Saturday, February 27, 2021

Confrades e cunhados

Introito

   😀 Tem confrade que é gente boa. E, cá pra nós, não é legal, em meio a uma conversa, levantar aquele brinde a um dos presentes, ou ao produtor de tão bom vinho, ou ao importador que, abnegado, fez o produto chegar às nossas mãos por preço tão convidativo? (aí tem pouco importador assim, a maior parte é de energúmenos, mas tem... Um brinde a eles!). Não é igualmente legal levantar a taça para um novo rebento, um(a) filho(a) que casou, a um presidente competente? (tá, tá, sei que o último foi JK, que fez lá suas cagadelas, mas tinha energia, ao contrário desse que ocupa o cargo por um acidente da história. E que trombada!). E, se é para falar em coisa ruim, 😖 já notou que tem confrade pior que cunhado? Bebe o vinho de golada - parece que consome água -, fala que o vinho do outro é zurrapa (só digo isso dos de Don Flavitz, e ainda assim ouço muito mais do que falo! E não falo tanto para manter o bom clima... 😂), e, o pior de todos, conhece aquele confrade que vai na sua adega e fica apontando as garrafas, - Queria beber esta... queria beber aquela outra... quando você vai abrir essa? Sentiu vontade de esconder-se debaixo da mesa? O recado foi certeiro! 😒😁 Desta feita estou 'catando' uma garrafa que confrade disse há muito tempo que gostaria de experimentar. Disse e nada mais fez: não ofereceu um equivalente para o bom 'doelo' (sic), não chamou para um rega-bofe em seus domínios, não comentou do próprio aniversário, nada, nadica, nadinha. Advirto a todos esses 'confrades' valendo-me da máxima de um grande amigo, o Beto Carneiro. E a vingança vai começar agora... 😛

Quinta da Gaivosa 2011

Era um vez uma degustação (rs). Da Decanter. Recebi o 'caderninho' de ofertas e, pobre que sou, fui correndo analisar como estavam os preços. Uma tristeza... Vinhos de R$ 20,00-22,00 'lá' eram ofertados a R$ 75,00-82,00 'cá'. Fui procurando e pincei algumas boas opções em faixa de preço um pouco acima, algo como R$ 180,00-220,00. Era puxado, mas o preço estava menos de "2x". Pensei comigo: beber menos, e beber melhor. Lá fui de volta para casa, levando duas garrafinhas: um Nebbiolo do Pio Cesare, que bebi com muito prazer no penúltimo aniversário do Armando, e um Quinta da Gaivosa 2011. Duriense, corte de Tourigas Franca e Nacional, além de Tinto Cão "e outras" (sic), teve uma procissão bem resumida: 40 minutos no fundo da geladeira, desarolhamento, contemplou o empratamento do bifão e seguiu para mesa e nariz. Uauuuuu... a fruta entrou com força, sem excesso algum de álcool. Pressenti que tinha aberto um vinhão - não conhecia o produtor. Chocolate, um travo doce que se repete na boca e denuncia a origem lusitana. A madeira aporta alguma pimenta; notas de café (e/ou chocolate?) deixa(m) o paladar complexo, com algum tostado. Corpo médio com ótima acidez, taninos pegados mas bem redondos compõem um vinho de muito caráter. Boa persistência, daquela que depois de salivar sobra a sensação de ainda ter vinho na boca. Olhando o Wine-Searcher, notei que Parker concedeu 95 pontos ao vinho nessa safra. Um claro exagero. Digo que 94 pontos estariam mais que honrosos. Outra surpresa do Wine-Searcher foi a janela de beberagem (sic): 2016-2031 😱. E tem Douro por aí que mal aguenta 12 anos, vendendo-se um vinho 'reserva' a preço exorbitante. Né, Quinta do Crasto? 😠 Não é nada contra o vinho, não! É só contra o preço. Diminui, - mas diminui bem! - e acho que poderei falar maravilhas sobre. Outra surpresa (não acaba?!) foi o valor de Quinta da Gaivosa. Na verdade, não é uma boa surpresa. É um vinho de 60 Euros (safra 2011, Garrafeira Nacional, e esgotou). Aqui estava cotado entre R$ 490,0-600,00, safra 15, acho. Vi o preço e por um momento pensei comigo: - Mas o que foi que eu fiz?! 😢 Dei mais um gole, curti o vinho e resolvi ser feliz... nem foi difícil 😂🤣.

Friday, February 26, 2021

Encontros e desencontros

Introito

   Aos poucos a pandemia vai-nos levando o que temos de bom: nossa saúde (nem que psicológica), nossa humidade (pela falta de interação com as pessoas), nossos parentes ou amigos próximos. Há de passar, à custa de sofrimento, alguma desesperança e desencontros. Aliás, desencontros foi o que mais me aconteceu nesse período. Tentara marcar um encontro com ela algumas vezes. Mas eis que chega a roda vida e carrega a oportunidade (sic) prá lá. Ela, para falar a verdade, parecia também não estar muito a fim; aproveitava qualquer oportunidade para retirar-se em seu canto, como se tristemente antecipasse algum dissabor. Eu deixava passar algum tempo, fazendo cena de quem não se importava, mas à primeira oportunidade voltava à carga. Novo flerte era seguido de uma troca de olhares e outro sumiço pouco depois. Esta semana, decidi que seria tudo diferente. Na sexta-feira eu pego ela, afirmei de mim para mim. 

Margaret River

   Margaret River é uma região vitivinícola australiana pouco conhecida para os não-iniciados. Seu carro-chefe é a Cabernet Sauvignon, seguida por Shiraz e Merlot, nas cepas tintas. Está localizada no sudoeste ocidental da Austrália - quer dizer, aponta para a África do Sul -, ali pela latitude 30 e para baixo. Aliás, a Serra Gaúcha está em latitude similar. Não dá para entender por que só lá se faz vinho bom... É o que? Preguiça, ignorância ou condição climática diferente? Adiante... A região conta com mais de 150 produtores, e alguns de destaque são a Cullen Wines, a Leeuwin Estate e a Vasse Felix.

Vasse Felix

Vasse Felix produz uma gama relativamente pequena vinhos, tintos muitas vezes calcados na Cabernet Sauvignon e brancos de Chardonnay, embora também plante Sauvignon Blanc e Semillon. Já experimentara algumas garrafas há anos, por conta e obra do Akira: ele pegara diversas que estavam supostamente vencendo em um outlet que no final pegou fogo - praga da concorrência? Eram vinhos com mais de 10 anos, o que nos deixou inicialmente apreensivos. Tolice pura, estavam ótimos. Por esse motivo, não tive pressa em consumir outra garrafa que consegui anos depois, também em queima. Depois de fugir de mim em várias ocasiões, nesta sexta ela apresentou-se resignada com seu destino. Em safras mais recentes, parece que mudou de roupa, digo de nome, e entrou na classe Filius. Vase Felix Cabernet-Merlot 2012 mostrou fruta vermelha muito viva e algo como couro ou chocolate. Na boca não lembra aquele Cabernet clássico, com picância logo na entrada da língua. Mas está presente, precisa de atenção; a picância do carvalho aparece mais. Corpo médio realçado por ótima acidez, taninos ainda pronunciados. Tudo isso indica que pode ser guardado, mas está pronto, prontíssimo. Acompanhou um bifim simples com arroz e feijão, mas poderia escoltar um bifão ao molho gorgo com classe, porque tem presença para tal. Ao fim e ao cabo, se a garrafa temia qualquer dissabor da minha parte, a preocupação relevou-se desnecessária. Um ótimo vinho. Se for mesmo da classe Filius, anda custando cá 3x do que custa lá. Aí não dá... Preço atual: da ordem de R$ 320,00. Peguei em torno de R$ 100,00... A R$ 320,00, é assim: tem opções tão boas quanto bem mais baratas. E, se já chegou a R$ 320,00, tem opções muito melhores por R$ 400,00. É o problema do bom vinho mal importado... (sic)

Thursday, February 25, 2021

Um toscaninho IGT

Introito

   Tem dia que a noite não é boa (sic). Não é motivo para desistir, é motivo para tentar novamente! Recorde aquele clássico que você não escutava há muito. É a boa alternativa para uma virada de mesa - a seu favor, claro. Nunca desista - nunca, nunca, nunca, nunca, em nada, grande ou pequeno, amplo ou insignificante, nunca ceda exceto a convicções de honra e bom senso. Nunca ceda à força; nunca ceda ao poder aparentemente esmagador do inimigo. (Winston Churchill) 
   Não ceda à pandemia, ao obscurantismo, à súcia que vem do andar de baixo da moralidade e tenta espoliá-lo. Não ceda um milímetro. É isso que eles querem, é com isso que eles contam, é disso que eles se alimentam. Não recue, não hesite, não ceda terreno. À medida em que os bons se retraem, os picaretas ousam; não permita!

   IGT's 

   Você sabia que o país mais bagunçado, sem-vergonha e sem noção da dita Europa Ocidental é a Itália? Sim, aquele lugar onde há imensa corrupção a olhos vistos, onde nada funciona direito (embora todos sobrevivam) e que guarda mais similaridades com as Terras Tupiniquins é, de fato, o país da bota. Na mixórdia que assolou a Itália após a Segunda Guerra, um fato inconteste foi a queda qualitativa na produção regional de vinhos. Também pudera: perdedor, o país estava quebrado, sem classe média (a nossa está sumindo!), e portanto sem dinheiro para adquirir produtos de maior sofisticação. Meus avôs, por parte de mãe da região central, por parte de pai do Piemonte, diziam (sobre os conterrâneos): - Uns bundas sujas! (porque não sabiam limpá-la direito...).
   Tentando impor alguma qualidade à vitivinicultura, lá pelos anos 1960 implantou-se o sistema  DOC, Denominazione di Origine Controllata. Em algum tempo (anos '80) tinha tanta picaretice e gente (sic) burlando as regras, que tiraram da gaveta as regras para o sistema DOCG (Denominazione di Origine Controllata e Garantita). Ou seja, ser controlada não bastava... tinha que ser garantida. Garantiram tanto que, 20 anos depois, deu no Brunellogate... 😕
   Cansados de tanta burocracia e desrespeito às regras, diversos produtores decretaram um via il culo às normas, e a denominação IGT, Indicazione Geografica Tipica, foi estabelecida para quem produzia vinhos fora das regras locais.  Notemos então que a denominação IGT foi criada para ser algo como a terceira qualidade em vinhos da Itália, mas em pouco tempo muitos vinhos IGT passaram a representar parte da nata da produção italiana. 
   Observe que um vinho IGT pode ter qualquer procedência dentro da Itália. Basta, até onde saiba, que seja produzido fora das regras de uma DOC(G). Qualquer DOC(G).  Deu um via il culo, às regras, leva um IGT na testa no rótulo. É claro que dentro da DOC(G) existem produtores honestos e que levam a sério e ao topo e estado da arte na produção de vinhos. Produtores da Toscana, do Piemonte e do Vêneto estão aí para não me deixarem mentindo sozinho... 

Brancaia

Brancaia foi fundada em 1981. Atualmente está espalhada em três regiões distintas da Toscana: Castellina e Radda, comunas pertencentes à área de Chianti Clássico, e Brancaia, situada em Maremma, já próxima ao Mar Tirreno, que a maior parte das pessoas acredita ser o 'Mediterrâneo'. Brancaia TRE 2011 é um corte 80% Sangiovese, 20% Merlot 10% Cabernet Sauvignon. Dizem que as uvas são provenientes das três regiões, Castellina, Radda e Maremma, mas não se especifica quem vem de onde. TRE é algo como a linha de entrada da marca, que em em Il Blu seu ícone. Quem já experimentou Il Blu diz que é muito bom. Muito mais humilde 😓, o que pude desfrutar foram duas garrafas (esta é a segunda), compradas há muito tempo em alguma queima. A segunda experiência, até onde lembro, repetiu a primeira, que aconteceu há muitos e muitos anos. Não encanta. Na verdade, é um vinho plano: abre daquela maneira e assim fica. Tímida expressão de fruta no nariz (começou a melhorar um pouco passada a terceira hora. Errei tanto assim no serviço, nas duas vezes em que experimentei?), embora a boca seja equilibrada, com acidez e corpo médios. Boca por boca, casa bem com uma pizza de Pepperoni, mas tem final curto e persistência apenas média. Enfatizo que a impressão de hoje (2021) é parecida com a de anos atrás (2013? 2014?), o que embasa meu conceito de um vinho plano. Lá fora é um vinho de 15 dóla. Caro, pelo que oferece. Por aqui, custa R$ 175,00, ou R$ 150,00 para o 'confrade'. 'Preço lá' vs. 'preço cá', não está tão ruim (2x, preço 'confrade'). O problema é que, mesmo 'cá', temos opções muito melhores, de repente a preço inferior. Tejem avisados (rs! sic!): se algum 'confrade' me trouxer esse toscaninho IGT para alguma degustação, passará a 'ex-confrade'... 😜

Sunday, February 21, 2021

Agora um Sauvignon Blanc

Introito


Don Flavitxo estava navegando na Internet e chegou no Vivino. Quase a exemplo de Júlio César, viu, riu e compartilhou. Olha o comentário do(a?) avaliador(a): "Excelente!... acidez quase zero".  Vivino é assim: a pessoa pode ser honesta, sob todos os aspectos. Não sabe, não sabe que não sabe (sic), e acha-se no direito de opinar. Gostamos de confundir as coisas. Porque vivemos um uma democracia, achamos que podemos opinar sobre tudo. Na verdade, podemos sim!, mas não podemos nos esquecer - e aí o chão afunda - que, ao opinar sobre tudo corremos o risco de ser re-classificados como 'energúmenos' - ou coisa pior. Ora, são direitos e deveres. Se é seu direito opinar, também é seu dever escutar a opinião contrária. É um dos pressupostos mais básicos da democracia. Claro, a opinião contrária deve ser abalizada, e ainda assim há o direito da recíproca. É a situação onde - aprendi na escola primária, e era escola estadual - todos crescem em espiral, dialogando e colocando nosso órgão mais precioso - o cérebro - a funcionar para o 'bem'. Não é o que acontece, infelizmente. O leitor atento já notou alguns idiotas que não conseguem dar um único argumento ou contra-argumentar minhas ripostagens (sic! rs!), limitando-se a repetir mantras já desmantelados como se estes fossem argumentos. O Dia do Juízo há de chegar, e esses irão para o Céu. Sim, isso mesmo. O céu é para imbecis. Mas como estamos na Terra, aqui travarei o bom combate até o último dos meus dias. E chupem! 😂
   Ainda preciso falar de 'avaliadores'. Qualquer hora...

Brancos

   Existem brancos e brancos. Assim como tintos e tintos, e antes disso tudo, vinhos e vinhos. Quero dizer, existe 'vinho' e garrafas com 'vinho' escrito no rótulo. Quem não sabe diferenciar, compra qualquer um. O problema é quem não sabe diferenciar e ainda assim fica comprando vinho de verdade! Acontece nas melhores sociedades, nas melhores famílias, nos melhores restaurantes. Parece que só 'jornalista' não sabe disso. É, aquele cara que se acha Jornalista, mas não é e não sabe que não é, mas achando-se um, acaba por dever de profissão opinando sobre tudo. Voltando... mesmo falando de 'vinho', há os que costumo chamar de branquinho nojento, para desespero de Don Flavitxo. Desespero porque é como acabo classificando a maior parte de seus brancos. Quem sabe apreciar vinho e já teve oportunidade de provar, por exemplo, um Montrachet de qualidade, sabe do que falo. Não apenas Montrachet, claro, que há muitos outros brancos de qualidade (da Califórnia, de Boudeaux, do Rhône, do Mosel, etc., para falar em regiões, e Lopes de Heredia, Gravner e Dönnhoff, para citar apenas alguns produtores).  O que vem depois - e nem por isso deixa de ser bom vinho - costumo chamar de branquinho nojento. O branquinho nojento parece bom-bril, pois tem 1001 utilidades: bebemos no almoço do dia-a-dia (ou no do final de semana, para quem bebe pouco como eu), na degustação descompromissada com a caterva, colocamos como boi de piranha quando as pessoas em volta não conhecem muito de vinho (o que não é pecado, é apenas uma circunstância!), ou até mesmo servimos para os amigos quando pensamos que eles nada conhecem de brancos(!). Enfim, o limite parece ser nossa própria criatividade...

Um Sauvignon Blanc honesto

Peguei Terra Occitana Sauvignon (Blanc) 2016 na promoção da Vinho e Ponto. Já falei um pouco do Jacques Charlet, produtor-négociant espalhado por várias regiões da França. Este exemplar vem de Pays d'Oc, IGP de Languedoc-Roussillon. O Languedoc, para quem não sabe, é a casa de Vin de Merde (risos!), desabafo de um bom produtor local que, cansado da má fama da região no cenário francês nos anos 1980, lançou o Vinho de Merda. O desabafo revelou-se uma boa jogada de marketing. Por outros motivos, a região deu a volta por cima e hoje produz 'vinho'. De volta a Terra Occitana, tem nariz a limão (lima?), será que damasco?, e boca com boa acidez. Ainda mantém um frescor, mas é bom não abusar na guarda. Tem alguma persistência, mas é o de se esperar para um branco com acidez (a acidez está mais presente até brancos sul-americanos, melhor do que a tintos, o que dizer de um branquinho nojento europeu?). Não encontrei seu preço 'lá' para poder avaliar melhor. Aqui, está de R$ 123,00 por R$ 61,50. Ficou subitamente bom. A preço cheio, não registe à comparação com outras opções - dá para comprar o bom Terres Secrèts, que é um Borgonha, por esse preço... Mas por R$ 61,50, apresenta-se como uma ótima oferta. Para um branquinho nojento que você pode comprar algumas garrafas e beber ao longo deste 2021, e que acompanha bem uma xarxixa (sic) de vitela ou um cheddar, taí uma boa escolha. Não perca a promo. Senão depois fica perguntando de onde é que eu arrumo boas opções para certas faixas de preço...

Post scriptum

 
Em sua mal-fadada tentativa de detração 😂, Don Flavitxo me abriga a uma re-edição da postagem. Tenta me espicaçar acerca de meus conhecimentos de Montrachet. Bebi um, devidamente postado, https://oenochato.blogspot.com/search/label/Domaine%20Bernard%20Moreau%20%26%20Fils%20Chassagne-Montrachet%202007, e outros dois. Não posto tudo o que bebo, mais por falta de tempo do que de vontade... Claro, tirando um período em que o blog andou em baixa e estava desanimado em postar - mas não em beber! Fui procurar as fotos, só achei o de uma ocasião, ao lado, que partilhei um 'Montra' com a Sra. N, a Dona Neusa, o Wilson e o Akira. É até um bom produtor, mas não me lembrava mais do nome, Chateau de la Maltroye... Ah, sim: esse é um raro Montrachet tinto, não branco. O que não encontrei a foto era branco...




Friday, February 19, 2021

Um Syrah bem a caráter

Introito

   Castas são um assunto inesgotável, rico e apaixonante. Nunca vi uma discussão inamistosa envolvendo o tema, mas algumas declarações marcam:
   - A uva que mais gosto é a Carménère - Idinir Janduzo, enólogo e sommelier, proprietário da Mercearia 3M.
   - Amo Syrah - Dayane, vestal do templo Filhos de Baco.
   - Troco meu lugar no céu por uma taça de um bom Nebbiolo - comenta sempre que pode Don Flavitz.
   - Para mim a única casta digna de marcar minha garganta é a Pinot Noir - qualquer enochato de plantão. Risos! De plantão! Este que vos escreve é um enochato sem galochas. Sem galochas, note! Não 'em' galochas. E tenho dito!...

Romaneira 

   Já falei um pouco da Romaneira. Desta vez ataquei de um Quinta da Romaneira Syrah 2013. Comprei há algum tempo - antes da nossa derrocada para o empobrecimento - a menos de R$ 190,00. Agora anda entre R$ 300,00 e R$ 350,00... 😟. Tá, tá, foi em 'promo', mas o dóla já tinha subido. Alguns importadores estão caindo no péssimo hábito e cobrar os tubos no preço normal e fazer promoção todo mês, variando os produtos em oferta. Fico me perguntando: se tivessem o preço sempre bom para tudo, será que não criariam um público com hábito de confiar mais em seus preços, e portanto será que não venderiam mais? É questionável, concordo. Mas que teriam um melhor imagem perante o consumidor de espírito crítico, isso é indiscutível!  Claro, apostam em nosso estoque infinito de tolos e desavisados, que compram a esmo. Já já aparece um energúmeno falando que eu desconheço os custos de armazenamento, de ficar abanando o vinho duas horas por dia, unha, escova, bronzeamento artificial... essas coisas todas que vinhos gostam enquanto ficam no spa que os importadores e lojistas preparam para melhor acomodá-los... e depois chegam dizendo que o pobre consumidor precisa beber... vinhos de procedência... 😞. Tem cada uma...

Quinta da Romaneira Syrah 2013

Quinta da Romaneira Syrah 2013 abriu já com bom nariz. Escrevo adentrado na segunda hora de abertura. Vibrante até demais, indicando que está novo; pode-se guardar por bom tempo, 3-5 anos, diria. Apresenta frutas vermelhas intensas, algo na direção de café ou chocolate. Boca pegada, com especiaria. Se não prestar atenção, confunde com um Cabernet Sauvignon, porque pica um pouco - um pouco - na ponta da língua. Essa picância na verdade fica perceptível um pouco mais para dentro da boca; deve ser da madeira - dizem (sic) que estagia 14 meses em carvalho francês. É um vinho com personalidade, marca bem a boca, tem bom final e boa persistência. Mas fica um coçar de orelha de que foi aberto um pouco cedo. Claro, dá pra aproveitar e ser feliz. Pelo que paguei, felicidade engarrafada. E nem está pronto... A 300tão, 350tão... apenas dá de voadora e paulada em similares sul-americanos diversos. Você gosta de sul-americanos? Cara, eu acho ótimo! Se todo mundo parar de comprar essas porcarias e começar a comprar vinho... o preço do vinho (de verdade) tenderá a subir... Vai lá... dô a maior fôôôrçaaaa...
PS (não resisti, após ver algumas notas): todas em torno de 90 ou 91. Se isso é 90 - e creio que seja mesmo, 70% dois 90+ sul americanos são puro engodo. E boa parte dos europeus também!

Wednesday, February 17, 2021

Um feliz reencontro

Introito

   A confraria principal andava às traças. Também pudera: pandemicamente falando (sic), todos andam ressabiados. Ademais, o infortúnio levou-nos o confrade Wilson para... o Olimpo?... o Céu?... o... o... como se chama o Céu para os japoneses? Bem, ele se foi. Levou um pedaço dos nossos corações em sua subida, que às vezes nos devolve na forma de sonhos com ele mesmo. No domingo a sra. N, dona Neusa, que debutou no blog em 2016, resolveu que era passado o luto e, ela vacinada, marcamos um encontro. O Ghidelli, que perdeu a mãe porque Tânato estava preocupado com a concorrência (ela tinha 97) foi o participante convidado. Pena o Jaci não poder comparecer. Akira veio. Para receber a Dona Neusa após praticamente um ano sem contato, decidi com o Akira que abriríamos algo que valesse a pena após tanto tempo afastados. Eu tinha passado por (mais) um perrengue com Don Flavitxo, e resolvi que colocaria suas concepções à prova. Doesse a quem doesse... desde que fosse nele... 😝

Vinhos, vinhos à mão cheia

Oh! Bendito o que semeia
Livros à mão cheia
E manda o povo pensar!
Castro Alves, Espumas Flutuantes, 1870

   Acho que já citei esse trecho de Espumas Flutuantes, que particularmente gosto muito. Li há uns 40 anos... Atualmente aprecio pelo paralelo com o vinho quando este nos traz certa satisfação: vinhos à mão cheia, que faz as pessoas felizes... E são muitas felicidades, na verdade: a do vinho pelo vinho, das experiências que ele nos proporciona, e quando acontece, a dos reencontros. Quando os convivas chegaram, enquanto terminava o preparo das quitutes, abri o branco, que servi com queijos e xarxicha (sic) de vitela. Como se nada pudesse melhorar - piorar sempre pode, comentei isso aqui avisando que sempre dá pra jogar mais um quilo de m... ao que já está suficientemente ruim - mas enfim, como se nada pudesse melhorar, o Ghidelli ainda aparece com um pão caseiro de sua última fornada. Simplesmente um luxo... (veja em 1min50).

Venham os meninos (e a menina)

Ao centro, não necessariamente o Redentor...
 La Chablisienne Chablis Grand Cru Les Preuses 2014: um Chablis que me fez perguntar se era cítrico - e que o Akira achou que não tivesse essa característica tão marcada. Les Preuses é tido como um climat onde de fato esse aspecto dos vinhos de Chablis não aparece tanto, vide aqui. Bem, não conheço muito de Chablis... apenas sei que gosto. E esse La Chablisienne combinou muito bem com Gouda e Gruyère - mas bem... são combinações clássicas. A surpresa foi a xarxicha (sic) de vitela. Sua acidez muito elegante combinou bem com todas as propostas. Alguém falou 'abacaxi' no nariz. E 'damasco' também. Muito rico, vinho de encher a boca, com final longo e ótima persistência.  Dona Neusa trouxe esse vinho de NY, quando esteve lá, há uns 3 anos. Ótima compra. Aberto e aerado em decantador uma hora antes da chegada da turma, e passado de volta para a garrafa, o próximo foi o Korem 2015. Já havia experimentado dele há algum tempo - não postei. Mas aquela experiência foi a 'deixa' para começar a estocar Korem como se não houvesse amanhã (rs). Seu peço no Brazio estava pornográfico enquanto uma importadora tubarona o trazia, e caiu quase pela metade(!) 😛 nas mãos da Enoeventos. Diz (sic) que ainda tem uma garrafas lá... Fruta vermelha muito viva, chocolate - é um vinho longevo, bebi safras com 10 anos que pareciam novas - muito especiado, boca também rica. É corte de castas típicas da Sardenha: Bovale, Carignano e Cannonau (o sítio do importador não especifica as proporções), tem graça e equilíbrio. Pelo preço aqui, é de longe o sinônimo de felicidade engarrafada mais completo e acabado que experimentei nos últimos tempos. Se custasse 500tão não seria...

Depois de um perrengue com Don Flavitz acerca da idade para se beber Xatenêfis - e tudo quanto é vinho, também - ele veio com essa: Xatenêfis podem ser bebidos em 3 anos. Claro, dito por um bebedor de Barolos com 5 anos... Mas note, 3 anos.  'Escalei' um Xatenêfi com mais de 5 anos, um Chateau de Beaucastel Chateauneuf-du-Pape 2015. Também trazido pela D. Neusa, aerou uma hora em decantador e ficou mais umas 3 horas em garrafa, enquanto os outros vinhos eram consumidos - houve uma pausa enquanto preparamos um bifão para acompanhá-lo. O Ghidelli ficou falando durante meia hora: "Fechado, Fechado, Fechado...". O Akira repetia somente duas vezes o 'fechado', a intervalos regulares... Estava bom, mas... fechado (risos!). Boa fruta, acho que o Ghidelli falou 'carne', sim, um tostado no nariz que adentrava quase até a alma. Corpo médio, taninos indômitos (sic) faziam um peso que o tempo seguramente equilibrará. "É muito vinho" bradava o Ghidelli, enquanto sorvia um tanto e suspirava, com o olhar distante. Dona Neusa apenas sorria, encantada: "Veio naquela viagem a NY?". Ara, o degas aqui (sic) foi quem comprou as duas caixas que vieram daquela empreitada de parte da família Tachibana ao centro mundo civilizado. Beaucastel, apesar de ser um vinho de corpo médio, acidez muito equilibrada, estava de fato um tanto 'nervoso'.  O que, curiosamente, não impediu que mostrasse sua classe. Veremos a seguir.

Aqui o ponto ao qual sempre volto. O de que o demônio mora nos detalhes. Já escrevi algo como 'os melhores vinhos sempre encontram as taças antes', ou algo assim. Faça o teste por si qualquer hora. E, se fizer às cegas, verá o quanto essa é uma regra de ouro. Beaucastel estava nervoso. Foi servido depos de Korem, que estava 'um mel'. Veja-se acima a garrafa de Beaucastel praticamente vazia, enquanto a de Korem - repito, servido primeiro - felicidade engarrafa que é, acabou ficando para trás e ainda sobram-lhe uns bons 4 ou 5 dedos quando Beaucastel já ia consumido e acabado - a despeito de todos seus 'problemas'. Acontece que Beaucastel é um vinhão, e mesmo servido fora de seu melhor momento ainda é muito mais vinho do que 'muito vinho muito bom' (sic). Isso pode soar conversa mole para boi dormir, mas o fato não pode ser negado. Por que Beaucastel secou enquanto Korem... sobrou?(!) Korem é outro ótimo vinho... Tem certos mistérios que esse Enochato não sabe explicar. Já havia bebido esse vinho em sua safra 2007, com 7 anos, em 2014. Está aqui a avaliação do próprio Don Flavitz. Em suas palavras de então, O vinho vai se transformando. É um camaleão! Característica de grandes vinhos. Isso não se repetiu para o mesmo vinho com apenas 5 anos... 

Fechamento

Um evento de reencontro como esse não poderia ter um final menos que apoplético apoteótico... desci para a adega e peguei um Porto da Adriano Ramos Pinto, um Adriano Reserva Particular sem vintage. É somente rotulado como 'vinho do Porto', tão antigo que era anterior a esse modismo de Ruby, Tawny, etc... (risos!). Não, não, não é assim... esse apenas não era rotulado como tal. Não sei explicar, precisaria consultar melhor a legislação. Estava oxidado, mas não da maneira como eu gostaria mais. Não estava com aquele toque de noz tão típico que alguns vinhos verdadeiramente oxidados alcançam, mas nem por isso apresentou-se menos 'diferente'. Cor bem atijolada, nariz com aquele dulçor típico dos Porto - não resisti e peguei mais uma taça agora, enquanto escrevo - dulçor que repete-se na boca e dá tanta tipicidade aos Portos em geral. Os 19,5% de álcool não aparecem. Parece ter cereja na boca... e alegra o fundo da alma, também. Fazia um certo tempo que não bebia um Porto oxidado. Foi outro feliz reencontro...

Tuesday, February 16, 2021

Finish

Introito

   Para gáudio de uns e desespero de absolutamente ninguém, esse título chegou 😕. Para a felicidade geral da nação, é só um título, não o fim do blog. Acabou a última garrafa de uma série que guardei por alguns anos, esperando poder melhor aproveitá-la com algum envelhecimento. Não foi bem o que experimentei...

Quinta do Crasto Vinhas Velhas Reserva 2010

   Recentemente [1, 2], andei bebendo uns Quinta do Crasto Vinhas Velhas safras 2008 e 2009. Agora, fecho a caminhada com este 2010. Era assim: bebia esse vinho (poucas vezes) em confraria e algumas em degustações. Bons tempos aqueles, de recepções na embaixada portuguesa em S. Paulo, evento anual promovido pelo importador e onde a Mercearia 3M sempre se fazia presente, levando uma van com alguns clientes malucos o suficiente para viajar durante sete horas e participar de um evento que durava... três? Quatro horas? Mas valia a pena. Durante anos, comprava uma garrafa por safra para guardar um pouco mais. A ideia era fazer uma 'vertical', experimentando todas as safras de uma só vez, tentando apreciar a evolução do vinho ao longo do tempo. Em 2011, com o anúncio de uma safra 'histórica' em Portugal, o preço desse vinho virou nome de música da MPB, os proprietários do vinhedo e da importadora acreditaram-se donos de belos olhos e tornou-se impossível continuar adquirindo mais garrafas. Talvez eu já estivesse ganhando pouco, talvez o dóla tivesse subido (2012? nããããooo... basta ter memória!), talvez... talvez o cadáver do Ulysses Guimarães tenha passado perto do navio que trazia o container, e os donos acharam-se gostosos a ponto de poder aumentar o preço do vinho em dóla (sic). Sei lá! Sei mesmo que, se for procurar nas postagens da época (2013, talvez) há um comentário meu de que os vinhos da Qualimpor estavam ficando caros...  Falemos de vinho...
Ao longo do último ano, provei três exemplares de Quinta do Crasto Vinhas Velhas Reserva, safras 2008, 2009 e este, 2010. Os 2008 e 2009 estavam claramente perdendo a força. Este 2010 já mostrou boa fruta - cerejas? -, em um buquê mais elegante, boca à chocolate (café?), boa acidez. Permanência e retrogosto médios. Se tiver esta safra, beba. Será que minhas outras garrafas, um pouco mais antigas, estariam 'miadas'? Não procurei com afinco, mas Cellar Tracker dá algumas pistas: para a safra 2008 algumas garrafas estavam boas, mas comentários diziam: "Would get again but with a little less age", ou "This wine is past its peak. Still lovely but fruit has faded" - comentário de 2018! Para a safra 2009, enquanto algumas garrafas permanecem boas, outras estão 'literalmente desintegrando-se', em uma opinião. E outra diz algo como 'beba logo'. Portanto, worldwide (sic!) há consenso de que não é um vinho para guarda tão longa quanto 12 anos. Ao contrário de outros produtores do Douro, cujas safras podem ser guardadas tranquilamente por uma década: Ferreirinha e Quinta do Vallado, apenas para citar duas. Pena que a primeira está com os preços fora de escala e a segunda quase desapareceu do mercado. Quinta do Crasto Vinhas Velhas segue impassível custando atualmente cerca de R$ 500,00(!). Um nojo. O mercado oferece italianos e espanhóis de qualidade superior, maior longevidade e metade do preço. Mesmo portugueses de outras importadoras tão um 'pega' em Crasto Vinhas Velhas, e custam menos. Viva a desinformação, o melhor ativo a se propagar na Era de Informação. Isso é o finish... 😂

Saturday, February 6, 2021

Um Brunellinho honesto

Introito

   Estava com uma teima há algum tempo. Seria (bom)? Não seria (bom)? Pedro Álvares Cabral usou, Irapuã Lima experimentou, Chico Lopes adorou... mas Don Flavitxo não deu muita confiança(!😕). Vinho é assim: alguns gostam, outros não. Alguns sabem beber, outros estão aprendendo. Alguns sabem servir e degustar, outros servem de sorvem de qualquer maneira... A este Enochato cabe a missão - brancaleônica, claro - de pelo menos levantar a reflexão onde há o desconhecimento, de plantar dúvida onde há ignorância, de levar luz onde há trevas - e eles existem até em confrarias abastadas...

Brunello di Montalcino

   Brunello di Montalcino é uma DOCG da Toscana baseada em clones de Sangiovese desenvolvidas pela família Biondi-Santi. Coube a Ferruccio Biondi-Santi ser o patriarca da marca, lançando, em 1888, o que seria a primeira versão moderna desse hoje clássico italiano. A região ganhou o reconhecimento de DOCG em 1980, quando 52 incautos (rs) copiavam o estilo dos Biondi-Santi. Não que inexistam grandes produtores fora da família patriarca... pelo contrário, grandes produtores levaram a região a ser respeitada mundialmente. Nada mal, para uma turma que começou 'ontem'. Observemos que a Toscana produz vinhos há mil anos ou mais, e nesse contexto é que os brunelistas (sic) entraram em cena relativamente cedo.

Máté 

   Máté é um produtor que iniciou atividades na década de 1990. Produz Sangiovese, Cabernet Sauvignon, Merlot e Syrah, estes últimos usados em seus IGTs enquanto a Sangiovese pura é usada em seus Brunelllos ('colheita' (sic!) e Riserva).


Máté Brunello di Montalcino 2009 (colheita - sic!)

   Cometo a indiscrição de chamar ao Máté Brunello di Montalcino que não é Riserva, de 'colheita'. Às vezes os vinhos portugueses mais simples - abaixo de Reserva - possuem esse nome. Não resisti à brincadeira; Oenochato também lança moda...  
   
Vinhos italianos são os que mais me surpreendem. Já comentei isso, e mais de uma vez, só não lembro onde. Sei que uma vez foi na postagem dos Barolos sanguinolentos (sic), mas invoquei  essa mesma postagem há algum tempo. Sigamos. Esperto que sou (sic! rs!) abri Máté por volta das 16:30. Estava certo comigo: se batesse a fruta, bastava arrolhar a garrafa novamente. No... 😟 álcool muito presente, sobrando. Aroma confuso... terroso, sem fruta nem graça. Boca limitada, quase estranha. Arrá, pensei com um sorrisinho. Ar nele! Passava das 21:00 quando fui abater o boi... ele tentou fugir, reclamou, lutou... mas às 21:45 o bifão com molho gorgo estava servido e (re)comecei a prova. Escrevo às 22:30. Sabe, costumo dizer que Jesus tinha um Brunello debaixo da mesa antes do Sermão da Montanha. O pessoal passava por ali à guisa de cumprimentá-lo (sic) e sentia o cheiro de água de rio depois da chuva, aquela água carregada de barro. E bem aventurados os que tiveram paciência... Jesus ficou lá, falando, e falando, e falando... passou a tarde inteira falando e pregando. Quando um dos Apóstolos - acho que foi Pedro - deu-lhe uma piscadinha, era a senha: a transformação ocorrera, e a água de rio se convertera em vinho. Jesus sabia das coisas... mas foi desvendado por este Enochato. Só não sei como ele fez com o pão e os peixes... Mas já tive essa mesma experiência, de abrir um Brunello que cheirava à água de rio depois da chuva, e ao longo de oito horas ele transmutou-se para vinho. Máté não tinha essa característica, de água de chuva, mas a transmutação foi grande. Nariz com fruta viva, couro... ameixa? A boca encontrou o paladar, no sentido que convergiu para o que se espera de um vinho. Não surpreendeu, mas não fez feio. Corpo médio, bons taninos, acidez presente - não exatamente marcante, mas presente. Nesse contexto, realmente surpreendeu pela permanência: longa e bem marcada. Combinou bem com o bifão. Foi comprado em bléqui fraidi da Enoeventos - infelizmente até o Brunello 2011 está esgotado, mas tem o Rosso, que não conheço - há um peço ridículo comparado bom outros Brunellos do mercado, o que demonstra a boa-fé do importador. Encontrei essa safra em Hong Kong (via wine-searcher) por... 50 dóla(!). Não sei se vale 50 dóla lá fora, mas acho que paguei mais ou menos isso aqui... aí sim, foi um bom preço para um produto 'posto cá'. Pelo preço, Brunello Maté revelou-se um vinho bem honesto. Ode a quem comprou e soube esperar seu momento mais adequado.

Thursday, February 4, 2021

Infinito: onde se encontram os paralelos?

Introito

   Definição matemática básica: retas paralelas encontram-se no infinito. Muitas mais coisas encontram-se no infinito: a esperança e os tolos, a inteligência e a audiência do BBB, o futebol bem jogado e a seleção Canarinho (de uns 30 anos para cá), para ficar apenas nesses exemplos. Por outro lado, muitas outras coisas encontram-se ali, na esquina: adoradores do 'mito' e o covid, eleitores desesperançados e políticos desonestos, importadores energúmenos e consumidores tintos tontos. Fico pensando: importador energúmeno e adorador do 'mito'. Será que tem combinação mais estúpida? Bem, no brasio tem de tudo... O sétimo céu, o Nirvana, são o limite (para cima). Mas para o pior, não há limite. É fácil 'provar' essa declaração: sempre podemos jogar mais um quilo de m... ao que já está suficientemente ruim... 😟 Lembre-se: para o pior, não há limite... Caso sirva de consolo, dá pra passar bem com Paralelas... escute enquanto lê...

Line 39  Petite Sirah 2013

Line 39  Petite Sirah (usam essa grafia mesmo para a cepa) é um vinho da Califórnia. Por coincidência (😱!), esse mesmo paralelo passa pelo coração da região vitivinícola do estado, como o próprio contra-rótulo nos conta. Tem nariz com boa fruta (vermelha? negra? ambas?), e algo como couro, ou chocolate. Pimentão? Na boca, tem alguma acidez. Um dulçor não enjoativo joga a boca também para a sugestão de chocolate ao leite(!). Os taninos estão pacificados (não passificados! rs), e seus 13% de álcool formam um bom conjunto. É um vinho de 10 dóla ('lá'), em safras mais recentes (2016-2018). Em sua safra 2013 está à venda aqui, em 'promo', por R$ 85,00. Péraí... tem tudo o que descrevi acima, por R$ 85,00? Corre! Ficou subitamente bom! Combinemos o seguinte: 'lá', é um vinho de USD 10,00: consumo de dia-a-dia. É honesto - não é nenhuma Grande Compra; repito, é honesto; o mercado americano está cheio dessas... opções. Aqui, mesmo em seu preço 'cheio' já bateria de chinelo sem dó nem piedade na maior parte dos sul americanos. Só não seria uma grande compra; existem diversas outras opções de portugueses e até franceses em preço próximo. O que acontece é que seu preço era pornográfico na abertura da importadora, a Vinho e Ponto. E lá ele ficou... por eras... (rs); a inflação galopou, o dóla subiu, os chilenos - principalmente - passaram a acreditar que sabem fazer vinho (😂 ledo engano...) e Line 39 ficou esquecido. Ainda está bom, mas não sei se segura maior guarda. Para beber durante este 2021 que praticamente se inicia, é uma boa escolha. Já a importadora, tem que se desfazer dele; ficou com ele até agora e não sei se vai durar mais... Pelo menos não estão se desfazendo quando o vinho está vencido. 

Paralelos

   Aqui na sulamérica (sic) temos um vinho de latitude (sic). É o Latitud 33, que em sua versão Malbec cansei de beber, na primeira década. Tem um genérico (sic) também, que é o Latitud 34, mas o 33 foi quem primeiro fez sucesso por aqui, o 34 veio depois. Mas vejamos: tomando o Equador por zero, notamos que 33 (ou 4) vem antes de 39. Quer dizer que a Latitude 33 está menos distante do Equador do que a Line 39 (sic). Uns 6 graus, mais ou menos... isso dá uns 700 km mais ao norte(!) em favor dos californianos. O Paralelo 39 norte cruza o sul de Portugal e a 'sola' da bota, na Itália. Já o Paralelo 33 cruza... a África(!): Argélia, Tunísia, Líbia.... e as Colinas de Golan, no Oriente Médio. Fazendo um paralelo (sic), notamos que por simetria estamos relativamente distantes do centro vitivinícola mundial, que 'começa' mais ao norte na Europa. Onde mesmo comentei que conhecer sobre vinhos também é conhecer sobre mapas? Pois é...
   De quebra: Latitud 33 é um vinho de até 3 dóla na Argentina. E entre 9-12 dóla por aqui. Peraí!... estamos assim? Um vinho de "x" na Argentina custando aqui 3x, 4x? Alô alô, cambada! Cadê a estória de Mercosul, impostos reduzidos, integração de mercado, aquela conversa toda? Não é só pra vinho europeu, não, que a diferença tá comendo solta. O ponto é que Line 39 está agora por volta de USD 12,00, o mesmo preço de Latitud 33. E, comparativamente, acho que não se encontram nem no infinito...