Friday, April 30, 2021

400 mil e a falência coletiva

Introito

   Lamentavelmente chegamos nos 400 mil mortos pelo Covid. Uma CPI com suspeita de que acabará em pizza - quero estar errado; por enquanto a maioria é de senadores da oposição, mas dá para sair muito dinheiro dos cofres governamentais antes do país falir de vez - ainda dá-nos alguma ilusão de que o futuro próximo (6 meses) possa apresentar algum vislumbre de mudança. Um amigo bolsonésio, há dois meses, enviou-me uma agenda de vacinação. Minha idade estava prometida para iniciar-se no dia 5 maio. Ontem enviei-lhe um uatizappi - somos da mesma idade - convidando-o para irmos juntos tomar a vacina. Adivinhe o resultado... 
   Enquanto isso o Estúpido-Mor da República continua com seu negacionismo, ameaças de golpe - venha... - e  insistindo em fazer parte do problema em vez de tornar-se parte da solução. Já comentei aqui: deixe as tralhas, e junte-se aos bons. Bolsonésio e importador energúmeno: tudo a ver; fiel retrato de um país falido.

Santenay

   Santenay é uma comuna da 'macro' região de Côte de Beaune, que fica na Borgonha. É uma comuna Premier Cru, produzindo grande quantidade de tintos e um pouco de brancos - sempre Pinot Noir e Chadonnay, respectivamente. Claro, nem todos os vinhos são Premier Cru; existem doze regiões demarcadas com tal status, além de porções ditas Village. Dentro das regiões Premier Cru, muitos produtores plantam para vinificar ou vender suas uvas.

Maison Louis Latour

   Louis Latour é uma empresa négociant, estabelecida em 1797. Possui vinhedos Grand Cru, Premier Cru e Village, além de comprar uvas de produtores independentes. Produz, efetivamente, dezenas de rótulos por toda a Borgonha. É tido como um produtor consistente, mas vamos lá: no mundo do vinho, toda uva é vinificada. Não importa se de alta ou baixa qualidade: está na Borgonha, vai virar um Borgoinha. Está em Montalcino, vai virar um Brunelinho - ou Rossinho, ou alguma coisa mais estranha (rs!). Está no Brasil, vai virar um Colheita Selecionada (sic! rs!), ou o que o valha, e custar os olhos da cara.  O leitor entendeu... Assim, se comprar um Louis Latour Rouge e não estiver tão bom quanto o esperado - ainda mais pelo valor -, não venha reclamar a este blogueiro. Diria ainda que, com várias dezenas de rótulos em seu portfólio, não estranhe se a marca estiver presente nos catálogos de várias importadoras, cada qual com sua margem, pornográfica ou não.

Louis Latour Santenay La Comme 2013

La Comme é um dos vinhedos Premier Cru de Santenay. Não é incomum que vinhedos sejam repartidos entre diversos produtores, então se encontrar um La Comme de outra casa, não se assuste. A safra 2013 não foi lá grande coisa. Essa garrafa foi comprada no Chile há alguns anos por R$ 120,00. Dóla a uns R$ 4,00, talvez. Não faz sentido comparar o preço com o Brasil se não temos um importador precisamente desse rótulo por aqui - não encontrei. Tem nariz com fruta vermelha bem marcada, especiaria e algo doce. O doce repete-se na boca, onde está balanceado pela acidez muito expressiva, taninos leves, álcool também integrado (13%). A madeira - 12 meses em barrica - quase não se nota. Está pronto para beber. Em se tratando de Borgonha, não sei dizer quanto tempo mais poderia durar. Já bebi Grand Crus com 15 a 20 anos, e estavam novos. Borgonhas muitas vezes envelhecem, oxidam e continuam excelentes na modalidade oxidado. O ponto é que não sei avaliar esse exemplar, se poderia ter envelhecido mais e encontrado sua quinta essência. Estava desejoso de um vinhobão, e nesse quesito sei que meus borgoinhas não me decepcionariam. Pelos R$ 120,00 foi felicidade engarrafada. Para um Premier Cru? Ah, vá!

Saturday, April 24, 2021

O colonialismo e o último dos moicanos

Introito

O Último dos Moicanos, escrito por James Fenimore Cooper, foi lançado em 1852 e é uma das obras-primas do romantismo norte-americano. Por aqui, e na mesma época, entre 1852 e 1853, Manuel Antônio de Almeida lançava, em folhetins, seu excelente Memórias de Um Sargento de Milícias. Ele tinha apenas 22 anos. O Último dos Moicanos teve diversas adaptações para o cinema, mas só assisti à última, que gostei muito. Também achei a música tema excepcionalmente bem composta. Vai que virou clichê referir-nos por o último dos moicanos a qualquer lata de cerveja em churrasco, quindim no balcão da padaria ou o torresmo que caiu no chão no bar onde todos estão bêbados e que ainda assim o mais rápido pegou e não se fez de rogado. Nós, enófilos, às vezes nos referimos ao último dos moicanos quando abrimos a garrafa derradeira de um vinho que compramos em bom número.

Visconde de Borba Reserva 2009

Como relatado, comprei uma caixa com três safras do Visconde de Borga Reserva: 2007, 2008 e 2009. A 2007 foi degustada quando o blog estava quase finado, a 2008 é a que foi resenhada, e agora chego à última das moicanas (rs). Após uma hora e meia de aberta, apresentou nariz com boa fruta vermelha, toques terrosos e de madeira e especiaria. Boca com aquele doce típico português, especiaria, fruta vermelha repetindo o nariz e taninos bem presentes. Com a acidez bem marcada, caracteriza um vinho de bom corpo, com final igualmente bom. É um corte de Alicante Bouschet, Trincadeira e Tinta Caiada, 14,5% de álcool, com estágio em madeira. Um bom conjunto. Lá fora (EUA), está entre USD 20,00-22,00 (safra '16), com os impostos. Como no caso postado anteriormente, parece-me que existem melhores opções nessa faixa de preço. Por aqui, está entre R$ 130,00 (Banca do Ramón) e R$ 269,00 (😖) na Vinho e Ponto. Estava em 'promo' há algum tempo, mas parece que acabou a alegria. Ou a Banca do Ramón subitamente mudou para uma as melhores relações custo-benefício do mercado (não é minha impressão, mas não acompanho muito), ou algo está errado. Um leitor comentou-me por uátizáppi (rs!) que tem preferido os espanhóis. Comprei alguns em ótimo preço recentemente, até comentei em alguma postagem: os Capellanes. O que degustei na última quinta-feira deixou-me entusiasmado. Então, é isso: estamos sendo colonizados demais, pagando, algumas vezes, preços abusivos por vinhos relativamente simples - apesar de bons - que não resistem a uma comparação de preços no mercado. Espero que nosso destino não seja igual ao dos índios nativos das américas, que sofreram principalmente com as doenças trazidas pelos colonizadores e menos com a pólvora de seus bacamartes. Da minha parte, vou brandir meu tomahawk (ou minha borduna, para os mais nacionalistas), e sentar porrada na cabeça de energúmeno. Porque resistir é preciso.




Friday, April 23, 2021

A aquarela e o Pintor

Introito

   O 70tão Antonio Pecci Filho é um cantor, compositor e violonista de mão cheia e absolutamente desconhecido. Por esse nome, claro... porque pela alcunha, Toquinho, talvez só não seja conhecido pelas pessoas mais sem oportunidade que nosso sistema social conseguiu criar. Esse sistema vem sobrevivendo nas figuras de odebrechts, camargos correas, andrades gutierrez, queiroz galvões e outras, que estão para ser reabilitadas juntamente do segundo maior infame que já pisou neste país, e olha que doutor Josef Mengele deixou suas pegadas por aqui. Pobre Mengele, sequer figuraria na lista dos dez mais. Faça um rápido exercício e enumere as mais infames personagens da atual república e compare. Só no Supremo tem meia dúzia. Mais? Pois é! Pensando bem, Mengele não figura entre os top 20. Pobre trombadinha. Sejamos mais aprazíveis, voltemos ao começo. Toquinho. Ali por 1970, iniciou uma sólida parceria com o Poetinha, que aliás é personagem de um conto de ficção científica da minha lavra (inédito, claro 🙄). A colaboração chegou ao fim com a morte de Vinícius, em 1980, e apenas três anos depois Toquinho lançava o que talvez seja seu maior sucesso individual: Aquarela. Há quanto tempo você não a ouve? Relembre... porque nesse caso relembrar é deleitar(-se).

Monte do Pintor Reserva 2011

Monte do Pintor é um produtor do Alentejo, estabelecido próximo a Évora. Produz uma gama simples de vinhos: um branco, um espumante, e os tintos em ordem crescente Pequeno Pintor, Monte do Pintor, Monte do Pintor Reserva e Escultor, seu ícone. Já experimentei duas vezes o Escultor. É um ótimo vinho. O de hoje foi seu segundo rótulo, o Monte do Pintor Reserva 2011. Escrevo com meia garrafa descansada na geladeira de ontem para hoje - como você acha que fiz a última postagem?! 😂 - e Pintor sobreviveu muito bem. Continuou com boa fruta vermelha e madeira; apareceram chocolate e couro. Boca com porte médio, bons taninos, 15% de álcool não aparente. O doce típico do vinho ibérico arrefeceu. É um corte de Trincadeira, Aragonez e Cabernet Sauvignon que, se não fosse pela ficha técnica, dificilmente perceberia. A especiaria da CS está discreta com esses 10 anos. Pintor pede Aquarela para acompanhar na degustação e formar um bom dueto; pronto para beber, pode ser guardado um pouco mais apenas por capricho. Tem bom final e boa permanência, deixa seu rastro bem marcado garganta abaixo, de modo que a saliva posterior não se perde no caminho 😂. Custa 'lá' (Portugal) cerca de 30 dóla. Aqui encontrei por R$ 260,00 (paguei cerca de R$ 100,00 há bom tempo...), mas vejamos: USD 30,00 x R$ 6,00 = R$ 180,00, portanto é uma boa relação custo-benefício. Eu me pergunto se vale os USD 30,00 'lá'. Pensando bem, acho que existem compras melhores. Se você já está desembolsando 30 moedas, pegue mais 10 e compre um Quinta do Vallado Field Blend. Não é uma mudança de degrau. É mudança de andar... Então acho que, apesar de bom, Monte do Pintor Reserva, mesmo na ótima safra portuguesa de 2011, não é um vinho para tudo isso. Nessa faixa de preço (diria até USD 50,00), acho um tanto raro que vinhos europeus destoem tanto no quesito preço-qualidade. Mas acabei por encontrar um caso...

Thursday, April 22, 2021

Os caminhos de Santiago e as mandracarias do Gustavo

Introito

   Ia rolar outra degustação online da Enoeventos, um encontro muito divertido e com transmissão via Youtube promovido com alguma frequência pela importadora. Com sede no Rio de Janeiro, ela tem parceria com um restaurante que entrega os pratos para um jantar harmonizado na cidade e em Niterói, o que oferece boa oportunidade para os cariocas mas deixa os demais expectadores um tanto a ver navios. Desta vez, embora já próximo à data, mostrei a proposta para o Gustavo, cozinheiro e proprietário do Bistrô Graxaim. Ao olhar o cardápio, ele encarou-me com um olhar especialmente artimanhoso enquanto comentava:
   - Croquetas de queijo em caldas... cogumelos recheados... - só faltou terminar com 'asas de morcego' e 'orelhas de gato preto' para que a invocação de alguma poção mágica fizessem seus olhos brilharem ainda mais...
   Claro, ele comprou o desafio (e seis garrafas de vinho direto do importador) e acionou sua clientela mais próxima; com apenas uma semana para preparar e divulgar tudo, não poderia arriscar um pedido grande.

O evento e os pratos

   O evento foi bem programado: quatro opções de prato principal e sobremesa. Ficamos só com prato... A transmissão durou quase três horas imersas em muita informação e diversão (está aqui). Escolhido um prato um tanto sofisticado que levaria queijo Cabrales, indisponível na região, o Gustavo contatou o chef carioca para trocar algumas ideias de preparo. E a conversa mostrou-se frutífera...

A proposta original era composta de cogumelos recheados com creme de camarões e páprica, e croquetas de queijo “Cabrales” e calda de marmelo. Nos cogumelos, ele usou também shitake e um toque de angostura no preparo dos camarões. Nas croquetas, em vez da calda de marmelo vieram peras laminadas e caramelizadas com maple syrup, e em vez do queijo Cabrales, uma ricota enriquecida com gorgonzola. Não sei se o safado fez algum teste antes do dia fatal - ele jurou que não! - mas os quitutes estavam de-li-ci-o-sos. Preciso comentar que aprecio mesmo é um bifão - cozinheiro de um prato só, faço apenas medalhão com molho gorgo - mas quando um prato mais elaborado contém uma diversidade de sensações como as que foram apresentadas, ele de fato deixa o bifão falando sozinho no lado escuro da Lua. Impossível deixar de comentar ainda a ousadia em se combinar um sabor agridoce como calda de marmelo/peras caramelizadas com um vinho tinto. Fiquei tão surpreendido quanto agradecido pela oportunidade... a harmonização foi surpreendente e ficou clara a ótima qualidade da proposta. Lembro-me de apenas uma combinação tão feliz quanto, que foi a bruschetta do Bart 'Chez Marcel' (vão figo, mel, rúcula, Parma e queijo Brie), acompanhada de Borgonha... do bom, claro, é outra experimentação inesquecível.

Bem, combinei com o Gustavo de chegar às 18:30. Para não ficara apenas na conversa (rs), levei um espumante Bacio della Luna Spumante Blanc de Blancs Millesimato Extra Dry (também comercializado pela Enoeventos). Sem aguardar muito o início online, começamos a beliscar algo às 19:30, horário da introdução - recomendo que o leitor assista-a, usando o endereço acima. O Gustavo caprichou nas porções. Vai que experimentamos com o espumante (comentado anteriormente aqui), que surpreendentemente casou bem com ambos. "Se você tem dúvida sobre uma combinação, use espumante; se não ficar bom, também não dirá muito errado" - comentou o Gustavo, à guisa de piada. Servido o vinho principal, nova surpresa: pronto para beber, Baron de Ley Gran Reserva 2013, Rioja 100% Tempranillo, chegou com bom nariz, fruta bem vermelha, café (chocolate? - rs!), couro... o corpo é médio - e olha lá; o Gustavo achou que seria um vinho leve, não estaria tão errado na interpretação - mas... desde quando isso é crime? (rs!). Não é o que eu esperaria de um Gran Reserva espanhol; esperaria mais madeira - estava muito equilibrada, o próprio Gustavo chamou atenção logo de cara!, e ela, a acidez, tinha presença e era muito elegante. Taninos já bem harmonizados, álcool pouco aparente, um travo levemente doce sugerindo mais frutas. Bom final, boa persistência, é um vinho de USD 25,00 lá fora e está em 'promo' aqui por R$ 275,00. Vejamos... R$ 25 x USD 6,00 = R$ 150,00 x 2 = R$ 300,00. Ou seja, a preço de dóla cheio seu preço 'cá' está menos de 2x o preço 'lá'. Se estivesse o dobro do preço para um dóla de R$ 4,50, então seria um pechincha. Não é; é apenas um ótimo preço ao dóla atual. Diferente do que energúmenos pensam ser razoável praticar, com preços 3x, 4x o preço lá de fora. Traduzindo, em outro importador poderia custar R$ 500,00... então já sabe: avisei! (rs)
   Ruim de conta (😒), achei que a quantidade de bebida daria a conta... toca correr pra casa no meio do evento e pegar uma garrafa do Pago de los Capellanes Joven 2019, também vendido pela Enoeventos. Outro 100% Tempranillo desta vez de Ribera del Duero, apresentou boa fruta vermelha no nariz. É um vinho de consumo fácil, pois os taninos não pegam muito. Tem boa acidez, álcool contido, levemente encorpado, denotando alguma especiaria. Combinou com os pratos, mas não tão bem. O final é bom, persistência razoável, bom conjunto para a faixa de preço. Acho que o erro foi não ousar (rs!) que beberíamos tanto; deveríamos, claro, começar por ele. É um vinho de preço médio USD 15,00 x R$ 6,00 = R$ 90,00 'lá' e R$ 172,00 'cá'. Levemente menor que 2x, portanto. Taí uma importadora que mostra coerência nos preços de seus produtos. O Enochato gostou...

Sunday, April 18, 2021

Falcoaria II - tinto

Introito

   Falcoaria é a arte de criar e treinar aves de rapina, principalmente falcões. Na postagem anterior sobre o Falcoaria Vinhas Velhas, branco, acabei não comentando: procurei e não encontrei, no sítio do produtor alguma explicação sobre o porque de atribuir tal nome a uma linha de seus vinhos. Curiosamente encontrei uma aba sobre Coudelaria, que é o lugar onde se criam, aperfeiçoam e treinam animais, especialmente cavalos! Supostamente, em Portugal, se você pedir para contarem uma piada sobre brasileiros, a resposta será que não existem piadas... é tudo verdade 😨. Notando o surrealismo que atravessamos, nem dá para desdizer... Só que no caso em pauta, fica impossível não pensar se a recíproca teria uma aura de verdade... 🤣😂

Falcoaria Clássico 2014

Falcoaria Clássico 2014, produzido pela Quinta do Casal Branco, é um corte de 30% Castelão, 25% Alicante Bouschet, 20% Touriga Nacional e 25%  de outra uvas, segundo o Wine Searcher. Olhando o sítio do produtor, parece que esses 25% são de Cabernet Sauvignon. Aliás, o sítio do produtor mostra o vinho à venda (15,00 Euros) sem especificar a safra 🤨. Como comentado, é uma vinícola estabelecida no Tejo, outrora Ribatejo, misturando ampla gama de cepas autóctones com diversas francesas, como Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah, Chardonnay e Sauvignon Blanc. Escrevendo na segunda hora após sua abertura, tem nariz delicado com complexidade de frutas e fundo herbáceo. Na boca repete-se a fruta e tem especiaria. A Cabernet tende ao estilo bordalês, não pica na entrada, que é a apresentação mais comum dessa cepa. Antes, nota-se uma picância mais distribuída - seria a da madeira? Taninos em presentes, maduros, harmonizam com a boa acidez e os 14% de álcool: é um ótimo conjunto. Brindam-nos ainda boa persistência e um final que até pode ser um tantinho curto - para meu padrão - mas após a salivação notamos seus traços permanecendo um pouco mais. Se está pronto para ser bebido, acho que também aguenta um pouco mais. Aos R$ 99,00, preço do Savegnago "Passeio" em S. Carlos, é excepcional compra. Não tenho certeza de valer 15,00 Euros, porque na faixa de 20,00 já encontramos opções com mudança de qualidade bem perceptível. Valeria... 10,00-12,00 Euros? Sim! De qualquer maneira, seu preço 'cá', sob importação do grupo supermercadista Verdemar apresenta-se como uma verdadeira pechincha.  Se comprar meia dúzia, para beber um a cada dois ou três meses, dá pra ser feliz desembolsando relativamente pouco (100zão!). Claro, vai do padrão de cada um. O meu estaria plenamente satisfeito...

Saturday, April 17, 2021

O dia da Malbec

Introito

   - É o marketing, estúpido! 
   Por um segundo pensei que poderia ter ter cunhado outra frase na esteira do James Carville, mas essa soou um tanto óbvia. Minha frase anterior era menos evidente. Pesquisando, descobri que o Nizan Guanaes já a havia lançado. Apenas mais um exemplo de que este Enochato foi plagiado novamente quando tomamos o sentido inverso do tempo 😂. Voltando, é dia dos pais, das mães, dos namorados, sob pressão tem até coelho botando ovo, e assim caminha a humanidade. Eis que chegamos ao Malbec Day, um dia para a celebração dessa cepa que (parece) desapareceu da França com a filoxera e depois foi replantada a partir de mudas Argentinas. O mais curioso é ver alguns (pseudo)críticos falarem maravilhas da delicada Malbec enquanto por aqui lançamos um perfume masculino com esse nome. Um ogro morador de caverna com piso de madeira usando um... delicado perfume Malbec... tá... 🤣.

Alta Vista Alto 2006

   Alta Vista é tida como uma das mais importantes vinícolas da Argentina. Mesmo seus vinhos de entrada - pelo que me lembro, e pelo meu 'treino' de então - são de boa qualidade. O bebedor poderá encontrá-los superiores a similares chilenos e à grande maioria dos demais argentinos, na faixa de preço. Já havia bebido, há muitos e muitos anos, seus três Single Vineyards Alizarine, Serenade e Temis, em momentos diferentes. Não postei nenhum deles, acho, mas todos muito bons. Após guardá-lo por mais de 10 anos, chegou a vez do ícone Alto. 
Alto 2006 chegou aos 15 anos em plena forma. Nariz marcado por fruta intensa, baunilha evidente e algum açúcar, que cede depois de duas horas, quando aparece o trio que sempre me confunde (rs), chocolate-café-couro. Escrevendo agora, mais de duas horas, a boca inicialmente um pouco doce também se equilibrou: o álcool diminuiu (escapava só um pouco), a madeira esta bem presente mas sem excesso, o dulçor está bom, e a impressão de chocolate amargo permanece por um bom tempo na boca. A acidez surpreende para um sul-americano, é média. Melhor do que Chiantis mais simples do nosso mercado, por exemplo. No meio a tudo isso, os taninos apresentam-se muito amaciados - mas pudera! 15 anos... - Sem presunção, é um dos melhores sul-americanos que já bebi, ao lado dos Bramares, da Cobos. Para um corte 75% Malbec 25% Cabernet Sauvignon, a Cabernet lembra um Bordeaux elegante: não tem a picância típica que ela apresenta na maior parte dos vinhos; é muito discreta. Um vinhão, o melhor que podemos chegar a dizer de opulento para um vinho destas bandas. Alto você pode colocar debaixo do braço e ir para a Europa mostrá-lo como um representante do lado de baixo do Equador. Ele vai até levar uns tabefes, mas deixará olhos roxos em troca. Principalmente pelo preço 'lá'. Esse talvez seja o maior problema. O 'correto' é esperarmos que o vinho em seu pais de origem tenha bom preço. Na linha dos chilenos, Alto custa cerca de USD 100,00 na Argentina e no Brasil, USD 88,00 nos EUA e USD 73,00  na Europa, vide abaixo. Então ficam perguntas que não aceitam ser caladas:
* Por que o consumidor Argentino precisa pagar tanto por um vinho nacional que custa mais barato lá fora?
* Notamos que o vinho custa aqui praticamente ao mesmo preço da Argentina, apesar da nossa tão bem conhecida taxação excessiva. Tolice dizer que 'é Mercosul'; a taxação interna por aqui é sabidamente muito grande. Quero dizer: o pirmeiro ponto repete-se aqui! O pobre cidadão argentino corre o risco de pagar aqui um preço menor que em seu país!
* Alto sai da Argentina, pega o navio (sic) e aparece nos EUA ou Europa custando até USD 80,00! Peraí (sic! rs!), saiu da Argentina por quanto? Ô cambada desordeira! Alguém me explica por que não é mais patriótico vender o vinho a seus conterrâneos pelo mesmo preço que exporta (tá, acrescente os impostos nacionais. Mas desconte também o custo do frete internacional!) e incentivar o turismo regional onde turistas possam levar o produto a um preço mais atraente, em vez de explorar os nativos e vizinhos e sentar no colinho dos gringos. Porque na hora de falar mal dos ianques os argentinos querem aparecer em primeiro lugar!
* Finalmente, e não menos importante, o vinho chega na Europa/EUA, o pobre (sic) importador ainda tem custos de armazenagem, marketing, distribuição a restaurantes (sic), e vemos o vinho lá custando mais barato do que por aqui, como defendem os energúmenos de plantão destas terras. Novamente a pergunta: saiu da Argentina por quanto? Se os argumentos dos energúmenos valem, deve ter saído por 1/4 do preço de lá, menos de USD 20,00... Será? Que saiu mais barato, acredito. Tão mais barato, suscita a pergunta inversa: e os europeus, saem de lá por quanto menos?!, para custar o que custam aqui?




















Friday, April 16, 2021

De energúmenos e falcões

Introito

   Uma das últimas postagens do blog sofreu pesados ataques da detratoria (sic!) patrulhadora das opiniões não-conformes com o stablishment. O blog encontra-se sob opressão tanto quanto a Democracia está sendo solapada pelas tropas bolsonéias. Resistir é preciso! Nesta batalha, o pobre-diabo (um mero 04 da vida), que já visitou este espaço diversas vezes, protege-se sob o manto do anonimato proporcionado pela internet. Não é por isso que deixarei de travar o bom combate com o covarde ignoto. Aliás, acho muito interessante desmascarar o baixo nível argumentativo desses capiaus. No começo, pensei que seria uma contenda intelectual discutir com quem defende margens pornográficas na venda de vinhos. Qual... o nível da argumentação chega ser abjeto - prova cabal de que discutimos apenas o excesso de lucro pelo excesso de lucro, e nada além. Repete-se argumentos estúpidos na esperança de que com o tempo tornem-se verdadeiros. É deliciosamente engaçado ver minhas abordagens (digo, respostas) diferentes sobre o mesmo tema retornarem na forma da mera repetição. Vai que a disposição para o combate reverte-se em mero infortúnio. Vejamos um exemplo da última postagem:

Senhor Carlos, mais uma vez o senhor destila sua raiva e por que não dizer, preconceito, ao dizer que pagamos salários a tolos. Nós remuneramos bem os nossos funcionários, que são muitos. Contribuímos para o sustento de muitas famílias. E o senhor? O senhor acha errado pagar bem nossos colaboradores? Muitos não fazem isso e conseguem cobrar menos pelos produtos que vendem. São empresas quase que familiares, às quais, também respeitamos. Sua cabeça é realmente muito limitada. E fica gritando como uma galinha velha, sem botar ovo. Se não tem conhecimento de causa, deve calar-se e evitar escrever impropérios. Continue comprando seus vinhos de qualidade e procedência duvidosa. Pelo jeito, isso não fará a menor diferença para o senhor. O importante é que pague mais barato e beba garrafas e mais garrafas. Como disse, espero mesmo que o senhor não trabalhe com o público, para que as pessoas não tenham que ouvir ofensas e gritos a todo momento, só por terem contrariado o vosso pensamento.
Sds

   Em vermelho, chama a atenção como se distorce qualquer afirmação minha descaindo para o paternalismo. Ao falar em 'custos com funcionários', eu defendia nas entrelinhas que a máquina precisa sem enxuta - como em qualquer empresa! - e, não sendo, é necessário ter uma estrutura onde idiotas comandam idiotas que não sabem trabalhar, elevando os custos. A resposta  pretende colocar-me na posição de bandido desalmado e afirma: quem vende mais barato, vende porque não remunera bem os funcionários. Deve ter um espião dentro das empresas que enviam-lhe relatórios detalhados... Depois muda de assunto, conforme o sublinhado (sobre empresas familiares), mas tal proposta nada tem a ver com a premissa. A premissa é 'não pagar bem funcionários'. Daí, extrapola que, sendo familiar, não paga bem os respectivos. Novamente, o sujeito tem informações privilegiadas. E, finalmente, empresas com estruturas maiores (desde que eficientes!) devem ganhar na escala, e podem pagar seus quadros, sim senhor!
   Em azul, vê-se o compromisso com a discussão: nenhum. Devo calar-me. Não posso questionar. Os questionamentos dele foram todos demolidos. E pior, sem muito esforço. Então ele retorna com a mesma ladainha de sempre, tentando calar-me sem nunca dar argumentos. 
   Em verde, nota-se o respeito do fulano pela concorrência. Quem pratica menor margem tem qualidade e procedência duvidosa (sic).
   Em rosinha (rs), o xingamento depois que escrevi em caixa alta - sim gritando. Fruto de comentários muito energúmenos. Este blog não pretende ser politicamente correto e a educação e cortesia vão até certo limite. A pessoa em questão já foi respondida diversas vezes anteriormente, e nunca apresentou um único argumento nas discussões. Como dito, repete frases soltas esperando que tornem-se verdade. Não neste espaço, que é de debates. Ao fugir da argumentação, não respeita o espaço, que é de discussão. Não me respeita. Não me respeitando, terá da recíproca, em algum momento. Observando, claro, que o xingamento não faz parte da conversa. Xingamento foi o dele, justamente apontado em... rosinha...
   Uma das bases da minha argumentação - depois de assumir que não conheço em profundidade os trâmites da importação, etc., etc., etc. - vem da observação de que eles (os trâmites) valem para todas as empresas, grandes ou pequenas. E, se a empresa é maior, ora, ela tem que ganhar na escala! Recuso-me a acreditar que a escala perca da burocracia, se esta vale para o grande e para o pequeno. Perde da ineficiência (em qualquer lugar, não só aqui!), mas é outra questão.
   Ser exortado a largar dos picaretas e juntar-se aos bons não traz o energúmeno à reflexão. Ele ainda quer justificar o injustificável. Por mais que aconteça assim: abaixo temos dois preços do mesmo vinho (safras diferentes). Na primeira imagem, seu preço no catálogo de 2019-2020, e antes dele esgotar-se, representado por uma importadora tubarona. Vendido ao dóla do dia, saía pela bagatela de USD 118,50, pelo menos R$ 600,00 a custo de hoje. Comprando em Real, no dia 6/3/2021(!), paguei... R$ 245,65! Se o vinho está bom? Ara, Já havia experimentado dele há algum tempo - não postei. Mas aquela experiência foi a 'deixa' para começar a estocar Korem como se não houvesse amanhã (rs). O vinho não apenas é muito bom como está em ótima condição, conforme comprovei em duas ocasiões no último ano! Então é assim: o que não é 'dele', é de procedência duvidosa. Vê-se que respeita os concorrentes como respeita o blog...


   Bem, quem sabe agora o leitor desavisado não estranhe mais quando digo que importadores (e sua corja de obedientes defensores) são energúmenos. 

Falcoaria Vinhas Velhas 2016

 Falcoaria Vinhas Velhas é produzido pela Quinta do Casal Branco. Está estabelecida na Doc do Tejo, que procedeu a denominação Ribatejo em 2009. É um 100%  Fernão Pires, casta autóctone portuguesa e completamente desconhecida por nós brasileiros, que precisamos aprender a admirar o que é a maior riqueza portuguesa além, claro, da hospitalidade de seu povo. Nariz com firmes toques cítricos (limão? parece mais do que mexerica...), boca muito mineral como já adverte a ficha na página do produtor, apresenta ótima acidez em equilíbrio com o álcool que, em seus 13%, nota-se muito pouco - boa integração - e deixa um rastro igualmente cítrico. Não casou com xarxixa (sic) de vitela nem com queijo brie. Não destoou, mas não casou. Num doelo (sic), a tendência é que a Fernão Pires mate a Chardonnay. Não porque não casou bem com quitutes afeitos a esta, mas porque tem mais pegada. Boa persistência e bom final, permanece na boca depois de engolirmos e salivarmos... É um vinho de 15 Euros no sítio do produtor e vendido aqui - Savegnago S. Carlos - a R$ 99,00! A importação é do grupo supermercadista Verdemar. O próprio Savegnago começa a fazer suas importações com margens interessantes. Comentei muito recentemente sobre as margens dos supermercados. Eles estão acordando. You heard first from Charlieeeee... (vá ao minuto 3:30! 😂).

Monday, April 12, 2021

O Homem cordial, a generosidade e a idiotice eterna

Introito

Quando os amigos deixam de jantar com os amigos, 
é porque o país está maduro para a carnificina
Nélson Rodrigues

   Corriam os idos de '30. Sérgio Buarque de Holanda propõe o conceito do homem cordial para tentar explicar o comportamento do brasileiro. A proposta é que o brasileiro prefere estabelecer um nível de intimidade em suas relações, em detrimento a um posicionamento mais formal. Traduzindo: ele tende a transformar tudo em família - famiglia, no sentido mafioso do termo - confundindo o público e o provida. O indivíduo chegou lá: elejeu-se deputado, senador, portanto (sic!) ele tem o direito de usufruir de sua posição como bem entender. Caiu a ficha? Isso parece ser uma explicação razoável (mas não justificável!) para entender como funciona a cabeça de um político? Pois é...
   Sérgio Buarque de Holanda ele mesmo é o exemplo acabado de que gênios geram imbecis. O que dizer do que podem gerar imbecis natos... não venha dizer-me que podem gerar gênios, se você não conhece algo sobre entropia. E, se não conhece, vá estudar antes de questionar. Basicamente é assim: a bagunça não diminui, só aumenta. Então, o caos voltar à ordem é impossível; alguma ordem degenerar para o caos é o destino de tudo (e de todos: do pó ao pó). 
   Mercedes Sosa, cronópia de primeira linha e uma das melhores cantoras worldwide desde sempre, deu mostras de generosidade cantando em diversos momentos com famas absolutas de qualidade não mais que mediana - tais famas são tudo o que merecemos por escolher nosso destino de maneira tão medíocre -, como no encontro mostrado aqui. Um traço pós-moderno (sic) da cordialidade, nossos supostos ícones culturais (intelectuais? não... é que não temos ícones intelectuais, então novamente de maneira pobre, abaixo do razoável, tomamos os primeiros pelos segundos) insistem em manter laços de amizade e concubinato com corruptos reconhecidos, ladrões condenados e picaretas dissimulados, que pouco falta para juntarem-se aos outros dois grupos citados imediatamente antes deles. Reflita um pouco sobre esses imbecis natos, mas também não sisqueça (sic!) de viver a vida e cuerta (sic! 🤣) um pouco mais da Mercedes, em outra prova de sua generosidade absoluta, acompanhado por outro fama de primeira linha.
   Por última reflexão, uma coisa precisamos convir: os esquerdopatas que enterraram suas biografias gozavam de real reconhecimento público, para o bem ou para o mal. Os direitóides, por suas vezes, são todos medíocres que nunca saíram do real anonimato, conquistando nada além de medíocres plateias. Assim caminhamos para o abismo. Se vamos dar o passo para atrás e livrar-nos da nossa idiotice eterna, ainda que no derradeiro momento de estarmos a cair pelo desfiladeiro, é algo que temos um breve tempo para pensar. Sejamos rápidos e objetivos.

Colossal Reserva 2015

Colossal Reserva é um Vinho Regional de Lisboa. A região  conta com produtores como Quinta da Chocapalha, Quinta do Monte D'Oiro, Adegamãe, DFJ Vinhos, Casa Santos Lima e muitos outros. Colossal Reserva é produto da Casa Santos Lima. Na safra '17, foi um corte Syrah, Touriga Nacional, Alicante Bouschet e Tinta Roriz. Podemos imaginar que possa não ter variado muito (podemos?) entre as safras. Colossal Reserva 2015 abriu com um dulçor excessivo, muito além do característico do vinho português de maneira geral. Até perguntei-me se seria um vinho meio seco, a exemplo de diversos primitivos. Não é. Acontece que o dulçor começou a ceder depois da primeira hora. Aerar é preciso; se abrir em 20 (risos) e servir direto para todo mundo, ninguém vai gostar. O nariz é discreto, com fruta vermelha bem marcada e alguma nuance a mais que não peguei. Boca com especiaria, bons taninos, corpo médio, alguma persistência e final bem adequado, para um vinho na faixa de preço. Não vamos nos iludir, é um vinho relativamente simples, mas é o simples que agrada o bebedor menos exigente como eu. Seu custo 'lá' é da ordem de USD 5,50 (praticamente 5 moedas de Euro), o que torna-o um grande competidor nessa faixa de preço. Por exemplo, é melhor que o famoso Monte Velho, ao custo de 4 moedas de Euro. Se vai pagar 4 no Monte Velho, pague 5 em Colossal. O problema é que Colossal custa aqui uns R$ 120,00 😢. Isso dá margem de 3x. Não foi comprado com o dóla em seu atual patamar, foi comprado em nível bem mais baixo, indicativo de markup bem superior a 3x. Uma pena.

Saturday, April 10, 2021

Château L'Etoile de Clotte 2011 e a 'cidadania forçada'

Introito

   Supermercados são empresas acostumadas a trabalhar com margens baixas. Seus principais produtos são muito básicos e a concorrência é grande. Arroz, feijão, sal, açúcar, óleo (não azeite...), etc., são produtos facilmente encontráveis em qualquer vendinha de bairro e muitas vezes a vizinhança, precisando de uns poucos itens para o almoço de final de semana, não pega o carro para ir à loja de grande rede onde eles supostamente sejam mais baratos. Acontece que desde algum tempo (mais de década, se pensarmos em alguns atores de 'grandes centros', São Paulo, Rio de Janeiro), supermercados estão importando seus próprios vinhos. Antes nicho específico, a mania espalhou-se para grupos de outros estados, como a Cia Beal de Alimentos (Curitiba) e o grupo Verdemar (Minas, acho que BH). O primeiro lançou o sítio de compras Empório Festval (sic) que foi seguido pelo duvidoso (no nome) Lovino. L'ovino? Coisa frutinha... 🙄 O segundo permanece com suas operações centradas em sua própria rede, sem envolver-se com venda online. Talvez seja uma política temporária, mas tem feito bons 'convênios' com outras redes. Por exemplo, com a rede Savegnago, que tem lojas aqui em S. Carlos. Comprei, dentre muitos outros, um Il Falcone, do Rivera, por uns R$ 130,00. É um vinho de USD 20tão lá fora, e apontado pela literatura como um dos melhores vinhos de Puglia. E olha que o Dóla já tinha subido 40% naquele momento. Um parêntese: é isso aí, cara! Um dos melhores vinhos de Puglia custa, 'lá', 20 moedas. Tá, Puglia pode ficar muito atrás das regiões mais tradicionais, mas boto fé (sic) que é muito, mas muito, mas muito muito (sic!) melhor do que exemplares brasileiros de 140 moedas. Preço que não difícil de encontrar nos vinhos nacionais, aliás. Conheço muito pouco dos vinhos de Puglia. Mas aposto. Não vou publicar o que aposto. Falo no reservado.😄 Só não vou pagar 140 moedas por um vinho nacional. Sei que é jogar dinheiro fora. Mas se você foi tonto e já jogou, eu aceito entrar com um Il Falcone, e assim tiramos a teima. Só não reclame se, após o primeiro gole, eu começar a chamá-lo de tonto e a chamaria se estender pelo resto da noite. É o preço para que eu entre com Il Falcone. E tá bom, se for pior você pode me chamar de tonto. Ouvirei resignadamente.
   Vinhos, na margem modesta praticada pelas melhores importadoras do mercado (parêntese longo: entenda bem as 'mais honestas'. 'Honestidade' - abarcando conceitos de ética, boas práticas, 'exploração do mercado', e não do consumidor, não deveria ser um ponto precípuo em qualquer atividade humana. Bem, no ramo de importação de vinho no brazio NÃO É! Você acha que chamo importador de energúmeno assim, por nada? Fecha parêntese!) apresentam margem de 70%-100%. É muito, mas muito mais do que a margem apertada dos produtos corriqueiros já mencionados nos supermercados. Sinto que é uma cidadania forçada fazermos esse pensamento chegar aos supermercadistas. Tais grupos ainda não acordaram para esse fato, mas quando acordarem as importadoras tubaronas (sic) do mercado vão sentir... Neguinho vai falir. Eu acho a falência algo muito triste. Mas em alguns casos vou sim dar muita risada e erguer uma taça em brinde. Porque não costumo sentir pena de canalhas. 

Château L'Etoile de Clotte 2011

   Château L'Etoile de Clotte 2011 é um Gran Cru de Saint-Emilion. Como adverte Don Flavitxo desde o tempo que usava fraldas, Tem um monte de Grand Cru de Saint-Emilion meia boca. Verdade, grande verdade. Mas nosso mercado anda tão distorcido, mas tão distorcido, que qualquer chileno pé-de-chileno (sic) é vendido por preço superior a diversos Saint-Emilion meia boca a preço decente! Preciso ainda comentar que o mercado ficou mais louco com a alta do dóla de 40%. Depois dou exemplos. A safra '11 em Bordeaux não foi 'grandes coisas' - dizem os detratores que foi até 'grandes merdas'. Mas, pelo que andei experimentando, foi melhor que as sul-americanas 'desde sempre'. Fácil: pegue qualquer faixa de preço e compare. Sei que a afirmação pode causar polêmica. Deixemos para os comentários.
 
Château L'Etoile de Clotte 2011 abriu com uma fruta vermelha algo 'estranha'. Confesso que curioso procurei pela ficha técnica e comentários na internet, que apontaram para 'compota'. Don Flavtxo volta e meia aponta em alguns vinhos. Ainda não consegui fixar. Depois de duas horas, exibia algo como fumo, ou chocolate. Não parece ser um grande nariz, de qualquer maneira. Mas a boca... taninos presentes e bem marcados, ótima acidez, madeira integrada, cujo leve excesso precisa ter atenção para pegar e álcool (14%) entre discreto e a pegar um tantinho, compõem um conjunto que pode desafinar um pouco para o bebedor mais atento, mas está notas acima de concorrentes sul-americanos na mesma faixa de preço. E olha que - repito! - a safra '11 foi considera 'reba' pelo mundo afora. É um corte 70% Merlot e 30% Cabernet Franc muito macio e redondo, e paguei uns R$ 130,00 no Savegnago há algum tempo (2018?). Está pronto para beber. Pode durar um pouco mais, mas o momento é esse. Se encontrar por R$ 200,00 e tiver noção do que bebe, é felicidade engarrafada. Duvida que tem (por 200tão)? 

Pois é.. pena que não entregam... mas taí outra rede absolutamente desconhecida para mim que, a qualquer hora, pode tornar-se um player do mercado.

Paciência é sentar-se à beira do rio e esperar o corpo de seu inimigo passar boiando.

   Novamente, e em prol do bom costume: acho a falência algo muito triste. Mas alguns estão fazendo por merecer.

Thursday, April 8, 2021

O Falesco Merlot 2014 e o 'Momento Cidadania'

Introito

   Corriam os saudosos anos de 2003. Os PeTelhos, dançando de vestais, ainda não faziam força para abafar o mensalão - episódio em que os estúpidos psdbistas na figura de seu boçal tucano-mor pregava que deveriam deixar o partido adversário sangrar (e foda-se o povo brasileiro, claro) -, e Chris Buarque, aquele que foi despedido por telefone pelo homem mais honesto deste país, era o Ministro da Educação. Pelo menos ele tinha, desde sempre, uma pauta voltada para a educação. Você se lembra da corja que veio depois? Veja só (lista original aqui):
44Tarso Genro27 de janeiro de 200429 de julho de 2005
45Fernando Haddad29 de julho de 20051 de janeiro de 2011
1 de janeiro de 201123 de janeiro de 2012Dilma Rousseff
46Aloizio Mercadante24 de janeiro de 20122 de fevereiro de 2014
47José Henrique Paim3 de fevereiro de 20141 de janeiro de 2015
48Cid Gomes1º de janeiro de 201518 de março de 2015
Luiz Cláudio Costa (interino)18 de março de 20156 de abril de 2015
49Renato Janine Ribeiro6 de abril de 20151 de outubro de 2015
50Aloizio Mercadante2 de outubro de 201512 de Maio de 2016
51Mendonça Filho[nota 1]12 de maio de 20166 de abril de 2018Michel Temer
52Rossieli Soares6 de abril de 201831 de dezembro de de 2018
53Ricardo Vélez Rodríguez1 de janeiro de 20198 de abril de 2019Jair Bolsonaro
54Abraham Weintraub9 de abril de 201919 de junho de 2020
vago[nota 2]20 de junho de 202016 de julho de 2020
55Milton Ribeiro16 de julho de 2020atual
   Tirando o Andrada (segundo o eleitor brasileiro), alcunhado Jaiminho por seus detratores, somente outros dois, Mercadante e Mendonça Filho, estiveram à frente do Ministério por um período de dois anos ou mais. O pior de tudo é que, nos anos subsequentes ao 'governo' de Andrada (2005-2012), o brasio apresentou seus piores resultados no Pisa. Por mais que suas viúvas e adoradores tentem dizer que ele foi 'o melhor ministro da educação deste país'. Bando de canalhas e idiotas, que não conseguem ver o que lhes vai por debaixo do nariz. Nos anos subsequentes ao 'reinado' de Andrada, o país caiu ou estagnou nos índices, enquanto vinha em um crescente (ainda que tímido) nos anos anteriores. No atual governo - pouco mais de dois anos - tivemos duas vezes mais ministros do que no mandato-tampão de Michel Temer, de igual período. E todos eles nos envergonharam... ou não? Alguém ainda duvida de que continuamos à deriva? O único que teve tempo suficiente para desenvolver um projeto realmente sério cavou-nos a cova mais funda; o que dizer do bando que seguiu-se a ele? O que isso tem a ver com vinho? Nada, claro. Momento cidadania. Todo blog que se pretende sério deveria ter um. 

Falesco Merlot 2014

Falesco é um produtor da Umbria (e do Lazio, parece) que flerta muito com a linha IGT. A Umbria fica ali na Itália central, e é vizinha da Toscana. Por isso não surpreende que flerte cepas como Sangiovese e Canaiolo, tenha as suas cepas nativas como a Sagrantino e ainda aceite outras como Merlot e Cabernets (Sauvignon e Franc) na dita linha IGT. Seu ícone é o Montiano (Merlot), que tive o prazer de experimentar por conta e graça do Akira. Acho que foi junto de Don Flavitxo, que reportou o fato aqui. Não tenho certeza se foi esse Montiano que bebi, de qualquer maneira fica um comentário sobre ele. Falesco Merlot é uma linha mais básica do produtor. Comprei em uma queima de uns 50% por R$ 77,00, em 2017. O importador era a Winebrands. De certo tempo para cá releguei ao esquecimento e abandono diversas importadoras 'tubaronas'. Tenho evitado pagar em 'queimas' margens pelas quais importadoras honestas praticam em seu preço regular. Viva a honestidade e uma 'boa prática' (margens honestas) nos negócios. Falesco Mertot 2014 é um monovarietal. Tem algo de terroso no nariz. A fruta fica em segundo plano. Na boca tem corpo médio, um balanço entre taninos um pouco pegados e acidez não tão marcada. O álcool escapava um pouco no início, mas na segunda hora está mais equilibrado. Dulçor discreto, acaba tendo, acho que pelo conjunto, um final agradável mas não muito marcante. É um bom vinho, mas não classifico de felicidade engarrafa. Hoje custa R$ 150,00, o mesmo que em 2017. Mas parece que mudou de importador. Tá venu? (sic! rs!) Muda de importador, o dóla dobra e o preço permanece o que era antes, sob outro picareta importador. Outro momento cidadania? Sem dúvida! Este blog é um 'momento cidadão' em sua essência. Abaixo os picaretas!

Monday, April 5, 2021

Eu estava certo! 😃 Mas errei... 🙄

Introito

   A pandemia freou um melhor desenvolvimento da recém-formada confraria 'Noivas de Baco', o que foi uma pena. Eu esperava ansioso por algum encontro onde os participantes comparecessem vestidos a rigor. Seria engraçado ver o Gustavo, o Ricardo, o Edu e o Evaldo com modelitos de noivas... Quem poderia aparecer com os ombros de fora? Quem se apresentaria com vestuário mais recatado? 😂
   Na condição de prelado de grupo, sou responsável pela condução do rebanho pelo bom caminho do Senhor. Daí que tenho algumas propostas guardadas na manga para eventuais e futuros encontros. Uma dessas propostas era tentar apresentar um vinho que pudesse abrir fechado (sic! rs!) e, desagradando em primeiro momento, fosse deixado de lado e surpreendesse a todos no final. A ideia seria então ilustrar o grupo acerca da importância de um bom serviço do vinho e alertasse para alguns estilos de produção que de fato requerem tal atenção. E na minha opinião os italianos são ótimos para esse propósito... Achava que tinha esse vinho - e estava certo!, tinha mesmo! Só que sisqueci e, de repente, quando notei, estava com a rolha dele na mão!... 😟
   A inspiração veio da degustação de um Nemorino na famosa (sic! rs!) Noite dos Barolos sanguinolentos, que aconteceu em 2012: após uma abertura muito tímida como 'entrada' para uma noite de Barolos, voltamos a ele quando todas as principais garrafas haviam se acabado e a surpresa foi geral. 

I Giusti & Zanza Nemorino 2014

Já falei desse produtor, a  I Giusti & Zanza, há algum tempo, quando bebi seu Perbruno. Também havia comentado n'A Noite dos Barolos Sanguinolentos: Nemorino, Belcore e Dulcamara têm nomes retirados da ópera burlesca O Elixir do Amor (L'elisir d'amore). Nemorino é um campesino que se enamora por Adina. Nessa perspectiva, representando um humilde aldeão, é o vinho mais simples da I Giusti & Zanza. Corte de Syrah, Sangiovese e Merlot, novamente abriu fechado (sic!) às 19:30, quando vi-me com sua rolha na mão e lembrei-me que a ideia era abri-lo em outro momento. Mas já estava feito... Experimentei um pouco. Estando na fruta, aberto, bastaria recolocar a rolha e depositá-lo na geladeira. Não estava. Decantador, para aerar, não para separar resíduos. Até posterguei um pouco o jantar, e sentei-me com tudo pronto depois das 21:30. Escrevo às 22:30. Em algum bosque, Nemorino encontrou-se com Pã. Este tocou sua flauta enquanto o sol brilhava sobre as videiras; a terra fez seu trabalho e como resultado o vinho abençoou a todos com seu esplendor, enquanto Pã e Nemorino dançavam seus passos repletos de felicidade. Nemorino expressa fruta abundante, um toque terroso e couro. Tem corpo médio, boa acidez, taninos bem marcados e redondos, 14% de álcool um pouquinho perceptíveis. Tem ainda alguma especiaria na boca, com um final que surpreende para um vinho de entrada a um custo de 15,00 dóla la fora. I Giusti & Zanza é um produtor mal compreendido por aqui principalmente em função de seu péssimo serviço nas degustações promovidas pelo importador. Para um serviço tão... tão... tão porco, não vem ao ocaso (sic! rs!) quem seja. Curiosamente, continuam a importar. Tem no Pão de Açúcar a R$ 102,00, e em outros lugares a até R$ 180,00. É um absurdo o quanto pode variar. Mas o preço no PdA está bom. Só que - outro serviço de porco - não revelam a safra. Compre e beba (direito) ou guarde.

Resenha de filme: Godzilla vs. Kong

Gosto muito de ficção científica (e seu sub-gênero, a fantasia. Por que nessa ordem? Ora, porque foi a ciência quem triunfou, e não o contrário. Por mais que alguns obscurantistas tentem desconstruir essa verdade). Filmes e livros - claro, também poesia, pintura, artes plásticas... é um tema sempre apaixonante. Mas principalmente livros. Como a maior parte das pessoas conhece o gênero mais pelos filmes, tenho por premissa acompanhar a vertente um pouco mais de perto - mas não acompanho tudo. Godzilla começou como boa ficção científica. Veja a obra original dos Estúdios Toho, de 1954. Lembre-se que o Japão apresentava-nos essa obra 9 anos depois de ter sido destroçado, inclusive sob duas bombas atômicas. Jogassem uma única em S. Paulo, a pátria jamais se levantaria novamente - em verdade nunca estivemos em pé. Mas certifique-se de ser a versão japonesa original, e não aquela mostrada nos cinemas norte-americanos. São diferentes! Já King Kong apresenta um mundo (uma ilha) desconhecida, algo que fazia sentido, em 1933. O Everest só foi conquistado em 1953(!), então em '33 brincar com o imaginário popular de ilhas ainda não descobertas fazia algum sentido. Não tínhamos satélites! Pow, vamos falar do filme?
   Godzilla e Kong simplesmente traem toda sua estória e origem. Deixaram de ser ficção científica para flertar com ideias obscurantistas como terra oca - só faltava ser a plana! - e soluções ridículas para situações absurdas. Nem aqueles filmecos dos robôs que se transformam em carros ganha na ruindade! (sic) A um dado momento, Kong está lá em algum lugar da terra oca. Um lugarzinho chinfrim onde nem a gravidade funciona direito. Sei lá quantos quilômetros abaixo da superfície. Seu arqui-inimigo, Godzilla, solta um raio pela boa - tá, ele faz isso - e abre um buraco desde a superfície até 'lá embaixo'. Detalhe: a garganta de Godzilla tem um certo diâmetro. Quanto? Uns 25 metros? Claro que não! Uns 43 centímetros, no máximo! (gargalhadas!) Bem, ele solta o catso do raio pela boca e 'cava um buraco' (sic! rs!) da superfície até o lugar onde está o outro catso da terra oca de um diâmetro tal que o Kong pula nele (e a gravidade!?) e volta para a superfície da terra de novo! PERAÍ! (Esquecendo o problema da gravidade), quanta potência é necessária para isso? Para onde foi esse volume colossal de terra derretida? Tá, cai uns 10 metros cúbicos em cima de algum bandido que precisava morrer bem naquele momento. Falta explicar para onde foram os outros 999.990 metros cúbicos de 'lava'. Aí Kong e Zilla se pegam pra capá (sic! rs!), este dá-lhe um Roundhouse kick que quase mata Kong e vai brigar com outro monstro que nada tinha a ver com a estória. Nesse meio tempo, um tonto de um 'cientista', que vira exímio piloto de uma aeronave fora de linha (sim, um protótipo) tem a brilhante ideia de reanimar Kong dando-lhe um choque com a potência de... 'iluminar Las Vegas'. PERAÍ! É um protótipo que parece operar algum campo gravitacional descomunal e o tonto do cientista aprendeu a pilotar só porque o piloto foi comido por um passarinhão lá na terra oca?(!) E estamos falando de amperagem, e não de voltagem. Algo suficiente para transformar 300 King Kongs, 150 Godzillas e mais uns 150 Jesus Cristinhos em farelo de mandioca de uma vez só... Mas o único Kong presente em cena levanta-se rodando a baiana e ajuda seu novo amigo Zilla a destroçar a criatura que apareceu do nada 😂. No final, eles se fazem um sinal de positivo e cada qual segue seu caminho. Se o leitor é estúpido o suficiente para reclamar do tanto de spoilers daqui, deve, deve, deve... bem, já sabem o que ele 'deve' (fazer). Ora, depois de todo esse disparate você considera assistir? Então vá... 😟 Os spoilers não farão qualquer diferença. É gado o suficiente para aceitar qualquer m... m... mandracaria chinfrim e sem vergonha que vier pela frente. Nota: 5 vinhos de garrafão. Da pior qualidade.

Saturday, April 3, 2021

Repetições

Introito

   Tenho abordado - até com alguma repetição (😕)! -a questão de repetir (sic) vinhos. Se volto ao tema é por sentir que não consegui, das vezes passadas, dar um tratamento adequado ao tema. Daí que tento uma variação das abordagens passadas, para levar o leitor a refletir e escolher seu próprio caminho. Por um lado a repetição do mesmo vinho no dia a dia parece-me uma falta de perspectiva grosseira; é manter-se fiel a um procedimento que não merecemos. E, sobretudo, é gastar fidelidade à toa. Sejamos fiéis ao vinho, não à vinícola. Bem diferente é comprar algumas garrafas de um bom vinho em oportunidade. Precisa ser um vinho com longevidade. Se puder beber uma garrafa por ano, será bom. Então essa repetição casual deve ser entendida como muito diferente da repetição do dia a dia. Essa última não vai-lhe acrescentar algo ao longo do tempo. Eu mesmo já cometi esse erro, só que não havia ninguém dando-me essas dicas... Certo, certo, aquele vinho de dia a dia você gosta muito, mas muito mesmo, beleza; beba dois por mês - na suposição de beber uma garrafa ou mais garrafas por semana. Não negue-se a oportunidade do novo, do diferente. Tente fazer uma boa compra - isso é o mais importante. Seu dinheiro é suado. O meu, garanto, é mais suado ainda... 🙄 bem... cada um sabe do seu suor...

Mâcon-Villages Les Héritiers du Comte Lafon Récolte 2011

Bebi Les Héritiers da última vez em maio de 2020, com a Carol. Ficou um camarão no meio, digo, entre eu e o Borgonha, e foi uma ótima combinação. Desta vez fui de um salmãozinho, também uma boa combinação. Continua floral, mas notei agora um toque cítrico. Boa acidez, parece algo na linha de abacaxi na boca; algum dulçor, boa permanência. Talvez fosse melhor se bebido mais jovem, mas esse tempo entre uma prova e outra não alterou sua qualidade; continua bem agradável. O tempo passou, o dóla subiu, a compra tornou-se melhor (rs), talvez isso influencie um pouco também... saber que você está bebendo um vinho de 500tão - embora tenha pago menos de 200tinha por ele faz, de alguma maneira misteriosa, bem pro ego. Sempre fica a pulga atrás da orelha. Onde estamos? Meio salário mínimo por um vinho de padrão igualmente mínimo para o produtor? É um produto de 20 dóla la fora... Mesmo com um dóla a R$ 6,00, dá uma margem de 4x. Estamos mesmo indo pro vinagre. O consumidor precisa deixar de ser tolo. É uma questão de cidadania enquadrar esses energúmenos. Assim como o cidadão-eleitor precisa enquadrar os maus políticos, de antes e de hoje.

Brancos também evoluem depois de abertos...

Introito

   Às vezes fico trocando uns uatizápis (sic) com Don Flavitxo logo depois de comer, enquanto bebo do vinho e antes de escrever a postagem. Depois mando-o chupar seus pirulitos e caio na escrita. Acho que devíamos nos comunicar por alguma dessas plataformas onde tem seguidores, na forma de diálogos. É que ficamos a falar de vinhos e comprara preços cá x lá, o que tem disponível aqui x lá, etc. Acho que facilmente poderíamos ter mais seguidores que o... o... Lula? MamãeFalei? Felipe Neto? Jesus Cristo? Menas... Nas discussões, notamos a disponibilidade de um branquinho nojento de uma obscura região francesa que custa aqui 700tão, e lá fora, 100dólazão. É caro? Sim, aqui e lá. Mas convenhamos, é uma oferta excepcional. E Don Flavitxo jura - jura! - que é um brancos mais pungentes que já bebeu. Convenhamos: não deve ser ruim... Preciso pensar nessa ideia, e convencer Don Flavitxo a participar... e, claro, encontrar alguém que me ensine a usar uma dessas plataformas...

Condrieu

   Já falei um pouco sobre a minúscula região de Condrieu, na França. Seus vinhos são baseados na Viognier, uma cepa branca de difícil cultivo no norte do Rhône, mas que a persistência e tenacidade humanas insistem em levar a cabo. O esforço é compensado: seus vinhos adquirem características únicas e singulares, diferentes do resto do mundo. Por 'diferentes do resto do mundo', entendamos que a Viognier estava quase extinta nos anos 60, como boa parte do norte do Rhône. Foi justamente a insistência de alguns produtores trabalhando no resgate da cepa que, trinta anos depois, despertaria atenção de produtores na Austrália, EUA, Chile e Argentina. 

Les Vins de Vienne

   Les Vins de Vienne é uma casa fruto dos esforços de três bons produtores do Rhône, devidamente identificados no rótulo de seu Condrieu: Yves Cuilleron, François Villard e Pierre Gaillard. É assim: a Europa, açoitada por Filoxera no final do século 19, duas guerras mundiais no século 20, para onde marcharam para a front lado a lado artesãos, pedreiros, agricultores e vignerons, dentre outros - Gaston Huet foi só um exemplo - e passou por uma catástrofe em sua produção quase milenar de vinhos. A estória de 'produção de pai para filho desde 1500 e bolinha' sobreviveu sim, mas para ser comemorada como pontos fora da curva, raros exemplos, meros acasos, não como o caso a ser seguido. Já comentei sobre a Batalha de Somme, na Primeira Guerra. Também nessa época, a vizinha Reims - apenas um dos centros mais importantes de Champagne! - foi completamente pisoteada, regada a gasolina e óleo cru, coberta de pólvora, enxofre e gás mostarda. Sua recuperação demandou anos e anos... Quero chegar ao ponto que, no presente caso, a filoxera - apenas uma das sete pragas do Egito (rs!) -  devastou várias regiões da França. E uma delas o trio Cuilleron-Villard-Gaillard se propôs a recuperar em seu ambicioso projeto. Les Vins de Vienne é somente parte dessa iniciativa.

Condrieu La Chambée

   Condrieus são vinhos para ser consumidos jovens. Ao contrário de outros, seu preço decai com o tempo, e decai rápido. Seu ápice ocorre em 4 ou 5 anos após a produção... Podem ser excepcionais, mas foram feitos para brilhar sozinhos. Não são então destinados a doelos, trielos (sic! rs!), com outros estilos. Errei redondamente quando tentei fazer algo parecido. O estilo é único, delicado. E algo delicado tratorar outro igualmente delicado soa estranho. Daí que 'provo' e premissa: delicados podem até se esbofetear, mas nunca se tratoram...
La Chambée teoricamente atingiu seu limite. Nariz com notas bem cítricas (abacaxi?) e algum doce. Na boca, apresentou acidez balanceada - Condrieus são vinhos de acidez considerada baixa - mineralidade característica dos bem poucos que já bebi, alguma especiaria (do carvalho?), corpo médio, final não muito longo. E curiosamente enche a boca. Soa estranho? Sim. Mas... mas... mas... parece que isso é um Condrieu. Sei que soa estranho, mas é o que posso oferecer ao leitor menos iniciado. O mais curioso é que, cerca de uma hora depois de aberto, La Chambée dá uma crescida na taça. Não sei se é pela madeira, mas dá um up.; só percebe-se se o vinho dura tudo isso; não beba-o em confraria. Já havia percebido isso de outra garrafa que degustei com o Akira, e ficamos um bom tempo à sua beira, apreciando-o. Ao apresentar a evolução, no grau e qualidade, surpreendeu a ambos. Experimentei o mesmo desta vez. Por questões de vinificação - a Viognier é uma cepa difícil porque concentra muito açúcar, então para não deixá-lo doce é preciso 'queimar' o açúcar, transformando-o em álcool, é fácil que seus vinhos atinjam 13% de álcool - La Chambée tem 13,5%. É bastante para o padrão francês em uma uva delicada, embora alguns brancos resultem bem mais alcoólicos. Tudo questão de estilo. La Chambée infelizmente está esgotado por aqui. Paguei 300 e pouco para um vinho de USD 45,00, quando o dóla valia R$ 3,00 e algo. É 100% sobre o 'preço lá', o que caracteriza boa compra. Foi uma pena não tê-lo compartilhado com alguém. Problemas de uma pandemia sem solução.