Saturday, February 26, 2022

O segundo dia de La Cave des Hautes-Côtes Beaune 2014

Introito

   Recebi interessante realimentação via uatizápi e volto à carga, recordando outros fatos recentes.
   * Amigo bolsonésio de carteirinha envia-me vídeo de vergonhosa patriotada: o primeiro avião com a marca do nosso valoroso Correio, adquirido pela empresa. Ocupado e sem tempo para esticar a conversa, respondi com apenas um link, pesquisa de Google, sobre o tamanho da frota da Fedex. Por volta de 680 aeronaves, desde sempre (sic). Não, apenas desde 2011. Talvez você encontre um número um pouco diferente mas não inferior a 460. Um contra 680, ou um contra 460, faz diferença? Ainda mais quando trata-se de uma empresa que - promessa de campanha - deveria ter sido privatizada? O Congresso não deixou? Apresentem o projeto de privatização antes! Imagino de onde vão tirá-lo...
   * Amigo PTlho (estou bem de amigos, não? 🙈) vem com comentários do tipo Lula nem deveria ter sido processado; ou Você acha que o juiz (sic) foi político ao condenar o Lula? ou então Lula é um Estadista (o "E" fica por minha conta). Vamos repetir o pronunciamento do mentecapto postado ontem:
É importante que essas pessoas aprendam que a guerra não leva a nada, a não ser destruição, desemprego, desespero, fome. O ser humano tem que tomar juízo resolver suas divergências em uma mesa de negociação, nunca em um campo de batalha.  
algo digno de um estadista, não é mesmo? Comparemos com o pronunciamento de José Mujica, ex-presidente do Uruguai. Detalhe: ele tem 86 anos. Veja aqui. É importante que o leitor siga o vínculo e acompanhe até o final as palavras de Mujica e depois reflita qual discurso é digno de um Estadista (sim, com "E"), e qual é o de um retardado. Para completar, pergunto quando na História deste pais Lula fez pronunciamento que se aproxime ao de Mujica. Na História, porque na estória que pretendem nos contar, ele os faz desde pequenininho. Ah, sim: agradeço ao Romeu o envio da declaração do Mujica.

   Finalmente, em postagem de 13 de fevereiro comentei que ...é a Otan quem força a Rússia a uma posição ofensiva, e a mídia ocidental ou está promovendo um engodo global (fazendo-nos crer que o malvado da estória é o Putin), ou é estúpida mesmo. A escolher. Vejamos notícias recentes sobre o tema:
   * Por que a Rússia não quer a expansão da Otan para o leste (IstoÉ Dinheiro/Deutsche Welle, 25/2/2022).
   Agora todo mundo quer explicar. Só não pretendam-me crédulo de que o fato já não era conhecido. Estava era bem camuflado. Cabe ressaltar - como se houvesse a menor dúvida - que este Enochato não apoia a invasão ou mesmo Putin, um ser vil que disputará com Lula a presidência do inferno, quando forem para o destino que merecem. Ainda que ele esteja certo na invasão. Repito: não é um apoio, é o reconhecimento do óbvio posicionamento necessário para a defesa estratégica do território russo. Em minha opinião... 
É importante que essas pessoas aprendam que a guerra não leva a nada, a não ser destruição, desemprego, desespero, fome. O ser humano tem que tomar juízo resolver suas divergências em uma mesa de negociação, nunca em um campo de batalha.  
Mas afinal sou apenas um Enochato; jamais pretendi ser um Estadista. E sequer tenho sobre os ombros a responsabilidade de ter sido ex-presidente de nação alguma.

La Cave des Hautes-Côtes Beaune 2014

Visitei o sítio do produtor para conferir esse vinho em particular. O rótulo mudou, mas é esse vinho mesmo. Se não indica a safra atual, a nota importante é relativa à guarda: 5 a 10 anos. À guisa de comentário, a safra de 2014 é tida como muito boa, com média de 91 pontos entre Wine Spectator, Wine Enthusiast e Parker, embora safras mais recentes sejam significativamente melhores. Com 8 anos, a vantagem desta safra 2014 é que ela está pronta para beber - como já comentado. A fruta desceu um pouco, todavia ainda permanece. Tem mais alguma coisa, porém pouco adiantou tentar prestar mais atenção; falta nariz para sua identificação. Queria chutar algo terroso, sem muita certeza. Só que a boca... ah, a acidez está lá, ótima - para um vinho dessa qualidade e preço, bem entendidos - méritos para ser dita felicidade engarrafa, que na escala deste Enochato é um balanço entre valor e excelência principalmente para vinhos baratos que entregam mais do que esperamos deles. Até porque o vinho caro tem obrigação de entregar. Sua permanência também manteve-se boa; para um Borgonha de corpo médio o tanino está bem integrado. Despejei a garrafa sem dó na taça, para aproveitar até a última gota. Está com um pouquinho de sedimento, muito discreto. Não sei quanto ainda dura; mais de dois anos, seguramente.

Provocações e o encontro da confraria

Introito

Sem pretender dar uma designação acabada, poderia definir selvageria como o não uso das áreas mais nobres do cérebro. Uma vez deixada a razoabilidade de lado, Putin partiu para a ignorância. Não porque ele seja o único selvagem dessa estória; a OTAN, encabeçada pela América, foi a responsável por um cerco geográfico a Moscou à medida em que aceitou como membros países da antiga União Soviética, literalmente cercando a atual Rússia de potenciais bases de mísseis "inimigos". Amplie o mapa aí ao lado (fonte: https://www.infoescola.com/geografia/otan/) e veja vários países da esfacelada União Soviética agora membros do Tratado: Estônia, Letônia e Lituânia representam um flanco aberto na defesa soviética. Sem Bielorrússia e Ucrânia, o flanco vira simplesmente uma frente de tamanho colossal. Dá para entender porque ele marchou para cima dos pobres ucranianos? Enquanto isso nosso Grande Guia, leitor de zero livros em toda sua vida, presenteia-nos com uma pérola de sua mais profunda reflexão:

É importante que essas pessoas aprendam que a guerra não leva a nada, a não ser destruição, desemprego, desespero, fome. O ser humano tem que tomar juízo resolver suas divergências em uma mesa de negociação, nunca em um campo de batalha.  

   Nada mais colegial. Ele ganha de bolsonésio, é verdade, mas isso não é algo a se usar como triunfo, concorda? bolsonésio foi, nas palavras de Marco Villa, um analista fraco mas lúcido, o grande palhaço dos acontecimentos e não merece maiores considerações. Então chegamos à provocação. Na reunião da confraria de ontem, fui convidado a pronunciar-me sobre o juiz. Seria a condenação de lulalelé uma atitude política do magistrado? Na ânsia de responder deixei escapar o ponto mais importante, do que arrependo-me, mas recobro aqui: Calma lá, estúpida gente! Onde vos leva tal idiotia? O juiz é a vovozinha! Referir-se a Moro dessa maneira é uma tentativa espúria de rebaixá-lo ao nível do preso. Um ladrão cuja última alternativa ao encarceramento, posto não conseguir provar sua propalada inocência, foi alterar a lei e, por meio de seus aliados no congresso, com a esquerdalha de Freixo juntando-se a bolsonésios, derrubar a prisão em segunda instância. À questão: disse que não, a prisão não seria política, mas arrependi-me e defendi que sim, foi uma condenação política. Pedi ao interlocutor que comentasse qual o motivo para tal, na visão dele. Desconcertado, ele não respondeu e caiu no mais profundo torpor. Não sabia o que dizer! Ora, seu discurso estava preparado para a resposta contrária! Antecipando um desenlace possivelmente mais pesado do que a da simples defesa direta de Moro, ele subitamente desistiu de debater. Vejam o exemplo acabado do mais puro gadismo, como se tem dito nas redes. Eu gosto da argumentação para rebater a uma provocação; compro a discussão com o maior prazer, e pela afeição à polêmica. Apenas não tolero a contenda tola, sem boas alegações. Assim nominei meu oponente, como tolo. Tolo, definição de dicionário, é 1. que ou aquele que não tem inteligência ou juízo. 2. que ou o que é tonto, simplório, ingênuo, diz ou pratica tolices. Da mesma maneira, estúpido é 1. que provoca emburrecimento e/ou tédio; que não é inteligente. Denunciado como tal, ele tentou demonstrar indignação; eu estaria a desrespeitá-lo. Alto lá! A culpa de ser desmascarado é de quem se coloca nessa posição ao apresentar argumentos fracos. Ou sequer apresentá-los. Essa é a tropa esquerdalha que anda por aí, com suas gadices. Sou de esquerda, mas não me recordo de ter-me unido a esquerdalhas sequer em meus tempos de universidade. Sempre nutri a mais profunda desconsideração por argumentos fracos, ponto forte (sic!) dessa rapaziada desde sempre. Como era um encontro de confraria, tudo acabou em brindes.

A reunião

A confraria realizou mais um encontro onde ninguém apresentou-se vestido a caráter: nem os homens de noivas, nem as mulheres de vestais. Menos ainda deste Prelado como pároco. O Gustavo, do Bistrô Graxaim, propôs a degustação com um queijo, do qual ainda seria feita uma lasanha. Tratava-se de um Queijo Minas da Catauá Artesanal, o Catauá Meia Cura. O pessoal discutiu no uatizápi quais vinhos poderiam harmonizar, mas não acompanhei. Na hora, cheguei com meu candidato e pronto. Tentamos várias combinações entre brancos, tintos e um colheita tardia. Alguns colegas gostaram da harmonização. Toca este Enochato subir no burrico com o arreio na mão e tocar a marcha para cima dos confrades 🙄... Não, não harmonizou no estrito senso. Deu uma combinadinha? Deu. Mas acho que estamos tratando harmonização de maneira muito superficial. Não conheço nada disso, mas sei apreciar. E aquelas promovidas pelo Graxaim em parceria com a Enoventos foram de longe as melhores que provei nos últimos anos. Já escrevi que o assunto é complexo, e exige conhecimentos que somente boas parcerias poderão prover. 

A lasanha feita com o mesmo queijo estava realmente deliciosa; o Gustavo pensa em colocá-la no cardápio com o singelo nome de Lasanha às Noivas de Baco. Parece que qualquer Noiva ou Vestal que aparecer devidamente paramentada poderá pedir a iguaria às expensas da casa. A ver. A Luciana compareceu com um Albariño, o Pionero Mundi 2018 da D.O. Rías Baixas. Gostei; nariz cítrico, boa acidez e persistência. Em paralelo, servi uma magnum do espumante Bacio Della Luna Blanc de Blancs que agradou a todos. Causou furor quando disse quanto havia pago, em 'promo'; todos quiseram saber de onde viera (Enoeventos). Já comentei sobre ela, está aqui. Uma tentativa de harmonização do queijo aconteceu com o Montes Late Harvest Gewürztraminer 2019, da 'conceituada' Vinha Montes. Já bebi muitos tintos dela, até achava bons. Não mais. Este tinha nariz à mel(?) e mais, que não consegui destacar. Achei a acidez um pouco baixa para esses vinhos que são 'naturalmente' mais ácidos, o que decepcionou um pouco. Ando bebendo muito Sauternes, acho melhor dar um tempo... 😁.


A turma levou muito vinho. Meu Jaffelin Chardonnay 2019, já comentado, tomou uns cascudos muito bem dados do Pionero, e foi se esconder em algum canto. Teve quem bebeu 😂. Chamou atenção o Hacienda de Arínzano Tempranillo - não peguei a safra, acho que 2018 - levado pelo Ricardo. Comprei algumas garrafas com ele, mas acho que nunca postei. Estava agradável: boa fruta, boa estrutura, taninos domados e corpo médio, com acidez adequada; boa permanência e final. Não anotei as características e portanto não comentarei os outros vinhos. Não havia nenhum que merecesse uma crítica do tipo não compre/não beba, tarefa que este Enochato ver-se-ia obrigado a levar a cabo pelo bem da humanidade.




La Cave des Hautes-Côtes Beaune 2014

Já escrevi sobre esse vinho, com um texto de introdução aos vinhos da Borgonha. La Cave des Hautes-Côtes Beaune 2014, que alimentou esta postagem, é produzido pela cooperativa Nuiton-Beaunoy, e também foi comprado junto à Enoeventos com colegas de outra confraria. Bebi a primeira garrafa dele em setembro de 2020 e agora vai-se a última. Paguei ótimo preço à época - claro, choramos pela venda a preço de Enoclube, e pela quantidade de garrafas na compra, conseguimos. Ainda tem algumas garrafas lá, a preço original. Tornou-se ótima compra, com o atual valor do dóla. Está ótimo, e pronto para ser degustado. Nariz com ótima fruta vermelha, boca com acidez muito boa, que proporciona boa permanência e final. Dá para salivar, engolir uma, duas vezes, e notar que o vinho ainda está na boca. E olha que é um Borgonha simples... Apesar da boa acidez os taninos são leves, assim como o corpo de maneira geral. É uma característica dos Borgonhas... complicado dizer para os que desconhecem o estilo. Para quem não está disposto a arriscar-se neste Carnaval, e preferiu um momento mais contemplativo em casa, foi uma bela escolha. Deixarei meia garrafa para amanhã. Vejamos como vai se comportar...

Por último, mas não menos importante, a patota reunida...







Monday, February 21, 2022

O segundo dia do Chocapalha

Introito

   Em postagem recente, relatei a cronologia de tragédias que afligiram as encostas cariocas nos últimos 26 anos. Achei que não seria necessário explicar mais, uma vez que o público deste espaço tem quociente intelectual alto. Mas estes comentários ficarão para a posteridade, então é obrigação deste articulista registrar devidamente as ideias em vez de deixá-las nas entrelinhas. Ademais, como observou uma leitora, atualmente parte das pessoas acredita que a Terra é plana - e o blog não está imune contra a idiotice alheia. Então vamos lá: tirando o escalafobético Collor, as citações de acidentes passam por todos os governos democráticos de Fernando Idiota Cardoso a bolsonésio, incluindo lulalelé e Dilma Retardada Russéfi (sic), aquela que pretendia estocar vento. Conheço poucos exemplos de maior retardo mental  pronunciados por alguma autoridade... e são todos dela mesma! Assim, fica clara a falta de comprometimento em resolver nossas mazelas - em outras palavras, a falha em colocar o país na rota do desenvolvimento - por todos os vieses do espectro político que nos governaram no último quarto de século. Sempre anulei o voto quando restavam apenas dois idiotas no final (invariavelmente aconteceu assim desde 2006). Até no bolsonésio votei, para tirar os corruptos que formaram uma quadrilha de assaltantes das nossas estatais, dentre outras canalhices, e não será diferente neste próximo pleito. Por outro lado, se a opção for uma pessoa minimamente honesta e propositiva - qualquer uma - votarei nela com grande prazer.

O segundo dia do Quinta de Chocapalha

Oh Lord, have mercy, costuma invocar o Renê quando, em suas divagações, rememora algum momento particularmente emotivo de sua vida. Em um deles, lembro bem, Renê, seu finado grande amigo Ken Marshal - australiano que casou-se com uma brasileira e fundou a importadora KMM por aqui, em '92 - e um terceiro amigo que não me recordo, reunidos no sítio do primeiro entoavam em coro, às lágrimas, e claro, para lá de bêbados, 'O sole mio, quando as respectivas esposas abrem a porta retornando da cidade e perguntam em uníssono o que significava aquilo. Esposas... Bem, vou tomar emprestada, guardadas as proporções, o mesmo Oh Lord, have mercy para Chocapalha. O álcool, cedeu um tanto; a fruta também baixou um pouco, a madeira continua presente. A boca arredondou, os detalhes de café e especiaria persistem, o tanino pega menos e apareceu um amargor bem leve no final; a acidez ainda está muito boa. Tudo precisa ser relativizado, trazido para a realidade de um vinho de USD 12,00. Não disse antes, vai agora: com seus 14% está um tanto pegado no álcool, mas deve melhorar com mais algum envelhecimento. Vai-se o primeiro dos Moicanos. Sobram-me cinco... até que encontre alguma 'promo' com preço adequado, pois compraria mais algumas garrafas. É bom, mas R$ 200,00, não pago... afinal já paguei a metade disso e fiquei mal-acostumado. Clientes...



Sunday, February 20, 2022

A falácia de um pais polarizado feito palha choca

Introito

Estou cada vez mais convencido da minha inocência.
José Dirceu, depoimento ao Conselho de Ética da Câmara Federal, 2005

   Dizem que o país esta polarizado. Não pode haver idiotia maior. O país não está polarizado, está imbecilizado. A polarização é uma mera consequência dessa situação desastrosa. Assim como o valoroso combatente Dirceu convenceu-se de sua inocência, milhões de otários de pai e mãe convenceram-se de que o Grande Guia sofreu uma perseguição do Estado, na figura de um juiz de Curitiba. E, na sequência, um tribunal superior, que antes o havia condenado, convenceu-se do contrário e anulou o julgamento que anteriormente decretara da mais completa lisura. Do outro lado do espectro, outros milhões de idiotas consideram o mesmo juiz de Curitiba um traidor. Não sabem porque, mas consideram-no. E, se e quanto souberem o motivo, duvido que essa crença suporte uma ou duas perguntas bem feitas. Mas eles continuarão acreditando, porque essa é a missão dos tolos. 

Lembro-me muito bem quando um amigo bolsonésio chegou em casa e sugeriu - apenas sugeriu - algo desabonador sobre o Moro. O Gabinete do Ódio já iniciara sua fritura, eu é que não sabia. Ouvida a infeliz sugestão, propus o seguinte: imagine uma cidade com dois diques, um no norte e outro no sul. Do leste, vem o bolsonésio em sua motocicleta dourada - a cor dos tolos, porque eles acreditam em tudo o que reluz - e diz que o dique do norte estourou. Do oeste, chega o Moro em uma lambreta reportando o estouro do dique do sul. Não penso duas vezes, corro para o norte. Não entendi porque, meu amigo abaixou o olhar na hora. Só muito depois caiu-me a ficha.

   Assim permanece a nação: idiotas nos dois extremos do espectro político acreditando no que não faz sentido. Título de doutor ou educação básica, ou mesmo nenhuma educação, nada faz diferença. Os tolos escolheram acreditar em uma ilusão só justificada pelo mais profundo delírio. É de encontro a essa escuridão tenebrosa que caminhamos. Resta saber se vamos afundar todos, de mãos dadas, ou se tentaremos jogar luz nessas trevas. Poucos que somos, comecemos por acender algumas velas. Se depois alguém aparecer com um holofote, melhor...

Revendo um produtor já conhecido

Conheci a Quinta de Chocapalha (produtor) por obra de graça de Don Flavitxo. Situado nos arredores da capital portuguesa - antes a região era chamada Estremadura - recebeu a classificação de Vinho Regional de Lisboa e posteriormente foi designada Indicação Geográfica Protegida. Cuidado com o sítio: pedem para você confirmar a idade, mas o botão de 'confirmar' fica invisível, pelo menos no Chrome. Depois por lá contam piadas de brasileiros. Ah, tá... Precisa clicar na parte de cima da tela com o rato (sic!) e fazer uma seleção do texto de cima para baixo, aí o botão invisível aparece. Não bastasse, uma vez no sítio de pouco em pouco aparece uma janela oferecendo a subscrição na newsletter deles. Que idiotice! Chega... Então voltando... Don Flavitxo avisou que um tal de Chocapalha Reserva estava em 'promo'. Comprei duas garrafas e apresentei a conta para o Akira. Primeiro guardamos e depois as degustamos, espaçadas em vários anos, e ambas estavam ótimas. Eis que aparece, em 'promo', o Quinta de Chocapalha em um lugar quase ao mesmo tempo em que encontro o Vinha-Mãe também em ótimo preço. Fiquei doente (rs), estourei o orçamento mas tornei-me o feliz proprietário de algumas garrafas. Hoje degusto a primeira delas.

Quinta de Chocapalha 2016

Quinta de Chocapalha está abaixo da linha reserva. É um corte Touriga Nacional (45%), Tinta Roriz (20), Touriga Franca (15%), Castelão (10%) e Alicante-Bouschet (10%). Um vinho português com certeza! Apesar de não ser o reserva, estagia 18 meses em barricas de carvalho francês. Rico em frutas negras mesmo com 15 minutos após a abertura, ainda aporta algum chocolate (café?) e a madeira é perceptível. O álcool escapa um pouco. O boca tem aquele dulçor português, e indica ser mesmo o café do nariz a se repetir. Tem especiaria, acidez vibrante, taninos um pouco pegados boa persistência e final. Segundo o Wine Searcher, sua janela de beberagem (sic) vai de 2019 a 2037... significando que mais alguns anos na garrafa seguramente vão arredondar todos esses detalhes e seguramente se tornará um vinho muito mais redondo e prazeroso. Será preciso alguma paciência... Uso o conceito a seguir sempre ligado ao preço, e posso dizer tratar-se da já citada felicidade engarrafada. É um vinho de USD 12,00 lá, e paguei R$ 96,00 por aqui. Ótima relação custo-benefício, mas por aí está beirando R$ 200,00... aí não... Por 200tão, tem obrigação de ser bom, e entrega isso. E pela metade do preço, aí sim, merece a classificação generosa deste Enochato. Baco gostou... eu muito mais...

Saturday, February 19, 2022

Degustação surpreendente e uma tragédia mais que anunciada

Introito

   Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, já dizia o indefectível Walter Barelli. Mas, a bem da verdade, no brasio tudo se resume à mesma coisa: ineficiência secular, não é comigo e por último, mas não menos importante, o povinho fêla-da-putxa que Deus colocou aqui, como descrito naquela célebre piada onde o Todo-Poderoso vai narrando a seu Filho a distribuição de catástrofes pelo continente sul-americano: vulcões aqui, frio extremo ali, terremotos lá, e numa vasta porção de terra com bom tempo, estabilidade geológica e sem vulcões, mas ocupada pelo tal povinho. Um microcosmo desse imenso país é o Rio de Janeiro. Acho que a população de lá é mais estúpida. Deve ser o calor. Einstein disse isso sobre o brasio, mas ele só visitou o Rio. Feynman também não teve tão boas impressões de lá. Escrevi um conto tendo-o como personagem (o do Einstein nunca foi para frente), e narrei seu encontro com Vinícius e sua influência em algumas linhas da segunda parte de A Bomba Atômica. Voltando ao Rio. Alguém está lembrado de uma entrevista que Moreira Franco concedeu a Marília Grabiela quando ele era governador (1987–1991)? Acusou São Paulo de arquitetar a falência carioca. Saiu enxotado pelo Brizola, e na sequência vieram, dentre os mais notáveis, Anthony Garotinho, sucedido pela Benedita da Silva em mandato tampão devido à candidatura presidencial do primeiro, Benedita que tentou a reeleição e com a máquina estadual na mão levou uma coça da... Rosinha Garotinho, eleita com o dobro de votos da ex-governadora. Depois chegaram o presidiário Sérgio Cabral, Pezão e Witzel... do qual contam que o assunto predileto no início do primeiro mandato de governador era... seu segundo mandato... na presidência da república! Toda essa fila de capazes e desinteressados homens (e mulheres) públicos(as) sempre conviveu com as tragédias que querem fazer parecer novas, mas não são:
  • Deslizamento soterra e mata 6 no Rio (Folha, 1996)
  • Petrópolis ainda tem 28 desaparecidos (Folha, 2001)
  • Número de mortos em Petrópolis já chega a 16 (Estadão, 2003)
  • Situação de Itaipava é a pior desde 1988, avalia Cruz Vermelha (Portal G1, 2008)
  • Número de mortos por deslizamentos em Angra chega a 35, mas pode dobrar (BBC News Brasil, 2010)
  • A longa noite em Petrópolis: cidade conta 16 mortos e busca desaparecidos (Veja, 2013)
   Precisa mais?! Porque tem! A de ontem é apenas o mais recente episódio da tragédia que repete-se vezes sem fim. Os fatos que acompanhamos em 2022 são mais que anunciados... assolam-nos há 25 anos - há mais tempo, claro, 25 anos apenas conforme registrado aqui - E as desculpas são sempre as mesmas. É assim que caminhamos para nosso próximo pleito: com mais do mesmo ou tentando alguma saída. Qualquer saída. Não voto em incompetência comprovada. Em corrupção comprovada, menos ainda.

Vinho e Turismo: Argentina e França

O pessoal do Vinho e Turismo, parceria entre a empresa Caminhos do Turismo e o Shot Café/Vinho e Ponto São Carlos, reuniu-se em seu encontro mensal. Conforme decidido anteriormente, seria feita uma comparação entre Malbecs, um de Cahors, na França, e um Argentino. A degustação foi realizada às cegas, mas comentarei direto as impressões sobre cada vinho. Mission de Picpus Malbec 2016, francês, nariz fraco e um pouco doce, baixa acidez, com boca simples e final um tanto curto. Orfila Malbec Roble 2016 mostrou-se bem vivo, boa fruta, chocolate (café?) que repetiu-se na boca; taninos mais marcados e acidez bem mais presente, melhores permanência e final. E foi opinião foi geral, não apenas minha. Como a degustação aconteceu às cegas, creditei a melhor acidez ao francês, e... enterrei os chifres no chão... 😣 Mas não estava sozinho; parte considerável dos participantes atribuiu ao francês a melhor apresentação. Aqui um comentário: na falta de melhor avaliador, calço-me em algumas expectativas. Sem muito nariz para distinguir melhor as características de cada vinho, segui o caminho natural da acidez. E, para minha completa surpresa, ela estava bem melhor em Orfila. Então vamos a mais pesquisas. Curiosamente em português, o comentário mais recente no Cellartracker diz que é um bom vinho, embora caro por aqui, com acidez marcante(!) e bons taninos. Outras opiniões são igualmente favoráveis. Então não sei se nossa garrafa é que estava gorada e demos azar ou se o vinho é quem deixa a desejar. Pelas outras opiniões... De qualquer maneira, é um vinho de USD 16,00 'lá', em safra antiga (dóla = R$ 4,00; USD 16 x R$ 4 = R$ 64), vendida a algo como R$ 220,00. Aí é assim: ah, tá; dóla subiu, empresa remarcou. Certo. Mas muitas importadoras não remarcaram. Até onde acompanho, essa é uma característica das tubaronas. Orfila é um vinho de USD 11,00 'lá' (EUA/Inglaterra). Pergunta que não quer calar: saiu por quanto, da Argentina? Nosso frete deveria ser mais barato 🙄. Bem, o imposto não é 😣. Mas é Mercosul!😮 Uma confusão. A premissa do blog é comprar o preço 'cá' versus o preço 'lá', então comparação por comparação (uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa), no preço 'lá', o valor cobrado pela Vinho e Ponto (R$ 99,00, acho; é menor que R$ 100,00), está bem adequado. Orfila faz boa figura entre sul-americanos recentes que tenho bebido, principalmente pela acidez. Pergunto-me se resiste aos portugueses que tenho experimentado (Cedro do Noval, MOB3), mas isso é assunto para uma competição taça a taça.
   Como comentário final, a estória da franquia e seus vinhos exclusivos. Já comentei isso. Encontrei Orfila Malbec em outra loja, possivelmente em safra diferente. A franquia não tem bala para manter uma carteira exclusiva de fato? Que pare com a viadagem de um marketing enganador e acerte-se dentro da camisa. Mentir e ser desmascarado assim, de maneira tão fácil, pega mal.

Conclusão

Orfila revelou-se um ótimo representante argentino, enquanto Picpus apresentou-se como péssimo desafiante francófilo - pelo menos garrafa a garrafa. Não é possível que Cahors esteja limitado a um vinho tão simples como esse. Estou lendo um livro sobre culinária francesa, e há o registro de que algum Papa da época de Avignon era dessa região, e estando no Rhône, foi para Cahors com sua Carroça Papal (🤣) e falou - Sobe! para os viticultores de lá, levando-os para o que viria a ser Châteauneuf-du-Pape. Mas não é possível que Cahors nunca tenha se recuperado... isso aconteceu lá pelos idos de 1300 e bolinha... Por outro lado, como comentado, o problema pode ter sido da garrafa. Pelo preço (R$ 220,00), não sinto-me convencido a tirar a prova dos nove. Tentemos o próximo vinho!

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Esta postagem foi alimentada pelo final do Quinta da Alorna, que havia bebido nos dias 16 (postado) e 17 (não postado). No dia 17 estava um pouco mais azeitado, mas encontrou sua melhor forma hoje. Sinal de que minha percepção anterior, de que o vinho precisaria de alguns anos para amaciar, e que apenas o processo de oxigenação lenta seria capaz de fazê-lo, mostrou-se errada, para mais uma surpresa deste Enochato. Ele arredondou bem, mostrou-se com boa fruta no nariz e boca bem melhor, com boa acidez e persistência. O final médio coloca-o a nível próximo do já pronto Cedro, do qual tenho gostado. Mas acho perigoso abrir um vinho e deixá-lo esperando três dias para beber...


++++++++++++++++
🐭 Rata!
Alertado pelo Jairo, proprietário da Vinho e Ponto São Carlos, o vinho argentino é o Orfila Malbec Roble, uma linha específica da Orfila, que também conta com a versão Roble de Cabernet Sauvignon. Comenta ainda que provavelmente a Imigrantes Bebidas comprou o vinho mais simples de alguma loja da V&P e o vende a R$ 109,99 contra os R$ 68,00 praticados pela franquia. Não sei se alguma loja poderia abastecer a concorrência com vinhos da franquia - é uma questão contratual - e espero que a franquia em si não tenha feito isso, também. Senão, como fica sua já combalida propaganda de vinhos exclusivos? Observe-se ainda o erro deste Enochato ao tomar o vinho errado na comparação de preços.

Os vinhos degustados, preço 'lá'.



Orfila na loja concorrente. Mentir deveria ser pecado (sic) punível na forma da lei 😣.


Registro das reportagens citadas. O Enochato não mente... 😌









Wednesday, February 16, 2022

Um vinho para comemorar a Semana de Arte Moderna de '22

Introito

Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Os Sapos, Manuel Bandeira

 
 Há 100 anos, entre 13 e 17 de fevereiro de 1922, a Semana de Arte Moderna catapultou o Brasil para o modernismo, e preparou São Paulo - até então uma cidade sem importância cultural - para começar a galgar o topo da vanguarda. Organizada principalmente por Mário de Andrade, contou com representantes de várias áreas das artes: poesia, literatura, pintura, escultura e música. Villa-Lobos foi um dos participantes na apresentação musical, para que o leitor não afeito ao evento tenha melhor ideia de sua dimensão. Dos escritores, Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Menotti del Picchia, dentre vários outros e sem prejuízo a qualquer um deles, são para mim os mais familiares. Os modernistas, grosso modo, aspiravam por uma arte brasileira, com mais liberdade no sentido do uso de linguagem cotidiana, em oposição aos parnasianos cuja poética estava profundamente calcada na métrica e emprego de vocabulário mais rebuscado. Ronald de Carvalho declamou Os Sapos na quarta-feira. Crítica ácida aos parnasianos, foi recebida com uma chuva de apupos pela plateia, e parece que tudo terminou em uma grande algazarra. Se não alcançou sucesso imediato, a Semana de Arte Moderna teve o mérito de plantar a semente de uma arte mais brasileira e desapegada dos valores estrangeiros (principalmente europeus) à que estava firmemente conectada. Este ano de 2022 promete muita algazarra, mas por motivos mais mundanos. Esquerda e direita (radicais) colocarão fogo primeiro nos debates e depois nas eleições, por um e apenas um motivo: ambas nada têm a perder, mas muito a ganhar, com o caos e a desinformação. Este articulista jamais deve medo de posicionar-se sobre qualquer assunto, mas parece claro que nossa saída é tomando o caminho do meio. Até porque isso nada tem a ver com o caminho de cima do muro!

Quinta da Alorna Touriga Nacional-Cabernet Sauvignon Reserva 2016

Estabelecida na Doc do Tejo - antigo Ribatejo - a Quinta da Alorna produz uma razoável gama de vinhos. Infelizmente seu sítio de internet bem baixa navegabilidade, e não pude conferir as informações com mais acuidade. Já havia experimentado esse Quinta da Alorna Reserva há muito tempo, mas não lembro-me se era o corte referido acima. Nariz com muita fruta negra e alguma especiaria. Mas, sobretudo, um quê de fechado. Procurei uma crítica ao escolhê-lo, e ela apontou que o vinho estaria pronto em 2021. Ledo engano. Na boca a mesma impressão: uma massa de frutas não muito definida, aquele travo doce português de sempre - nunca enjoativo - alguma especiaria, madeira saliente e taninos um pouco duros indicam que o vinho não está pronto - No Sir! Ainda assim, boa acidez, final não muito longo mas marcado justamente por estar fechado. Não é um vinho caro lá fora (USD 11,00); vinhos nessa faixa, como o Cedro do Noval, 2015/16 degustados anteriormente já estão bem redondos. E não será um ano que fará diferença para este Alorna. Quatro, cinco anos, e aí sim ele estará redondo. Sobrará um pouco para amanhã (meia garrafa, na verdade), e verei que sopa podemos tirar dessa pedra (sic). Mas o leitor pode estar preparado: não será a aeração que vai consertar um vinho nesse estágio. Por mais que algumas 'contas' tentem estimar o quanto a aeração faz o vinho envelhecer, pelo menos para vinhos nesse estágio ela não vale. Por mais que respire, ele não apresentará as mesmas características propiciadas pelo seu envelhecimento natural.

Resenha de livro

   Contam que Borges - um autor de contos - tinha várias ideias para livros que, ele sabia, não levaria a frente. Assim, escolhia resenhá-los 🙄(!) na forma de contos, muitas vezes confundindo o leitor se ali lia-se uma resenha de fato ou uma estória imaginária. Li O Aleph, além de contos esparsos em oficinas literárias ministradas pelo professor Deonísio da Silva, durante os anos 1990. Fruto daquela época, alimentei por mais de 20 anos a ideia de escrever um livro sobre a Semana de Arte Moderna, ambientado inicialmente em 2022. Li alguns livros de referência sobre a Semana e algo sobre alguns de seus principais personagens, mas não consegui convencer-me de que tinha suficiente background para tocar a empreitada. Eis que 2022 chegou e tudo ficou na ideia. 
   O início dá-se com um sujeito preso em meio a uma tempestade no deserto. Mesmo em um oásis ele sabe-se sem salvação; abre seu livro de orações e murmura um encantamento em palavras baixas que o vento carrega para longe.
   Um caboclo - pensei em um punk; era uma vestimenta diferente e relativamente comum na Sampa dos anos 90. Precisaria atualizar... - atravessa a porta giratória do Teatro Municipal de 2022, recuperada para fins da comemoração do centenário (faltou a pesquisa para confirmar se em 1922 a porta era giratória mesmo), e... sai do outro lado justamente alguns dias antes do evento original. Logo na chegada, recebe uma guarda-chuvada (sic) na cabeça, por uma  senhora que estava lá a comprar ingressos para alguma outra apresentação:
   - Você deve ser um desses moderninhos que estão infestando a cidade, não é isso?
   No périplo por uma São Paulo 100 anos mais antiga do que ele estava acostumado, um livro misterioso cai-lhe nas mãos. Ele encontra-se e faz amizade com Mário de Andrade, que já sentia um clima inamistoso para com o evento que este organizava. O livro em idioma estrangeiro deixa-o intrigado por uma anotação em português, e ele leva-o a um tradutor conhecido. Ali descobre tratar-se de um livro de magia, e o Feitiço da Confusão (na falta de nome melhor, neste momento) - aliado à nota em português - leva-o a descobrir uma trama dos parnasianos para que o público de fato não compreendesse a proposta dos modernistas. Some-se a isso uma jovem cigana que o personagem punk dá uma paquerada em 2022 estar vivendo em 1922 também como cigana, e um Ronald de Carvalho que na verdade queria transformar a plateia em sapos e pega o livro de Bandeira por engano, e está armado o palco para uma trama onde os parnasianos estão sob o comando de um mentor que age sob efeitos do espírito maligno enclausurado no livro do início da estória, e travará com nosso personagem punk o duelo final da trama, onde a vida da garota cigana estará sob perigo de vida.
   O que mais posso dizer? Tears in the rain? Bem, tenho uma estória que se passaria às portas da segunda guerra mundial, onde um solitário detetive brasileiro teria papel fundamental no curso dos eventos daquele tempo. Fica outra resenha...

Monday, February 14, 2022

O octogésimo primeiro níver do Armandinho

Introito

   Dia de festa, ontem. O Armando, pelo terceiro ano seguido, chega aos 81. Não sei o que vai na cabeça das pessoas. Particularmente, se contasse algo, teria parado nos 79. Talvez 8 + 1 = 9, noves-fora, 0, o que dá (sic!) uma conta correta! 🤣, indicando que o Armando em sua singeleza é uma pessoa muito mais sábia do que podemos supor à primeira vista. Dona Orlinda positivou na Covid (sic) começo da semana, então permaneceu em casa cuidando da saúde dos pais nonagenários igualmente infectados. Ninguém com sintomas graves, ainda bem. A título de tentar um vinho multipropósito (sic), uma vez que eu iria de massa branca com camarões e gorgonzola e o Armando de carpaccio e salmão, decidi arriscar algo diferente. Bateu na trave, mas como o chute foi com força, terminou por sair do estádio 😖. Harmonização é um assunto complexo...

Domaine Jean Marie Haag Gewurztraminer 2018

A Gewurztraminer é uma uva italiana - arredores de Tramín, no Trentino-Alto Ádige, quase fronteira com a Áustria. É conhecida como uma uma cepa amiga do frio, e sua maior expressão é encontrada na Alsácia. É semi-seco, portanto um travo doce estava na conta. Sua ficha foi procurada no sítio do importador - Chez France - onde a harmonização com queijos mais pegados estava indicada. Ora, camarão e massa são neutros, quem conduz é o molho, e carquei gorgo nele! 🙄 Nope. O Armando disse que casou bem com o salmão, que é outra sugestão forte. Nariz muito marcado, floral - mas não estou habituado e distinguir notas florais em vinho, claramente uma deficiência deste Enochato - com um doce que se repete na boca, nunca enjoativo. Tem algo de cítrico também, e ótima acidez. Os 14,5% de álcool não se sobressaem; no fim é um vinho bem balanceado se o bebedor aprecia o estilo um pouco mais doce. Completam-no boa permanência e bom final, e acredito que possa ser um bom coringa nas mãos de quem souber harmonizá-lo de fato. Por sobremesa pegamos uma mistura delas no buffet, e para mim casou bem com o bombom de morango. O Armando gostou muito com doce de casca de laranja em calda - tem nome, isso? Foi comprado na bléqui fraid do ano passado direto do sítio do importador, quando o preço caiu a menos de R$ 100,00. Olhei antes, e lá fora custava cerca de 11 Euros. Não precisa fazer conta para perceber que estava muito bom, tanto é que esgotou-se. Gastei algum dinheiro naquela bléqui - o recente 5 Terrores (sic) veio de lá - mas tem valido a pena, para produtos abaixo dessa marca fatídica de três dígitos. Na foto, peguei o aniversariante de surpresa, enquanto ele apreciava a sobremesa. Não fez má figura... Feliz aniversário, Armando!

PS1: Melhor pesquisador do que eu, o Romeu comunicou-me por uatizáp a fonte da ilustração da postagem passada. Ela pertence ao cartunista britânico Leslie Gilbert Illingworth e foi publicada no jornal Daily Mail em 29/10/1962, em plena crise dos mísseis. Agradeço a gentil atenção.

PS2: O leitor Dionisio deixou um comentário na mesma postagem, sobre a Dolcetto. Comentou que a cepa de fato tem um amargor no retrogosto, típico dela.

Sunday, February 13, 2022

A Ucrânia e o Dolcettão

Introito

Um leitor próximo comentou, via uatizápi, que acha a situação na Ucrânia muito tensa para que nada aconteça, e espezinhou-me sobre minha posição de risco zero para um confronto. Um momento. Risco zero é a ocorrência de uma guerra nuclear entre as potências, conforme defendi na postagem passada. Não abordei o caso de uma guerra localizada, que até pode acontecer. Vamos recobrar e ajuizar os fatos. Seguramente o leitor não está bem certo do que vem por trás deles. Nem nossos 'jornalistas', acredito. Na Primeira Guerra Fria, como venho chamando, o episódio dos mísseis de Cuba envolveu os presidentes John F. Kennedy e Nikita Khrushchev (que já deram o ar da graça por aqui) e começou um pouco antes, com a instalação de mísseis americanos na Turquia, a cerca de 2.700 km de Moscou. O sr. Khrushchev pegou meu fio desencapado de algumas postagens atrás e ameaçou socá-los bem socados no Kennedy: começou a instalar mísseis em Cuba - vem daí o nome ca crise, portanto -, distante apenas 150 km da costa da Flórida e cerca de 1400 km de Washington. É assim: os americanos - como sempre - adoram meter o nariz nos fundilhos dos outros, mas na vez deles não querem abaixar a cueca. Daí que meu fio desencapado nas mãos do camarada Khrushchev deixou-os literalmente chocados 😂. A crise acabou com as retiradas dos mísseis soviéticos de Cuba e americanos da Turquia, reestabelecendo o balanço nos tempos de alerta no caso de um ataque nuclear de parte a parte. Agora, com a Ucrânia entrando na Otan - e portanto podendo receber mísseis da aliança - Moscou estará a apenas 750 km dos mísseis inimigos. Ao fim e ao cabo, se o leitor ainda não percebeu, são novamente os americanos - sempre via Organização - espezinhando os sofridos e inocentes russos, povo pacífico e benevolente que jamais sequer imaginou interferir na política dos outros países, e isso é tão verdade quanto o julgamento do Lula foi uma completa armação e a tentativa de golpe do bolsonésio no 7 de Setembro último não passou de uma baita mentira, intriga da oposição. A estratégia de Putin é forçar uma zona desmilitarizada que estenda-se a muitos e muitos quilômetros 'Europa Oriental adentro', chegando provavelmente às proximidades da antiga Europa Ocidental. Ele não deixará por menos. E nem pode. No lugar dele, eu invadiria a Ucrânia e dormiria tranquilo. O Ocidente não deseja essa invasão? Basta recuar os mísseis (ou de outra maneira, comprometer-se a não instalá-los nos países da antiga Cortina de Ferro, ou mesmo na Turquia). Não sisqueça (sic): é a Otan quem força a Rússia a uma posição ofensiva, e a mídia ocidental ou está promovendo um engodo global (fazendo-nos crer que o malvado da estória é o Putin), ou é estúpida mesmo. A escolher. Faz sentido?
PS: A internet está lotada da imagem acima; não localizei a fonte original para citá-la.

Um Dolcetto

Dolcetto é uma cepa piemontesa. Seu nome significa docinha, mas é tontinho (rs) quem imagina doces os vinhos originados dela. Pelo menos é o que diz metade da internet. A metade que consultei (rs!), bem entendido; vai que a outra metade diz o contrário... De maneira geral, seus vinhos são ditos tânicos, de alto teor alcoólico mas de baixa acidez. A região de Dogliani é dita como o lar dessa cepa, embora há quem diga ser a França sua terra original. Sei mesmo que muitos grandes produtores do Piemonte cultivam-na, então não deve produzir vinhos ruins nas mão certas. O problema é que os 'grandes produtores' da região estão, em certa medida, nas mãos das tubaronas de sempre. Como sempre digo,

Paciência e sentar-se à beira do rio e aguardar o corpo de seu inimigo passar boiando

   Saibam: diversas importadoras tubaronas diminuíram consideravelmente seus portfólios, devido à crise desde Dilma e agravada pelo governo bolsonésio. Comprei vinho italiano que estava anteriormente em uma casa tubarona e 'migrou' para o concorrente, que vendeu-o a menos da metade do preço. A detratoria sempre acredita ter vários argumentos para explicar isso, mas nenhum resiste à discussão. Se for para repetir as tolices de sempre, melhor não parecer...

Produttori di Govone Dolcetto 2019

Produttori, até onde saiba, é como os italianos designam uma cooperativa. Vai longe o tempo em que vinho de cooperativa poderia ser sinônimo de vinho ruim. A Produttori del Barbaresco (no próprio Piemonte) e a La Chablisienne em Chablis são apenas dois exemplos de cooperativas com vinhos de excelente qualidade. O leitor pode acompanhar diversas resenhas de vinhos da La Chablisienne aqui no blog. Escrevo com vinho aberto há duas horas e meia. Abri e deixei respirar pouco tempo (10 minutos?) para pegar sua expressão desde o início. Puááááá... 🤢 onde estava aquela outra metade da internet que não consultei? Travo bem doce e acidez baixa. Tinha lá sua fruta, nada marcante. Agora, zero hora, mostra a mesma fruta simples no nariz. Na boca, o dulçor diminuiu bem - bendita aeração - a fruta parece escura e algo de amargo persiste. Não, não é aquele amargo de vinho mal feito, quando as sementes são esmagadas no processo e seus taninos amargos contaminam o líquido. Não sei se é amargor típico da cepa ou de alguma parte do processo, mas está lá. Tome como uma característica, não como um defeito. Decididamente não passa em madeira - a fruta reina sozinha. Comprei hoje na Mercearia 3M, ao preço de R$ 100,00. Olhei no Wine Searcher, e o preço está em USD 13,00. Olhando direto, aqui está um preção. Contudo... só encontrei na Inglaterra. Em nenhum lugar da Itália. Não posso deixar de comentar que é um valor superestimado pela qualidade. Por exemplo, por R$ 115,00 estava comprando os (aproximadamente) USD 12,00 MOB3 e Cedro do Noval, para citar dois. Eles dão um baile no Govone. Certo, outros vinhos, outras cepas, mas o leitor que faça suas comparações e me diga. Govone talvez valha a metade, USD 6,50. Aí o preço 'cá' entorta, pois cai na faixa do 3x. Tenho um pouco mais de experiência com Chiantis. Os bons - veja este - são muito melhores do que os Chiantezinhos mais simples que posso comprar para beber regularmente. Talvez Dolcettões - por mais pornográfico que pareça esse aumentativo - sejam proporcionalmente melhores. Sem comparar, será impossível saber. Preciso dar uma solução a isso. Onde está minha confraria?! Alguém com um Dolcettão, apareça!

Atualização

Melhor pesquisador do que eu, o Romeu comunicou-me por uatizáp a fonte da ilustração da postagem passada. Ela pertence ao cartunista britânico Leslie Gilbert Illingworth e foi publicada no jornal Daily Mail em 29/10/1962, em plena crise dos mísseis. Registro e agradeço!

Saturday, February 12, 2022

O vinho, o idiota e nosso maior herói desde Caxias

Introito

   Um idiota com nome de bicicleta(!) propagou ideias nazistas e depois ficou perguntando 'porquê?, porquê?, porquê?". Estúpidos nunca sabem por que apanham. Procurei a formação acadêmica do pessoal do Flow, programa que conheço de nome pelos trechos de algumas entrevistas de personalidades da comunidade político-intelectual que acompanho mais. Um tem nível técnico; o outro, segundo grau. Não é que as pessoas com nível de instrução médio não tenham o direito de se manifestar, porque têm. A questão resume-se, para ficar em um universo que tanto os opinadores (sic) como seus seguidores conhecem bem, na célebre(?) frase "com grandes poderes vêm grandes responsabilidades". O caboclo nunca se preparou para a responsabilidade que assumiu. Quando o momento exigiu, ele roeu a corda vítima da própria ignorância, que não permitiu-lhe formar uma opinião mais precisa acerca de importante assunto em pauta, e deu no que deu. Bem feito. Sim, bem feito. Até porque ele foi avisado, está em 1:20 min. Outro que se vai como Denethor, para ficar em um universo que esse pessoal talvez entenda...

Enquanto gastamos tempo e esforços em torno de nada - não refiro-me ao estúpido, que já está imolado, mas à canalhice de esquerdopatas e direitóides que tentaram colar a mesma pecha no deputado Kim Kataguiri - alguns dizem que o mundo está próximo de uma guerra mundial, quiçá uma aniquilação, por conta das tensões Otan versus Rússia (+ China). À faca de dois legumes. Na Primeira Guerra Fria poderia acontecer sim uma guerra nuclear. A questão, para mim, era financeira. Sim, financeira, e não econômica. Não sei quantos bilionários existiam nos anos 70, provavelmente poucos. A primeira lista surgiu em 1987, e eram 90. Ora, eles estavam todos do lado capitalista. Era zero o número de bilionários (ou mesmo milionários) na Rússia e China totalmente comunistas. Vai daí que um dos lados nada tinha a perder. Hoje temos 724 nos Estados Unidos, 698 na China, 140 na Índia, 136 na Alemanha e 117 na Rússia. Ambos os lados perdem com uma guerra nuclear global. Deixou de fazer sentido (que ela ocorra). Mas, é claro, temos que, literalmente, combinar com os russos! Digo, isso precisa ser colocado da mesa, antes que seja esquecido. Não podemos (os ricos não podem) perder essa perspectiva quando as tensões começarem a escalar de fato. Ao fim e ao cabo, o Putin é quem precisa ser avisado. Aliás, Putin, olhalá! (sic), semana que vem (or so) nosso presidente estará por aí. Saiba que o posto de nosso maior herói desde Caxias permanece vago. Ele pode ser seu! Sei que a Rússia é famosa pelos seus maravilhosamente digestivos chás. Serguei que diga, heim? Ofereça um chá ao nosso presidente. De repente ele o bebe como comeu aquele camarão. Apenas mantenha distância, porque se ele bebe chá da maneira que come churrasco com farofa...

Line 39 Petite Sirah 2013

Vai-se a última garrafa desse vinho comprado em 'promo' na Vinho e Ponto, momento em que seu valor ficou convidativo. Segundo registros, paguei R$ 85,00. Esta garrafa não teve tempo para respirar, foi direto para a taça tão logo aberto. Estranhei o dulçor forte no nariz, que repetiu-se na boca. Sempre aero meus vinhos pelo menos 20 minutos mesmo para aqueles exemplares que sei serem mais simples, e este causou estranheza, pois tenho certeza de que a prova passada não apresentou essa característica; daquela vez ele era mais discreto. Mas aerou... Escrevo entrado na segunda hora dele aberto; o dulçor cedeu bem. Nariz com menos fruta e algo herbáceo; acho que está encostando em seu limite. Note que toque herbáceo não designa vinho envelhecendo! A boca continua com o dulçor não enjoativo e sabor lembrando chocolate ao leite. A acidez ainda (sic) é média, e, se não comentei da última vez, digo agora: é um pouco rápido, e o final um tanto curto. Não desabona para um vinho de USD 10,00, mas se por um lado supera chilenos (preço aqui), por outro mesmo na 'promo' poderia não resistir à comparação com europeus do mesmo valor. Americanos saber fazer vinhos. Brasileiros é que não sabem (sic) importá-los.

Sunday, February 6, 2022

Juan Gil Blau 2019 e uma transferência inusual

Introito

Procure o Criador apenas pela fé, e só o encontrará se ele apresentar-se a você.
Procure-o desafiando a Ciência e quase certamente haverá de encontrá-lo mais rápido do que imagina.
Provérbio do Enochato

   Uma tola da República Tcheca chamada Hana Horka tinha para si mesma que "sua filosofia era de que ela preferia a ideia de pegar Covid do que ser vacinada", segundo o próprio filho. "Agora vai ter teatro, sauna, show", escreveu ela em alguma rede social durante a convalescência, dois dias antes de piorar e ir a óbito. Assim caminhamos: bandos de tolos acreditando em óbvias notícias falsas e simplesmente desprezando o que passou a infância fazendo: vacinando-se. Ou na Europa não vacinam, pelo menos, contra pólio, sarampo, caxumba, rubéola e algumas outras? Ainda que não, desta vez estamos em uma pandemia. Impossível acreditar que os alertas não foram emitidos. Desconsiderá-los apenas nos adverte do quão longe vai a ignorância, que tenta nublar não apenas a ciência, mas a própria cidadania. Vejam em nosso caso os milhares de bolsonésios e lulalelés enrustidos ou declarados, a despeito do "nem lulalelé nem bolsonésio". Vejam ainda nos comentários passados deste blog o obscurantismo de tolos que tentam porque tentam defender as margens absurdas praticadas pelas importadoras tubaronas do mercado. Tudo isso é mer... mer... mercadoria da mesma pocilga que apenas tolos e desavisados aceitam. No caso da saúde pública, a despeito das falhas do governo - e canalhas que agradecem à natureza pelo surgimento do Coronavírus - a sociedade civil está mais informada e um tanto organizada para combater o mal. No caso de vinhos, enfrentamos primeiro uma falta de informações que este espaço tenta cobrir, em uma voz solitária contra farsantes e aproveitadores que vendem-se em troca de umas poucas garrafas e propagandeiam ofertas carérrimas (sic) como boas compras. Está tudo dominado? Continuo fazendo a minha parte, sem esmorecer.

O fio desencapado

   Há algum tempo estava com meu fio desencapado procurando algum fundilho. Acho que de algum importador tubarão ou assecla energúmeno, não lembro bem. O fato é que comentei sobre a região vitivinícola de Jumilla e as Bodegas Juan Gil, ao experimentar dois exemplares desse produtor de uma só vez. Agora, um terceiro. Sugiro fortemente o tema vinculado aqui para acompanhar a leitura da postagem... 😂🤣. Depois o amável leitor me conta se tem a ver.

Juan Gil Blau 2019

Blau é a lavra de entrada da série Cellers Can Blau (uma das bodegas do grupo, pelo que entendi), produtora de três vinhos. Baseado em Montsant, na região da Catalunha, é um corte 50% Cariñena, 25% Syrah e 25% Garnacha, com fruta (negra?) muito viva no nariz, boca onde os 14% de álcool fazem malabarismo para se equilibrar com bons taninos e acidez viva. Mas o malabarismo dá resultado, e os 4 meses de barrica aportam alguma especiaria - mas não peguei a madeira em si - que dão graça ao conjunto. Tem corpo médio, é um pouco ligeiro e o retrogosto não é tão marcante. Lembre-se da brincadeira com o Renê e seu Numina, e novamente aposto que derruba sul-americanos do dobro do preço, pelo menos. E queria o quê, por um vinho de 8 euros? Foi comprado na bléqui fraid por R$ 94,00 (convertendo hoje, 8 euros dá 50tão) e por tal fica matador; ótimo vinho pelo preço, menor que 2x o preço 'lá'. Atualmente custa R$ 139,00, o que o coloca no perigoso patamar de quase 3x! Pondo-me em pé e batendo palmas três vezes: - Alô, alô, Oscar, o preço está escapando! O que acontece? Note-se que o preço 'Enoclube' está R$ 118,15, o que dá 20% acima de 2x - para o 'Enoclube'!. Diria que é uma compra limite. Os três vinhos dessa série estão variando um pouco, para cima ou para baixo, com relação ao 'preço lá' em 2x, considerando o preço Enoclube. A melhor compra é o Mas de Can Blau, vide imagens comparativas mais abaixo. Se você não é um Enocluber (sic), aproveite este conselho de um comprador dessa importadora: ligue em vez de comprar direto do sítio. Comece dizendo que você viu o ... (vinho mais caro de sua lista) e peça um desconto para comprar uma caixa sortida. Eles fecham, que vendedor precisa ser muito ruim para ignorar a venda de 12 garrafas. Compre com amigos, se for o caso - sempre faço assim com a turma de uma confraria mais antiga. São todos clientes da importadora, e quando um liga o Oscar já desconfia😁. Por outro lado, quase sempre compramos duas caixas, o que torna o negócio bom para ambos os lados.




Resenha

O leitor já percebeu minha queda por filmes (mas também livros) de Ficção Científica. O gênero atravessou diversas fases. Inicialmente, e durante muito tempo, os efeitos especiais deixaram (muito) a desejar. Vai que os melhores filmes pautavam-me mais por uma estória atraente - embora quase sempre inocente - do que pelos efeitos em si. Claro que muito esforço foi empregado em produções que marcaram época. Gostei muito de Forbidden Planet ('56), assistido pela primeira vez em Sessão da Tarde nos anos '70. Tem o Leslie Nielsen novinho de tudo e o Richard Anderson, que ficaria famoso por aqui como o Oscar Goldman do seriado O Homem de Seis Milhões de Dólares igualmente novinho que mal dá pra reconhecer. Estes dias mesmo estava relembrando a luta contra o monstro do Id (sim, o Id da psicanálise). Veja aqui. Apenas para registro, a visita às instalações dos Krell também é impressionante - para a época. Nada disso adianta o verdadeiro mote do filme; pode olhar com fé (rs). Em se tratando de efeitos especiais, vários saltos foram sendo dados e vários paradigmas foram quebrados: 2001, Guerra nas Estrelas, O Exterminador do Futuro 2 e outros na sequência. Há mais de 20 anos, os efeitos especiais assombram e deixaram de ser mérito para ser obrigação em qualquer filme que pretenda ser digno do gênero. Curiosamente, entretanto, parece que os melhores filmes foram aqueles realizados com nenhum ou um mínimo de efeitos especiais: Alphaville ('65), Fahrenheit 451 ('66), Os 12 Macacos ('95), Gattaca ('97), Transfer ('10), Coherence ('13) e Predestination ('14) , por exemplo. Comentarei Transfer. Um casal de terceira idade conversa sobre fazer ou não fazer - ela mostra-se incomodada com a ideia. Fazer o quê? Assunto deles, não sabemos. Até que ela é diagnosticada com uma doença terminal, e o instinto de sobrevivência fala mais alto. Um processo de transferência de suas consciências para os corpos de jovens voluntários permite que o casal volte a desfrutar os primeiros anos da paixão, usando esses corpos algo como 20 ou 22 horas por dia e então eles "adormecem", quando o controle retorna aos proprietários originais. Inicialmente os voluntários enfrentam problemas: - Você me possuiu! Nós nem nos conhecemos! (Mas o casal de idosos tinha 50 anos de convivência...). Soluções verdadeiramente elegantes, nos detalhes, nos maravilham, como o diálogo que se estabelece entre as duas mulheres, que vão se conhecendo e se tornando amigas. Claro, nem tudo é um mar de rosas e a trama caminha para descobrir o lado negro da força (sic). As análises aqui não são de fato muito profundas. Entenda-as como uma provocação para assistir (ou não...) filmes que considerei acima da média para o gênero. No presente caso, os acontecimentos narrados praticamente limitam-se aos primeiros 20 minutos do filme, então o leitor pode estar certo de que encontrará muita diversão e dramas humanos em Transfer.

Friday, February 4, 2022

Postagem de uma sexta-feira pequena

Introito

   O sujeito não tem parada. Não bastasse sua atuação calamitosa no enfrentamento da pandemia, seu último feito foi divulgar em redes sociais informações sigilosas e de suma importância acerca de nosso processo eleitoral. Nas palavras de um ministro, é como entregar o mapa da casa para o ladrão. Eu não conheço traição à pátria similar na história do país. O leitor conhece? E achava lulalelé o maior dos traidores. Bem, sejamos francos: bolsonésio já o superou há muito tempo. Só não contava que ele se superasse no que resta de seu (des)governo. Onde estão as lideranças do país, que contemplam tudo como se fossem brancas nuvens? O brasileiro tem a obrigação de lembrar-se deles nas urnas. E não votar neles, de preferência. Embora, estúpido que é... (já comentei isso diversas vezes, sem viés político, lembram-se?)

Terra Occitana Syrah 2016

Conheci o produtor-négociant Jacques Charlet quando provei de seu Sauvignon Blanc. Agora entrou em 'promo' este Syrah que experimento. Tem fruta vermelha no nariz e parece expressar leve dulçor - ou ainda não melhorei o que deveria da Covid - que fica bem mais marcado na boca. Esse doce não é tão enjoativo, e pode fazer sucesso entre os amantes desse estilo. Não é o meu, definitivamente, o que nesta análise torna-o desbalanceado, mas como disse tem seus entusiastas. Tem corpo leve a médio e uma acidez que surpreende para o que espera de um vinho como esse. É um vinho de mesa simples, não desagrada. Para beber descompromissadamente em uma quinta-feira (ou sexta-feira pequena - rs) enquanto se escreve umas resenhas sem-vergonhas, vai bem. Não encontrei na internet - mesmo no sítio do produtor. Seguramente é um vinho de custo inferior a 10 dóla. Peguei em 'promo', na Vinho e Ponto, abaixo de R$ 100,00. Pode bater muitos sul-americanos, mas se prestar atenção dá para encontrar opções mais interessantes mesmo em S. Carlos. Não nas lojas especializadas, claro. Se souber procurar na internet, complica de vez. Meu palpite dizia para não pagar o preço cheio (R$ 148,00), e nessa acertei em cheio. Compre em 'promo' e consuma logo; não e um vinho para envelhecer mais.

Resenhas

A caterva que causa na internet propala que 2022 será um ano fenomenal para a indústria cinematográfica. Provavelmente disseram o mesmo no ano passado, mas como o pessoal é estúpido, continuam a ladainha. Digo que tem coisa boa ligada a 2022, embora não de 2022... 

Não vi e não gostei

Moonfall - Ameaça Lunar
(2022). Assim é o Brasil: não tendo como traduzir adequadamente um título, introduzem um subtítulo quase sempre desnecessário. O diretor Rolando Emeriqui (sic) tem vasta ficha corrida quando o assunto é assalto à inteligência do expectador. Começou com Independence Day ('96), continuou com Gozdilla ('98), persistiu com O Dia Depois de Amanhã ('04), piorou com 10.000 BC ('08), atingiu o ápice com 2012 ('09) e quase se superou com Independence Day II ('16) 😲. Seu 2012 é considerado pela NASA como o filme mais tolo de ficção científica já realizado. Um bando de neutrinos sem noção 😆, partículas tão pouco interativas com a matéria que atravessam 10 sóis como o nosso postos lado a lado sem colidir com um átomo sequer, começam a esquentar o núcleo do planeta. Sim, são neutrinos estranhos. (o que justificaria tal interação). E são tão estranhos que só interagem com o núcleo do planeta, sem antes torrar o DNA de tudo o que é vivo na superfície (😕), o que faria a vida no planeta se extinguir muito antes da catástrofe sísmica acontecer... Eu sempre defendi que Howard the Duck é até legalzinho! 😂 Comparem! Bem, agora é a vez de uma força misteriosa tirar a Lua de órbita para tacá-la (sic) contra a Terra. Força misteriosa... conheço Força Estranha, mas é uma música - muito bonita por sinal. Forças físicas existem apenas quatro, e força enxerida não entra nessa festa. É engraçado ver no trailer corpos sendo atraídos para a Lua... mas ela é muito menor que a Terra... mesmo próximo a ela, nada se deslocaria do nosso planeta para cair nela... Tá, tem uns caras que acham os tais e vão tentar resolver a situação. Não tenho a menor curiosidade em saber se conseguirão. Pela ficha pregressa do diretor, fuja!

Vi e verei novamente

Soylent Green
 (1973). No Mundo de 2022 é a tradução do filme, que tem Charlton Heston como o detetive Thorn e Richard Fleischer na direção. Deste, conhecemos 20.000 Léguas Submarinas ('54), Viagem Fantástica ('66) e Tora! Tora! Tora! ('70). Soylent Green é inspirado no livro Make Room! Make Room! de Harry Harrison, autor mais conhecido pela brilhante sátira antimilitarista Bill, o Herói Galático. Em Soylent Green o detetive Thorn vive em uma Nova Iorque povoada por 40 milhões de habitantes. O mundo colapsou: animais e florestas morreram, a poluição infesta tudo, a água é racionada e as pessoas vivem pelas ruas. Os ricos, claro, ainda têm acesso a água e comida natural - embora caríssima. Entristece a lauta refeição onde Thorn e seu parceiro Sol refestelam-se com uma pera. O assassinato de um alto membro da Soylent Corporation, empresa do ramo alimentício que tem o produto mais cobiçado pelas pessoas comuns, sua bolacha verde - Soylent Green! - coloca Thorn na trilha de pistas que levam a uma trama cada vez mais sinistra. Além da ótima estória, o filme antecipa a discussão natureba que tomou conta da sociedade em mais de 20 anos; sua frase final entrou para as 100 mais importantes citações do cinema (Americano, claro), segundo a American Film Institute. Está esperando o quê?