Monday, December 25, 2023

Paduca com sede e um Xatenefinho de Natal

Introito


   Preciso recobrar a postagem passada, e comentar mais um pouquinho do Château Meylet 2012. Já falei sobre a borra, aqui. No segundo dia, notei como Meylet a tinha, generosa. E sem a menor dúvida, no último tantinho da garrafa balancei e girei alguma vezes, emborcando o conteúdo na taça. Após um tempo para ela concentrar-se devidamente, o resultado foi esse:

   Então fui bebendo com cuidado, para não agitar mais a taça, embora ela sempre descesse para o lado conforme a inclinasse. O resultado está nas fotos seguintes:
   

   E então, sem a menor dúvida, passei um pão no que pude. Infelizmente a taça era um pouco estreita...


...mas deu para aproveitar um bom tanto. Estava ótima, azedinha (rs!) e lembro novamente: uma pequena porcentagem dos vinhos dura o bastante para produzir a borra. Dessa pequena quantidade de bebida, a borra formada é uma minúscula porcentagem da garrafa. Não passe a vida sem experimentar pelo menos uma vez, se puder.

Paduca com sede

Na semana passada a reunião da Paduca aconteceu como de hábito. Entusiasmado com um vinho que comprara, o Duílio chegou com o final dele. Abrira um ou dois dias antes, e queria compartilhar conosco. Era um Adega Mãe, em sua versão Touriga Nacional. Safra 2021, 13% de álcool, não perdeu muito - aparentemente - depois de aberto. Não que tivesse muita coisa (risos), mas estava agradável. Já bebi do produtor, e seus vinhos podem ter uma boa relação custo benefício. Mas precisa ficar atento. Às cegas, o Duílio ainda trouxe outro, e Paulão também. O Fernando deixara o dele de algum outro encontro. O segundo vinho da direita, do Duílio, foi degustado e imaginei ser português. Necas: um Faustino Crianza 2017. É um vinho alegre, como costumava dizer o Akira: fácil de beber, com bastante fruta e um travo doce. Foi esse travo que levou-me a achar ser um português. Seu corpo médio, acidez presente - embora sem tanto destaque - e final em consonância com o conjunto da obra colocam-no claramente acima do que a Paduca vem bebendo - embora seu preço, cerca de R$ 110,00 quando bem comprado - também o coloque em uma faixa mais sofisticada para aquisições individuais. O Paulão chegou com seu Assobio 2020, corte Touriga Nacional, Tinta Roriz e Touriga Franca e produzido pela Esporão. É um vinho básico, também fácil de beber, nariz com fruta evidente (e não muito mais, para mim), fruta que se repete na boca, menor acidez, mais ligeiro, está um degrau abaixo do Faustino. Seu preço cheio por aqui anda na faixa dos R$ 90,00, tornando-o uma compra não tão boa. Segura-se por ter seus fãs e um nome estabelecido, mas o bebedor um pouco mais experiente não o compra por esse preço. Sei que o Paulão o comprou em ótima promo (R$ 40,00), e aí não há dúvida, valeu a pena. Mas é simples... O vinho do Fernando foi o Luccarelli de Puglia Rosso 2022, um meio seco corte Sangiovese, Malvasia Nera e Aglianico. Não estava tão enjoativo como costumam ser os Primitivos da região, mas sua composição de meio seco deixou sua marca adocicada. Bem novo, esbanjando fruta no nariz, travo doce na boca comprometendo tudo - para mim... - um pouco rápido e fora do que prefiro julgar. Custou uns R$ 80,00 ou R$ 90,00, e não é lá meu estilo. Apesar disso secou quase inteiramente, e nessa altura a turma olhou para mim. Lembrei das cenas daqueles filmes dos anos 60, com as crianças condenadas olhando fixamente para os adultos (risos). Há o Children of the Damned (1964) e o Village of the Damned (1960); para mim o segundo é melhor. Mas bem, lá estavam eles, e pensei comigo: algo que pudesse ser aberto e servido rapidamente, após uma rápida passagem pelo balde com algum gelo. Escolhi e servi-lhes às cegas. Marius by Michel Chapoutier 2020 causou alvoroço pelo fato de recém aberto e pouco resfriado - foi na cara de todo mundo - chegou com muita fruta vermelha, uma picada de especiaria e baunilha no nariz, fruta madura na boca, com acidez baixa a média, taninos pouco pegados mas presentes e álcool escapando um pouco na primeira rodada. Na segunda, com a temperatura mais baixa, acertou a combinação e soou ainda melhor. Não tem bom final, é um pouco ligeiro, mas o impacto inicial compensou, mesmo não estando bem resfriado. Para quem não conhece, Chapoutier é um importante produtor do Rhône, e enveredou pelo Languedoc-Roussillon onde produz este corte de Grenache e Syrah. O Duílio disse que meus vinhos sempre surpreendem, e perguntou o preço - uns R$ 75,00 em promo. Recebendo a informação, concluiu comentando a diferença entre conhecer e saber comprar no momento certo e não saber ou não conhecer. É isso: conhecer vinho - já avisava o Manoel Beato quando veio ministrar uma degustação assistida em S. Carlos no início dos anos 2000 - é estudar mapas, legislação, cepas, produtores, características das uvas em cada região... Do seu lado, o leitor precisa ir se escolando (sic) descolando (rs) e aprendendo a avaliar a compra usando o Wine Searcher, não pagando mais de 2x em qualquer vinho e aproveitando a oportunidade conforme ela apareça. 

Xatenefinho de Natal

Paulão jurou passar para um abraço, e não deixei barato: nada como testar as habilidades do discípulo. Compareceu com a sempre bela e delicada Dona Claudia (rs), amiga desde antes o casal se conhecer e entrar em bodas. Ser padrinho de casamento deles foi a celebração de uma amizade que vem se mantendo há décadas, e enche-me de orgulho e satisfação. Mas voltando, servi uma taça às cegas, e a Cláudia, sem saber, notou fruta e chocolate. Boa menina. O Paulão surpreendeu: colocou o vinho no nariz e nem precisou degustá-lo para disparar um Eu já bebi deste vinho meio desconfiado. Falou português, e acertou em cheio! O rapá tá pegando o jeito.

Cedro do Noval (2016) já foi degustado muitas vezes por aqui, em várias safras. Comprado em ótimas promos por R$ 100,00 - a importadora conseguiu desovar as safras mais antigas e ele voltou à casa dos R$ 180,00 - ainda restam-me umas poucas garrafas. O segundo vinho foi muito mais difícil do Paulão acertar, e explica-se: é aquela estória da pessoa beber algo muito acima do padrão pelas primeiras vezes. Ele jamais poderia identificar um bom Châteauneuf-du-Pape. No caso, um do Guigal, em safra 2007: devidamente envelhecido, no auge, estava em outro comprimento de onda. Mas tanto a Cláudia quanto ele notaram e divertiram-se com sua complexidade e graça: nariz com fruta madura e chocolate (Cláudia), fruta e algo terroso (Paulão), é mesmo muito rico. Boca com um doce ligeiro de chocolate ao leite marca o retrogosto, tem um toque doce muito elegante, harmonizado pela boa acidez - não é alta, mas se faz notar com muita elegância. Os taninos estão maduros, álcool integrado, madeira muito discreta, álcool a 14,5%, resultam em um vinho de ótima persistência e final... ele não sai da boca. Está em ótimo momento, não guarde mais. Engolimos, mastigamos de boca vazia e ele continua lá, marcando presença, trazendo-nos felicidade me doses homeopáticas e certeiras, e se me faria feliz sozinho, foi melhor dividindo uma taça com pessoas tão queridas, vendo o brilho nos seus olhos misturando-se à satisfação de uma descoberta diferente. Teve bão... mais uma vez, feliz Natal.

Sunday, December 24, 2023

Nem novo nem maduro: o indigno não brilha, jamais

Introito


   Antigamente dizíamos 'uma definição de dicionário' para algum termo cujo significado pretendêssemos tornar claro. Hoje dizemos 'uma definição do Google'. Por exemplo:

   Como primeira aproximação, é uma boa contextualização. Faltou mencionar pelo menos dois pilares básicos do jornalismo, a saber: 1. Isenção do jornalista para com a matéria, e 2. Tratamento igualitário para todas as partes de alguma maneira envolvidas na notícia.

   Dito isso, pergunto: você viu a patuscada recentemente perpetrada pelo ministro dos direitos humanos Sílvio Almeida? Qualquer pessoa com inteligência e articulação maiores do que a de uma ostra - e começo a considerar quão inteligente pode ser uma ostra... 😨.. mais do que muito ministro - sentiu-se envergonhada. Foi assim: a certo momento tomou lambada e tentou revidar atacando o argumentador em vez do argumento. A tática fanfarrona foi denunciada e veio mais lambada. Almeida ripostou, e levou nova invertida. É o que dá tentar contrapor alguém muito mais inteligente e capaz: passa vergonha, e envergonha quem está em volta. Papel corriqueiro dessa gentalha de esquerda nos últimos 20 anos - veja quanto tempo passou desde o primeiro escândalo dos governos de Ali Lulá, e as denúncias não param... 
   O interessante foi a reação da esquerdalha, glorificando quem apresentou argumentos pífios e tortos:

      

    Não bastasse, houve clara manipulação de declarações do deputado oposicionista: pretendendo o ministro estar no controle da situação, a Rede TVT (um veículo de comunicação educativo que tem compromisso com a democracia , com  o fortalecimento da cidadania e com a justiça social - sic), edita trecho onde Almeida acusa um deputado de fazer cortezinhos para dizer que venceu o debate, quando... sua claque usa exatamente esse expediente para tentar deixar mal o debatedor que estava com a razão!... (vídeo com 50 segundos).


...mas a verdade é muito outra! Veja o vídeo do deputado e avalie quem estava na defensiva e quem estava no ataque (vídeo de 50 segundos).


   Mas este espaço não é uma claque qualquer como as existentes por aí. Prefiro - exijo!meu leitor sendo crítico, e recomendo: não aceite gratuitamente meu relato, confira o perrengue na íntegra aqui (são 15 minutos). Veja sem cortes os ataques ao argumentador e a reafirmação da máxima dos medíocres, acuse-os do que você faz, chame-os do que você é... 

   A antítese da conduta do deputado encontra sua melhor tradução no comentário da jornalista (sic) Cynara Menezes em sua postagem onde notamos claramente a falta dos dois preceitos comentados no início desta postagem para se produzir uma matéria jornalística decente: não há isenção e muito menos tratamento igualitário para as partes. Começa no minuto 39. Prepare-se: cenas de envergonhar qualquer devoto sério de São Francisco de Sales. Ainda: não sou contra blogs propagandísticos de tendências - mesmo sendo propaganda de vis bandidos, ladrões ou corruptos. Tomando um lado, já sabemos acerca do comunicador e escolhemos segui-lo ou relegá-lo ao esquecimento. Mas daí a usar o termo jornalista/jornalismo em tal situação é flertar com a mais absoluta falta de respeito para com o próximo, a profissão e o santo padroeiro...

   Assim, vemos PTlhos idiotizados pela propaganda querendo acreditar no que lhes convém (a tal da dissonância cognitiva, comentada aqui com link explicativo logo no preâmbulo). Chamam o MBL de extrema-direita (enquanto bolsonésios acusam-nos de extremo-esquerdalhas!), disso e daquilo. Na hora dos debates - sem edição! - vê-se claramente de onde vêm os melhores argumentos. O leitor com o mínimo de inteligência pode ver por si - e não concordando, espumar quieto; os demais podem espumar sem ter noção dos fatos e atacar este Enochato em vez dos argumentos do Enochato. Se houver um debate - sem edição! - onde algum tonto de esquerda consiga argumentar contra o deputado Kim Kataguiri sem tomar uma invertida imediata, gostarei de ver. Não publicarei, é claro, mas olharei. Honestidade intelectual no envio - embora duvide disso da parte de PTlhos e bolsonéios. Colham o que plantaram: hoje não há crédito para qualquer dos lados.

Novamente o Gran Enemigo Gualtallary, agora 2013

Olha... nunca provei tanto vinho ruim no compromisso de levar a melhor informação ao leitor (😂🤣). Desta vez tive um cuidado suplementar para certificar-me da procedência do Gran Enemigo. Está descartada a hipótese da garrafa do Renê ser falsificada (safra 2017). A dúvida originou-se a partir de um comentário naquela postagem acerca de falsificações, e confesso ter-me deixado em dúvida até provar da safra 2019, recentemente. Aconteceu da D. Neusa ter a safra 2013 - agora algo envelhecida - e oferecê-la para um embate. Essa garrafa foi comprada no frixópi de saída da Argentina. Vão dizer que de lá também é farseta? Uma falsificação não apresentaria cápsula tão grossa (à esquerda). Vejam à direita a de um bom vinho, bem mais fina. Quase precisei de uma motosserra para removê-la...

Combinamos um comitezinho (rs) com a Liu e a Elvira. Conversando com a primeira, perguntei se ela teria um Catena comprado em sua recente passagem pela bodega, e ela prontificou-se a trazê-lo. E, generosamente, contentou-se em ouvir sobre a proposta de degustação às cegas. À Elvira coube a tarefa de trazer um espumante, e ela ficou da total ignorância dos atores. D. Neusa sabia apenas de seu vinho. Assim começamos. Para surpresa geral, Elvira trouxe um Antonieta 2022, corte Pinot-Chardonnay produzido pela argentina Falasco Wines. O cítrico advindo da Chardonnay estava lá; não peguei mais notas. Fresco mas bastante ligeiro, acidez baixa, pode competir bem com os nacionais de algum padrão, como os descritos recentemente na degustação da Mercearia 3M; mais uma prova - como se fosse necessário - do quanto nosso espumante está embolado no meio de campo desse estilo mundo afora.

Comentarei a percepção das confrades no encontro. Como sobrou de todos os vinhos, e por sugestão delas levei tudo para a segunda prova no dia seguinte, a minha avaliação será apresentada na sequência. E foi bom, pois pude deixar-me levar pela conversa animada das meninas, além de ocupar-me mais em observar suas avaliações em vez das minhas próprias; queria ser honesto a ponto de afastar qualquer má estima inconsciente e outras opiniões poderiam reforçar - ou contrapor com argumentos - minhas percepções anteriores. Para desafiar o Catena Alta Cabernet Sauvignon 2018 da Liu, não tive muita dúvida: acreditei no meu Château Magence 2010, um Graves já degustado em safras 2001 e na própria 2010. Essencialmente um corte Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc, espera-se forte benefício da Merlot para aportar um teco de elegância à potência da Cabernet. Não houve muita dúvida quanto à diferença de qualidade entre Magence e Catena; a preferência pelo francês foi unânime. Às cegas, na segunda bateria, a Elvira foi categórica: o terceiro vinho (tinto) lembra o quarto, mas o quarto é muito melhor. Não recordo-me bem se D. Neusa acompanhou exatamente esse ponto - de um vinho lembrar o outro. A Liu, se não teve tal percepção, não teve dúvida quando escolheu o quarto vinho como o melhor da noite.

   Um parêntese: Parker comparou - e tudo quanto é lugar (sic) repete isso à exaustão - o 50 dólas Gran Enemigo (um corte Cabernet Franc e Malbec) ao Château Lafleur, de Pomerol; corte Cabernet Franc e Merlot, ele custa 500 dólas em safras medíocres e 1000+ dólas em boas safras. O crítico conferiu duas notas 100 ao Gran Enemigo entre 2010 e 2022, e, da mesma maneira, galardoou duas notas 100 para Lafleur... nem o Patricio Tapia do Guia Descorchados  teve a ousadia de agraciar Gran Enemigo com 100 pontos (em tempo: Descorchados é o manual de avaliações extremamente generosas compilado inicialmente para vinhos chilenos e depois estendido para os sul-americanos de maneira geral, corajoso em pontuar com 95 ou 96 brancos chilenos que não chegam aos pés de Borgonhas AoC de produtores de segundo time. Como pontuaria ele borgonhões De Verdade (rs)? A escala só vai até 100, correto?). A pesquisa está um tanto incompleta: a fonte é o Wine Searcher, e não contém avaliações de Parker ou Tapia para todos os anos entre 2010 e 2022, para ambos os vinhos.

   Para mim a contenda resume-se ao seguinte: vinhos bons são vinhos bons, e quando eles são realmente bons, uns defendem-se bem contra outros. O bebedor pode tocar um Brunellão, alcoólico e taninoso (sic! rs!) pra cima de um Borgonhão; este vai defender-se com sua acidez excepcional, e não cairá nesse bom combate. Quero dizer: vinhos diferentes podem ser comparados e grandes vinhos não se atropelam. Se um Brunellão atropelar outro, então o segundo não era um Brunellão, era apenas um Brunello - ou um Brunellinho. Um vinho só atropela outro se for melhor. Normalmente (cuidado aqui!) o preço tem a ver com isso, diretamente. Essa afirmação não é tão verdadeira na comparação dos sul-americanos (caros demais, qualidade de menos) com os europeus. Também é tão verdadeira entre norte-americanos (muito caros, característica do mercado deles, mas bons) e europeus. Mas entre europeus a aproximação tem validade bem maior.

Desta vez queria colocar um Cabernet Franc para enfrentar Gran Enemigo - jogar em seu próprio campo. Encontrei em um Saint-Émilion - região francesa onde a CF tem grande presença, junto da Merlot - o combatente mais que digno, e fui à prova.

Agora, comentando os quatro tintos, no almoço do dia seguinte. Catena Alta 2018 (Cabernet Sauvignon) tinha bom nariz, rico em frutas, com couro ou café; boca com frutas vermelhas, taninos arredondados, a picada mais potente da Cabernet sul-americana, madeira bem integrada com baixa acidez - querendo ir a média, mas faltando... -, deixando seu final ligeiro. A importadora diz ser produzido somente em anos especiais mas... Wine Searcher mostra uma produção contínua desde o início do século; dados completos no final da postagem. Para um vinho de abertura de trabalhos (risos), agradou. Mas tinha um Magence no meio do caminho... Château Magence 2010 já foi degustado outras vezes e não decepciona: corte 50% Cabernet Sauvignon, 40% Merlot e 10% Cabernet-Franc, nariz recheado de frutas, especiaria, café, boca com a picada da Cabernet mais discreta, taninos ajustados (certo, é mais velho), e a acidez fazendo toda a diferença, deixando a boca mais marcada, permanecendo nela por mais tempo e com ótimo final, em comparação. Passamos para o segundo conjunto, e após degustar ambos, relembro como Elvira apontou Gran Enemigo de parecer-se com o Château Meylet 2012. Ponto para o primeiro. Mas é assim: o Lázaro Ramos e o Sidney Poitier se parecem, também. No branco do olho, e nada além. Gran Enemigo 2013, devidamente envelecido, não brilhou além do já anotado anteriormente: nariz com fruta - pelo menos não declinou com a idade - e traços de chocolate/café esses sim mais ricos: desenvolveram-se bem. Não lembro da baunilha presente das outras vezes, nem se alguém apontou. Boca dentro do esperado, com fruta e algo mais, e as demais características - tanino, acidez, final - sem melhora significativa. Ao fim e ao cabo, três safras degustadas, a percepção é a mesma: pode encantar os bocas tortas ou chapas brancas, mas não vai além disso. Já o Château Meylet repetiu a performance de minha primeira garrafa: nariz ótimo, rico, diversificado, e para fechar a boca acompanhando na nariz em tudo! Um grande vinho, fez Gran Enemigo rolar na lama - e não porque eu torça contra, foi apenas uma constatação geral. Espere um pouco, vamos lá: Gran Enemigo custa seus USD 40,00 ou R$ 50,00 na Argentina. Meylet custa os seus USD 80,00 ou USD 90,00 por aí (aqui, eles custam R$ 890,00 e R$ 750,00, respectivamente). Com uma diferença de 2x, Meylet tem a obrigação de entubar bem entubado vinhos da metade de seu valor. No caso de Gran Enemigo, fez com a competência esperada de quem pode. E aqui, Parque (sic! rs!), é o seguinte: precisava comprar o argentino logo com o Lafleur? Ô Parque, não consegue indicar algo mais singelo por comparação? Ah, claro, ele lembrou o Lafleur... para a Elvira ele lembrou - digo pela terceira vez! - o Meylet. E ela sequer pensa em ser profissional de avaliação, basta-lhe ser a médica competente que é. Mas se ela quiser ser avaliadora, está começando melhor do que muita gente no ápice da carreira, não é mesmo?

   Em tempo: Château Meylet é classificado com 92 pontos pela Cellartracker, em sua safra 1998. Lembrando,
90 - 95 pontos: vinho de excepcional complexidade e carácter, rico em buquês e sabores.
   Maylet entrega. Gran Enemigo pode estar em elegantes 89 pontos, e não é demérito. Por R$ 200,00 aqui, não faria feio face a um Noval; a R$ 890,00, é um despropósito e talvez torne os Noval melhores só pela diferença de preço. Você é fã da Catena? - rindo: a melhor vinícola do mundo? - Desentorte a boca... mas pensando bem, não... continue pagando USD 40,00 ou USD 50,00 por um Gran Enemigo na Argentina, e deixe-me tentar comprar Meylet em alguma futura promo-dos-rótulos-manchados da de la Croix, sua importadora. Se os bocas-tortas endinheirados comprarem Meylet em seu preço cheio, não sobrará nem para promo... E chegamos à conclusão, antecipada no título da postagem: nem novo, nem maduro: o indigno não brilha, jamais.

   Os valores de quase todos os vinhos já foram discutidos nas postagens anteriores. Abaixo apenas os do Catena Alta.

   Vejamos o que mais poderemos ter para hoje. Se nada (risos!), ficam o agradecimento pela leitura desse extenso artigo e os votos de um Feliz Natal! Obrigado!

*  *   *

Preço do Catena Alta CS aqui: R$ 417,00. Em destaque, a notícia desmentida pelo Wine Searcher de ser produzido somente em anos excepcionais. Ou vai dizer que todos os anos (safras) na Argentina foram excepcionais?


Preço do Catena Alta EUA: uns USD 40,0 (R$ 200,00). Aparentemente não está tão fora, dá 2x... só não acredito que ele valha USD 40,00...

   Produção do Catena Alta: pode não estar disponível em todas as safras, mas é produzido anualmente...

Preço Catena Alta no Mercado Livre da Argentina: R$ 82,00, uns USD 16,00. Não fica ruim, nem um pouco...



Monday, December 11, 2023

QI de ostra

Introito

É dito ter QI de ostra quem se apresenta com QI de ostra.
Oenochato

- Carlão... o MLB está derretendo! - assim provocava-me, à beira de um orgasmo e de supetão, bolsonésio de alta estirpe. Corria o ano de 2019; imerso na mais profunda dissonância cognitiva possível, ele chegava a rir de si mesmo quando tentava explicar o inexplicável para justificar as atitudes de seu mito. Ao final do primeiro turno da eleição passada ('22), Kim Kataguiri  e Guto-Negão-Capitalista eleitos - nenhum deles com meu voto (Beraldo e Amanda...) -, e sendo chamado de isentão pelas hostes do atraso, continuei inflexível em anular meu voto para presidente e governador. Também não adiantou argumento de PTlho sugerindo a (suposta) vinda de dinheiro federal para meu ramo de atividade - junto da ciência brasileira - caso Ali Lulá ganhasse, o que justificaria meu voto nele. Bem... além de negar aliar-me a transeuntes escoltados nos corredores da justiça, de onde saíram condenados - sentença cuja confirmação seguiu-se por todas as instâncias conhecidas e desconhecidas do Judiciário - antes de votar em um candidato dito amigo da universidade (não da Ciência! Não da erudição!) eu voto em um projeto de país. Pouco importa se minha atividade profissional possa ser beneficiada por este ou aquele postulante. E, para constar, este ano o ensino superior sofreu dois cortes drásticos em suas verbas. Outro amigo, ainda, queria porque queria sugerir-me a Simone Palíndromo. Caiu na vergonha quando ela aderiu a quem aderiu, e ainda levou ovo na cara e tinta na nuca até depois da eleição. Já escrevi à exaustão: sou de esquerda, embora envergonhe-me a esquerda de hoje (desde 2004). Desencanta-me quase toda ela - posto apoiarem quem apoiam - mas a esquerda é muito mais do que essa turma com QI de ostra. No campo diametralmente oposto (QI de ostra com sinal trocado), bolsonésios ainda não caíram na real. O mais curioso é os esquerdalhas chamando o MLB de extrema direita, enquanto os direitolhos chamam-no de extrema esquerda (sabia disso?). Leitor, pense um pouco e diga-me: como isso pode ser possível, senão por uma alucinação coletiva?
   Pelo que vi das atuações de Kataguiri (agora em segundo mandato), Arthur (impedido covardemente durante um final de semana e na calada da noite, literalmente) e Guto (comandou na Alesp a importante privatização da Sabesp), além de diversas lives assistidas ao longo do ano, vejo o MBL como direita sim, extrema direita jamais, e o único grupo capaz de não causar outra profunda desilusão à população. Não, não assisto lives da esquerda. Tiveram 14 anos para fazer algo pelo país. Caímos no Pisa. A tão sonhada reforma agrária não foi realizada - ou não haveria motivo para o grupo que a defende estar ativo. Dilma foi impetxada (sic) a favor da economia e pelas razões políticas - o impitxe é um ato político - sobejamente conhecidas, e já dentro de uma recessão cujos efeitos se fazem sentir até hoje. Percebe? Essa turma teve sua oportunidade, a mais longa sequência de governo na história deste país (sic), e acabamos n'água. Não perco mais meu tempo com eles; suas ideias esgotaram-se, perderam-se na própria imbecilidade de onde foram geradas. Às vezes penso se o proposto QI de ostra não está superestimado.

Paduca outra vez

Prezando pelas reuniões quinzenais - e algumas extemporâneas - a Paduca vem sendo protagonista constante no blog, e encontrou-se dia desses para outra celebração da amizade (em primeiro lugar), do vinho (também em primeiro lugar! 🤣) e da boa vivança (sic! rs! e idem, novamente!). Desta vez a recepção correu na casa dos bon vivants Duílio (sentado) e Eva, ela ao lado do Enochato, com o  Paulão e o Fernando à esquerda. Pensamos na difícil harmonização de vinhos e xuxi e mandamos ver. Levei, por entrada e curiosidade, a cava brut Freixenet Cordon Negro, e assim iniciamos os trabalhos. Comentei há pouco dela, é um espumante simples mas bem adequado para meu padrão, acima de muitas opções nacionais no mesmo valor, com preço razoável por aqui; tem seu buquezinho cítrico, gostoso, bolhinhas mais ricas dentre os espumantes apreciados recentemente em degustação, alguma acidez e nenhuma, absolutamente nenhuma harmonização com xuxi. Aqui um parênteses: o pessoal pediu um mix bem sortido de xuxis; eu aprecio somente o corte de peixe cru e aquela variação do peixe sobre arroz - sejam quais forem os nomes... 🙄 A questão é quanto outros ingredientes das diversas misturas - cream cheese, por exemplo - podem alterar a harmonização... não sei, porque não consumo...

Aportei ainda um Montemajor Passerì 2019. Corte entre a desconhecida Petit Manseng e a onipresente Chardonnay, esse exemplar de IGP da Lázio não estava tão fresco quanto da primeira vez que o experimentei, nas degustações online promovidas pela Enoeventos durante a pandemia, veja aqui. Seu buquê antes rico pareceu menos consistente, embora a boca mantivesse acidez - talvez não tão boa - e toques cítricos, combinando um pouco com o pescado. Na trilha de boa experiência passada, o Paulão trouxe um Calcu Gran Reserva branco 2021, corte Sauvignon Blanc-Semillion, vinho de ótima acidez e já comentado aqui. Tem um toque cítrico bem marcado no nariz que repete-se na boca, com acidez e boa permanência. Em alguma temperatura - foi fugidio - teve melhor combinação com o salmão, e não consegui reproduzi-la mais, mesmo voltando a garrafa na água gelada, servindo e degustando aos poucos, com fatias do peixe. A menos desse momento, que pareceu realçado, não combinou tanto, mas não descombinou, na opinião dos confrades. Ele defendeu-se bem com um pexim de hamoniazação sabidamente complicada. Teve bão...

Degustação do Shot Café

Jairo apresentou sua nova linha de vinhos portugueses importados pela Wine Concept Brasil. Essa turma não faz muito lançou uma linha de vinhos do Alceu Valença, ótimo cantor, de quem gosto muito, homenageando sua famosa canção La Belle de Jour. Não experimentei, mas pergunto: que fim deu o vinho do Brédi-bonitinho-da-bala-Chita-Pitt e da Angelina-maravilhosa-Jolie? E os vinhos do Sting, chegaram por aqui? Como está o do Danilo Gentili, o alentejano Putos? (puto significa garoto ou menino em português portugaico - rs!) Quem se lembra do vinho em homenagem à seleção canarinho na copa de '14, Faces? Seus detratores reclamaram da letra trocada no nome, o correto seria Feces; não provei. E o... já percebeu, né? Nada contra homenagens, mas essa não parece ser uma estratégia vencedora em vinhos. Eu pretendia mesmo era recobrar um pouco da história do vinho nacional para os leitores mais jovens ou aqueles sem muito interesse direto em fatos pitorescos, a ponto de procurar por eles. Há uma postagem engraçada sobre o Faces aqui. Agora, com seriedade.


O Jairo/Shot Café andava à procura de uma linha básica de vinhos para começar a repor seu estoque para 2024, e contatou seu conhecido Johnson Rogenski, da Wine Concept Brasil. Organizou uma degustação com seis exemplares do portfólio da WC, e compromissos de fim de ano não permitiram muitos dos confrades regulares das atividades do Shot participarem. Foi uma pena - para eles! 🤤 Sobrou vinho para nós! Para esta postagem, uso a foto do fotógrafo Essio Pallone e recobro meus comentários da postagem de outubro acerca de fotografia. Vejam que bela foto. Nem precisei recortá-la, o enquadramento estava pronto! A transparência das garrafas foi capturada com perfeição, a claridade do entardecer ficou onde precisava - do lado de fora - e no final eu gostaria de saber de vinho o que o Essio sabe de fotografia...

Animado com as conversas - faltei à degustação anterior -, confesso não ter anotado as características dos vinhos. São simples, custam na faixa de R$ 60,00. Experimentei o Moço Fidalgo tinto antes dos brancos e rosés, pois já estava resfriado e achei-o algo ligeiro e com um dulçor a mais. Tinha sim alguma fruta - qual? - mas acidez baixa, com final pouco marcado. Pelo valor, é melhor se comparado a joias (sic) ofertadas por lojas de venda maciça a valor similar. Eu o colocaria às cegas na Paduca, por exemplo, pois é uma turma que começa a galgar os primeiros degraus na degustação séria do vinho, embora os confrades venham provando vinhos há uma década ou mais, sem tanto compromisso. Com a confraria e minhas preleções Enocháticas (rs) nas reuniões, estão desentortando a boca (😂), e esse alentejano, mistura de Trincadeira, Aragonez e Castelão, talvez possa ser identificado por eles. Mas não será agora... Fui procurar o preço no Wine Searcher, e encontrei apenas uma citação dele em Portugal, a cerca de 5,00 €, o que dá quase R$ 30,00. Portanto o valor de venda - inferior ao próprio sítio do importador - está no limite de 2x. Aí gostei... O estranho de uma única citação de um vinho em sua terra natal sugere um produto desenvolvido para  o gosto brasileiro. Tinha achado um doce a mais no paladar, não é mesmo? Então... Mas esse doce não compromete. O Mar Salgado - toda a linha - achei um pouco abaixo do Moço Fidalgo. A grata surpresa - e ponto alto - veio do Moço Fidalgo branco, corte Antão Vaz, Síria e Arinto. Pelo encontro recente da Paduca, perguntei-me sobre sua harmonização com xuxi, e acho que a tentarei mesmo, dada sua boa acidez, aliado ao nariz que também chamou atenção. Os aperitivos vieram da Bahja Culinária Árabe, e proporcionaram boa harmonização com os brancos. O quibe também não jogou contra o Moço Fidalgo. Ainda não aprendi a apreciar rosés; ouvi bons comentários de ambos, embora - e novamente - as preferências recaíssem sobre Moço Fidalgo. O leitor apreciador de rosés deve evitar preconceitos, e experimentar dos dois. Como diria, teve bão. Aguardemos uma degustação com vinhos melhores para 2024.

Sunday, December 10, 2023

Beberagens atrasadas

Introito

De engodo em engodo, vamos sendo engodados aos poucos. Quem lembra-se da foto ao lado? A subida da rampa do Palácio do Alvorada na posse de Ali Lulá e seu séquito simbolizando a igualdade, o respeito e união do povo brasileiro, ou seja qual for o embuste do momento. O leitor acredita mesmo nessa conversa mole? Sim, alguns acreditam, e temos apenas mais um exemplo acabado da tal dissonância cognitiva, tendência do ser humano em procurar algum tipo de coerência em suas crenças e ideologias, embora a realidade o desminta com a crueza dos fatos.

Senão veja esta foto da reunião ministerial dos primeiros 100 dias de governo. Tem gente de costas, mas pelo estilo do cabelito não arrisco serem mulheres; mas contei 8 ao todo. E são 31 ministérios... O leitor atento lembrar-se-á: fiz a propositura de Jean Wyllys para o Ministério da Cultura!, sob o singelo argumento de que, comparado a vários outros ministros, ele seria um quadro até mais digno. Ele não está lá, mas não tem problema. Aponte-se um ministro homoafetivo na imagem. Um índio, apontem um índio. Quantos homens brancos e hétero tem lá? Aliás, parece que metade das mulheres já foram rifadas de seus postos, confere. Mal duraram seis meses, em algum caso, oito em outro. Volte na primeira foto e observe-a bem. Agora responda-me se tem cachorro na segunda. Olhe direito! 😠

Dentre os ministros, o da Justiça ainda tenta explicar como receberam na pasta a esposa de um grande chefão do tráfico, e como ela viajou com passagens custeadas pelo nosso dinheiro. Logo no início deste governo, o mesmo ministro teve presença registrada em favela carioca sem proteção policial. Para os peritos em segurança do Rio, textualmente, a visita de Dino à Maré sem aval do tráfico seria impossível. Veja abaixo. Enquanto isso, ministra - a que ofendeu os paulistas e deixamos barato - após ser flagrada andando de motocicleta sem capacete dentro de outra favela justificou-se com a determinação dos traficantes locais de proibirem o uso do equipamento. Essa ministra desobedece às leis do estado soberano do Brasil e curva-se às leitos do tráfico? É isso mesmo? Só por comentário, ela ainda está no cargo. Sintam-se orgulhosos, os tolos.


Beberagens atrasadas

Dois não comparecem, dois bebem. Sob essa máxima reunimo-nos em nome da Paduca apenas Duílio e eu, dias atrás. M.O.B. Lote 3, safra 2017, é um Dão produzido pela trinca de enólogos portugueses Moreira, Olazabal e Borges (M.O.B.!). Já falei deles em '21 e '22, veja aqui e aqui. Desta vez, com uma hora de aeração, expressou boa fruta, elegante, misturada a algo como café ou chocolate e aquele toque vulcânico típico da região amainou. Na boca o dulçor característico do português, com alguma mineralidade e acidez média; corpo também médio, taninos agora suavizados e boa persistência mostram o vinho em seu apogeu. Para quem comprou meia dúzia de garrafas, ainda mais quando vendido em 'promo' por R$ 100,00 ou menos, chegou o momento. À festa, nos próximos meses.  Poggio alla Badiola 2008 é produto da família Mazzei, produtora de Chianti Classico e proprietária do Castello di Fonterutoli. Esse pessoal já vinificava quando Da Vinci usava calças curtas. Segundo o sítio do produtor, é corte 70% Sangiovese e 30% Merlot, embora a Cabernet Sauvignon possa aparecer em alguns anos, fazendo dele um típico supertoscano. Ganhei há algum tempo, estranhei a safra um pouco antiga para vinho relativamente simples, mas gostei quando a vi. O Duílio disse 'fruta bem vermelha', mas não identificou a cereja, que poderia dar-lhe a pista da Sangiovese. Tinha também algo à terra, herbáceo talvez, com taninos leves, corpo médio, acidez discreta mas presente, final algo curto, e mesmo assim agradável. Surpreendente para um vinho simples dessa idade, que agradou bastante o Duílio. Às vezes a garrafa mia, ainda que jovem... esta, deu certo.


Dois não comparecem, dois bebem (sic! não resisti à repetição, e vem mais...). Sob essa máxima reunimo-nos a Liu e este Enochato, deixando Mário e Débora a ver taças voadoras. Levei um Crozes-Ermitage Le Grand Courtil 2009, do Ferraton, já comentado outras vezes, inclusive sob as marvadezas do Renê, cuja leitura recomendo e vinculo à recente postagem vinho nota-sem. Le Grand Courtil respirou cerca de uma hora antes de chegar à mesa, mostrou fruta agradável e toques à chocolate ou fumo - qual? Herbáceo, também. Boca perdendo um pouco da potência de outrora, taninos médios, acidez nem tão vibrante quanto antes, mas com fruta e chocolate, apesar de decaindo também. Passou um pouco do limite; ainda bom, mas cuidado; beba!. A Liu compareceu, sem abrir antes, com o Papa Figos 2021, duriense da Casa Ferreirinha. Mesmo entre os vinhos de entrada do produtor, é muito bem feito a ponto de precisar de tempo em garrafa para desabrochar. Como o Papa Figos 2019 degustado em 2021, este exemplar estava fechado no nariz e na boca. Expressava sim um pouquinho de fruta e o dulçor lusitano estava lá, com acidez beirando a média, taninos muito duros e final condizente com o conjunto da obra - nem tão rápido, nem tão marcado. Vai evoluir muito bem, não há dúvida. Conversando com a Liu depois do encontro, ela, aos prantos, comentou que o vinho não melhorou nada, nadica de nada (rs), mesmo no dia seguinte.

   Comprado há muito tempo e da Enoeventos, quando esta praticamente só tinha ótimos preços, não faz sentido falar de seu valor hoje - a conta em alguma postagem mostra quão boa ela foi. Encontrei vários Ferratons na Vivavinho, todos esgotados. Parece ser uma franquia antes de importador, mas não está muito claro. Há no sítio a opção onde pode-se montar uma loja a partir do catálogo deles, e divulgar sua adega para seus seguidores, amigos e clientes, sugerindo - não sei de onde - a possibilidade de serem importados por ela. Não fui saber mais (rs - tem um botão saiba mais lá). De qualquer maneira há diversos Ferratons espalhados por lojas eletrônicas brasileiras. Uma conferida no Wine Searcher é altamente aconselhável, porque de tubaronice o mercado está cheio. Não encontrei o Le Grand Courtil, mas há opções para diferentes bolsos. Papa Figos também é encontrado em muitas lojas, e seu preço é escorchante. Um vinho de 8,00 € em Portugal aqui atinge facilmente 40,00 €. Não há o que argumentar: a detratoria (rs), para quem falta potência e massa cinzenta, pretende defender 3x como margens para vinhos, ou 4x. O que dizer de 5x cravados? Agora é tubaronice? Ou continuarão na ladainha de sempre?

Papa Figos no Brasil, via Wine Searcher. Preços em Euros.

Papa Figos em Portugal, preço em Euros.


Monday, December 4, 2023

Introito

Só por perguntar: de onde o leitor recebe notícias corriqueiras sobre economia, política e assuntos variados? Sem tv, tenho recebido pelo Youtube, e meu foco dá-se mais em política e economia; eventualmente assuntos correlatos. Afinal, como desvincular o crescimento da violência com a falta de políticas públicas e econômicas que coloquem o país em crescimento? - não em recessão, como temos visto na última década, ou mais! Como desassociar política e políticos de páginas policiais? - muito gostaria! Mas a turma não colabora... Todos sabemos: o DOPS cometeu diversos e grandes excessos; a Lava-Jato, não. Estes dias gente do Ministério da Justiça recebeu em suas dependência a chama Dama do Tráfico. Fica estranho o fato de os jornalistas da matéria original - Estadão - terem sido execrados por vários formadores de opinião e mesmo outros jornalistas, até alguém dar-se conta de como estava pegando mal. Soube disso? Um meio de comunicação sério se indignaria... O acontecimento refletiu muito na imprensa em geral. Seu informativo predileto tomou partido? Porque tomando, seria impossível não martelar isso para seus ouvintes/assistintes. Passado o freje, veio mais essa: a mesma Dama de Tráfico viajou às custas do Estado. Não sei se antes ou depois, mas ela é condenada em segunda instância. Estaria presa, não fosse uma lei corrente no brasio, outros dois paisecos mundo afora e outro ainda em algum universo paralelo, sabidamente, fora da Terra, caso único em todo o multiverso conhecido (sic...). A questão é indefensável: o Estado não pode falhar tanto a receber em suas dependências gente condenada sem dar-se conta. Não pode aceitar esse tipo de pessoa - condenada - defendendo qualquer pauta, legítima ou não. O cidadão condenado deveria ter seus direitos suspensos: justa punição da sociedade para aquele cujas ações desrespeitaram as regras impostas - democraticamente, neste caso - pela maioria. Abaixo, imagens para sustentar a premissa de como a notícia circulou - embora eu não saiba o quanto no meio televisivo.

      

Château Beauvillage Cru Bourgeois 2018

Comprei essa garrafa na Enoeventos em julho de '22; foi um dos últimos pedidos antes da política da empresa mudar e não venderem mais caixa de vinhos com o desconto de enoclube a compradores eventuais. Não me filio a clubes que aceitem-me como sócio - dá-lhe, Groucho! - e prefiro escolher meus vinhos. Enoclubes podem ser bons para atrair iniciantes, mas o pessoal perde a mão; esquecem-se dos compradores mais experientes, justamente quem compra os vinhos mais caros. Bem, minha política não muda: estou a comprar uma caixa, pagando à vista, ante a condição do enosócio (sic) de ganhar desconto por uma única garrafa e pagar a prazo. Não negocia-se desconto? Existem outras ofertas no mercado... tá sobrando Cru Bourgeois por aí - e tudo quanto é vinho, diga-se - basta procurar. Não aceito ser tratado como cidadão de segunda classe nem alguém ter desconto além do que será concedido a mim, respeitada a condição da compra. Nada contra enoclubes,e se for comprar somente um exemplar não vou regatear desconto - um erro, aceito por mim mesmo somente pela minha própria brasilidade. Mas se for comprar um caixa em vez de uma garrafa, haverá negociação, e a condição é bem simples: nem precisa fazer um preço melhor do ofertado ao sócio da garrafa solitária; ponto. Mudando de assunto: leitor, gosta de bordozinhos? Está acostumado com Bordeaux AoC, Bordeaux Supérieur e outras tranqueirinhas? Encontre nos Cru Bourgeois uma categoria distinta de vinhos. Já falei sobre eles há tempos; começou lá pelos anos '30 do século passado, virou brasio com direito a disputas judiciais e tudo, patuscada repetida no início dos anos 2000, mas foi-se acertando com o tempo. Recentemente, ganhou respeitabilidade; veja a lista de 2020 aqui. Château Beauvillage é um Cru Bourgeois comum (há ainda os Supérieur e os Exceptionnel), simples, reba (risos), até saiu da lista recente; não pode mais ostentar a distinção em seu rótulo. Ora, é o esperado: avaliações periódicas; não atingiu o padrão, tá fora!, e não tem choro. Mas pelo juízo anterior era um Cru Bourgeois, da ótima safra de 2018. Tem aroma rico, muita fruta madura - vermelha e negra - com toques de couro e mais; um nariz melhor poderia divertir-se bastante com ele. Em boca tem a leve picada da Cabernet Sauvignon na ponta da língua e outro toque de especiaria no meio dela. Seria a Cabernet Franc aparecendo? Madeira discreta, 14% de álcool integrado ao conjunto da obra, taninos macios, está pronto para beber; guarde por mais três a cinco anos, sem preocupação. É um vinho de corpo médio com leve dulçor, boa permanência e final, e foi ótima compra a cerca de R$ 180,00. Sei, é complicado recorrer à memória nesses casos, mas tento lembrar-me de tintos nacionais provados no evento da Mercearia 3M em outubro. Nada se compara, nem de perto. Mas o preço, esses sim estavam bem próximos... algo está errado, e não são as comparações esdrúxulas deste Enochato...