Wednesday, April 25, 2012

Impressões da Expovinis Parte I

   Ontem cumpri um acordo firmado há dois meses com o sr. Inidir Janduzzo, da Mercearia 3M: visitar a Expovinis na qualidade de enviado da empresa para procurar novidades tanto entre os tradicionais como também entre possíveis novos fornecedores. Armado do meu indefectível caderninho preto, fui à luta logo às 8:30 da manhã com o intuito de chegar na abertura do primeiro dia da feira.
   A primeira passada foi na Hannover, representada na 3M pelos vinhos da chilena Viu Manent, dentre outros. E justamente dela confesso que estava algo curioso para conhecer o Vibo, um Malbec produzido pelo braço Argentino da vinícola. Fez jus aos comentários que já tinha lido a respeito: combina elegância com potência e é, segundo os próprios produtores, a "versão feminina" do Viu One. Com um em cada taça para tirar a prova, fui obrigado a concordar. O Vibo tem notas de frutas vermelhas no nariz, e na boca aparece um fundo de café. O retrogosto é largo e agradabilíssimo. O Viu One é mais intenso, encorpado, com taninos evidentes mas absolutamente domados. A surpresa ficou por conta do El Incidente, majoritariamente Carmenérè com um pouco de Petit Verdot e Malbec. A pimenta, tão típica em versões mais grosseiras dessa uva, aparece bastante melhor integrada ao vinho e torna El Incidente um bom representante do que alguns enólogos estão chamando de "renascimento" da variedade no Chile. Para quem gosta de Pinots, a linha Secreto aparece com mais esta surpresa. É um vinho equilibrado, mais na faixa de poder aquisitivo do cidadão comum (risos) e que, para mim, perpetua o mistério acerca dessa variedade: conhecedor de uns poucos Pinots argentinos e chilenos, nunca bebi dois iguais. Quando estamos acostumados com Cabernets e Malbecs, principalmente, conseguimos ter uma ideia de um vinho como sendo de uma ou de outra uva. Para mim, cada Pinot é diferente do outro, a ponto de ser impossível termos qualquer "memória olfativa" ou "degustativa" dessa variedade. Mas, assim como o Pinot da Ventisqueiro, este da Viu Manent também agrada. É delicado como todo Pinot, macio e com retrogosto agradável.
   Ainda na Hannover, a Serrera trouxe sua linha completa, desde o básico Serrera del Pecado, um Malbec/Cabernet Sauvignon com 14% de álcool bem integrados, a baunilha devidamente contida - acho que a baunilha em excesso tem estragado - ou escondido deficiências(?) - de vários vinhos que aportam por aqui. No caso, como dito, a baunilha encontra-se contida, e na prova apareceram notas de chocolate, o que mostra a boa integração entre nariz e boca. Para uma linha básica, de entrada mesmo, um bom vinho. Na versão Reserva, chamou atenção o Bonarda, que pode ser uma boa alternativa ao também bom Crios, da Suzana Balbo. Acima dos Reserva, o Gran Corte também chama atenção pela faixa de preço. Pelos ibéricos, destaque para o Mural Reserva, do Douro, uma combinação de Tinta Roriz e Touriga Nacional que pode competir com os Crasto e Esporão em igualde de condições na faixa de preço. O Quinta do Além Tanha Vinhas Velhas é um belo vinho, para bater de frente com o Crasto Reserva Vinhas Velhas. O custo, porém, deixa boa vantagem para o Crasto que, a meu ver, é quase imbatível na faixa de preço. Da Península de Setúbal comparecem o Soberana (4 castas portuguesas) e o S de Soberanas (este sim, com "s" no final, com 2 castas), ambos com longos estágios em barrica e preços à altura de tanto cuidado. Da Espanha, a Bodega Páramo de Corcos compareceu com dois Tempranillos agradáveis, de boa complexidade e para bolsos igualmente complexos. O leitor percebeu que deixei de comentar mais atentamente os vinhos ibéricos, e dou dois motivos: as castas portuguesas (Tinta Roriz, Trincadeira, Alicante Bouschet, Alfrocheiro, Tinta Caiada e outras) não remetem-me a qualquer lembrança mais sólida, diferente de um vinho à base de Cabernet ou Malbec. Depois, tendo passado por boa parte da Viu Manent e por toda a linha da Serrara, o paladar começou a ficar um pouco comprometido e uma pausa nas atividades teria sido bem-vinda. Infelizmente o show precisava continuar...

   No estande da Zahil a prioridade estava de fato concentrada nos negócios: uma pequena área externa servia alguns vinhos mais simples para os visitantes "mais simples" (vinhos como Trumpeter e o Salentein reserva, por exemplo: bons vinhos mais ainda assim simples se comparados ao catálogo completo), enquanto numa área fechada, com acesso restrito, os representantes da empresa se esforçavam para servir seus distribuidores. Uma nota: se eu fosse um cliente mediano da loja virtual da Zahil e pagasse o valor do ingresso esperando conhecer um pouco mais do catálogo da importadora, teria me frustrado completamente. Conquanto a Zahil esteja certa em querer dar atenção especial a seus distribuidores, o cuidado com o consumidor individual não deve ser menor, justamente sob pena de frustrar esse consumidor, tão essencial para a divulgação boa-a-boca de qualquer vinho. Recebi da Simone Puglieri, representante da Zahil que atende a Mercearia, a devida atenção em meio a algumas dezenas de clientes que eram atendidos naquele momento da feira. Provei primeiro um toscano bem encorpado, o Trefonti, da Tenuta Valdipiatta. Corte de Sangiovese, Cabernet Sauvignon e Canaiolo, é um legítimo representante do lado "potência e força" italianos. A despeito disso, os taninos apresentam-se macios. Um ótimo vinho que, pelo preço (R$ 120,00), faz gemer muito supertoscano de preços bastante superiores. Da Alsácia, o F.E. Trimbach Riesling é um vinho para se amar (e beber, claro). Não foi à toa que ficou entre os "top ten" da feira. Pelo preço (R$ 112,00), não é para o dia-a-dia de pobres mortais, mas vale a pena que passe pelas nossas taças ao menos para tomarmos conhecimento de como a vida pode ser boa... e notem que vinhos brancos não estão, ainda, no conjunto que aprecio mais. Fechei com o Quinta dos Carvalhais Colheita (R$ 103,00 no sítio da importadora), um português que mistura Touriga Nacional, Tinta Roriz e Alfrocheiro e também mostra bom corpo e bom final.

   Termino esta primeira parte das impressões registrando o encontro com o amigo Marcelo Deliza, da Casa Deliza, de Araraquara, que além de me reconhecer no meio da multidão (os óculos fizeram falta a partir de certo horário, se me entendem...) parou para uma conversa rápida mas agradável, e o sempre bonachão Homero, da Adega Paratodos, de Botucatu, que encontrou-me na Zahil, por mais que eu tentasse me esconder debaixo do vasto catálogo da empresa.

Saturday, April 21, 2012

Direto de Jumilla para o ralo

   Jumilla é uma pequena cidade da província de Múrcia, no sudeste da Espanha. Jumilla DO (Denominación de Origen) abarca outras seis cidades e pertence à comunidade de Castilla-La Mancha, tendo na Monastrell sua principal uva. Aliás, a Monastrell é mais conhecida no Brasil pelo nome da sua versão francesa: a Mourvèdre. Por sua vez, a  Mourvèdre é o "M" nos badalados cortes australianos GSM (Grenache, Shiraz e Mourvèdre) que, por meio de representantes como o Stump Jump, tem conseguido indicações importantes em listas "top" 100 e quetais. Mas voltemos para a Espanha...

   A DO Jumilla cultiva 42.000 ha de vinhedos, e a cidade de Jumilla é responsável por 22.000 ha de plantações. A Monastrell costuma originar vinhos frutados e leves, fáceis de apreciar.

   Panarroz, ele também um corte GMS onde a Monastrell é a uva predominante, andou frequentando a lista de melhores compras em diversas lojas virtuais dos Estados Unidos. Afinal, um vinho 90 pontos abaixo de US$ 10,00 é ou não é uma boa compra? Com um pouco de sorte e por volta de R$ 30,00 na mão, você compra um Panarroz e concorre a uma boa experiência dos vinhos produzidos nessa região.
   Mas... com um pouco de sorte? Agora também precisamos de sorte para provar um bom vinho? A rigor sempre corremos o risco de encontrar uma garrafa passada no meio de nossas compras, mas no presente caso recomendo uma oração a Baco com duplo empenho e fervor. A GrandCru importou o Panarroz há algum tempo, e apenas em sua safra 2004. Até o final do ano passado o vinho custava por volta de R$ 50,00, quando surpreendentemente entrou em promoção por pouco mais de R$ 20,00 - momento em que o esperto aqui aproveitou e comprou 6 garrafas. Abri duas delas na noite da virada do ano, e estavam ótimas: no nariz, fruta vermelha (nunca consigo identificar bem qual...) e na boca um pouco de pimenta complementava o prato com carne quase à perfeição. Infelizmente o mesmo não se repetiu com as duas garrafas seguintes: em noitadas regadas a vários vinhos com outros amigos, Panarroz foi o que sobrou. Já é sintomático, em nossas noitadas, uma garrafa que fica sozinha no final; o normal é todas irem baixando e acabarem quase juntas. Mas se o vinho sobrou... bem, então é porque ele já perdera a graça mesmo.

   Abri a quinta garrafa neste final de semana, e o que posso dizer? Está claro que, se por um lado esta ainda não atravessou o Aqueronte, por outro já sacou sua moeda e sinalizou firme para o triste barqueiro. Ainda tenho a última garrafa, e se ela estiver boa quando abrir voltarei a comentar. Mas é fato: o amigo bebedor deve ficar alerta com este rótulo. É uma pena que a GrandCru tenha trazido apenas esta safra; Panarroz é um vinho frequentemente bem avaliado pelos degustadores profissionais e o público ganharia com sua presença - a preços na casa dos R$ 30,00 - no nosso mercado, já que chilenos e argentinos do mesmo preço teriam extrema dificuldade em competir com ele. Eu ainda não reclamei do preço dos vinhos dos nossos vizinhos? Não? Fica para uma próxima crônica.

Wednesday, April 11, 2012

Killka Malbec 2009, da Salentein

A Bodas Salentein está sediada no Vale do Uco, em Mendoza, com plantações das principais cepas internacionais (Malbec, Merlot, CS, Syrah, Pinot Noir e Sauvignon Blanc), com vinhas ocupando 340 ha, entre 1.000 e 1.700 metros de altitude. Seus vinhos mais básicos são da linha Portillo, seguidos pela linha Killka, nas versões Malbec, CS e Chardonnay. Acima, a linha Salentein Reserva também faz bastante sucesso entre os consumidores brasileiros. No Brasil, os vinhos da Salentein são importados pela Zahil, casa que não ocupa uma das melhores posições no ranking de importadoras do sítio Enoeventos. Portanto, considerar este vinho como uma boa compra para sua faixa de preço (R$ 39,00), mesmo com as margens generosas praticadas pela importadora, mostra que Killka faz por merecer nossa atenção.

   Killka segue, bem de longe, a tendência "moderna" - que este que vos escreve considera kitsch - de mandar ver a baunilha para dentro de nossas taças. E, como segue a tendência bem de longe, a baunilha aparece aqui bem integrada ao conjunto da obra, ou como diríamos, de leve, sem congestionar nossos narizes, e sem mascarar as notas que se seguem depois. Após a baunilha estão nítidos os frutos vermelhos e os taninos são agradáveis, com bom final bom retrogosto.
   Em São Carlos o vinho está à venda na Mercearia 3M, e a garrafa degustada foi comprada por este enochato.

Wednesday, April 4, 2012

Merlots e agradáveis surpresas

   Uma cepa tem atiçado minha curiosidade há tempos: a Merlot. É uma variedade internacional, cultivada em praticamente todos os países produtores de vinho, tendo na margem direita do Bordeaux a região que melhor representa essa excelência (quem aí nunca degustou um Château Pétrus? - rs sarcásticos). Aliás, um parêntese: ao contrário do que se pode pensar quando dizemos "a margem direita do Bordeaux", Bordeaux não é um rio, mas uma cidade portuária às margens do rio Garonne. E Bordeaux também é a sede da empresa Dassault, aquela mesma que está louca para comprometer nossa segurança aérea vendendo-nos uns teco-tecos que foram rejeitados por todas as potências de segunda linha do planeta, tendo vendido algumas peças para algum paiseco de quinta, cujo nome não me lembro agora. Deixando essas informações de almanaque capivarol de lado, voltemos à uva e ao vinho.

   Merlot - como todas as cepas - expressa-se de diferentes maneiras conforme o continente onde é plantada (deixemos essa estória de terroir de lado e sejamos o mais gerais possível). Segundo o livro Vinhos de Todo o Mundo (Guia Ilustrado Zahar),  produz vinhos mais leves e fáceis de beber no Chile, um pouco mais encorpados na Austrália, potentes em Bordeaux e bastante pronunciados na Califórnia. Merlot é encontrada em vinhos varietais (de uma variedade de uva, apenas) ou em cortes (mistura de vinhos). No Chile, quando aparece em cortes, é quase sempre minotirário, ao contrário de Bordeaux e do Napa Valley.

   Minhas poucas experiências com ela revelam que seus varietais devem ser bebidos após boa decantação, mesmo para exemplares modestos. Citarei exemplos que, acredito, podem jogar mais dúvidas na questão do que elucidar qualquer coisa (risos); de qualquer maneira é o leitor quem deve meditar a respeito e ou tentar reproduzir essas brincadeiras ou compor as suas próprias.

   A primeira situação aconteceu na companhia do Flavitxo do blog Vinhobão há 15 dias, e envolveu três Merlots diferentes:
  • Má Partilha 2007 (Portugal)
  • Stags Leap 2005 (Estados Unidos)
  • Terra Matta 2009 (Suíça)


   Após receber o Flávio, descemos para a adega onde os dois primeiros já estavam abertos. Ainda na escada ele percebeu algo no ar, e depois identificou como o Stags Leap. Apesar do aroma chamar atenção, não é tão potente na boca. É mais macio do que potente. O contrário dele apresentou-se na taça do Má Partilha, mais potente e menos complexo. O Terra Matta, mais leve, ficou comprometido pelo que eu genericamente chamo de baunilha (rs). Vários vinhos possuem alguma especiaria que para mim é baunilha e bate em cheio logo que levamos a taça ao nariz. Quem já bebeu vinhos portugueses como o Crasto Douro (safras recentes) e o Crasto Superior, ou argentinos como o Rutini Cabernet-Malbec 2009 ou o Alma Negra (safras recentes, pelo menos), sabe bem do que estou falando. Não é que eu não goste desse tempero, mas no meu caso eles acabam por impregnar minhas vias olfativas a ponto de não permitirem-me perceber notas secundárias. Eu também acho que esse tempero compromete muito a diferença que o terroir pode fazer na elaboração do vinho, jogando por terra nossa capacidade de julgamento sobre sua procedência. Também é verdade que essa forma de produção parece estar em alta nos países produtores. Está bem que o vinho fica mais fácil de beber, ajuda a conquistar novos adeptos, mas como nada é de graça o custo a pagar é a produção de uma bebida apátrida, justamente o contrário do que um bom bebedor espera da sua bebida preferida. Mas voltemos aos Merlots.

   O final da celebração não poderia ser diferente: com apenas dois bebedores para três garrafas, o melhor vinho acabou primeiro, e o pior sobrou pra contar a estória. E que grata estória! No dia seguinte, à noite, o Akira passou para uma conversa rápida e teve de aproveitar uma taça do Má Partilha que ficou devidamente arrolhado na geladeira. Vinho na taça recobrando uma boa temperatura, o buquê começa a subir e então esse exemplar da Bacalhôa diz a que veio. Sem a tal da baunilha (rs), mostrou seu caráter com notas de café (chocolate? sempre faço uma bela confusão...), sem amargor e retrogosto marcante, um vinho realmente elegante. Fica pendente a discussão de como servir bem esse vinho, que eu já havia provado duas vezes anteriormente e que também não havia me convencido. Após um dia descansando, mostrou-se outro.

   A segunda experiência aconteceu na presença do mesmo Akira, do Endrigo e da Vânia, os dois últimos exímios bebedores (rs) e membros da ABS-São Carlos. Abrimos um Rutini Cabernet-Malbec 2009 e eu já tinha pronto no decantador um "vinho surpresa". Pedi a todos que comentassem, e das diversas opiniões algumas tiveram boa concordância: não era uma cepa comum em nosso dia-a-dia; não era um vinho novo; era um vinho bastante agradável, apesar de simples: tinha boa acidez e sem amargor. E, para a surpresa geral, o chileno Leon de Tarapacá 2004 - Merlot! - fora aberto na noite anterior e permanecera arrolhado na geladeira (após eu retirar uma taça medicinal, afinal não sou de ferro).
León de Tarapacá 2004, bebido em 20012: ainda um bom exemplar de um vinho simples. Ao longo dos últimos anos experimentei safras antigas de vinhos simples, quase todas as garrafas em boas condições (claro, foram bem armazenadas). A pergunta que fica: de fato, quando tempo sobrevivem os vinhos mais simples? O meu palpite é que depende do vinho e da vinícola. Se alguém quiser palpitar...
 
Esse fato, além de evidenciar a questão de como servir um Merlot, levanta outra questão, digna de comentário posterior: diz-se que vinhos simples - como um Leon de Tarapacá - feitos em aço inoxidável, não são vinhos para se guardar tanto tempo. Esse estava muito bom. E outros de safra similares, que tenho bebido ao longo dos últimos anos, também têm-se revelado bastante bons (dentro do que tais vinhos podem ser "bons"), fato que, como propus no começo, mas confunde do que elucida nossos conceitos sobre "vinhos simples", "vinhos de guarda" e sobre o serviço do vinho. Vou procurar outros incautos e realizarei novas experiências proximamente.

Sunday, April 1, 2012

Evento da Qualimpor em 29 de Março

   A Qualimpor é uma importadora de vinhos portugueses, propriedade da família que controla as vinícolas representadas pela empresa: a Herdade do Esporão, a Quinta do Crasto e, mais recentemente, a Quinta das Murças. O grupo tem investimentos anuais superiores a 10 milhões de euros (dados de 2008), e Esporão tem o maior vinhedo de Portugal (550 ha), com a vinicultura a cargo de David Beverstock, um simpático australiano com 25 anos de experiência na manipulação de castas portuguesas. No sítio da importadora o internauta encontra fichas técnicas de todos os vinhos, de modo que não adianta repeti-las aqui.
À esquerda João Roquette, proprietário da Qualimpor.


À direita David  Beverstock , responsável pelos vinhos da Herdade do Esporão.


   Este ano a Qualimpor não estará presente na Expovinis, mas nem por isso deixou de brindar seus consumidores: por intermédio dos representantes regionais, tem promovido degustações para grupos fechados de até 15 pessoas no Consulado Geral de Portugal em São Paulo. Vários grupos são reunidos em um dia, em eventos descontraídos, de muita camaradagem e onde a principal ocupação é brindar os sabores da terrinha. Em São Carlos, a Mercearia 3M organizou uma van com diversos clientes que encontraram uma brecha em seus horários para se deslocar a São Paulo em plena quinta-feira. Este pobre e esforçado escriba, claro, esteve cafungando algumas taças por lá.
À esquerda Idinir Janduzzo, proprietário da Mercearia 3M, organizador da caravana ao Consulado. Ambos tentando sorrir e esconder os dentes roxos; o primeiro com pouco sucesso e o segundo com apenas algum, à custa da cara de bobo.

  Juntas, as vinícolas produzem uma vasta gama de vinhos (e ótimos azeites, no caso da Esporão) para todos os gostos e para todos os bolsos. Os vinhos mais simples, Monte Velho (pela Esporão) e Flor de Crasto primam pela fruta. São fáceis de beber; seus taninos leves tornam-nos agradáveis para ser desfrutados inclusive por aqueles pouco afeitos à força dos tintos sul-americanos.

   Na outra ponta, o Quinta do Crasto reserva 2009 é intenso, equilibrado e com ótimo retrogosto, o que contribui para sua persistência na boca: após engolir o vinho tem-se a nítida sensação de que ele continua lá. Pela Esporão, comparecem o Private Selection, versões branco e tinto. Macios, equilibrados, enchem a boca e o nariz; mesmo este que vos escreve, com todo seu desvio de septo, não ficou imune a tais encantos.
Roger Silva, da Qualimpor: apresentou os melhores vinho da Quinta do Crasto.

hors concours que ficou em segundo (risos)

   Roquette & Cazes e Xisto - Roquette & Cazes são dois vinhos nobres da Quinta do Crasto produzidos do mesmo parreiral, onde o Roquette & Cazes é o vinho mais comum. Mas, nos anos em que a qualidade do vinho é muito acima do normal, os enólogos Daniel Llose e Manuel Lobo declaram que o produto se chamará Xisto - Roquette & Cazes - e não é apenas a qualidade que vai às alturas...
Xisto - Roquette & Cazes: muito novo, embora já complexo e elegante, não mostra absolutamente nada de seus 15,5°.

   O mais engraçado foi a percepção trocada entre os participantes de que o Crasto Reserva, por um terço do preço, estava melhor. Isso é explicado pela própria ficha técnica do Xisto: consumir entre 2011 e 2025. Ora, um vinho apto a guarda tão longa seguramente ainda não evoluiu tudo o que pode, e melhorará muito com os anos. Como sua produção é extremamente limitada (apenas 1.600 garrafas foram produzidas em setembro de 2011), não existiam mais garrafas de safras anteriores para se degustar no evento. Assim, assistimos a um verdadeiro infanticídio enólico de algumas garrafas para que o público não deixasse de tomar contato com um dos ícones comercializados pela Qualimpor.
   A meu ver, não há dúvida de que para o grande público o Crasto Reserva parece um vinho melhor do que o Xisto. Também tive essa impressão, e grafei melhor em itálico porque acho que o grande público tende a apreciar mais um vinho com maior vivacidade e presença, deixando passar detalhes - as tais notas - com as quais as pessoas não estão tão acostumadas nem tão bem treinadas para reconhecer. E o Xisto precisa de mais tempo... Sempre concordarei que o melhor vinho é o vinho que gostamos mais. Mas até aí estamos falando em gosto (e foi só disso que tratei no início do parágrafo). Nós, adoradores de vinho - eu inclusive -, precisamos sempre nos reciclar para podermos perceber bem o que os vinhos nos oferecem de melhor.
À direita Tomás Roquette, que participa da elaboração dos vinhos na vinícola da família, a Quinta do Crasto.

À guisa de conclusão

   A Qualimpor é, segundo levantamentos, uma das importadoras que pratica as margens relativamente mais baixas dentre as principais casas do setor, ficando em um honroso terceiro lugar. Isso torna seus vinhos extremamente atrativos no quesito preço, embora, para fazer por merecer o nome deste blog, eu ainda tenha uma reclamação: os produtores dos vinhos são também os proprietários da importadora. Isso quer dizer que eles ganham em todas as fases da cadeia. Ora, se o primeiro colocado da lista citada acima nos mostra que tem um ganho satisfatório praticando margens vinte por cento inferiores, e nem produz os vinhos que importa, parece-me que a Qualimpor poderia apertar um pouco sua margem - ainda preservando o mesmo ganho dos produtores! - e trazer seus vinhos com um preço um pouco mais em conta. Com a qualidade que tem, e os preços devidamente alinhados, os vinhos portugueses colocariam em cheque todos - absolutamente todos - os vinhos chilenos e argentinos que estão em nosso mercado. Eu gosto muito dos vinhos dos nossos vizinhos, mas alguém está exagerando no preço. Bem, essa é conversa para outra ocasião.