Sunday, July 30, 2023

Três espanholes iguaizinhos... ou quase...

Introito

Agora nós estamos em guerra com a Eurásia.
O inimigo sempre foi a Eurásia.
A Lestásia é uma nação aliada.
1984, de George Orwell

A verdade não mente.
Dito d'Oenochato

   Havia uma disciplina na escola primária muito de meu agrado: redação. À reboque, vinha interpretação de texto. Lembro-me com carinho das professoras daqueles anos iniciais de meu desasnamento, Dona Martha e Dona Cida, cidadãs exemplares que ajudaram a formar os primeiros pilares de meu caráter. Interpretar textos virou como uma catarse contra as horas onde a escuridão da ignorância tentava bloquear minha curiosidade pelo conhecimento. Um trecho de música um tanto complexo assombrava-me muito lá pelos 20, 22 anos:

Adormecendo as uvas, reconstruindo em favas
Aconteceram as chuvas, redespertaram em lavas
Compareceram em chamas, estrangularam as falas
Carbonizaram miúdos, perpetuaram-se em galas
Zé Ramalho

Um pouco adiante no tempo chegaram os primeiros dias da internet discada. Já era possível visitar algumas páginas com informações antes restritas a livros. Estavam lá aqueles pintores que venerava, como Bosh e Dali. Então, visitando uma página, encontrei a informação cuja conexão com o trecho perpetuaram-se em galas foi imediata: Elena Ivanovna Diakonova, conhecida no círculo artístico como Galarina, ou Gala para os íntimos, posteriormente Gala Dalí, inicialmente amante e depois esposa e grande inspiradora do mestre Salvador Dalí, foi por ele perpetuada em diversos de seus quadros, desde sua fase clássica até as obras primas surrealistas. Fica assim dado o sentido do verso final da estrofe, cuja interpretação geral torna-se bastante clara (risos) perpetuar-se em galas é perpetuar-se como Gala está imortalizada nos quadros acima. Atualmente tento desvendar o sentido de outros versos:

Só querem nos roubar
E nos fazer de palhaços
Depois que estão eleitos
Vão morar em seus palácios
Eduardo Costa

   Confesso, ainda não consegui entender exatamente a mensagem. Sobre quem fala o inspirado autor da letra? Se algum leitor conseguir espantar a escuridão acendendo uma vela na escuridão, por favor, ajude-me...

   NAP será obrigado a responder ao requerimento de informação perpetrado pelo deputado federal Kim Kataguiri. A barbaridade está aqui. O parlamentar questiona a aquisição de móveis de luxo sem devida licitação - até parece que NAP quer morar em um palácio... mas... como chama-se mesmo a residência oficial do presidente da república? Não foi ele quem a batizou assim! Não bastasse, ora bolas, não foi NAP quem saiu de carro oficial, parou na loja, escolheu e passou o cartão corporativo. Quem fazia isso era o outro. NAP provavelmente recebeu a lista das peças desejadas pela primeira dama, correu os olhos e comentou estarem bons. Ele seguramente acreditou custarem a cama, a mesa e o sofá, respectivamente, R$ 42,00, R$ 36,00 e R$ 64,00, nada mais. NAP é um ser integrado com a realidade de seu tempo, sensível aos problemas nacionais e sabedor da falibilidade humana. Tanto isso é verdade que, quando errou, veio pedir desculpas em público, de cara limpa. Vejam:


   Portanto não venham com argumentos rotos sobre a idoneidade da alma mais honesta deste país, ou acusações sem nexo para cima do homem mais probo de todos os tempos, em toda as galáxias. Não passarão! Digo, não colará. A verdade não mente!


Três espanholetos iguaizinhos... ou quase


Há muito pensava em provar desta vertical, e aconteceu: três exemplares do Faustino I Gran Reserva em três ótimas safras: 2001, 2005 e 2009. A graça dessas brincadeiras está em acompanhar a evolução do vinho no tempo. Com o Ghidelli e a Márcia no preparo de um macarrão com molho vermelho com filé ao Champion Paris, reunimo-nos numa quarta-feira preguiçosa (risos!) para festejar regressos recentes e partidas em futuro não tão próximo. Então teremos outras comemorações de partida pela frente... 😃. Seu contrarrótulo traz a informação de ser um Tempranillo, mas encontrei comentários da safra 2001 ser um corte 85% Tempranillo, 10% Graciano e 5% Mazuelo (três das quatro cepas típicas do corte riojado; a quarta é a Garnacha), enquanto a 2008 seria diferente: 92% Tempranillo e 8% Graciano. Aceitemos a possibilidade de mudanças no corte conforme a safra. 

   Servido o Faustino I 2001, Ghidelli ataca de primeira: notas de eucalipto. Tinha fruta contida, acidez um pouco abaixo do esperado, boca marcada por um ligeiro dulçor, taninos bem redondos, corpo médio, final um tanto curto. Bem equilibrado, bom, mas aquele equilíbrio um tanto 'por baixo', no sentido de não passar a sensação de um grande vinho, apesar da harmonia típica destes. Se beber sozinho, dirá que está muito bom; se tiver padrão de comparação, nem tanto. Foi o caso. Ah, pela cor, não aparentava a idade. Faustino I 2005 ofereceu à D. Neusa notas de curral e pasto, e alcaçuz para o Ghidelli. Couro e algo tostado para este Enochato. Taninos mais presentes, redondos, melhor acidez, corpo igualmente médio, está ótimo para ser degustado. Faustino I 2009 mostrou-se mais alegre, com fruta escura bem marcada, couro ou tabaco; boca com fruta vermelha, maior acidez dentre as garrafas, final mais longo, muito bem harmonizado. Não notamos madeira - sabemos que tem. Beba agora se gostar desse estilo alegre, frutado, ou guarde mais um pouco. 

Faustino I Gran Reserva tem uma tiragem grande: cerca de 240.000-245.000 garrafas - não é feito todos os anos. Com tal volume, fica a pergunta: provém de um só vinhedo, ou é composto por uvas provenientes de lugares diferentes? Mesmo sendo de vinhedo único, pela quantidade seria impossível pensar-se em um terreno homogêneo; daí uma variação na qualidade e composição das uvas quanto ao terror ser inevitável. Isso claramente geraria garrafas com característica diferentes de acordo com o lote de uvas processadas. Não é uma crítica, é uma reflexão. Ainda assim o produtor consegue fazer vinhos consistentemente bons que, se comprados a bom preço, valem a pena. Seu preço 'lá' varia bastante. Safras recentes (2021) estão abaixo de 20 dólas. As safras '09, '05 e '01 custam em média, respectivamente, 32, 46 e 90 dólas. Aqui custa atualmente (em 'promo') R$ 289,00 (preço cheio de R$ 360,00). Comprei a safra '05 por algo como R$ 130,00, e anos depois a '09 por R$ 199,00. Eram boas compras à época; atualmente não tanto; nessa faixa temos boas alternativas no mercado. 

Por sobremesa tivemos pudim com camada de coco ralado e dois vinhos: um Taylor Fladgate 10 anos Tawny. Mesmo os Taylor's mais simples são aveludados; imagine um envelhecido por 10 anos em barricas de 600 litros e depois engarrafado... no nariz esbanja fruta, algo como caramelo, chocolate e mais camadas. Boca com fruta em compota, figo, taninos muito redondos, acidez e corpo médios tocados a 20% de álcool muito bem integrados e um toque doce característico do estilo Porto. Ótima permanência e final longo fecham as características do que dizem ser um exemplar apenas um pouco melhor do que os mais rasteiros. Já bebi um Taylor 20 anos, mas minhas experiências com Portos de melhor qualidade são poucas. Guardei um exemplar simples por mais de 20 anos e... é outra estória. A Elvira compareceu com uma surpresa de sua predileção, um Jerez: Media Legua Pedro Ximénez é produzido pelo sistema Solera, característica da região de Jerez. Se entendi bem, no estilo Pedro Ximénez (mesmo nome da cepa), a colheita é feita tardiamente, quando a uva acumula muito açúcar e gera um vinho bastante doce e com alto teor alcoólico. Contudo o doce é contrabalanceado pela acidez - sempre ela... - gerando um paladar muito elegante e nada enjoativo. Como característica dos Jerez, o figo estava lá, bem marcado, no nariz e na boca. É mais complexo no nariz, mas não consegui distinguir. Tem corpo médio, final longo, retrogosto também adociado. O Jerez sempre impressiona, e Media Legua não deixou por menos...

Friday, July 28, 2023

Alguns embates com chilenos

Introito

Agora nós estamos em guerra com a Lestásia.
O inimigo sempre foi a Lestásia.
Eurásia é uma nação aliada.
1984, de George Orwell


   Novamente os MBLers foram aprontar das suas em algum lugar, uma pocilga onde juntaram supostos agressores - tenha certeza, foram pagos pela organização para simular o conflito - e produziram mais um teatrinho para incriminar os Sagrados Portadores do Saber (SPS) numa tentativa vã de desconectar o movimento universitário de Nosso Amado Presidente (NAP). NAP finge não ver, e está correto; para que dispender seu tempo precioso com querelas tão pequenas? Por outro lado, SPS de verdade jamais entrariam em tamanha confusão. São pessoas do bem, do bom carácter, do amor, da racionalidade, da argumentação...  veja parte da orquestração:


   Não é mesmo uma produção mambembe digna de novela mexicana? Ou vai dizer ser possível reconhecer as instalações de alguma universidade por essa filmagem? Faça o seguinte: para evitar ser enganado por calhordas cuja única função além de respirar é propagar notícias falsas, veja o que está acontecendo de maneira bem simples, acompanhando as postagens deles. Veja aqui. E não se deixe enganar por idiotas cujo discurso sequer faz sentido. Tem muitos, principalmente uns querendo mamar nas tetas do NAP sem ele perceber. De boas intenções o mundo está cheio... Né, Janja? Olha, próxima presidência está logo aí...

Extra! Extra!

A Enoeventos está comemorando aniversário com promoções que valem a pena conferir. Começou hoje, e nos próximos 4 dias novos vinhos serão agregados às ofertas até o final do último dia ou venda dos estoques. Dê uma passada por lá, mas nunca sisqueça: Wine Searcher sempre!

Embates com chilenos

   O leitor cansou de ler minhas críticas aos vinhos chilenos. Digo, a seus preços, porque vinho é uma relação custo-benefício. Tá, tem um componente exclusividade aí, mas vale para apenas algo como 5% dos vinhos. Alguns colegas e confrades comentam sobre o fato de não experimentado safras mais novas de vinhos chilenos, seja de vinhos mais premium ou mesmo ícones. Já discuti o preço do Don Melchor - um dos 'grandes' vinhos chilenos - em 2019, e ficou claro o quanto ele é caro em seu país de origem. Pouco mudou: está USD 250,00 (R$ 1.250,00) no frixópi do Chile, e aqui foi ofertado neste julho a R$ 900,00 (algo como USD 180,00). Como sempre, a pergunta persevera: veio do Chile por algum tipo de frete, pagou cerca de 60% de impostos brasileiros e chegou à prateleira a preço final de 900tão, dando lucro para o importador e para o lojista. Saiu de lá por quanto? Qual a justificativa para seu valor, ainda mais no frixópi?

   


   Bem, vejamos alguns embates: o primeiro, por um lapso, não fotografei. Consistiu do mesmo Domaine Ferraton  Côtes du Rhône Samorens 2021 da foto abaixo contra um Tarapacá Etiqueta Negra CS 2020. Cuidei do serviço, alguma aeração (1 hora), resfriei... ambos com bom buquê, bastante fruta, e a grande diferença perceptível na boca: enquanto o Etiqueta passava lépido e faceiro, sem deixar marca ou lembrança pela garganta, o Côtes deixava sua marca nem tão discreta. Sim, o Etiqueta apresentou a picância típica da Cabernet Sauvignon enquanto seu oponente tinha igual tanino, a elegância do doce discreto do corte GSM e a acidez necessária para dar-lhe ampla vantagem.

   

   Encontrei com o Klaus, amigo chileno que conheci por conta do casamento do Nagib lá pelos idos de 2002, 2003, e ele levou-me a uma loja próxima ao condomínio onde mora. Encontramos o El Enemigo 2019 por cerca de USD 60,00 (o dobro da Argentina), e um pelo outro, na hora agá apresentei o Château de Saint Cosme Gigondas, também de 2019. Aeração de algumas horas neles - 2 ou 3 - e o Gigondas apresentou-se fechado. O Wine Searcher dá-lhe uma janela de beberagem 2022-2030. Acho que dura mais, e o patamar inferior está muito errado. Tinha fruta sim, mas claramente presa; taninos presentes e com arestas; boca quase pegajosa (risos) querendo mais tempo para se desenvolver. Mas a acidez estava vibrante. O El Enemigo tinha fruta e mais notas, tinha melhores taninos e, mais uma vez, a diferença da baixa acidez fez o próprio Klaus olhar para mim surpreso com o Gigondas quando o experimentamos em segundo lugar. Por viajar muito a trabalho - e não deixar de experimentar algo diferente quando pode - ele tem mais vivência do que a média dos chilenos e sabe apreciar com vinho com maior acidez. No aniversário do Nagib, quando apareceu o Calcu Futa CS 2012 eu já estava ao lado para auxiliar na abertura (risos). Foi para o aerador e tasquei um dedal para experimentar. Tive a certeza do bom oponente para ele: a segunda garrafa do Ferraton. Abri, respiraram ambos, resfriei e pimba! Nesse encontro o Klaus estava com sua esposa. Chamei-os, servi-lhes o Futa - gostaram - e depois o Ferraton. Foi quando seus olhos brilharam. Futa estava rico no nariz, com fruta, couro, chocolate, os taninos estavam bons, mas novamente rápido na boca. Tanino por tanino, o Ferraton também os tinha, e adivinhem quem fez a diferença: claro, a acidez... Ao fim e ao cabo, os chilenos competiram bem no nariz, mas no quadro geral levaram uma sova quando entravam na boca. Vai uma para causar polêmica: vinho para mim é na boca. Não adianta ser 1001 maravilhas no nariz e não se completar no paladar. 

   Nos preços, estamos assim:
   Gran Tarapacá aprox. 18 mil pesos.
   Ferraton: aprox. 18 mil pesos.
   Futa: aprox. 54 mil pesos (é 30% mais caro do que o Saint Cosme).
   Saint Cosme: aprox. 42 mil pesos.
   Fiz as contas e temos a tabela abaixo para conversão de valores:
   18 mil pesos = R$ 103,00 = USD 22,00
   43 mil pesos = R$ 250,00 = USD 52,00
  O Ferraton custa cerca de USD 15,00 na Europa, e o Saint Cosme custa cerca de USD 50,00. Então o primeiro estava um pouco mais caro no Chile, e o segundo o mesmo preço de lá. O leitor percebeu o ponto que sempre bato aqui: vinhos chilenos não conseguem competir com europeus de mesmo preço, ou mesmo de preços menores lá da Europa. Um vinho chileno a 54 mil pesos (USD 65,00) é sim um vinho premium... e no frigir dos ovos perdeu para um de USD 15,00... Notemos ainda que Futa recebeu 95 pontos do Guia Descorchados. Quando assevero que esse guia serve apenas e tão somente para conceder ótimas notas a vinhos chilenos (inicialmente) e argentinos e brasileiros também (atualmente), ouço estar sendo muito severo. O que posso responder? Então tá...

À luz dessa comparação, volto a perguntar: valeria a pena apostar qualquer valor em um ícone chileno, como o Don Melchor ou um Don Maximiamo de Errazuriz Founder's Reserve a USD 115,00? Recordemos: paguei cerca de USD 100,00 (pouco menos) por um Clos des Porrets... é tarefa inglória trocar o seguro pelo quase seguramente errado (sic! rs!). Sempre comento com os confrades, e repito aqui novamente: não compro mais vinho sul-americano, mas os bebo com o maior prazer, para acompanhar sua evolução. E... OK, trouxe algumas garrafas de lá, desta vez. Fiz uma vez, e tornarei a fazer, a comparação às cegas entre chilenos 'premium' e europeus diversos com o intento de exemplificar meu ponto de vista às confrarias das quais participo. E novamente: nada contra o vinho chileno em particular ou o sul-americano de maneira geral; eles apenas apresentam o que conseguem em função das condições climáticas de produção, estas sim um fator bastante limitante. Nada contra a não ser, claro, seu preço. Acho perigoso dizer isso: deveria mesmo é ficar calado, porque se as pessoas que consomem esses vinhos nesse preço tivessem alguma noção do que bebem, seguramente trocariam para os europeus. O consumo destes aumentaria, e seu preço também. E este pobre Enochato não conseguiria mais comprar suas garrafinhas no padrão habitual. Fique quieto, Enochato!

Os valores, para devido registro.





Sunday, July 23, 2023

Visita a alguns vinhos chilenos e uma grata surpresa

Introito

Agora nós estamos em guerra com a Eurásia.
O inimigo sempre foi a Eurásia.
A Lestásia é uma nação aliada.
1984, de George Orwell

   O Centro Acadêmico Livre de Ciências Sociais da UFSC, cujas dependências foram invadidas e depredadas, tendo suas paredes pintadas de branco e arruinando obras plásticas de valor inestimável, manifestou-se oficialmente sobre o ocorrido relatado na última postagem. Reproduzo dois trechos do manifesto, encontrado na íntegra aqui, e cuja leitura recomendo (é curto):

Reiteramos que a liberdade de expressão e a diversidade de ideias são valores inalienáveis no ambiente universitário... 
... 
No entanto, é importante destacar que não toleramos e não iremos dialogar com indivíduos ou grupos que propagam ideais fascistas ou qualquer forma de intolerância. (grifos meus)

 
 Exato! Não dialogar é sempre o melhor caminho! Afinal, para que valem anos e anos de estudo em uma universidade senão para manter todo o conhecimento guardado a doze chaves dentro da Sagrada Instituição, refinando-o e melhorando-o ad aeternum? O cidadão paga seus impostos, deles sai o sustento das Eméritas Universidades, e pronto! Por que o conhecimento deve retornar à sociedade, na forma de algum diálogo? Pura perda de tempo! Sou eu quem erra ao dialogar com todo e qualquer invasor destas bentas páginas onde, além de informações valiosíssimas sobre vinho, instruo o leitor sobre as sábias e imaculadas palavras de NAP! Ao lado, duas imagens da pocilga onde o MBL foi filmar as supostas instalações da USFC. Imaginem se um Magnífico Reitor permitiria tamanho descalabro nas dependências sob sua tutela. Jamais... Depois, exato novamente! Não dialogar com fascistas! Se a posição compromete indelevelmente a autocrítica, por outro lado quem está preocupado com ela?...

Registro também a brilhante cobertura jornalística realizada pelos principais meios de comunicação do país - o leitor seguramente acompanhou tudo pela televisão e outras plataformas, mas não custa assinalar, certo? É isso mesmo!, a UFSC monitorará novas ações dos invasores, afinal as filmagens não foram realizadas nas dependências da Régia Instituição, então a Reitoria não precisa preocupar-se com depredações anteriores dentro de suas portas, devendo apenas precaver-se contra atos futuros de inominável vandalismo. Em tempo: saiba-se que a depredação do patrimônio público é um ato que não causa prejuízo somente ao Estado, mas a toda a sociedade. Os crimes são passíveis de punição, de acordo com a Lei nº 2.848/40, artigo 163, que prevê detenção de seis meses a três anos e multa. Aqui. Anuncio estar coordenando junto aos leitores um lobby para indicar o veículo de comunicação e seu articulista ao Prêmio Nobel de Jornalismo pelo brilhantismo da cobertura. Como é mesmo o bordão deles? Folha: não dá pra ler. Ou algo assim. O leitor instruído entendeu bem... Por seu lado o MBL organizou-se rapidamente, em duas frentes. Cuidado com eles, pois estão prometendo pisar no pescoço de frangos...



Visitando alguns vinhos chilenos

O poder do mito só perde em força para uma nova forma de manipulação da mente humana desenvolvida e elevada ao estado de arte nos últimos setenta anos: o poder do marketing. A Concha y Toro demorou até bastante, mas finalmente engatou a ampliação de seu carro-chefe de vendas em uma gama de produtos diferentes. Diablo Black Cabernet Sauvignon 2021 e Diablo Dark Red 2021 são apresentados no sítio do produtor como envelhecidos por 6 meses, 6 semanas e 6 dias... Tirando o gosto chileno em servir vinhos na temperatura ambiente - dentro das casas há boa calefação, e não há preocupação em resfriá-los um pouco, dificultando seu melhor julgamento - Diablo CS até tem algum buquê mas passa pela boca de maneira similar a um bom e gostoso copo d'água: não deixa traço nem lembrança... uma lambança... tem um pouco da picância da Cabernet, mas só. Diablo Red chega para piorar tudo: sobra doce na boca, enjoativo, é difícil beber uma taça. E eu falando mal de Primitivos, chamando seus bebedores de bocas-tortas... a velha estória repete-se: o último nível de beatitude é o nirvana, o sétimo céu (o décimo, segundo Dante), mas na direção oposta nada é tão ruim que não possa piorar. Casillero del Diablo Reserva Red Blend 2020 é a versão reserva do clássico conhecido por aqui há mais de 30 anos. Segundo a internet é um corte Cabernet Sauvignon-Syrah. É  mais simples do que Diablo CS, igualmente ligeiro, sem acidez e desprovido de diferencial.

Ainda apareceu, em outro dia, o Diablo Deep Carmenere (não notei a safra), escoltado por outras duas garrafas do Diablo CS. A galera estava mesmo com tara por vinhos desse produtor. Não tinha o pimentão normalmente presente e agressivo dessa cepa, mas ele poderia estar escondido pela temperatura um tanto elevada corriqueiramente usada no serviço. Outros vinhos tentei servi-los em condições um pouco melhores, mas estes não estavam exatamente sob minha alçada. Ainda, nos restaurantes locais não é hábito servir-se vinhos resfriados - a menos de brancos, mas só faltava, não? - então nas visitas a eles o serviço ficou igualmente prejudicado. A pergunta que não quer calar fica assim: se localmente ainda não aprenderam a servir vinhos de maneira minimamente decente, querem convencer-me de estarem produzindo-o tão bem quanto querem nos fazer crer alguns avaliadores? Próximo!

Para fazer a postagem valer a pena, o próximo foi porreta! Sem contar a boa-nova repartida com os leitores: Yes, agora o Chile tem vinho! Uma loja importa a bebida de vários países, com foco na França. Encontrei lá - grata surpresa! - o Henri Gouges Nuits Saint Georges Premier Cru Clos des Porrets-st-Georges 2017. Nuits Saint Georges é uma denominação que conta com 41 vinhedos Premiers Crus e, até onde sei, um deles é Monopólio. Monopólios são raros na Borgonha. Após a Revolução Francesa houve o confisco de terras da Igreja e dos nobres, e elas foram vendidas na sequência. Isso fragmentou muitas áreas e apenas umas poucas foram arrematadas por um único comprador. Deve estar claro ao leitor: vinhos procedentes de monopólios são exclusividades cobiçadas pelos adoradores de Borgonhas. Ainda, a denominação de Nuits Saint Georges não tem Grand Crus. O fato explica-se pela decisão dos produtores locais, parcimoniosos, terem evitado inscrever seus vinhedos nessas denominações para evitar a incidência de impostos mais altos. E, para finalizar, Clos des Porrets-st-Georges é o vinhedo monopólio da vila... desse, bebido em comitezinho logo em minha chegada, recebeu serviço mais de acordo, aerando por cerca de uma hora e meia e depois resfriando; o resto foi felicidade engarrafada. Nariz rico, em camadas, com fruta claramente vermelha, algo na direção de couro e mais notas. Enche a boca, quer pela ótima acidez, pelos taninos ricos ou pela quantidade de frutas e notas que não consegui desvendar. A despeito dessa minha limitação, é bom o suficiente para simplesmente deixá-lo passeando em boca, engolir aos poucos e sentir sua permanência elegante. Até o retrogosto vem equilibrado. O Nagib não estava bem para bebê-lo (não lembro se bebeu um golinho), e a Magide não está acostumada a Borgonhas, mas disse tê-lo achado muito diferente. Vinho excessivamente bom é assim: você sabe estar provando algo singular. Arrebatei as duas últimas garrafa da loja - sobrou uma para trazer -, e, escrevendo a postagem, descubro o rótulo em solo brasileiro. Aqui o AoC Domaine Henri Gouges Nuits Saint Georges (não é Premier Cru) está à venda em 'promo' por mórbidos R$ 1.178,95, enquanto custa lá fora entre USD 70,00-80,00 (R$ 350,00-400,00). Já o Monopólio não está disponível por aqui, custando lá fora pouco mais de USD 100,00 - paguei um pouco mais no Chile. Até estando desatentos tubaronice ronda. Cuidado.



Thursday, July 20, 2023

Nagibin e o evento na Mercearia 3M

Introito

Agora nós estamos em guerra com a Lestásia.
O inimigo sempre foi a Lestásia.
Eurásia é uma nação aliada.
1984, de George Orwell

O vídeo abaixo dá mostras do conceito atualizado de Pax Romana para Nosso Amado Presidente (NAP). Como é comum e reconhecido em sua forma de liderar e na Democracia em geral, manda quem pode; obedece quem tem juízo. Assista e aprenda. Havendo dúvida, chamamos o Xandão (não o de Ribeirão!) para decidir monocraticamente quem está com a razão. 



O governo de NAP terminou a semana passada com uma minúscula mácula em seus mais de seis meses de liderança irreprovável. Um bando de aloprados - NAP já usou essa palavra! - deu uma lição de juízo no jovem da foto ao lado, o João Bettega, e sua turma. No João, limparam-lhe o rosto, escovaram-lhe os dentes e apararam-lhe a barba; o resultado está à esquerda, que aqui não se propala coisa de outra tendência. Rapá do MBL, teve a audácia de irromper em um Templo Sagrado do Saber - no caso as dependências da Universidade Federal de Santa Catarina - para, se entendi bem, sair pichando de branco a iluminada criação artística abundante nas paredes de um dos centros de convivência da excelsa Instituição. Disse o rapá terem roubado seu celular, fone de ouvido e algum outro bem durante a refrega. Ledo engano. Não foi roubo. Os itens foram feitos reféns até o sr. Bettega restaurar a nobreza das paredes agredidas e desculpar-se publicamente pelo ato de vandalismo perpetrado nas dependências do Centro pelas suas alvas pinceladas. A foto abaixo é prova cabal da ação; Bettega é o menor.

Na segunda-feira seguinte uma comissão do MBL dirigiu-se para o local. Ou assim dizem. Filmaram a entrada da Universidade, mas depois só podem ter-se dirigido para alguma pocilga e filmado de lá: instalações em situação deplorável foram mostradas como sendo as da UFSC. Inimaginável um Professor Doutor aceitar ser Magnânimo Reitor de tais instalações. Nenhum ser humano digno sujeitaria-se a tal papel, daí ser clara mentira o conteúdo de tais vídeos. Está aqui, veja por si mesmo e faça sua opinião independentemente deste articulista. Procuraram pelos supostos agressores do sr. Bettega, sem dar-se conta de que a revolução é algo móvel, vivo, itinerante, e portanto naquele momento os revolucionários levavam as boas novas a outras paragens. Dar lição de juízo a quem não merece, convenhamos, é reprovável. Deveriam ter deixado o rapá em sua ignorância, desconhecer sua ação e refazer as obras de arte destruídas. Isso foi, sem dúvida, a única mancha na administração de NAP. Foi por isso que votei '1' na última eleição. Sem confusão, foi 'l', e não '1'. Não pode haver dúvida, foi éle, de ladrão! Entendeu?

O níver do Nagibin

Certas obrigações são cumpridas com muita satisfação e felicidade. A combinação para o níver de 60 anos do Nagib começou em 2021, por conta de uma de suas vindas a S. Carlos. Já participara das comemorações de seus 50 anos, em alto estilo, num sofisticado Club de Santiago. Desta vez, nas dependências de sua mansão nos arredores da capital chilena, ele reuniu amigos de longa data e diversas fases de sua vida. O amigo mais antigo foi este Enochato, celebrando 40 anos de amizade senão continua - ele mudou-se para lá praticamente junto da popularização da Internet, e ficamos sem contato durante algum tempo - seguramente sólida, honesta e leal. Prova de seu caráter foram adesões entusiasmadas de amigos do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e de S. Paulo, além dos incontáveis amigos chilenos, pessoas que conheci em seu casamento, há 20 anos. Explica-se assim o silêncio da coluna nas últimas semanas. O leitor saberá desculpar-me.

Evento na Mercearia 3M

   No final de junho, a Mercearia 3M deu aula de como se promove um evento de ótima relação custo-benefício, unindo ótimo cardápio com vinhos de bom nível. Foram cinco rótulos, entradas, dois pratos de Paella e sobremesa, por algo como R$ 140,00. E degustação versou sobre produtos da Periquita, produzidos na Península de Setúbal. A casta Periquita é, na verdade, a Castelão.

O fato de ter anotado não apenas minhas impressões mas a de alguns presentes sobre alguns dos vinhos salvou a postagem; já passou-me certo tempo e sem as notas seria impossível comentá-los. Os dois principais rótulos foram servidos em primeiro, e um deles com a Paella - harmonizou parcialmente. O Periquita Clássico 2014 mostrou nariz à café e couro; segundo d. Neusa, anis, e para o Ghidelli, resina de eucalipto. A galera estava afiada... boca com madeira discreta, toque tostado, acidez baixa a média, um pouco ligeiro e final razoável; um pouco mais longo o livraria da mediocridade. Mediocridade de médio, entenda-se. Digo: tem muito vinho como esse no mercado, todos lutando nas prateleiras. O Periquita Superyor 2015 mostrou-se impenetrável ao nariz, e não foi apenas minha opinião. Bom, para mim estava mais fechado do que diretório municipal de partido comunista fora de época de eleição, mas pode ter sido meu nariz... de qualquer maneira exibiu melhor acidez, permanência e final, embora na boca ele expressasse poucas características como aquelas às quais estamos mais acostumados ao degustar um vinho mais pronto para o consumo. O Parque (sic) deu-lhe 95 pontos; se à primeira vista parece um exagero, ele está fechado a ponto de poder virar qualquer coisa - inclusive um vinho 95 pontos - daqui uns 10 anos. Mas 95? Não ponho a mão no fogo para tanto. O João Pires Rosé 2021 é do estilo (rosé) que não aprecio, e manteve minha opinião. Não combinou com a Paella, e isso apenas reforça minha impressão. O Quinta De Camarate branco doce 2022 combinou bem com a sobremesa (Creme Brulée), mas não guardei suas características. Achei sim superior aos colheitas tardias sul americanos, mas inferior a Sauternes simples comprados a menor valor em 'promos'. O Trevo, não guardei as características, e pularei.

Preços

   Chegamos no ponto onde o chão afunda de um instante para o outro. O importador da marca é a Interfood, e creio já ter presenciado tempos melhores da casa. Atualmente está assim: O Periquita Clássico é encontrado no Garrafeira Nacional a R$ 132,00, enquanto a loja Todovinho (até onde sei é o varejo eletrônico da importadora) vende a R$ 511,00. Dá 3.9x. O Periquita Superyor custa custa em Portugal R$ 220,00, e aqui sai a mórbidos R$ 820,00. Dá 3.7x. O Quinta De Camarate vale por 'lá' 9,25 Euros (R$ 50tinha) e aqui ele sai por R$ 165,00. Dá 3.3x. Uia, esse tá bom... só que não... Esses produtos estavam sensivelmente mais baratos na degustação - mas ainda na faixa de 3x para os tintos - o que também não representa uma oferta irresistível para disparar a compra por impulso. Nas lojas virtuais o curioso encontrará preços abaixo dos praticados pelo importador. Várias pessoas com quem conversei na saída do evento algo gostaram da experiência, mas não dos preços. O consumidor está ficando mais esperto? E é necessário ser muito enochato (rs) para comprar um vinho e guardá-lo por 10 anos. Particularmente, não estou mais na idade para isso. Já a moçada, estes querem vinho para botar no carro, chegar em casa com ele todo chacoalhado, abrir e beber. Ademais, cansei de presenciar produtores abrirem garrafas mais antigas nos eventos, para mostrar a qualidade do vinho em seu melhor momento, observando ser aquele o destino das safras mais novas - e menos prontas para o consumo. A Interfood poderia ter feito melhor...

Periquita Clássico





Periquita Superyor





Quinta De Camarate