Dom Maximiano '05. Certo que a safra '07 em Portugal foi excepcional, mas a safra chilena de '05 também era considerada muito boa. Não deu pro cheiro (rs!). Eis que o Gutavo propôs a degustação de seu Massimo Deicas Tannat 2010 junto de um Cappeletti de costela com queijo coalho ao sugo à romanesca com requeijão de corte, parmesão Alagoa e presunto defumado de leitoa com tintos - há alguma ousadia em propor tintos com molho branco, concorda? Levei meu escolhido às cegas para um breve confronto, após o que revelaríamos sua identidade e partiríamos para o abraço. E assim foi.

Confesso inicialmente não ter anotado e a estas alturas não lembrar-me dos detalhes de cada vinho, então comentarei apenas algumas impressões gerais. O Massimo Deicas mostrou buquê com fruta, principalmente, mas pecou pela baixa acidez. Surpresa, tratando-se de sul-americano? Nenhuma. Após contar ao grupo minha experiência do parágrafo anterior com alguns detalhes a mais, e depois de devidamente apreciado, mostrei-lhes o Quinta do Vallado Reserva 2009, que a exemplo do encontro com Don Flavitxo posicionou Massimo em seu devido lugar: bom para um sul-americano, embora bastante caro - USD 50,00, à época - mas longe de ser páreo para um europeu de preço similar (nos EUA, pois em Portugal safras novas custam USD 35,00). É a estória de sempre: mesmo um tanazão de primeira linha, com seus supostos álcool e tanino penando na luta e levando bordoada de cepas supostamente muito menos 'pegadas' como Touriga Nacional, Tinta Roriz, Tinta Amarela e Touriga Franca; é a bendita acidez (e possivelmente 800 anos de história) fazendo toda a diferença. Ficou clara a superioridade, de nariz a boca, passando por permanência e final, do Vallado Reserva. De passagem: relatei o episódio ao Akira, e ao ouvir sobre o Vallado seu comentário foi lacônico: mas precisava bater tão forte? É ilustrativo e explica tudo. A Luciana apresentou seu Jaffelin Bourgogne, um borgonha básico trazido pela Chez France que em 'promo' é ótima compra. Safra 2020, mostrou-se muito vivo, fresco, pronto para beber; agradou a todos e (creio que opinião geral) ficou em segundo, suplantando inclusive o Massimo. O Eduardo compareceu com o The Old Museum Merlot 2017, da Franschhoek Cellar, um vinho que custa 25,00 Reais 'lá' e já foi comentado neste espaço. Novamente: é alegre e divertido (🧐), mas degraus abaixo dos demais. Claro, todos sabemos que não foi o Eduardo quem fez o vinho; ele apenas o comprou aqui por três dígitos de reais. Curiosamente os tintos - e o Vallado na frente, novamente - combinaram bastante bem com o prato. Pensando melhor, nem deveria surpreender tanto assim: a gordura da carne costuma casar bem com vinhos de acidez presente.


   Falando em valores, Vallado custa lá cerca de USD 35,00 e aqui está a R$ 556,00 (2.65x), embora para 'assinante' o preço caia a 473,00, ou 2.25x, diria que 'o limite da compra'. Mas 470tão é uma montanha de dinheiro... Já Massimo Deicas deve ter muitos fás por aqui, já que seu preço oscila entre a bagatela de R$ 965,00 a R$ 1699,99(!). A preferência do brasileiro pelo vinho nesse preço ajuda a explicar (mas não justifica!) votos em antas como Ali Lulá e bolsonésio. Esse é nosso país, terra de gente estúpida em todos os níveis intelectuais e econômicos. Um longo caminho à frente, mas sem desistir; desistência é a maldição dos fracos.










Sunday, January 22, 2023

Um evento enoetílico

 Introito

Problema no notebook fez-me postergar algumas postagens e muitos comentários políticos. Nesse meio tempo, entrou e saiu do noticiário (Você viu? Se não viu, talvez nem tenha sido noticiado em certos meios 🙄) a ligação de ministra de Ali Lulá com o crime organizado carioca, também conhecido como milicianos. Qual a diferença com bolsonésio? PTlhos acreditam com toda fé que sua agremiação criminosa fez real oposição a bolsonésio. Tá. Veja o tuíte; a postagem original está aqui. E note de quebra o comentário da 'Gabi do PT', confirmando crítica já realizada neste espaço ao Grande Guia. E olha que da tuiteira, do PCdoB, pode ser dita muita coisa, menos não ser uma infiltrada
   Recente lei pretende regular as piadas no país. Como se já não fôssemos o país da piada pronta. Foi votada em peso por PTlhos e bolsonésios, inclusive dudu bananhinha, aquele do pen drive durante a última copa, lembra? PTlhos e bolsonésios se parecem cada vez mais...
   Termino com as seguintes reflexões: documento chamado 'Minuta do Golpe'(!) encontrado na casa de conspirador foi rebatido assim pela defesa de bolsonésio: (o plano) '...nunca deixou a residência privada de terceiros; não foi publicado ou publicizado, a não ser pelos órgãos de investigação e; não se tem notícia de qualquer providência de transposição do mundo do rascunho de papel para o da realidade fenomênica, ou seja, nunca extravasou o plano da cogitação'. Quer dizer, gente que deveria guardar a constituição chegou a cogitar um golpe? É isso mesmo? Ah, e querem me fazer crer que O Beneficiado nada sabia nem apoiava, a despeito de todas suas declarações - e também de seus filhos - sobre um golpe?! A questão não é se, mas quando... Sisqueceu? Relembre, é grátis (sic), e passe vergonha, bolsonésio de plantão.


  Longe de defender o crime de pensamento de Orwell - até porque ele aplicava-se ao cidadão comum, não à classe dominante - constato que a mera cogitação de um golpe por tais pessoas soa tão estarrecedor quanto o próprio conceito de crime de pensamento. Ao fim, onde está bolsonésio após esse tempo todo? Escondido (sic) na Flórida, para onde foi com visto de presidente e agora permanece como turista. Menos do que isso; turistas podem ter vistos de até seis meses; a condição peculiar de bolsonésio concede-lhe no máximo 30 dias de permanência em situação regular. A fonte de recursos (cartão corporativo) está secando e já se fala em bolsonésio ministrar palestras ao módico valor de USD 10.000,00. Ninguém adianta a desmoralização: Ali Lulá palestrava por USD 200.000,00! Cheiro de michê no ar... está certo, bolsonésio é uma meretriz mesmo. Finalmente, aquela ministra idiota, ser desprezível que no passado votou contra a o uso células tronco embrionárias em pesquisas (o resultado final da votação favoreceu a ciência) por suas meras convicções religiosas - como ficou a convicção de seus eleitores?! - aparece em Davos afirmando que temos 120 milhões de pessoas passando fome. Chorume da humanidade, tranqueira da pior qualidade, rainha da desfaçatez e da iniquidade, mente sem escrúpulo nem vergonha. Aprendeu com Ali Lulá, antes seu detrator e agora seu mestre - deixei sem rima em respeito ao leitor.

Bueno Wines e algumas maldades

   O Edu, da Caminhos do Turismo, empresa turística com vários pacotes dedicados à apreciação de vinhos, volta lentamente às atividades e tem realizado visitas a vinícolas da região, além de promover degustações em restaurantes diversos. Desta vez associou-se ao Sommelier Conectado Eustáquio Fragalle, emérito e reconhecido estudioso de vinhos, conhecedor de primeira linha, ABêSsista (sic) de primeiro momento e atual vice-presidente da ABS de São Carlos, para uma degustação de três produtos da Bueno Wines. O restaurante escolhido foi o Personal Sushi.
   A Bueno Wines é uma empresa brasileira (nota-se, pelo Wines...) propriedade de Galvão Bueno, célebre ex-locutor global recentemente aposentado para tristeza de alguns e alegria incontida da imensa maioria, dizem (se a voz do povo é a voz de Deus, confira aqui). Tem um sítio simples mas objetivo, de onde tirei algumas informações: 
...a Bellavista Estate (sic), propriedade situada no ponto de encontro do perfeito terroir do Novo Mundo, uma região estratégica apelidada por Galvão Bueno como a Califórnia Brasileira.

   Interessante, mas pergunto: por que o terroir é perfeito? Como acontece? Quais condições garantem isso? O que a região tem em comum com a Califórnia? A Campanha Gaúcha está entre as latitudes 29 e 31 Sul, com altitudes entre 100 e 360 metros; parece que a média é 180 metros. Já o Vale do Napa - reconhecidamente o centro vitivinicultor da Califórnia - está entre as latitudes 32 e 38 Norte (portanto está mais distante do Equador do que a Campanha), e a altitude da maior parte dos vinhedos está na casa dos 425 metros... Creio que tais impertinências vindas de um Enochato cuja grand trip seja estimular o debate e questionar sem receio passem desapercebidas do grande público. Mas as comparações acima, que parecem não encontrar justificativa, são o quê? Maldade ou ignorância? O leitor pode achar que estou pegando muito no pé da Bueno Wines. Em minha defesa, tenho que muitos (não todos, observe!) dos produtores nacionais conspiram - tudo a ver com a introdução! - contra o brasileiro no varejo e no atacado. Pedidos de adoção do selo para circulação de vinhos (2005) e cotas de importação (2012, que gerou a famosa Carta Aberta do Ciro Lilla) para forçar o aumento do preço do vinho importado são apenas dois exemplos. Depois, a baixa qualidade e alto preço dos produtos torna mais do que merecido um escrutínio rigoroso sobre a conversa mole dessa turma. E tal postura não é novidade nestas páginas; em 2012 isso já era feito. Então continuo: sobre a parceria da Bueno Wines com o consultor italiano Roberto Cipresso, li que

Cipresso foi eleito o “Melhor Enólogo Italiano”, durante o “Wines Oscar 2006”, e o “Homem do Ano” pela revista Men’s Health, em 2008. Além disso, o italiano produziu o Cuvée feito especialmente para o Papa João Paulo II, 2000.
   Encontrei essa citação em uns 50 lugares diferentes; coisa de papagaio de pirata. Mas sobre 'Wines Oscar', e suas variações, parece inexistir menção mais significativa. Apenas outra pseudo-informação que tenta prover uma aura de importância aos vinhos mas de pouca ou nenhuma ligação factual. Ou, se alguém encontrar algo sobre 'Wines Oscar', avise. Sem mais maldades (acredite se puder), aos vinhos, então.

Vinhos e comida japonesa

   É sabido que a cozinha oriental - com a japonesa em particular - combina muito pouco com vinhos. Para mim uma harmonização razoável dá-se com os brancos doces do Loire. Durante a fase de publicar pouco - ou nem publicar -, estava abarrotado de exemplares do Domaine du Clos Naudin, de Vouvray, principalmente os Moelleux. Ainda tenho um Moelleux reserva e um espumante '09 guardados e provocando o tempo... mas voltemos... a proposta do espumante da Bueno é harmonizar com sushi. Assim o Espumante VIC, um Brut feito com Sauvignon Blanc, Pinot Noir e Cabernet Sauvignon,  acompanhou carpaccio de salmão. (Abrindo os braços para o leitor): E foi isso. Digo, acompanhou. A dado momento o Gustavo do Bistrô Graxaim, reconhecidamente meu oponente político no campo intelectual, comentou-me que balançar uma taça de espumante fazia as bolhas se dispersarem mais rapidamente. Mas eu não sentia buquê algum! Perguntei se ele sentia, e a resposta foi... pouco. Minha taça não tinha perlage quando comecei a balançá-la. A da sra. Ângela, sentada à minha frente, as tinha, quase do tamanho de grãos de feijão 😂... tá um pouco menores. Perguntei para outros confrades próximos, a Débora e o Mário, se notavam alguma acidez no espumante. Não, responderam... Pow, vamos lá, uvas brancas têm certa acidez natural, como um espumante pode ser produzido com tão pouca (nenhuma!) acidez? Passava direto pela língua a garganta, sem deixar traço ou lembrança... que lambança! E fui servido de duas garrafas diferentes. Não pode haver dúvida. Comento que o Valduga 130 (que custa R$ 199,00) é 130 vezes melhor. Quiçá, 199 vezes, e olhe que soa ridículo considerá-lo como padrão de qualidade. Perguntei para o Gustavo entre Vic Brut e o modesto (5 Euros) do Bacio della Luna; ele não vacilou: Bacio.

Na sequência, o Chardonnay VIN (não notei a safra) chegou com um combo de peixe branco tendo por carro chefe o niguiri flambado com azeite trufado. Um branco sem acidez, insosso, onde a estrutura do vinho só estava representada pelo álcool, 12%. Não é que seja pouco; grandes Borgonhas do final do século passado ainda tinham seus 11,5%-12,0% de álcool e eram esplêndidos, graças à elegantérrima acidez. Confira aqui, nos comentários de Don Flavitxo Vinhobão e voltemos ao assunto: outro vinho sem qualquer diferencial que só encontrou par no Rosé Vin, acompanhado pelo combo de salmão. Vinificado com Cabernet Sauvignon, Merlot, Petit Verdot, Pinot Noir e Sauvignon Blanc separadamente e posteriormente cortado, também não apresentou buquê significativo, acidez ou permanência, apenas colaborando com minha já conhecida má estima para com os rosés. O problema maior é que tais impressões não são somente minhas; foram amparadas pela maioria dos confrades à mesa. Valeu para conhecer? Claro que valeu. Um mané de boné como eu, que se arroga 'crítico' do vinho, deve experimentar de tudo, sem paixão; analisar pelo que sabe da teoria aliado com sua experiência prática, e contextualizar segundo sua experiência. Para quem já bebeu alguns Borgonhas, alguns Lopes de Heredia (espanhol) e uns poucos Loires, a simples existência dessa linha de vinhos desmerece a existência da ciência vitivinícola, dos céus e até do Criador. Não merecemos isso.

Conclusão (precisa?)

   Vinhos de praticamente três dígitos que não merecem ultrapassar o segundo (em reais!), é o que nos brinda a Bueno Wines. Pode ter seus amantes, mas Ali Lulá e bolsonésio também os têm. Como Putin e Hitler, apenas para citar mais dois. Assim caminha a humanidade.
   Galvão ameaça buscar o melhor vinho do Brasil, segundo entrevista que não li à revista Adega, veja aqui. Talvez por não ter lido, não entendi. Acho que vai buscá-lo onde quer seja produzido, e trazê-lo para beber em casa. Nada contra. Porque a julgar pela qualidade de seus vinhos então degustados, propor-se a produzi-los é um objetivo tão inglório quanto inalcançável. Recomendo sua prova, baseado no ensinamento de meu professor de Literatura Brasileira Deonísio da Silva: (em literatura) Temos que experimentar de tudo, do bom e do ruim. Senão, como formaremos nosso padrão de qualidade? Ou algo assim.

Monday, January 9, 2023

Gostara que me fizessem acreditar... (aka O Enochato descasca)

Introito

A esquerda já teve gente torturada, gente morta, gente desaparecida mas nunca, nunca, vocês leram alguma notícia de algum partido do esquerda, algum movimento de esquerda, invadindo o Congresso Nacional, a Suprema Corte ou Palácio do Planalto.
Ali Lulá, em pronunciamento oficial.

Verdade, o pessoal do Araguaia estava lá para manter segredo do samba-enredo da agremiação Companheiros Unidos para o Carnaval de 1971.
Oenochato

   Gostaria que me fizessem acreditar em uma manifestação envolvendo maioria de idosos, crianças e alguns idiotas não foi coordenada via redes sociais, mas utilizando dispendiosos comunicadores com vários níveis de encriptação. Gostaria que me fizessem acreditar que uma turba atacando o coração da república fora do horário de ocupação dos representantes democraticamente eleitos seja de fato um ato terrorista. Gostaria que me fizessem acreditar que uma manifestação facilmente rastreável pela inteligência de qualquer país de terceiro quinto mundo, envolvendo quem envolveu, não seria facilmente dispersada ainda que se fizesse necessário em algum momento do pulso firme da democracia. Claro, gostaria que me fizessem acreditar em tudo isso sem ser coagido em um pau-de-arara pelo braço do Ministério da Verdade...

   Então chegamos ao óbvio: bolsonésios - mas uma vez e sem qualquer surpresa - deixam-se usar de bucha de canhão enquanto os coordenadores da safadeza pegam um bronze, ou bebem um uísque assistindo a tudo pela televisão. Pior mesmo é a desinteligência: nada mais fazem senão dar armas ao inimigo. PTlhos dizem estar aí para defender o povo brasileiro, para resgatar a dignidade, aquele papo todo no qual só estúpidos acreditam. E, assim como lá atrás pagou 90 bi para banqueiros em seu primeiro ano de governo, canalizando somente 2 bi para os famintos, novamente dá uma banana, desta vez  para a lei a a ordem, permitindo os excessos que presenciamos hoje. Não há santos nessa estória; o diabo claramente financia ambos os lados.
   O que eu (particularmente) espero? Prisão aos líderes, a quem participou das depredações (há vídeos de sobra) mas, antes disso (e confira, não será assim) aos líderes e financiadores desse triste momento da República, um dia que viverá na infâmia, quando fomos súbita e deliberadamente atacados pelas forças retrógradas e não houve quem levantasse a mão para nos defender - embora tenham sobrado 'democratas' pelegos para condenar o ato nas televisões. Nunca tive tanta a sensação de estar nu em um picadeiro.

Cinco Forais Reserva 2017

Comprei esse reserva português com alguma expectativa, mas resguardado no conhecimento de que vinho Reserva não significa muita coisa em Portugal. Até confesso alguma ignorância ao desconhecer se as regras mudaram nos últimos anos, mas não tem problema: o termo 'Reserva' comporta muita variação. Como em todo lugar, na verdade, o que causa a corrosão no crédito dessas normas e nivela o assunto por baixo. Espero não desanimar o inexistente leitor de antemão, porque também não é o caso. Vamos lá.

A oferta desse vinho veio pelas mãos da Chez France, importadora muito citada ultimamente pelo espaço. A safra '17 consta como bastante boa em Portugal, o que beneficia sua guarda. Cinco Forais tem buquê pronunciado a muita fruta vermelha e um quê de doce mais ao fundo. Achei melhor na boca, onde a fruta se repete um toque de chocolate amargo com acidez média, taninos bem pegados e álcool a 14% bem harmonizado, e um pouquinho de dulçor, fazendo um conjunto equilibrado com boa permanência. É um corte de Baga, Alfrocheiro, Touriga Nacional e Alicante Bouschet, e estranha a Baga em primeiro (supostamente a cepa presente em maior porcentagem), pois ela é mais característica da Bairrada. Gostei, mas há outro ponto: o leitor tem visto uma repetição de comentários iguais, tipo 'se tivesse pago o preço cheio, estaria muito triste'. E, pior, esses comentários têm sido aplicados justamente à Chez France. Qualé a dela? Está se transformando em uma importadora onde somente vale a pena comprar nas 'promos'? Bem, ela faz 'promo' quase toda semana, diferentemente das tubaronas profissionais que as fazem uma vez por ano ou realizam as conhecidas 'promo do dobro pela metade', quando, não raro, o vinho está à venda de 5x por 3x (quando não mais). 

Comprei 5 Forais a R$ 77,11, para um vinho que custa por lá R$ 57,00 no sítio Garrafeira Nacional. Não há mais o que comentar, a qualidade da compra está demasiadamente explícita. Atualmente está em promoção a R$ 79,50, e ainda é um bom valor. Mas a R$ 159,00 (veja, quase 3x!) ele encosta perigosamente nos Noval (não o Cedro, mas a linha imediatamente acima), quando em promo; suas promos são quase permanentes, e aí o chão some sob os pés de 5 Forais. Enfim, convido com toda minha empáfia todo meu poder a Chez France a tomar jeito na vida e nos dizer a que vem, a evitar o flerte tolo com a tubaronice deslavada e a crença de que o bebedor brasileiro continuará sendo um idiota para sempre. Certo que para cada Enochato de plantão brotam 10 espertinhos que igual a Judas vendem-se por algumas moedas e saem falando bem de tudo o que é ruim ou tosco. Continuo fazendo a minha parte. Esmorecer consta no meu dicionário, como palavra a se aplicar a outros. Mas seu sentido é-me estranho. Contra bolsonésios, PTlhos ou importadoras tubaronas.

Como se fosse necessário...

Cinco Forais em Porgual


Meu pedido do 5 Forais, R$ 77,11


5 Forais no Chez France hoje, R$ 79,50



Sunday, January 1, 2023

Última postagem do ano

Introito

Durante a semana estive pensando no tema para a postagem de final de ano. Tinha vários assuntos selecionados, e procurava por um argumento aglutinador desses pensamentos - o que sempre tento com falhas tão glamorosas quanto frequentes, como bem sabe o inexistente leitor habitual do espaço. Eis que o Jacimon veio em meu socorro, compartilhando trecho de sua leitura, prática ministrada com maior frequência antigamente, devo protestar. O autor é mestre em ciências políticas, algo para o qual prestamos muito pouca atenção por aqui. Vale a pena saber o mínimo sobre ele, veja no vínculo. A obra é Os Engenheiros do Caos (Giuliano Da Empoli); o grifo abaixo é do Jacimon e o contexto, claro, não diz respeito a algum caso específico do Brasil, mas é emblemático para destrinchar nossa estória recente.

Essa partida ainda não tomou o lugar do jogo político tradicional, mas está em vias de assumir uma importância capital e já começou a impactar visivelmente nossa sociedade.

No velho sistema, cada líder político só dispunha de instrumentos bastante limitados para segmentar seus eleitores. Ele podia enviar mensagens específicas a certas categorias de base – sindicatos, pequenos empresários e donas de casa –, mas precisava fazê-lo publicamente. Quem quisesse criar um consenso majoritário – e não só de nicho – tinha que se dirigir ao eleitor médio com mensagens moderadas, em torno das quais poderia convergir o maior número possível de pessoas.

O jogo democrático tradicional tinha, portanto, uma tendência centrípeta: ganhava aquele que conseguisse ocupar o centro da arena política.

O mundo dos físicos de dados funciona de maneira diferente. Aqui, para criar consenso, o fato de lançar um projeto político capaz de convencer todo mundo conta muito menos, visto que – como profetizava Michel Foucault há quatro décadas – o povo, massa compacta, foi abolido em benefício de uma reunião de indivíduos separados, cada um passível de ser seguido em seus menores detalhes.

 Numa situação assim, o objetivo passa a ser identificar os temas que contam para cada um, e em seguida explorá-lo através de uma campanha de comunicação individualizada. A ciência dos físicos de dados permite que campanhas contraditórias coexistam em paz, sem nunca se encontrarem, até o momento do voto. No novo mundo, portanto, a política é centrífuga. Não se trata mais de unir eleitores em torno do denominador comum, mas, ao contrário, de inflamar as paixões do maior número possível de grupelhos para, em seguida, adicioná-los – mesmo à revelia deles. As inevitáveis contradições contidas nas mensagens enviadas a uns e a outros continuarão, de qualquer forma, invisíveis aos olhos das mídias e do público geral.

O raciocínio vale tanto para as comunidades mais inofensivas, os colecionadores de selos ou os amantes do kitesurf , quanto para as mais perigosas: os fanáticos religiosos e os membros da Ku-Klux-Klan. Se o movimento convergente da velha política marginalizava os extremistas, a lógica centrífuga da política dos físicos os valoriza. Ela não os põe no centro, porque o centro deixou de existir. Mas ela lhes oferece um espaço e respostas."

   O leitor pode pensar em qualidades ou vícios: honestidade (moral, intelectual, etc.), generosidade, boa fé, contra individualismo, ganância, preconceito (gênero, raça, etc.). Cada um de nós tem um pouco de tudo isso, cada característica está distribuída em uma gaussiana diferente que representa a composição geral da população para cada atributo citado. Exemplo: posso estar à direita na curva da honestidade intelectual, na média na curva da ganância e à esquerda na curva da paciência. Veja a curva genérica abaixo para entender melhor. E letra estranha (mi) indica a média de uma dada característica, por exemplo a distribuição de pessoas honestas. Quem está na média (em mi) é 'medianamente honesto'. À direita, estão as pessoas mais honestas, à esquerda, as menos honestas. E isso nada tem a ver com tendência política; Ali Lulá e bolsonésio estão ambos na extrema esquerda, de mãos dadas.
   Assim, o que nós somos de fato é a soma de um número infindável de gaussianas descrevendo cada aspecto do comportamento humano. Conhecer esse conjunto de dados é o Santo Graal dos 'físicos de dados' mencionado no trecho do livro acima. Felizmente, por enquanto isso só é de conhecimento da providência divina. Explica - sem justificar, naturalmente... - o comportamento de eleitores bolsonésios e Alis-Lulás, que têm determinada fatia de seu ID devidamente estimulada para que abracem o intento de seus manipuladores, que é o voto. Não entendo muito em desse conceito além da maneira como foi empregado em algumas obras de ficção que já li, mas parece representar bem minha percepção. Uma definição de dicionário de ID está aqui, e sugiro a leitura. Bate com tudo o que vimos em ambos os grupelhos (lembra dessa palavra dali em cima?) dos defensores desses candidatos, veja um trecho (grifos meus): O ID desconhece juízo, lógica, valores, ética ou moral. É exigente, impulsivo, cego, irracional, antissocial e egoísta. Não é ótima descrição do que vemos nessa turma?

Feliz Ano Novo

Reuni-me comigo mesmo, sob os auspícios de Mel e Lemão - em raro momento que permite ser clicado -, e protegi-os dos fogos comemorativos da passagem de ano. Os cães ficam assustados com os estampidos, sabemos. Não defendo nem um pouco a proibição dos fogos; cada tolo queima seu dinheiro como quer. Queimo com vinhos, e na gaussiana dos compradores compulsivos estou um pouco deslocado para a direita da média, reconheço. Fato é que desci para a adega escolher uma garrafa por companheira e notei-a tentando esquivar-se, sorrateira e na maior discrição. Estendi a mão com firmeza e seguirei. É você mesma, pensei. Veio o Ferraton Châteauneuf du Pape Les Parvis 2009, minha última garrafa que resolvera deixar para '21 ou '22, conforme comentei aqui. Desarrolhei e a rolha já chegou com aquele toque de chocolate/couro (qual?), agradável e marcante; a taça levada quase imediatamente à boca para abrir espaço na garrafa mostrou um pouco de álcool sobrando. Convenhamos, estava à temperatura ambiente e precisava respirar sua meia hora - adequado para um vinho nessa idade - enquanto começaria a cozinhar. Só com a proximidade do ponto da carne levei a garrafa ao balde com água e gelo. Os tempos bateram bem.


Ferraton Châteauneuf du Pape Les Parvis 2009 já mostra alguma coloração alaranjada bem discreta na borda da taça, sinal do envelhecimento. Mas está bem agradável. A fruta está menos presente, mas o toque de chocolate/couro é evidente; alguma especiaria dá bom toque. Mantém um travo adocicado bem discreto na boca, os taninos estão arredondados, acidez média, boa permanência e final. O fato de ter perdido um pouco de fruta dá-nos um desenho de sua estrutura e evolução. Se você tem Ferratons mais jovens, 2012, 2013, pode bebê-los agora, provavelmente estarão muito bons. Outras safras, 2014-2016, digamos, pode beber ou guardar. Já 2016+, guarde um pouco. Beber bons vinhos em seu momento adequado faz parte do ritual da degustação. Infanticídios, ainda que por completa falta de experiência do bebedor, impedem que a bebida alcance seu esplendor e, se não são um sacrilégio, seguramente constituem-se em perda de oportunidades e, claro, do valor investido. Para beber de qualquer maneira, procure vinhos simples; elas darão conta do recado.

Deixei de perder...

Recebo inúmeras 'promos' semanalmente. A maioria apenas bato olho. Mas acho que algum espírito (de porco) açodava-me esta semana, então resolvi conferir uma oferta da importadora Decanter. Vinho português, 10% ófi, R$ 120,00 por R$ 109,00.


Buscando o preço lá fora, 


Certo, é sem IVA, contanto uns 20%, daria seus 5,60 Euros. O Wine Searcher faz as contas pra você, basta selecionar a moeda desejada.


Assim, R$ 30,00 é o valor com as taxas. Dá seus bons 4x, com o exuberante desconto de 10%. O ano de 2023 será de muita luta. Fica a promessa de início de ano: continuar a debater o assunto com a mesma honestidade intelectual de sempre.

Obrigado pela leitura desta coluna, e pelas demais leituras durante o ano que se findou.