Wednesday, May 31, 2023

Vinho e sopa

Introito: nosso Grande Guia recebe o estadista Maduro

Depois de viajar pelos quatro cantos do mundo sendo foi ovacionado e recebido com honras, arrebanhando apoios e traçando metas ambiciosas para futuros investimentos que em breve aportarão no país, nosso Amado Presidente recebeu alguém à sua altura, a despeito do desfavorecimento angular da foto oficial ao lado. O mandatário venezuelano Maduro visita nosso país por ocasião do encontro de cúpula dos líderes sul-americanos, relata-nos o primor de texto daqui; sugiro leitura atenta. Nosso Guia criticou a guerra de narrativas mundial contra o país vizinho e defendeu a democracia, a livre expressão do pensamento e o direito dos povos à autodeterminação, pilares básicos de qualquer sociedade e sobejamente reconhecidos por países como o próprio Brasil, Cuba, Venezuela, Coréia do Norte e Rússia. 

   Mesmo sem estar presente, o imperialismo norte-americano fez-se sentir pela convocação de seus lugares-tenentes Luis Laccaio Pow e Gabriel Embromic, representantes de potências estrangeiras subordinadas aos expansionistas do norte. Eles não deixaram por menos e perpetraram suas mentiras grosseiras (o conteúdo é da AFP Português e reproduzido aqui para evitar perda do vínculo original) e habituais:


   Esse Gabriel elegeu-se presidente no Chile com pautas de esquerda para então detratar todas elas, voltando-se quase imediatamente para dialogar com os princípios escolásticos da direita. Não surpreende sua posição submissa, inclusive quando mente sobre a situação econômica da República Bolivariana. Vejamos o crescimento dessa economia acompanhando o gráfico abaixo.


   Sim, houve uma ligeira queda no PIB per capta do gigante precisamente nos anos da crise mundial de 2008. Mas essa crise foi global! E sua recuperação, podemos ver, foi em "V", "V" de viado. E, para acabar de vez com falácia de a Venezuela estar no fundo do abismo, desmascaramos aqui e agora a mentira final, segundo a qual 7 milhões de cidadãos teriam deixado o país nos últimos anos: não vi nenhum venezuelano por aí pedindo esmolas em farol. Você viu?! Pois é... Assim encerramos a reflexão, sem nunca faltar ao respeito e apoiado na verdade dos fatos.

Vinho e caldo

O Bistrô Graxaim comandou uma harmonização de caldos e vinhos ao som de Jazz - Gastrojazz!  Resumidamente: 
∙ Caldo de pinhão com Puxuri (especiaria amazônica). Harmoniza vinho Censurado branco 2019. Vinho Regional Alentejano (Portugal) com 13% de álcool.
∙ Caldo de mandioquinha com queijo brie. Harmoniza vinho Durigutti viognier 2020. Vinho branco de Mendoza (Argentina) com 13,5% de álcool.
∙ Caldo da casa. A base de mandioca e abóbora, com carne bovina, linguiça e bacon. Harmoniza vinho Faustino VII Garnacha 2021. Vinho tinto espanhol com 14,5% de álcool.

   Como já comentado, harmonização é um assunto complexo. Sequer entendo de vinho, quem serei para falar da complementação do vinho com a comida... mas sei avaliar quando harmoniza! E, decididamente, as últimas 'harmonizações' das quais participei funcionaram muito pouco... ou nada. Fui predisposto a experimentar somente o caldo da casa e curtir o desconhecido Faustino VII Garnacha, do qual reservara uma garrafa para degustar durante o evento. Gosto muito dos vinhos das Bodegas Faustino, e estava curioso por esse novo representante do produtor; no final acabei consumindo todos os caldos sem acompanhar as harmonizações dos brancos.
   O primeiro prato foi servido mas o vinho chegou apenas muitos minutos depois. Nesse meio tempo, solitário em meus esforços, tentei de todas as maneiras provar uma tacinha de vinho com a boca já acomodando o caldo. Na verdade não tentei todas... apenas não consegui um canudinho por última alternativa. Fico devendo comentário sobre essa possibilidade... Perguntei para o pessoal da mesa (Salete, Débora, Miriam e Eustáquio) sobre a harmonização, e ninguém propôs-se a defender as cores do Bistrô. Nem tu, Salete? No segundo prato a demora para o serviço de vinho foi menor, mas o entusiasmo não cresceu. Do terceiro, posso falar pessoalmente: mesmo engolindo a parte líquida do caldo e segurando um pouco de carne ou linguiça na boca, a combinação não divergiu mas ficou longe da tal da estória onde a combinação do todo fica acima da soma das partes. Faustino exibiu notas de frutas bem alegres - alegres demais para a austeridade do Reserva (embora este seja Tempranillo/Graciano, não Garnacha) - paladar um pouco adocicado, como se concebido para agradar bocas mais tortas, acidez discreta (mesmo propósito... ora, a casa pode mais do que isso...) e final um pouco ligeiro. Faustino Gran Reserva, eu gosto. Esse Garnacha não é meu vinho.

   Um pouco despontado com o resultado, vim procurar alguma matéria sobre caldos e vinhos. Olha, para surpresa deste escriba, existem sim (risos), e temos um exemplo aqui. O mais interessante nesse artigo é a página da própria Wine Folly acerca de harmonização. Quem pretende se enveredar por essa seara de rimar vinho e comida deveria ler, pensar, decorar e aprender. Talvez aí tenhamos alternativas mais atraentes e comentários menos desabonadores. Estou disponível, e querendo! Mas a oposição precisa ajudar um pouco...

Monday, May 29, 2023

Evento da Mercearia 3M - parte III: teste de campo

Introito: encerramento do encontro


A Salete lembrou-se de registrar parte da turma que circulou pelo evento. Dentre uma galerinha que volta e meia encontra-se ou na Mercearia ou no Shot, estavam este Enochato, a Aninha, a Thais mais atrás, a Tatiana, a Salete ao meio com o Eduardo da Caminhos do Turismo e a Ana. Um pouco mais atrás, tímido, rapá que só viria a conhecer em degustação no meio da semana seguinte, o Moisés. Salete enviara a foto em tempo do fechamento da última postagem, mas na pressa para postar e sair correndo (rs) para outra degustação em pleno domingo - aguardem, tem mais besteira vindo por aí - acabei deixando passar. Fica o registro de uma galera que tornou a noite muito agradável...

Teste de campo do Calcu Gran Reserva Branco

Paulão liga convocando para comemoração da formatura do Vinícius, cuja colação de grau vem aí. Na foto, Vini à minha frente, junto de Paulão e Dona Claudia; ao meu lado a Jéssica e o Francisco, filho mais novo do casal. A provocação - comida japonesa - não poderia ser melhor: no ato lembrei-me do Calcu branco. Encontrei a família reunida degustando um Vinha da Defesa Branco 2018, já comentado aqui. Sem surpresas: mostrou seus toques cítricos, acidez presente, boa persistência e final. Costumo comer mais sashimis e nighiris, (salmão e atum), deixando variações mais condimentadas de lado. Harmonizar cozinha japonesa é difícil; se começar a inventar com mais temperos e variações, nada funciona... Defesa não fez feio; se não foi uma harmonização com "H", não nadou contra a corrente. Servi Calcu Gran Reserva 2020 e logo ouvi dois suspiros enquanto Paulão olhou-me feio e disparou: O canalha recomenda vinhos e depois traz essas coisas diferentes para acabar com o que comprei! 😔 O mundo não é perfeito... 🤣. Enquanto Calcu também repetiu as notas já descritas aqui, para os novos provadores foi uma descoberta feliz; a mesa toda preferiu o chileno ao português. Sim, ele está mais fresco - é 2020! - contra um vinho algo envelhecido e tem a seu favor a madeira cuidadosamente harmonizada. Sua maior acidez e frescor de fato aderiram com mais graça aos peixes, conquistando os convivas. Tecnicamente, reputo Calcu como melhor. Não harmonizou (com "H") tampouco, mas apresentou-se melhor. Agora vejamos os valores.

   Calcu custa no Chile entre 6 e 10 'Luca' (1 Luca = 1000 Pesos Chilenos), o que dá entre USD 7,50 e USD 12,50 (R$ 38,00 e R$ 62,00), na safra 2021. Defesa tem um valor de marcado mais constante nas lojas de Portugal, cerca de 6,70 a 7,20 Euros (R$ 35,50 a R$ 38,600). Olhando o preço inferior de Calcu no Chile, não é injusto classificá-los na mesma faixa de preço para o consumidor, em seus respectivos países. No evento da Mercearia - se não estou enganado - custava R$ 90,00, mas encontrei Calcu na internet por R$ 80,00. Tomando por base o menor preço do Chile dá cerca de 2x para os R$ 80,00 do Laticínio Marcelo. Se custar muito mais, está caindo na tubaronice... Defesa, conforme já comentado, é um bom vinho na faixa do R$ 60,00 - dá menos de 2x! - e mencionei não valer os R$ 95,00 regulares cobrados amiúde por aí (2.7x...). Vemos agora um chileno batendo um português - e um português tradicional - em preço e qualidade. Os importadores que se emendem. Não tenho o menor constrangimento em reformar opiniões antigas e mudar de vinho. 

Calcu, no Brasil


Calcu, no Chile



Defesa, no Brasil

Defesa, em Portgal




Wednesday, May 24, 2023

De tradições milenares ou Evento da Mercearia 3M - parte II

Introito

“Those who cannot remember the past 
are condemned to repeat it.” 
George Santayana, The Life of Reason, 1905

Jester, conhecido como bobo da corte, é uma figura recorrente na História. Conta-nos a Britannica sobre seu surgimento entre os faraós da Quinta Dinastia Egípcia (aproximadamente 2500 a 2350 AC), tornando-se comum nas sociedades ocidentais a partir do século XII, onde gozava do privilégio de ser o único cidadão com permissão para escarnecer até mesmo o Rei. Não temos mais reis e o bobo, arrisco, desembocou no comediante de nossos dias, com a diferença deste eventualmente perder sua imunidade e passar a ser perseguido em algumas  federações decadentes muitas vezes sob a égide da própria Justiça. A ninguém é vedado descumprir a lei, como a ninguém era vedado calar o bobo, e reinados não eram exatamente ambientes democráticos. Estamos perdendo para regimes absolutistas? Eles deveriam ter desaparecido na Idade Moderna... Se enfrentamos dificuldades em lidar com comediantes, é porque algo está mal em nossa sociedade. Estes dias os mecanismos de buscas retiraram o livro do Adolfo de seus resultados. Não podemos romantizar o assunto sério, não estamos mais em época de Gentlemen Prefer Blondes (1953) ou The Shrinking Man (1957); amanhã alguém vai repetir dos judeus todas as mentiras infames já dirigidas a eles, e caso consiga levantar-se em movimento aparentemente inédito, não adiantará os semitas tentarem esconder-se em um cinzeiro, pois serão encontrados. Está aí o exemplo de porque não podemos nos esquecer do passado. Pretender apagá-lo é um erro; censurar ideias, uma tolice. Se e quando piadas passarem do ponto, somente uma sociedade esclarecida - o único suporte real para uma democracia de verdade - saberá diferenciar entre comédia e apologia, e tomar a decisão correta de como proceder. Títeres de ditadores fazendo as vezes de censores, prefiro-os nas valas do Oitavo Círculo. 

   Outra tradição milenar é a do vinho laranja: acredita-se ter aparecido há 6000 anos, na atual Geórgia. Sua produção atravessou os séculos com altos e baixos, e teve em Josko Gravner seu ressurgimento no mais alto estilo. Enterrando seus Kvevri, vasos de barro semelhantes a ânforas com dois metros de altura, para garantir a fermentação com algum controle de temperatura, Gravner trouxe para o ocidente a técnica dos georgianos: prensar as uvas, despejar o suco, cascas, caules e sementes no Kvevri, selá-lo e enterrá-lo por seis meses ou mais, quando o vinho era passado para barris de carvalho. Após o envelhecimento, Gravner os engarrafava sem filtração. Experimentei dois vinhos dele, um comentado aqui, e outro, creio, aqui, por Don Flavitxo.

Evento da Mercearia 3M - parte II


Dos vinhos da Vale de Lobos, produzidos pela Quinta da Ribeirinha, comentarei alguns: O Vale de Lobos Reserva Branco é um corte de cepas portuguesa e outras estrangeiras: Sauvignon Blanc, Verdelho, Chardonnay e Gewurztraminer, nariz bem cítrico e boa complexidade, boca com muito frescor tocado a acidez média e final algo ligeiro, mas agradável. O Vale de Lobos Syrah Reserva teve dificuldade em esconder a cepa, mais pela cor do vinho, daquele escuro profundo. Aportou especiaria bem clara, boa fruta e boca marcada, como esperado de um Syrah, e deixou boa impressão. A linha Contracena apresentou-nos um vinho laranja produzido a partir da cepa branca Fernão Pires, conhecida na Bairrada como... Maria Gomes... Mas afinal, Fernão ou Maria? Tá, em alguns momentos, Fernão; em outros, Maria. Já ouvi essa conversa n'algum lugar... Bem, a primeira cafungada pareceu algo a querosene. Note: 'algo a'. É como a Riesling na Alsácia: se notar, lembra óleo Singer. Não qualquer óleo: Singer! Mas o Cristian, da Calcu, degustando conosco, definiu bem melhor: medicinal. Boca com boa acidez, potencializando o sabor a despeito dos 11,5% de álcool (dá para ver no rótulo!), mostrou bom final e retrogosto. Não gostei muito - estou mais acostumado aos exemplares italianos...


A mesa da Viu Manent estava bem servida, mas o escriba já havia bebido lá seus goles. Fui direto no Secreto Carménère. Digo e repito: experimento de tudo, até minhas cepas mais detestadas. O Antiyal é um ótimo Carménère, mas não vale USD 100,00. Por USD 30,00, eu compraria. Mas o assunto é o Secreto... não dá... o pimentão também está lá, com toda a graça para os fãs e completo desespero dos críticos... o conhecimento da acidez cai como a maldição do leitura para os mais letrados; Secreto a tem pouca, e apesar do tanino bem presente ele simplesmente fica um tanto sem graça.  Gostaria de ter experimentado os demais, mas já estava um tanto cheio...


Como proposta de observar vinhos mais em conta, encostei na bancada da mendocina Zapa, para experimentar seus vinhos 'Estate', na faixa de R$ 55,00. Zapa Estate Malbec e Zapa Estate Bonarda não diferiram muito: boa fruta no nariz, mas ligeiros e simples na boca. Leitor, tenha piedade deste Enochato por não guardar as notas de tantos vinhos. Mesmo anotando-as, também não estaria mais tão bem àquela hora, ainda mais para classificar bebidas com pouco diferencial. Mas lembrei-me de algum português de R$ 50,00 ofertado pelo Paulão durante o ano passado, compra em supermercado. Modesto? Sim. Simples? Sim. Mas com pelo menos uma pontinha de acidez e mais elegante, fazendo a alegria de quem já desentortou a boca. 

Haveria mais para comentar, mas o bom entendedor seguramente já entendeu a premissa desta postagem: uma passagem rápida por algo que pudesse ser mais interessante, dentro da perspectiva deste provador inveterado. Missão cumprida, vamos para a próxima.

Monday, May 22, 2023

Evento da Mercearia 3M - parte I

Introito

Num país desinformado, 
os canalhas mostram-se prestativos.
Dito d'Oenochato

   As últimas considerações acerca do PL da Mentira gerou um e outro comentário de amigos via uátizáppi; o ponto comum versava sobre a dificuldade do cidadão comum acompanhar o trâmite das leis em discussão no país. Sim, é muito pouco acessível e complicado. Uma vez apresentada, a lei pode sofrer emendas (e, não tenho certeza, alterações mais profundas - tais questões são complexas. Sei que emendas e outras alterações não podem mudar o espírito da lei. Por exemplo, a lei Roubar não é permitido não pode virar Roubar é permitido - embora essa frase pareça ser o mantra de alguns políticos muito conhecidos de todos nós). As reflexões seguiram a direção de como saber o leitor estar acompanhando a última versão do texto. Seguramente deve existir uma forma, mas não a vemos estampada por aí aos quatro ventos, por iniciativa de qualquer partido, do governo ou mesmo do Legislativo, a quem, supostamente, deveria interessar a participação popular no destino do país. Quanto ao Judiciário - eram do TRE aquelas propagandas incentivando o brasileiro a votar, evidenciando a importância do sufrágio? Pois é, na ora de encorajar o eleitor a acompanhar a tramitação das leis cuja aplicação ficará sob seu encargo, 'nada' também: o Judiciário cala-se, não orienta. Depois pretende tomar para si a tarefa de legislar, e acredita poder escapar do repúdio da população.
   Uma abordagem deixou margem para a questão: como podemos nós, indivíduos comuns, tomar partido em qualquer lei tramitando no Congresso? Problema difícil, para a qual arriscarei uma solução simplista: veja quem propõe (menos importante), quem está contra (importante) e quem está a favor (importantíssimo). Acreditando os bandidos (sic) estarem a favor, sua posição - sendo cidadão de bem - está automaticamente definida. A menos, claro, de você estar ganhando algum com tal aprovação, e não devo mais designá-lo cidadão de bem. Formar a própria opinião - mesmo não sendo a melhor, ou sendo até um tanto equivocada, mas sendo sua, e sabendo discuti-la com quem sabidamente não esteja claramente tomando partido de um dos lados  - é de suma importância, principalmente em um país desinformado onde os canalhas mostram-se prestativos e prontos para indicar-lhe a boa maneira de votar ou posicionar-se. Faça a diferença: tome partido por si.


Evento da Mercearia 3M

   A Mercearia 3M promoveu uma feira de vinhos de sua importação, com a presença de alguns produtores ou seus representantes. Dentre os mas conhecidos - para mim - estavam as chilenas Ravanal, Perez Cruz e Viu Manent. Defendendo as cores de Portugal, a Vale de Lobos. Com a promessa de 50 rótulos à disposição do degustador, sabia de antemão ser necessário concentrar-me em uma gama restrita. No caso dos chilenos, a proposta sempre tem sido avaliar o estágio da arte de seus produtores e observar se e quanto evoluíram desde minha desistência em comprar vinhos do país andino. Cheguei um pouquinho cedo - fui o primeiro! - e passei fotografando todas as mesas antes de instalar-se o movimento. 

Notei um jovem expositor a falar espanhol; olhei os rótulos - Calcu - do Vale do Colchagua e desconhecidos para mim, com quem puxei conversa. O senhor Cristian Olate contou-me do início da vinícola, com o plantio das vinhas em 2003 e o lançamento dos primeiros exemplares muitos anos depois, enfatizando a evolução dos vinhos nesse curto espaço de tempo. Ofereceu-me seu Calcu Branco Gran Reserva (2020?), corte Sauvignon Blanc-Semillón com nariz cítrico e mais complexidade que não distingui por pura incompetência - mas está lá. O cítrico repete-se na boca com ótima acidez, surpreendente até, de tão marcada, alguma mineralidade e bom frescor acompanhados de final harmônico e muito agradável. Fiquei muito surpreso e para minha admiração tanto as pessoas para quem comentei sobre ele tiveram a mesma impressão de um vinho muito bom quanto outras ao longo do evento vieram conversar e apontaram Calcu Branco Gran Reserva como o melhor vinho da mostra. Se o leitor não acredita mas acompanha postagens do blog, sabe das reclamações quanto aos vinhos chilenos versus seu preço de mercado. Calcu Branco vale quanto pesa e pelos cerca de R$ 90,00 é boa compra. Prova maior está no fato deste escriba ter adquirido duas garrafas ao final do evento, rompendo uma recusa em comprar vinhos chilenos já a durar mais de uma década. Fica posto então o mantra deste articulista sobre honestidade intelectual e disposição em reformar a opinião quando confrontado com as evidências. Não sei quanto ele custa no Chile - vou procurar, até para mostrá-lo aos amigos de lá - mas seguramente ele não raspará no absurdo de um Sol de Sol, certa vez comparado às cegas lá no Chile com um Jadot AoC da Borgonha e ficando em segundo lugar. Detalhe: o melhor Chardonnay chileno, como é vendido na El Mundo del Vinho perdendo para um reles AoC borgonhês cujo preço em seu país de origem era a metade do sul-americano. E comprei ambos ao mesmo custo - 18 mil pesos - com o chileno em promoção(!) e o segundo a valor regular. Voltemos aos Calcu: o Rosé Gran Reserva (Malbec-Petit Verdot?) não convenceu, mas, como adiantara ao Cristian, sou um emérito detrator de rosés (risos!). Nos tintos, dois Reservas Especiais, um de Malbec e um corte - segundo a Internet, 60% Cabernet Sauvignon, 30% Carménère e 10% Malbec. Em ambos, boa fruta, especiaria sem o impacto do pimentão característico da região, madeira discreta e álcool contido. Faltou para ambos a generosa acidez presente no branco, tornando-os um pouco ligeiros no final e portanto sem maior diferencial se comparado aos demais chilenos.


Fui para os Ravanal - nunca esqueci-me da recepção maravilhosa proporcionada pela Pia Ravanal na vinícola, há muitos e muitos anos - e escolhi em primeiro o Cabernet Sauvignon Gran Reserva 2020. O indefectível pimentão está lá, como estava na safra 2016. Explicou-me ela em 2021, quando provamos dele, ser essa uma característica específica do Colchagua. Com o Carmenère ao lado, provei dele logo em seguida. Sim, está lá no Ravanal Carmenère Gran Reserva o mesmo pimentão! Ambos com boa entrada na boca, taninos bem presentes, pecando pela baixa acidez. Final um pouco ligeiro, para quem já aprendeu o verdadeiro significado de um final longo, são vinhos para fazer sim a alegria dos adeptos... apenas o meu gosto mudou, está para o outro lado do Atlântico onde a acidez deixa sua marca indelével na língua e na memória do bebedor. A vinícola estava muito bem representada com 12 rótulos se contei corretamente, mas centrei-me na linha Gran Reserva; havia muita coisa pela frente, ainda. Com tantas opções e pela minha disposição em participar mais pela diversão e reencontro com diversos colegas e amigos, deixei passar em muitos casos as safras (veja os rótulos da Calcu, não as trazem na parte frontal, e isso repetiu-se em vários outros casos) e sem tomar notas mais precisas sobre muito do que foi degustado. O importante, creio, é a impressão geral da feira, a ser complementada na próxima postagem. Obrigado pela leitura e paciência...

Sunday, May 7, 2023

Ah... Rhône...

Introito - ainda o PL 2630, na presença do Palhacinho da Justiça

   O Palhacinho da Justiça voltou! Para os novos leitores, é a alcunha do nosso detrator-mor, antítese de Paladino da Justiça, algumas vezes presente nos comentários do blog com um festival de incongruências e acreditando na repetição da desinformação como tática para fazer-se confiável. Não! Repetição funciona bem em certos tipos de piada, como o bordão: o humorista a dado momento repete-o, provocando riso na plateia já a aguardar pelo termo ou frase conhecida de antemão. A tese onde uma mentira repetida mil vez torna-se verdade pode funcionar em muitos lugares, mas não aqui! Neste espaço a mentira é repelida com a verdade assim como as trevas nada podem fazer contra a luz, e sua repetição passa a ser ignorada a dado ponto. Por isso não publiquei a última mensagem do infeliz; além de repetir-se, adentrou a parte política da postagem - sabidamente não debato essa parte - e não satisfeito falou mal do evento enoetílico II reportado ontem... do qual não participou.... 😣 Duvido conhecer os vinhos degustados; creio ser sua conversa mole apenas a manifesta frustação com a Chez France, por ela ainda não ter cruzado por inteiro a via da tubaronice desenfreada. Mais: acusou-me de não ter lido a PL (teria ele lido? quantos brasileiros leram? Ademais, declarei não ler mas acompanhar o assunto conforme fonte citada, então não posso ser dito desinformado, algo corriqueiro para a maior parte da população). Esse tipo de caboclo passa o tempo defendendo margens de 3x (ou maiores) para a importação do vinho. O argumento deste Enochato acerca dos produtos da Apple, cujos valores aqui normalmente alcançarem 2x do visto nos EUA e invariavelmente provocarem reclamações firmes dos articulistas de tais comparações nunca é respondido. Pode responder, viu?! E olha: os Applephones custam só o dobro. Imaginem se fosse 3x, o patamar inferior de grande parte das tubaronas, como seriam as reclamações...
   Voltando ao PL: dá para levar a sério um governo cuja pretensão é criar um mecanismo estatal para julgar se postagens são ou não boatos? De boas intenções o inferno está cheio seria apenas um inocente clichê se a ideia original não viesse de tais autores e tivesse como indicados iniciais para assumir essa função aqueles dos quais ouvimos falar! Não é nem um pouco bom sugerir a remoção a priori de qualquer conteúdo. Mesmo conteúdos de ódio, racistas, fascistas ou similares. Volto ao ponto: vamos todos nós nos identificarmos. Quem não deve, não teme. A tecnologia está aí, precisamos usá-la! Temos o e-título, além de outros documentos digitais. O caboclo publicou texto ferindo as liberdades já conquistadas pela sociedade esclarecida? Via denúncias dos usuários, a plataforma simplesmente aciona o ministério público! É um botão... Ora, os usos e costumes transformam-se, portanto novas formas de policiamento - digno e honesto! - devem ser implementadas! Essa é uma discussão da qual nada ouço por aí. Outra obrigação das Big Techs seria sim manter uma memória das postagens, mesmo as apagadas pelo autor, com obrigação de sincronia em relógios atômicos - parece algo do outro mundo, mas é corriqueiro. Sabe aquele ditado, escreveu, não leu.... é por aí... Como está, o PL é mais uma tunga para cima dos brasileiros. Não surpreende um detrator vir perguntar se eu li a projeto de lei quando assumi não ter lido. É muita má fé: as propostas do governo foram amplamente divulgadas! Ora, a comunidade dos artistas mobilizou-se com ênfase em torno dela, como não ficar sabendo? Bastou-me ouvir o contraditório (risos!) e fontes supostamente isentas (BBC, não confunda com estercos à la CBN ou CNN, nessa sopa de letrinhas perversa) e tirei minha opinião. Apresente-se o brasileiro melhor abalizado.

Ah... o Rhône...

   Gostaria de beber mais vinhos do Rhône. Eles são um tanto caros per se... tá, os villages simples não, mas o Hermitages ardem os olhos, queimam a mão, atentam contra o bolso... no evento enoetílico alguém comentou ter comprado um Viognier, creio mesmo de produtor regional. Sem ponta de malícia, sugeri comparar com um Condrieu, vinho da região homônica no norte do Rhône, onde essa cepa realmente mostra-nos toda sua complexidade e elegância. Mas nas mão das tubaronas, exemplares apenas um pouco mais sofisticados atingem R$ 1.000lão, uma verdadeira paulada no meio da perna pegando bem naquele ponto sensível do joelho, o menisco. É uma semana sem andar... Crozes-Hermitage produz em maior quantidade tem preços mais palatáveis. É o que dá para comprar, eventualmente. Também tem a região sul do Rhône, notadamente Châteauneuf-du-Pape (CdP), onde a qualidade - e preços - varia bastante. CdP's bem simples podem custar USD 10,00. Mas encontramos bons exemplares a USD 50,00, ótimos a USD 80,00, excelentes a USD 120,00 e depois disso alguns ícones podem custar USD 600tão - ou mais.

Ontem pela manhã um capiau bateu na porta e tão logo atendi ele levantou o braço mostrando o embrulho e comunicando a entrega da minha picanha conforme prometido pelo Grande Guia. Abençoado seja! Ara, você não vai acreditar nessa, vai?! Digo, no abençoado. Traquina, isso sim. A entrega foi verdadeira. Você recebeu? Não? Reclame! Bem, parti um naco para hoje e congelei o restante em bifes para a semana, já aguardando nova entrega na sexta. Se não vier, boca no trombone! Assim havia decidido para este domingo mamar um Crozes-Hermitage com o pedacinho de picanha tão diligentemente guardado de ontem. Domaine des Remizières 2017 já apareceu por aqui, continua bom e rico em frutas e mais notas ao estilo couro/chocolate. Nariz ainda com um pouco de especiaria desta vez, bons taninos e acidez média a mais marcada, ótima para um bifão com bastante gordura: o gole de vinho junto da carne deixa a boca pronta para o próximo pedaço. Não foi uma grande harmonização, mas foi básica: o vinho ornou e cumpriu seu papel. Bebido em modalidade solo, revirando o vinho na boca, aparece um leve dulçor, uma sensação de veludo e um final agradável. Não é longo se você já bebeu um Hermitage ou algum outro grande vinho, mas se comparar taça a taça com muito sul-americano é infinito (sic). Já comentei, vai novamente: o norte do Rhône (Hermitage, Crozes-Hermitage e outras) é a casa da Syrah. Lá, ela pode ser misturada a outras Syrahs de diferentes climats - entenda como 'vinhedos' - e sutis diferenças entre os climats produzem vinhos ainda mais ricos quando comparados às suas expressões monovarietais. Como diriam, um must...

Preços

A Moira-Confrade Dayane - ou teria sido a Renata? - liga-me de Araraquara e reporta o vinho a preço realmente vexatório.
- Pega tudo! - respondi quase gritando ao phone. Fiquei com o estoque completo, mas apenas 4 garrafas. Creio ter pago 1x com relação ao preço lá. Milagres acontecem, e nem era dia de Natal... Sobrou um pouco para amanhã; se alguém estiver por perto, ligue-me e venha experimentar.

Nota de falecimento

A Moira Luciana comunicou o falecimento de seu pai no dia de hoje, às portas dos 90. Amigos queridos, conhecidos próximos, parentes, todos eles vão-se muito cedo, não importa a idade. Como escrevi certa vez, levam consigo um pedaço de nossos corações, e devolvem aos poucos depois, na forma de sonhos. Assim será com a Lu. Deixo meu pesar e a alegria antecipada por esses momentos de recordações e êxtase.

Saturday, May 6, 2023

Um evento enoetílico (II)

Introito - o PL 2630 e nossos pequenos títeres

   Completamente atarefado na última quinzena, acompanhei passivamente a tramitação do PL 2630 ou PL das Fake News, cuja proposta pretende instituir a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet. Não li o projeto, mas ouvi muitos comentários acerca de seus pontos polêmicos. A BBC tratou bem disso; procure outras matérias no sítio deles. Acho sim que as Big Techs precisam ser envolvidas nesse processo. E, se for o caso, vejamos a chance do Governo Brasileiro abrir processo contra elas em seus países de origem e, eventualmente, trancar seu acesso em nosso território. Os usuários interessados usarão VPN? Claro. Mas quero ver a batida no bolso delas, quanto à questão de negócios envolvendo suas operações por aqui. Brasileiros prejudicados? Infelizmente sim. Mas a luta pela soberania é inegociável. Após todo esse preâmbulo, venho perguntar: onde estava o dispositivo legal tratando da clara e manifesta política de suspensão e banimento de membros por essas plataformas? Não vi! Eles chegam aqui, oferecem seus serviços - mesmo gratuitos - e de uma hora para outra podem suspender contas devido à violação de regras não esclarecidas aos utilizadores. Abjuro a tais possibilidades, elas mesmas contrárias ao espírito livre da internet. Seja livre, anárquica até, mas não anônima. Vamos colocar o nome e RG (ou Seguro Social nos EUA, e equivalentes mundo afora)? Ora, como é mesmo o ditado: quem não deve, não teme. Este blog tem o nome e a foto do articulista. O RG (ou CPF) estará à disposição tão logo as autoridades requisitem.
   O maior problema da PL seria, sem dúvida, colocar poderes excessivos nas mãos de tiranetes e seus títeres, e estes existem em todos os níveis da nossa sociedade. Pode ser o professorzinho pelego-comunista a envergonhar diariamente a esquerda de verdade (e que abraço) em suas manifestações délavé e dépassé - onde está a Escola sem Partido? - ou u Ministro Superior (ficou com cara de Igreja) passeando por verdes gramados achando-se o Criador, passando pelo professor-patrulheiro universitário e pelo proprietário-pequeno-burguês de grupos de Uatizáppi: não explicitam regras, adorando criá-las quando lhes convém e esbaldando suas veias despóticas a alimentar desejos animalescos em tornar-se autênticos verdugos sempre apoiados por tal PL. Segundo o deputado Kim Kataguiri, a reação no Congresso em seus bastidores indicava mais de 300 votos contrários. Resultado: adiamento da votação. Seus propositores precisam de vergonha na cara. Tivessem-na, não haveria tanta rejeição entre seus pares.

Um evento enoetílico (II)

   Aos moldes do evento enoetílico I, daquela vez com produtos da linha 'Vin' - não-Vin-hos do Galvão Bueno -, novamente juntaram-se o Edu, da Caminhos do Turismo e o Sommelier Conectado Eustáquio Fragale, desta vez no Bistrô Graxaim, para promover um jantar harmonizado com vinhos franceses. Alguém falou franceses? 🙋 Vamulá... o cardápio proposto era entrada com Souflè au Poitron (abóbora) escoltado pelo Jaffelin Chardonnay (Borgonha); prato principal com Carnard (pato) a la Cordon Bleu casando com o Chateau Barrail Meyney (Bordeaux), e por sobremesa um Crème Brullè à la Gustavo (chef do bistrô). Sisquecendo de experiências anteriores, de boa fé e no maior entusiasmo, cheguei pontualmente e a tempo de ouvir a preleção acerca dos novos roteiros turísticos do Eduardo. A produção regional de vinhos foi abordada em função das vagas para a próxima excursão, e o Sommelier Conectado Eustáquio comentou sobre esses vinhos: bons, mas caros. Um dos motivos suplementares para justificar o alto custo, sugeriu ele, seria a necessidade da dupla poda, cuja utilização permite a colheita das uvas em nosso inverno e é a única maneira a permitir a produção de vinhos em latitudes tão 'altas' como se vem fazendo no brazio. 
   Aqui temos um ponto de discordância: nossa mão de obra é muito barata quando comparada com a europeia. Será possível estarem chamando o Roberto Carlos (cantor, não o futebolista) para fazer as podas nas vinícolas? Sabemos não ser esse o problema, o custo da segunda poda. A questão é faltar vergonha na cara; onde já se viu cobrar 200 moedas (e facilmente mais) por uma garrafa onde vem escrito 'Vinho' mas cujo conteúdo guarda apenas uma pálida semelhança com a bebida de mesmo nome produzida pelos 'Quatro Grandes' da Europa, além de Estados Unidos e Austrália, sisquecendo Uruguai, Chile, Argentina, África do Sul, Nova Zelândia, Peru, Hungria, Romênia, Líbano, Macedônia, Croácia, República Tcheca e mais uns 50 países? Ah, está certo... cobra-se tanto porque nosso vinho é... é... é... único! Em nenhum outro lugar encontra-se tal porcaria! Produtos - vinhos não! - sem acidez, um dos pilares e principal componente da estrutura dessa bebida, responsável pela reconhecida longevidade dos bons exemplares. Aí entendi... só não pago pelo acinte.

A entrada de suflê de abóbora e vinho branco (Jaffelin Chardonnay 2021) misturou um bom prato e um vinho médio sem alcançar conciliação. Sobre suflê de abóbora, já o havia experimentado do mesmo Gustavo aqui, onde a harmonização de três suflês com seis vinhos também não foi atingida em qualquer combinação. Suflê é tido como um dos pratos de mais difícil liga com vinhos. Algumas pessoas com quem conversei concordaram com a opinião de não ter havido harmonização, então fica o comentário: para que insistir com algo tão difícil quando temos centenas - milhares? - de outras possibilidades para explorar? Quem convocamos para apresentar-se e levar uns cascudos (risos!), o chef, pela insistência, o promoter Edu pela repetição (esteve no evento dos 3 suflês) ou o experiente Sommelier (Connectado) pela inocência em deixar os jovens traquinas aprontarem mais essa? Explico o Jaffelin, classificado como médio: estava cítrico como de hábito, mas achei um tanto limitado e sem acidez quando comparado de memória com a safra 2019, degustada duas vezes. Não é ruim, vejam; é médio, como proposto. Não sei foi a safra. Veja as postagens antigas para saber mais sobre ele.

O prato principal foi o pato a la Cordon Bleu com o Chateau Barrail Meyney 2016, um Bordeaux corte 80% Merlot, 15% Cabernet Franc e 5% Cabernet Sauvignon, segundo o sítio da Chez France, importadora de ambos os vinhos do evento. Sei de ouvir dizer sobre a melhor correspondência de pato com vinho: Borgonha tinto. Claro, o molho empregado no preparo pode influenciar muito - pato com laranja sugere Bordeaux, para alguns. Na dúvida fui conferir a ficha técnica, cuja harmonização proposta é "Vitela, pato, camembert, carne bovina, cogumelos e carnes com molho". De fato, a ave está lá, para desacreditar o articulista, mas achei a lista aberta demais... Meyney apresentou ótima entrada de boca, visto os taninos pegados, e a primeira percepção é de bom encontro com o pato. Mas logo a sensação se esvai, pois falta mais corpo ao vinho, provavelmente pela acidez pouco presente: com alguns instantes o efeito mágico inicial evanesce, e ao engolirmos não sobram muitas lembranças da mastigação de instantes atrás; o final é curto e bem pouco marcado. Meyney tem lá sua fruta de abertura e a presença propiciada pelo tanino, mas enquanto vinho francês - Bordeaux principalmente - deixa a desejar pela falta de complexidade. Dirão: mas pretende o quê, por um vinho de 10 moedas? Está certo! Apenas não tentem convencer-me de ser um vinho adepto a harmonizações mais pungentes. Sabe aquele vinho que, em boca, dizemos 'pede comida'? Isso acontece porque sua acidez desperta a língua, fazendo-a salivar - daí o desejo de algo para acompanhar. Não é o caso de Meyney... Não obstante, foi um encontro agradável, seja pelas companhias seja pelo fato dos atores não terem brigado entre si. Dada a complexidade do assunto, não foi lá a pior das minhas experiências.

Tuesday, May 2, 2023

Espanholeto vinhas velhas

Introito


   Há uma semana recebi uma não requisitada mas muito bem vinda avaliação jurídica de minhas manifestações políticas no blog. Amigo desde os anos 2000 - e portanto de confiabilidade acima de mais comentários -, ele ponderou sob o risco corrido por este articulista ao manifestar-se incisivamente sobre aquele presidente que trafegou pelos corredores da justiça contra a vontade e cujo processo andou para trás devido a uma suspeitíssima suspeição (sic) do julgador, baseada - até onde recordo-me - em supostas mensagens 'hackeadas' e impossíveis de se auditar como absolutamente verdadeiras. Face ao risco de um processo - desacredito um tanto da possibilidade, vide a baixíssima visibilidade do blog - com grandes custas, ainda se comprovando alguma verdade nas afirmações, há de se avaliar a aceitação dessas causas por alguns juízes, levando a discussão a instâncias mais altas e com mais custos. Assim, passei a semana revisando muitas postagens e reeditando alguns textos para torná-los críticos sem contudo invocar qualificações mais fortes. Não tenho um 'esquema' (sabemos quem o tem!) de proteção judicial para enfrentar processos. Talvez esse orador o tenha:


O link está está aqui, e pertence à seção de 'Cortes' do vereador por São Paulo Rubinho Nunes. Ele é explícito acerca de uma manifestação acontecida em Portugal:

...lugar de Lula é na prisão podia ser também, porque Lula e Ladrão são sinônimos...

...talvez a gente precise de uma intervenção mundial para as pessoas (daqui) entenderem que Lula é um bandido.

   O vereador é advogado. E, claro, não pretendo fazer um enfrentamento entre a opinião de meu amigo e a de Rubinho. Ele somente alertou-me para eventual processo e suas custas, capaz de gerar uma situação falimentar não apenas em mim mas em talvez 90% do brasileiros. Sobre nossa justiça - e também a respeito Ali Lulá - vem da Espanha uma matéria no mínimo controversa. Está em espanhol, mas traduzo um parágrafo para o leitor:

Para saber quem é Lula, é preciso saber o que é o Brasil hoje e como funciona o regime que rege os destinos dos brasileiros. O Brasil de hoje não vive em democracia, mas sim sob um sistema que pode ser chamado de ditadura da "corrupção". Esse sistema é regido por um triângulo formado por: a) a esquerda de Lula, seu "Partido dos Trabalhadores" e satélites; b) o Grande Centro ou Centrão, por sua vez constituído por diferentes grupos políticos; e c) o Supremo Tribunal Federal, que se tornou o órgão decisório máximo do país e atua como instituição política e não judicial. O que hoje se chama comumente de “democracia” no Brasil é o jogo de poder entre esses três atores, e de forma alguma o exercício da vontade popular.

   Os negritos são da própria publicação, os destaques em vermelho são meus. Note na reportagem quem é o autor... Assim seguimos, sem esmorecer e sem deixar de ser crítico das cafajestagens perpetradas contra o consumidor-eleitor destas plagas.

Loucos por promoções se trumbicam

   Conversava com alguém - quem? - sobre o comportamento desinformado do brasileiro. Poderia ser acerca de política, mas o assunto era vinho. A pessoa defendia a inclinação do consumidor-eleitor em aproveitar-se de 'promos' a qualquer preço, mesmo se a 'promo' não fosse 'promo'. Ontem mesmo recebi uma exatamente nessa direção, por isso compartilho com o leitor-eleitor-consumidor (rs):

    De R$ 947,90 por R$ 568,74 (desconto de 40%!) o consumidor pode levar... pode levar... pode levar um Fonseca Porto Vintage Quinta do Panascal 2008.


   #Sóquenão (sic! rs!)... é 'promo'! Veja,
   Na loja Garrafeira Nacional, em Portugal, o vinho custa R$ 280,00, exatamente a metade do valor aqui! Ora, a margem defendida por este Enochato como valor final razoável para um vinho no brasio é algo como 2x vezes o valor do produto 'lá'. A 'promo', com desconto de 40%, recai justamente nessa margem! Certo, o quase exato (sic! rs!) 2x é uma bela coincidência, mas mostra ao leitor-consumidor-eleitor o mantra incansavelmente repetido nestas páginas. Importadoras mais honestas preocupadas com o bolso do cliente praticam essa margem (às vezes menos!), enquanto outras trabalham com 3, 6, 9 vezes o valor original. Essa informação precisa circular - the spice must flow! - tanto quanto a de quem vota 'sim' no PL das fake news!

Atteca Garnacha Old Vines 2017

Havia bebido dele em 2021, por obra e graça do Ghidelli. E desta vez não havia um Percalo no meio do caminho - pela Madona! A fruta vermelha vem com tudo e preenche o olfato com gosto, a ponto de acobertar - para este Enochato - maior complexidade claramente presente. Tem algo dentro daquele trio café-chocolate-fumo muitas vezes difícil de discernir para este prejudicado escriba. Mas está lá, quem experimentar confirmará... A acidez tem destaque, os taninos encontram-se arredondados, nada rascante, um toque herbáceo com um pouco de especiaria - proveniente da madeira, creio. Tem boa permanência, provavelmente por culpa (rs) da acidez, e retrogosto presente, mas não identifiquei alguma particularidade. Portanto só posso confirmar a boa percepção inicial da primeira degustação, e passar à comparação de valores. A safra disponível atualmente em Enoeventos é a 2019, ao preço de R$ 195,00 (Enoclube) e R$ 230,00 (reles mortais). O valor médio lá fora (EUA) é de USD 16,00, o que dá, digamos, R$ 80tinha. Seu preço esperado (desejado...) aqui seria então R$ 160,00. O patamar de R$ 195,0 está, como dizíamos em confraria, 'no limite da compra', e R$ 230,00 (quase 3x!) dá as mãos para a tubaronice. Enoeventos tem compras melhores (próximas do 2x), e pergunto-me se acontece com ela algo similar ao 'fenômeno' Chez France, cujas críticas encheram algumas postagens passadas. Fica a impressão de que, entre preocupados com 'promos' chamativas e contabilidade - além de alguma tubaronice - estão perdendo a mão, Chez e Enoeventos. As 'promos' de Chez apenas trazem os vinhos para valores antes praticados normalmente (menores de 2x), enquanto Enoeventos, apesar de vinhos dentro do patamar 2x, tem escorregado consistentemente. E 'consistentemente' nesse caso pega muito mal. Por comentário final, pergunto se essa estória de clube ao final não divide Sua Majestade O Consumidor entre cidadãos de primeira e segunda classe. Isso soa terrível! Cada loja/importadora - e veja, todas têm! Diga-me uma que não! - procura cativar seu feudinho de felizes enganados com algum desconto como o Flautista de Hamelin encantou os ratos da cidade para dar-lhes fim na curva do rio. Você, leitor, é um rato de Hamelin? Se for, está bem, aproveite suas 'promos'. não sendo, que tal praticar meu esporte predileto, um bom pontapé nos fundilhos dos 'clubistas'? Se alguns insistem em manter um sorriso idiota, durmam com essa: nenhum dos conhecedores de vinho com quem converso e muitas vezes me influenciaram jamais assinou qualquer clube. Groucho nunca esteve tão certo...

Resenha de livro

Li há muito tempo O Incrível Congresso de Futurologia (Congresso Futurológico pela Editora Caminho, Portugal, denunciando um 'Incrível' por conta da edição brazileira), do Stanislaw Lem. O autor merece uma nota à parte. Muito mais respeitado como filósofo tanto quanto como futurólogo, produziu obras seminais dentro da ficção científica com qualidade realmente literária. Talvez seja o maior escritor de ficção científica desde sempre. Evitando polemizar, direi estar entre os dois maiores, e seguramente não em segundo...  Solaris (1961) é tido como sua obra-prima, embora muitos desconheçam a resposta tecnológica à obra eminentemente sociológica dada pelo próprio autor em A Nave Invencível, de 1964 (publicado na Coleção Argonauta - portuguesa - no número 264). Uma das abordagens icônicas do romance, reviver a memória de um cadáver pelo uso de... nanobôs! foi roubada na cara dura em algum filmeco classe "E" dos anos '90. Tem ainda o excepcional A Voz do Dono (1968) onde o autor trata do recebimento de uma mensagem de rádio alienígena pela espécie humana - alô, alô, fãs cegos do Sagan! Em O Congresso... temos o caboclo a participar de um evento acadêmico onde encontra um capiau também pesquisador que conta-lhe da quimiocracia, forma pela qual os governos mantêm os cidadãos crentes de pertencerem a um presente brilhante e destinados a um futuro glorioso e dignificante da espécie humana. É tudo uma ilusão turbinada à base de substâncias químicas - daí a quimiocracia... - induzindo a felicidade na população. O capiau tem um antídoto, e uma vez ingerido pelo caboclo revela-lhe um mundo diferente do conhecido por ele. Em outra rodada, o capiau volta e comenta sobre problemas com o antídoto: a realidade desnudada seria apenas parcial... Publicado em 1971, antecipou em uns 20 anos, pelo menos, o uso maciço de antidepressivos pela sociedade ocidental. Entendeu porque Lem é mais respeitado como futurólogo? Na verdade... esse nem foi um dos grandes acertos dele... leia para conhecer mais.

Voltando ao vinho,