Thursday, September 30, 2021

Encontro das Noivas de Baco (e Vestais...)

Introito: tudo ao contrário

Recentemente uma cambada de beócios defenderam teses de doutorado fazendo cursos online via uatizápi. Alguns claramente defenderam mais de uma tese ao mesmo tempo - são mais do que gênios, são... oxigênios! Assim, assistimos ao surgimento de idiotas defendendo o kit-Covid meses depois da comunidade científica internacional descartar esse tratamento. Hordas de paspalhos começaram a discutir a sobre notificação de casos, argumentando que os números inflavam artificialmente o número de casos. Não apenas a estória das pandemias passadas atesta o contrário como recentes fatos comprovam que muitas vezes houve sub notificação de casos! Fedelhos pretendendo explicar as recentes altas da gasolina jamais levaram em consideração a alta do dólar e a acentuada valorização do brent oil, fazendo caras e bocas de quem estava coberto da razão numa interpretação de olhar baço e distante, típica de retardados (deficentes não possuem esse olhar; ele é mesmo bem característico). Bolsonésios saíram-se com todos os argumentos possíveis para defender o mito; pasmem(!): 
   - Precisa deixar roubar para ter provas e depois ir atrás. - necessita comentário?
   - Se ele rouba, por que não é processado? - não adianta explicar que o PGR não cumpre seu dever adequadamente; sempre há uma resposta que explica a inércia de maneira completa e fechada.
   - É que quando chega lá, precisa compor com o centrão... - mas não é justamente o contrário do discurso inicial? Essa declaração (Xô, Central) está em metade da internet... Também não explica como o atual governo começou com pessoas tão qualificadas e terminou literalmente sentado no colo do tal centrão.
   Nesse meio tempo os partidos que protagonizaram as principais disputas nacionais em pleitos recentes calam-se enquanto a população passa muitas vezes cozinhando, literalmente, ossos. PT e PSDB estão, em seu vil silêncio, tripudiando na cara do cidadão na mesma proporção de bolsonésio e caterva. Não nos esqueçamos deles. Você, que não está cozinhando osso, tem um papel importante nesse contexto: abriu uma garrafa de vinho? Doe um pacote de arroz. Abriu um uísque? Doe feijão e óleo. Trocou de carro? Parabéns, mas ora... você pode... Nestes tempos, mais do que nunca, a solidariedade precisa vir à tona.

Reunião da confraria Noivas de Baco

A Vestal Luciana ofereceu sua humilde choupana para o encontro da vez. Notei que alguns dos participantes perderam-se entre os cômodos quando dobraram por algum lado em falso. Felizmente a luz nos cômodos principais serviu de guia em todos os casos, e ninguém sumiu por muio tempo...
Um branco feito de Malbec ia longe quando o Edu chegou atrasado com seu indefectível Cava. Trivento Malbec Branco Reserva 2020 apresentou buquê discreto, floral, esbanjou simplicidade em meio a acidez baixa mesmo para um branco, pouco corpo e final curto. Tem um Reserva no nome, mas não peguei madeira não... deve ser alguma... alguma... alguma... tendência... sim, só pode... Seus defensores dirão que é um bom vinho de piscina, e seus detratores opinarão que a piscina poderia passar sem essa... A cava Freixenet deve ser sido comprada por engano pelo Edu... meio-seco - ou algo assim - esbanjou dulçor graças à polpuda economia de corpo e acidez (também!). Não estou bem lembrado das características, confesso, mas perde feio do nosso arroz-de-festa Bacio Della Luna, que, convenhamos, tem apenas o grande mérito de não estragar o caminho por onde passa 🙄. Achando - como sempre - que faltaria vinho, este escriba levou para entrada um Coquelicot Pinot Noir 2019, degustado recentemente. Novamente não impressionou - sobrou meia garrafa - embora a Luciana tenha dito que estava muito agradável no dia seguinte. Será que entendi errado? 😲 A Vestal Dayane havia proposto um desafio, citando ter comprado um Ravanal Gran Reserva Cabernet Sauvignon 2016 (acho), que descobri pelo rótulo ter sido condecorado com 93 pontos pelo James Sucks (sic). Já disseram que, comparado ao Sucks, o Parker se parece com uma freira. Está claramente errado; comparado a ele, Parker é um Querubim. No doubt about this! É um vinho com mais corpo e  taninos presentes. No nariz, um pimentão de entrada (e saída) levaram-me a afirmar que continha Carménere. Cheguei mesmo a escrever para a Pia Ravanal e perguntar. Solícita, ela respondeu rapidamente:
El Gran Reserva Cabernet, tiene un 100% de Cabernet (no tiene Carmenere), sin embargo debido a nuestro terroir puede tener notas vegetales.... Prueba el Gran Reseva Carmenere para que lo compares.
   Creio que o terroir a que ela se refere é marcado pela pirazina, aqui e aqui, um composto seguramente presente em alta concentração na Carménere em geral e aparentemente em parte do terroir do Vale do Colchagua, onde a vinícola está estabelecida. O desafio deixou-me curioso, e de repente poderíamos pegar outro Cabernet e o Carménere para comparar. Mesmo sendo parte do terroir neste caso, o pimentão à molho de tabasco é um traço que aprendi a entender como a assinatura típica da Carménere. Talvez esteja errado, e nada como uma prova futura para comparar.
   Baco estava adorando e o diabo espezinhava a todos com seu tridente sem sucesso quando partimos para minha resposta ao vinho chileno, o também recentemente degustado Chianti Classico Coli 2016. Com pouca aeração, a percepção inicial foi a mesma da outra vez. A Dayane achou ruim, com bret (Brettanomyces), maneira gentil de dizer que estava um cocozão 😱. Felizmente a aeração estava adiantada, e não demorou muito para que ela reformasse a opinião; já não estava tão ruim. Mais um pouco e o ar operou seu milagre: Coli passou rapidamente ao posto de vinho da noite. E combinou sobremaneira com o inhoque preparado pelo Gustavo, que embeleza a foto lá de cima (o Gustavo, não o inhoque 😣). Coli convenceu tanto os presentes que sugeriram que eu pegasse duas garrafas dele, para outro momento - em breve - e onde a aeração pudesse mostrar mais do vinho. Vale dizer ainda que foi o primeiro a acabar, sem que os bebuns percebessem! Já disse, variando a citação,
Os melhores vinhos sempre encontram as taças primeiro (aqui e aqui)
Apareceu ainda, de Castilla, o Terroirs du Monde Joven 2020, um vinho do qual, confesso não guardei as melhores características. Lembro que apresentou-se equilibrado, mas não recordo-me de mais. Para sobremesa, aguardava-nos um Moscatel da Pinord, vinho doce natural, dulcíssimo, com pegados 14,9% de álcool e uma acidez não à altura para contrabalançá-los, infelizmente. Combinou bem com a sobremesa de torta de limão - até repeti - mas não foi a clássica harmonização que doces e vinhos muitas vezes oferecem. Como mencionado recentemente, harmonização não é um conceito fácil; fugindo do clássico, flerta-se com o abismo. Não é que estivesse ruim, mas o excessivo dulçor do Pinord talvez requeresse os morangos que ficaram esquecidos em um canto da mesa. Ninguém é perfeito... os convidados - incluindo este que escreve - não deram a devida atenção à sobremesa completa. C'est la vie...

Friday, September 17, 2021

I Giusti & Zanza Dulcamara 2011

Introito

  Nada nesta vida é de graça. Ou, de outra maneira, precisava de combustível para tocar a postagem passada, de um vinho provado há uma semana. Dulcamara pagou o pato, e foi boa fonte de inspiração e companhia para a tarefa. Falei da I Giusti & Zanza pela primeira vez em 2012, na Noite dos Barolos Sanguinolentos, quando o Nemorino, vinho de entrada, surpreendeu a todos os bebuns. Experimentei outro Nemorino neste ano, e no ano passado havia experimentado um Perbruno. Experimentei outros exemplares, não postados. Lembro-me de ter provado todos eles em uma edição da Expovinis, e Dulcamara havia me surpreendido gratamente. Acabou sendo um dos destaques do evento, segundo o júri especializado. Não que conte muito, mais por conta de qualquer júri tupiniquim do que pelo vinho, claro, mas a coincidência fez-me notar que esse pessoal não é tão ruim quanto parece; às vezes eles acertam alguma... O leitor pode seguir os vínculos acima para saber mais sobre os vinhos e produtor.

I Giusti & Zanza Dulcamara 2011

Foi de caso pensado: semana desgastante, crianças dois dias fora de casa por conta da dedetização... precisava de um bom vinho para aliviar o estresse causado pela falta do Lemão e da Mel. Resulta que abri a garrafa às 16:00, e comecei a degustação às 20:30. São 22:45, portanto umas seis horas de aeração. Merece: ele era o melhor vinho do produtor até o aparecimento do Vigna Vecchia. Dulcamara é um corte de até 70% de Cabernet Sauvignon e  Cabernet Franc (a proporção depende da safra), um tanto de Merlot e uma pitada de Petit Verdot. É um supertoscano que pode ser confundido com um Bordeaux de bom nível: fruta muito rica, couro, chocolate... é um nariz muito estimulante. Boca com alguma especiaria, mas não aquele ataque da Sauvignon muito marcado na ponta da língua... lembra mesmo a Cabernet francesa em seu bom momento. A madeira também deixa seu travo muito bem harmonizado com toques terrosos e algum chocolate que se repete na boca. Ótima acidez, persistência longa, final com retrogosto bem presente. Tudo isso por 30 moedas (de Euro) no sítio do produtor. Aqui, facilmente encosta nos R$ 500,00. Não dá... está quase 3x... E lembremos que o sítio do produtor vende a preço cheio. O importador seguramente paga um preço inferior. Depois ficamos aguardando as 'promos' e compramos pela metade do preço. O tonto do importador ficou com o mico na mão por anos, mas se praticasse um preço bom desde sempre, poderia vendê-lo em prazo muito menor. Viva o mal planejamento. Viva o importador energúmeno, que além de tudo envelhece o vinho para nós. Note a tela do Wine-Searcher o preço em Euros, desta vez (normalmente uso Dóla).




Quando a harmonização funciona III : sobremesa

Introito

Chegamos à última postagem do memorável jantar na casa do Ghidelli. Pow, 😕, mal chegando a ela, já está na hora do próximo jantar! Assim num dá... 😁 
A harmonização de vinho de sobremesa é uma das mas fáceis e tem combinações verdadeiramente clássicas. Não que conheça muito, mas já experimentei umas boas. A primeira que encantou-me foi a de Sauternes com queijo azul. Nas oportunidades que tive de comprar Sauternes um pouco melhores, a opção campeã recaiu sempre no Chateau Guiraud, um Premier Cru reconhecido e citado por muitos como um dos três Sauternes que se aproximam muito do famoso Château D`Yquem. Di quêim? É, 'dele', 'dele'. Já provei de umas 4 ou 5 garrafas do Guiraud, e ainda tenho uma bem guardada. Repeti muito? Ara, elas foram consumidas nos últimos 10 anos... não é muito. Outra boa combinação é o bom e velho vinho do Porto e chocolate amargo. Na mesma linha, temos ainda o Banyuls, produzido em Roussillon, e o Jerez Pedro Ximenez de Montilla-Moriles no sul da Espanha. Já experimentei um bom Jerez, mas sem harmonizar. Banyuls, nunca. Se alguém me chamar, vai desligar o telefone e escutar meu carro estacionando na frente da casa antes de repousar o aparelho na base. Não é uma ameaça, é um aviso.🤣

Ice wine

O ice wine é um vinho de sobremesa característico de países muito frios, porque usa como matéria prima a uva congelada ainda na parreira. Por conta disso a concentração de açúcar aumenta, pois o mosto é prensado com as uvas congeladas, o que aumenta o dulçor à custa de muita matéria-prima para pouco produto final, aumentando significativamente seu preço. Os principais produtores desse tipo de vinho são o Canadá e a Alemanha. Estados Unidos, Áustria, Luxemburgo e até o Japão produzem vinhos nesse estilo. O Canadá, até onde conheço, é o mais tradicional. A Alemanha não fica atrás. Nesta a cepa usada é a Riesling, enquanto naquele os astros são a Vidal e a Cabernet Franc. Aqui no brasio, terra de gente ridícula e sem noção, produziu-se ice wine, certa vez. Sim, aqui onde neva aos píncaros, com nossa extensa e reconhecida produção vitivinícola, a maior e melhor de toda a Terra-plana, cometemos esse feito em 2009, conforme noticiado pela imprensa. Notemos que ela não tem culpa por apenas ter veiculado a notícia. Falemos de cousa de gente grande, não de traquinagens inconsequentes.

Magnotta 2016 Cabernet Franc  Limited Edition ice wine

Uma pesquisa rápida no Google indica como principais produtores do Canadá as seguintes vinícolas: Pillitteri Estates, Inniskillin, Pelee Island, Peller Estates, Reif Estate Winery, Henry of Pelham e... Magnotta! Opa, é gente grande. Produz uma linha surpreendentemente grande de ice wines, para todos os bolsos: por 4 'dóla canadense' (sic!) dá pra comprar 50 mL do exemplar mais simples. O Limited Edition, feito na Península do Niagara, custa 45 dóla canadense (sic) a garrafa de 375 mL. Não é barato não... em compensação é uma amostra terrena do céu. Fruta vermelha muito intensa no buquê, com dulçor intenso compensado pela bela acidez. Não anotei as características, e agora, uma semana depois, só resta fazer feio perante o leitor. Não importa... se tiver a oportunidade de experimentar Magnotta, verá que ele faz bonito em quantidade mais do que suficiente para compensar esse deslize. A forma como fruta, torta e vinho misturam-se é uma experiência que o leitor precisa experimentar uma vez na vida. É difícil falar mais sem desvalar para o piegas; sua harmonização com a torta foi realmente marcante. É a típica combinação por semelhança que funciona sem a menor sombra de dúvida. Ice wines são raros no brasio, então não é possível fazer uma comparação de preços. Mas podemos invocar o Sauternes que citei acima. Vejamos: um Guiraud custa, 'lá', USD 54,00 a garrafa de 750 mL. Temos que 45 dóla canadense (sic) valem 35 dolá americanos. Dá uns 20% a menas (sic). Um Guiraud aqui custa, garrafa de 375 mL, a bagatela de R$ 700,00. Não gostou? Chama o Latino pra uma festa no seu apê... depos me conta se não preferiria ter pago o valor do ice wine...




Tuesday, September 14, 2021

Quando a harmonização funciona II : tintos

Introito

O anfitrião lembra-me - com toda razão - que não coloquei foto do prato de entrada na postagem passada. Está ao lado, o camarão com mascarpone ao alho-poró. Tinha também umas lascas de casca de limão, raladas com toda diligência pela anfitriã Márcia. Acho que não é demais repetir: há diferença entre uma harmonização no verdadeiro sentido da palavra e um casamento fortuito entre comida e bebida. Acordemos assim: podemos ter a fusão das partes com nota maior do que sua soma simples, digamos, 1 + 1 = 2.1, ou algo como 1 + 1 = 3,5, ou 1 + 1 = 4,0. Os números são arbitrários; servem apenas para ilustrar uma harmonização simples e uma realmente marcante. Diria que o resultado 2.1 é alcançado com, grosso modo, qualquer bifão e qualquer tinto um tanto mais encorpado. Ou um Chiantizinho com pizza de Pepperoni. Funciona, até funciona bem e impressiona quem não tem mais experiência, mas não entrega... acho que o leitor entendeu. A harmonização passada atingiu um quatrão honroso. Teve bão...

Tintões: novamente América do Sul e Europa

Dona Neusa apresentou um tintão de produtor que gosto muito: o Pulenta Gran Corte VII 2018, um corte não linear (rs) de 44% Malbec, 25% Cabernet Sauvignon, 19% Merlot, 7% Petit Verdot e 5% Tannat. Bom nariz, com muita fruta e especiarias, mas não notei na boca aquela pimenta da Cabernet. A madeira está bem harmonizada, os taninos são potentes e alguma acidez mostram que é um vinho com muito tempo pela frente, embora esteja bom para beber. Antonio Madeira Vinhas Velhas 2017, é um Dão corte de Jaen, Tinta Pinheira, Negro Mouro, Tinta Amarela, Baga e outras mais, todas castas autóctones de Portugal. Buquê pesado, uma clara composição de frutas vermelhas e negras, algo de couro ou chocolate, boca muito equilibrada com boa acidez e ótimos taninos misturados a alguma mineralidade característica d região. Tem corpo entre médio a pegado, e fica realmente elegante combinado com o nariz. A persistência é boa, final longo - dance com ele na boca, engula e deixe a boca fechada, realmente degustando o vinho para entendê-lo. Ótima permanência, um conjunto que mostra-se superior ao bom Pulenta. É a estória sempre comentada aqui, de que os vinhos sul-americanos estão caros quando comparados a europeus na faixa de preço. Na foto não podemos deixar de registrar Don Flavitxo quase entrando na frente das garrafas na vã tentativa de ganhar seus 5 segundos de fama ao aparecer no blog...🤣😁 Aliás ele flagrou-me após alguns instantes de olhos fechados degustando o vinho e abrindo os olhos quase em êxtase. Riu para mim e de si para si, entendendo o que eu experimentava.

A harmonização foi bem calculada pelo Ghidelli, que seguramente consultou as fontes corretas e empenhou-se no preparo dos ingredientes. Está certo que fez um caminhão de polenta - e sequer peguei uma trouxinha para trazer para os cachorros 😶 - e a paleta estava muito bem preparada: ótimo tempero, bem no ponto. O molho vermelho tinha uma acidez muito boa também. Combinou bem com ambos os vinhos, mas claro... a melhor acidez de Antonio Madeira resultou em uma harmonização muito boa.


Preços

   Pulenta vale 'lá' uns USD 44,00 (USD 44,00 x R$ 5.5 = R$ 242,00), e R$ 615,00/R$ 520,00 para 'sócio' na Grand Cru. Para 'sócio' dá quase 2x, com dóla cotado pelo topo. Não é ruim, mas observe que é um dóla pelo topo. Sem preço 'sócio', está bem caro. Não encontrei o Antonio Madeira Vinhas Velhas aqui, mas é um vinho de seus USD 26,00. Por esse preço ele dá varada em um monte de portugueses conhecidos aqui e que estão na casa dos seus R$ 500,00, também. Repito: os vinhos sul-americanos estão caros. Foi ótima a oportunidade de experimentar um bom argentino, mas tentemos deixar os sul-americanos brilharem entre si. Porque fora daqui são francamente eclipsados.






Sunday, September 12, 2021

Quando a harmonização funciona I : brancos

Introito

Acabo de conferir o resultado das manifestações democráticas marcadas para hoje. O resultado parece ter passado longe da expectativa. Uma pena. Como é de se esperar, o lado contrário aproveita-se. Amigo bolsonésio envia-me comentário de um fedelho que foi banido de uma plataforma de xadrez online por evidente trapaça e depois precisou distorcer a realidade a ponto de fazer o Gilmar Mendes parecer um amador, na tentativa de explicar-se. É curioso que ele una-se a alguém de também defende um corrupto e ladrão que está solto porque a lei foi alterada para soltá-lo, mas que nunca conseguiu provar sua inocência. Tenho escrito (não aqui, no uatizápi): na minha turma estão Caxias, Rui Barbosa, Ulysses Guimarães... e na sua, quem estão? Lula? Os donos das grandes construtoras que fizeram acordos com a justiça, e devolveram bilhões ao tesouro nacional? Ei, o que foi que aconteceu? Eles foram achacados pela justiça ou só devolveram o que tinham levado na maciota? Estamos tão desmoralizados que de repente não posso dar essas ideias... alguém vai aparecer com esse argumento, e ainda teremos que devolver o dinheiro para essas construtoras... dinheiro que portanto entrará devidamente esquentado na conta desses ex-delatores...

Um encontro harmonizado

  Don Ghidelli ameaçou fazer jus à sua fama de sommelier de primeira linha e convocou a caterva para um jantar em sua casa. Fez o óbvio, o que nos dias de hoje precisa ser tomado como grande acerto. Bem... ele apenas anunciou o cardápio em detalhes e com antecedência, para que pudéssemos levar vinhos de acordo.
  • Camarão salteado com mascarpone ao alho-poró. 
  • Polenta na pedra com paleta assada com ervas e molho.
  • Sobremesa de torta cream cheese com frutas vermelhas.
Don Flavitxo e eu comparecemos com dois brancos às cegas. Ambos combinaram à perfeição com o camarão. São harmonizações praticamente infalíveis, embora uma delas tenha me surpreendido. Meu vinho foi servido primeiro. Todos - Ghidelli, Márcia (sua esposa), Flavixto e a Neusa mataram que era um Chablis. Notem bem: não disseram 'Borgonha'; disseram Chablis. Era um La Chablisienne Chablis Premier Cru Côte de Lécht 2016, vinho da cooperativa mais respeitada da Borgonha, com toques de frutas brancas (Neusa), ótima acidez, mineralidade característica - o que de fato permitiu aos bebedores mais experientes cravarem a procedência - boa permanência, ótimo final. O segundo vinho causou ótima impressão entre os convivas. Da minha parte, gostei muito. Chutei que poderia ser um Sauvignon Blanc, cepa que não conheço muito mas que tenho apreciado também por culpa e graça de Don Flavitxo. Mas não tive maior inspiração para imaginar de onde seria. Quem rasgou o verbo foi o Ghidelli: frescor e mineralidade decorrente de climas quentes, provocando aromas frutados e muito refrescante, com ótima acidez e permanência. Para mim é um português. E era mesmo! Tapada do Chaves branco 2018, um corte de Arinto, Antão Vaz, Assario, Tamarez e Roupeiro, é desses vinhos que entrega. Mesmo. Encheu a boca, o nariz, combinou muito bem com os camarões e foi aclamado. Tem um preço cá de R$ 290,00, e um preço lá de 20 Euros (R$ 130,00). O preço aqui está um pouco mais de 2x, o que deve ser considerado muito bom. Côte de Léchet custa lá cerca de 35 dóla, e comprei aqui, em 'promo' por pouco mais de R$ 200,00, à época. Hoje, sem 'promo', sai por uns R$ 420,00. Aí salga...

Friday, September 10, 2021

Introito

  Ninguém duvida que Churchill produzia bons discursos. Nem que ele teria aprendido umas boas com o Senhor Diretas, como podemos notar de seu discurso na promulgação da Constituição de 1988. São palavras dignas dos anais da liberdade e expressam os mais puros ideais da democracia ocidental.

   O último dia 7 de Setembro - data sagrada para todos os patriotas brasileiros - por um triz não foi jogado no rol da infâmia por um canalha travestido de presidente em frente a uma corja de ignorantes que não vale a roupa que veste, o arroz e feijão que come. A luz que os banha não tem eficácia para iluminar as trevas em suas mentes. Uma súcia sem o menor senso de realidade, cega e ensimesmada em sua crença que não subsiste à mais básica argumentação. Se é apenas insuportável ouvir as teorias conspiratórias que não encontram representação em qualquer fato, o que dizer dos argumentos absolutamente energúmenos vindos de pessoas com formação universitária, que abundam nessas hostes e insistem em defender o indefensável? Essa é a nossa nação. Não é difícil perceber que até agora falhamos como tal. O que podemos fazer? Simples: deixar de sermos inertes e participar. É possível participar ainda que atrás de uma cadeira. O cidadão crítico encontrará uma maneira. Os tolos, se chegaram até aqui, podem ir embora, não fazem falta.

Ribera del Duero

   Ribera del Duero é um Denominação de Origem Protegida situada mais ou menos ao norte da Espanha. Nem tão ao norte mas nem tão na região central, também. É o lar de alguns dos melhores produtores da Espanha: Vega Sicilia, Abadia Retuerta, Dominio de Pingus, Pesquera, Hacienda Monasterio e Emilio Moro, só para citar alguns. As cepas da região são a Tinto Fino (nome local da Tempranillo), a Cabernet Sauvignon, a Merlot, a Malbec e a Garnacha (Grenache).

Portia Roble 2018

As Bodegas Portia ficam em Burgos... região onde não... não estão os grandes ícones listados acima. Mas é região de bons produtores, alguns deles com igualmente boa representação aqui no Brasil, como a Pago de los Capellanes e a Valduero. Portia é parte do grupo Faustino, também produtor de ótimos vinhos algumas vezes em preços excepcionais no Brasil (mas precisa ter cuidado...). Produz uma linha relativamente limitada de vinhos, e seu Portia Roble 2018 é o de entrada. Melhorou bastante depois da primeira hora, quando mostrou fruta negra e chocolate no nariz, boca com fruta (vermelha?), especiaria e algum dulçor, com algum álcool sobrando (de leve), taninos um pouco pegados e acidez média. O conjunto se equilibrou bem depois de aerado, e na abertura não estava bom não... o serviço é muito importante para este vinho. Tem final e persistência razoáveis. Pelo preço, como veremos, não é felicidade engarrafada, mas bate muita coisa por aí. É um vinho de supermercado, custa na Decantalo (Espanha) uns 10 dóla, e é vendido aqui a R$ 120,00. Grosso modo, dá 2x. Vale a pena experimentar, mas não é tipo de vinho que eu compraria uma caixa para ir degustando outra vezes. Dá para 'mostrar pra moçada', se o leitor participar de confrarias que consumam vinhos nesse preço. Mas não muito mais do que isso.

Wednesday, September 8, 2021

Vinho com suflê: reflexões sobre (des)harmonização

Introito

   O 7 de Setembro passou e não assombrou. Já imaginou o Dia da Independência sendo lembrado como um dia de pesadelo? Nada mais tenebroso. O que vimos foi mais do mesmo: bravatas, ameaças e transgressões sucessivas à constituição e à ordem. Como havia apostado ontem, nenhum político - a menos daqueles em cargos-chave da República ou o famoso 0,1% de oportunistas - deram as caras. Isso apenas demonstra o quão ilhado encontra-se o idiota-mor de plantão. Mais de 25 anos liderados por idiotas (quando não ladrões também)... será que já chega?

Outro encontro do Noivas de Baco

   A confraria Noivas de Baco reuniu-se outra vez, sob ameaças do Gustavo de promover uma harmonização de vinhos e suflês. Segundo ele, o primeiro com uma pegada mais marítima, o segundo para um lado mais vegetal, com certo dulçor e o terceiro para um lado mais untuoso, encorpado. E as dicas de harmonização foram: 1° suflê: pensei em harmonizar com um branco. 2° suflê: tinto com alguma coisa se dulçor (não confundir com vinho doce). 3° suflê:  um tinto mais encorpado. Pensei em levar um branco, e, para que nada faltasse, carreguei um tinto também, sem compromisso com harmonização; seria para o depois. A vestal Luciana comentou que faria o mesmo. Só aconteceu (😝) que na hora abrimos os brancos e na sequência quase todos os tintos, e a tragédia flertou com o evento...

Primeiro suflê servido, tentamos harmonizar com o Quinta da Archeiras branco 2018, que tinha alguma nota cítrica e boca equilibrada. Não casou muito bem com o suflê. A Luciana apresentou um Finca Las Hornias Verdejo, não lembro o ano, também cítrico, herbáceo e boca com especiaria, boa acidez e redondo. Um tanto melhor que o Archeiras, mas não casou novamente. No segundo suflê voltamos ao Pé Tinto, que degustávamos na entrada. A Dayane queria apresentar-nos esse vinho, considerado por ela uma boa compra (pagou menos de R$ 50,00, em 'promo'). Produzido pela Herdade do Esporão, tem as características do gosto do consumidor brasileiro: muito fresco e frutado no nariz, com fruta se repetindo na boca, taninos leves, acidez presente; simples mas que não faz feio. É sim uma boa opção para vinhos abaixo de R$ 50,00 (queria o quê nessa faixa?), e pareceu um bom coringa: pode ser degustado sem comida ou pode acompanhar uma pizza mais leve, porque não briga bem com um pepperoni, ou mesmo com calabresa. Mas também não fez par com o suflê... 

Tentamos ainda um Caves de Murça, que também não marquei o ano, do Gustavo. Novamente fruta no nariz - lembro que eram todos vinhos jovens -, faz o estilo vinho alegre, que não compromete. Segue o mesmo padrão do Pé Tinto, com bom equilíbrio, corpo médio, igualmente agradável no conjunto, mas igualmente sem grande diferencial. Note, falamos de vinhos relativamente simples, possivelmente da ordem de algumas moedas lá fora. Novamente, não casou. Não lembro se foi com o segundo ou com o terceiro suflê. Lembro-me mesmo (rs) que a essa hora (do terceiro), já estávamos tentando, sem muitas esperanças (😓) com o toscaninho que levei. Santa Cristina 2019 é um IGT corte Sangiovese, Cabernet Sauvignon, Merlot e Syrah, com um pouco de carvalho que confere-lhe bom peso. Apresentou fruta mais marcada, chocolate (café?), taninos presentes, acidez um pouco melhor, conjunto equilibrado e melhor marcado que os demais. Mas pouco adiantou... atropelou o suflê, e a harmonização também não se fez.

Um pouco no desespero, lembrei que tinha uma última garrafa na geladeira. Achei que a Luciana não daria pela falta dele (😌), e abri depois que o terceiro suflê fora servido. O Viu Manent Secreto Carmenère (também sem safra...) não negou a uva e mostrou todo seu excesso de pimenta - tabasco - no nariz. Essa pimenta sobrepõe em muito a fruta que o acompanha, não consegui suspeitar qual seria, se mais negra ou vermelha. Como a média dos chilenos, tem acidez baixa, taninos discretos e final pouco marcado. Curiosamente... foi o que se aproximou de uma harmonização com suflê... Tenho que dar o braço a torcer, foi a melhor combinação. Não significa que seja um bom vinho - principalmente depois que nos a costumamos à acidez - mas apenas harmonizou melhor. Precisamos entender que harmonização é um assunto muito complexo, além do que parece à primeira vista. Requer expertise, sensibilidade e conhecimento. O sommelier, dirá que depende mais de conhecimento do vinho. O cheff, aposto, dirá exatamente o contrário. Para manter minha fama de Enochato, vou cravar que depende de um sujeito mais inteligente do que o sommelier e muito mais esperto do que o cheff. O simplistas virão com aquela explicação bichada de que harmonização pode ser por similaridade ou contraste, papo tolo. Veja só: a luz branca é a soma de todas as cores. Veja um experimento interessante aqui, vídeo de apenas 25 segundos, onde um Disco de Newton rotacionado perde todas as cores pintadas nele e fica completamente branco. Já na indústria gráfica (digo, na impressão em papel), quando você soma todas as cores (ciano, magenta e amarelo) no papel, a cor resultando é... o preto! Dá o oposto! O que venho tentando dizer é que talvez - talvez - seja um erro grosseiro o cozinheiro ou o sommerdier tratarem a acidez do vinho da mesma maneira que tratam a acidez da comida! Eu não sei qual a Grande Verdade Final porque não entendo de comida (além de comer...), de vinho (além de beber) ou de física (nada!)... apenas avento a possibilidade do erro por parte de seus intérpretes. E só isso pode explicar combinações que não combinam (sic), e dezenas de supostas harmonizações que, no máximo, apenas não competem em direções opostas. O leitor pode fazer assim: tente uma harmonização que de fato funciona, e é a mais óbvia do mundo do vinho: um vinho de sobremesa, tipo Late Harvest (Sauternes é melhor, claro), com queijo azul (um bom Roquefort é muito melhor, claro também (sic!)). Siga o roteiro: ponha um pouco do queijo na língua e pincele (sic) o céu da boca. Depois dê um gole no vinho, e volte a pincelar o céu da boca, misturando vinho e queijo. Mova a língua em círculos, devagar. Deixe a mistura espalhar-se pela boca, em movimentos mastigatórios. Depois, compare com as porcarias de harmonizações baseadas em similaridade ou contraste e me conte! Esmiuçando só um pouco mais essa estória: a estrutura do vinho é dada por acidez, tanino, álcool e açúcar. Se podemos chamar assim, a estrutura (ou componentes) do sabor são, segundo aquele documentário da NetFlix, sal, gordura, ácido e calor. Vemos que um dos componentes, ácido/acidez aparece em ambos, mas não tenho certo de que comportem-se da mesma maneira. Como disse, é um tema delicado e do qual não entendo. Apenas tento chamar a atenção do leitor para que o buraco é mais embaixo.

Voltando aos vinhos e a uma observação que de vez em quando comento por aqui: quem sobrou, quem secou (sic). Entre os brancos, notamos que Las Hornias francamente agradou mais os bebedores. Dentre os tintos, Pe Tinto foi o vinho aberto em primeiro, e ainda assim não secou. E terminou atrás do Murça e do Santa Cristina. O Secreto foi pouco degustado, mas é preciso dizer que foi aberto bem depois do que os demais, o que justifica plenamente que tenha sobrado. O Gustavo ainda comentou que no dia seguinte o Archeiras estava muito bom. Mas era o outro dia... o que conta é quem agradou naquela hora, porque estava à prova na boca de todos. Bons brindes, boas companhias, boas comidas. A harmonização mandou seu representante, o Tim Maia... (ainda que em espírito, e aprontou das suas, não comparecendo 😂). Não foi problema; o companheirismo estava lá, e contra essa componente inexiste desarmonização..

Rata! 🐭

   A vestal Dayane manda um puxão de orelha e avisa que o vinho de entrada foi o Murça e não o Pé Tinto. O Pé Tinto foi degustado com o segundo suflê. E sugere que se um dia alguém quiser dicas de como não harmonizar suflê com vinhos, pode escrever para a confraria. Ou para o blog mesmo, eu repasso a questão. Agradeço a correção.

Post-scriptum

  O Gustavo enviou o resumo dos suflês...
   [07:00, 08/09/2021] Gustavo: Suflê 1 - queijo gouda com camarão.
   [07:00, 08/09/2021] Gustavo: suflê 2 - abóbora.
   [07:01, 08/09/2021] Gustavo: suflê 3 - mandioquinha com carne seca.
   Oenochato agradece...

Monday, September 6, 2021

A Senhora N. desafia: Parte 2, o desmanche

Introito

   Amanhã é o Dia da Independência. Idiotas querem se apossar da data que é cara a todos os brasileiros. Não passarão. Eles podem manifestar-se nesse dia. A Pátria é de todos, e marquemos que isso é bem outra estória. Estão em seu direito. Vejamos que políticos estarão lá - o que é uma medida de quanto o mundo político de fato apoia a proposta bolsonésia de descarado golpe. Acompanhemos bem de perto quem são os traidores da pátria. E, sobretudo, lembremo-nos (povo sem memória!) de quem são, na próxima eleição. Quer apostar que não teremos muitos políticos do Centrão? Ora, claro, aqueles que ocupam cargos estarão lá. Quero ver os outros 245 do universo de uns 250... O ponto para mim é bem simples: quem não sair de casa amanhã seguramente não apoia esse movimento. Não sairei por nada, nem para pegar comida e trazer de volta para casa, assim como não pedirei nada para entregar. Sem movimento nas ruas. Ficar em casa não deixa de ser uma forma de resistência. Perderemos a data? Bem, perdemos dois anos por causa do Covid - outro problema que recebeu tratamento infame do idiota-mor. Seu presidente? Fique com ele. Acompanhe-o até... onde quiser! Lamento não falar de vinho. Como tenho dito, os problemas da pátria são de monta que o cidadão honrado não pode, desde há muito, deixar de se manifestar. O cidadão marca posição. Os covardes, fogem.

Perbruno, Percristina, Percarlo... Pela madona!!! 

   Italianos às vezes apresentam esses nomes estranhos. Perbruno. Percristina. 'Para'... Bruno, ou Cristina... usualmente são homenagens. Aí você fica se perguntando: quem é o Bruno? Quem é a Cristina? Nada de novo aqui, afinal cada vinho é uma estória. No presente caso, aconteceu assim:
   - Tome, fique com eles. Vá colocando na mesa à medida que achar razoável. Ficarei muito feliz em participar apreciando só o buquê... - assim o Akira deixou comigo mais de uma caixa de vinhos de qualidade excepcional, que trouxe em suas inúmeras viagens ao exterior, três garrafas de uma vez, três de outra. Achei que seria boa oportunidade, tanto que avisei o Ghidelli: 
   - Vem quente que tem um fervendo... - ele, claro, não se fez de rogado. 

Fattoria San Giusto a Rentennano começou como um mosteiro Cisterciense lá pelos idos de '04. Sabe... tipo... 1204...? Pertence à família Martini di Cigala desde 1924. Estabelecido em Gaiole, portanto dentro da área Chianti Classico, o produtor tem em sua carta um rosê, um Vin San (escreve assim mesmo, é um Vinho Santo, estilo Passito, de sobremesa) à base de Malvasia e Trebbiano; também dois Super Toscanos e depois um Chianti Classico e um Chianti Classico Riserva. Pelas leis da DOCG, um 100% Sangiovese não é rotulado como Chianti, mas como Super Toscano. É o caso de Percarlo 2008. Quem é o Carlo? 😂. Não sei. Sei mesmo que Percarlo está pronto - prontíssimo! - para ser degustado. Desarrolhei os tintos junto dos brancos e por algum tempo aqueles ficaram aerando, enquanto experimentávamos os brancos. Na vez de Percarlo (servido junto dos bifins), ele já tinha bem mais de uma hora de aeração. Revela suas propriedades medicinais - cura a alma - logo na primeira cafungada: é complexo, com ótima fruta, toques terrosos e ainda arrasta algum fumo - ou couro. Seguramente tem mais, só faltou nariz a este pobre adorador de Baco. Ele entra no nariz em 3D... felicidade engarrafada imediata. A riqueza do nariz se repete na boca, com especiarias, fruta, taninos muito marcados - mas elegantes! - acidez muito equilibrada, permanência longa e final grandioso. É um vinho de USD 100+, e que entrega. Taí um dos vinhos que você deve experimentar, se tiver oportunidade. Claro, traga de fora. Aqui provavelmente custará os olhos - todos! 😱. 

O Ghidelli compareceu com um Atteca Garnacha Old Vines 2017, do produtor Juan Gil, representado aqui pela Enoeventos. Juan Gil é um bom produtor espanhol. Não é um grande produtor, mas é um daqueles que sempre belisca a presença em alguma lista dos 100+ do ano de algum avaliador minimamente respeitado, por exemplo. Não é produtor de se jogar fora. Está na faixa de USD 15+ (EUA), o que dá facilmente R$ 90,00 e está à venda por R$ 150,00, o que dá um preção. Tanto ele quanto Percarlo combinaram bem com o bifão, mas não senti uma verdadeira harmonização. Apenas... apenas... apenas... teve bão! 😊. É um 100% Garnacha, produzido em Calatayud, na região de Aragão. Enebriado pelo Percarlo, não prestei tanta atenção. Claro, Percarlo passou por cima dele, e seguramente mascarou muito do que ele tinha para oferecer. Mas notei boa fruta vermelha - bem vermelha - e aquela estrutura básica - tanino, álcool, acidez - bem acabada. É um vinho que, pareado com outros de mesmo preço, seguramente tem seu brilho próprio. Mas aí precisa ter um aviso logo na porta de entrada: - Proibido apelar! O Akira não respeitou muito essa regra... ninguém reclamou, nem o Ghidelli...

Post-scriptum

   Fui cobrado, com toda razão, sobre o acerto do Ghidelli. Perguntado sobre a origem do Percarlo na primeira rodada, às cegas, ele cravou sem vacilar: 
   - Italiano!
   O problema (🤣) é que ele estava em uma roda aberta, digo, com muitas testemunhas. Daí que (sic) não se pode criar um mito envolvendo o acerto; tudo mundo já sabe... acho que fiquei mais entusiasmado em contar a mentira do Akira com o Tarapacá e sisqueci (rs! sic!) de mencionar esse detalhe que também é digno de nota. Por outro lado, não deixarei de relatar (🙄) os próximos 340 foras que, tenho certeza, ele cometerá na sequência.

Friday, September 3, 2021

A Senhora N. desafia

Introito

 
A Senhora N. debutou no blog em 2016. Acho que já disse isso... 😕 Não importa muito (se já disse); importa que desde então temos nos reunido em encontros sempre agradabilíssimos onde nada falta - inclusive polêmicas - sempre levadas com algum humor e absoluta honestidade intelectual por todos. Achar que um vinho é melhor que o outro diz respeito ao vinho, e não a seu proprietário - por mais que os meus sempre sejam melhores que os de Don Flavitxo... Dizer que o político da hora até está fazendo um bom mandato não me impede de classificá-lo como idiota. Há 20 anos nosso crescimento - quando ocorre - é medíocre e a distribuição de renda pouco melhorou - se melhorou de fato. Não concedo mais que políticos errem bisonhamente; errando, idiota é. Voltemos: havia algum tempo que não nos reuníamos, e Dona Neusa achou que era demais. Chamou-nos para um... bifinho... Akira e Ghidelli disseram que fariam de tudo para atender ao chamado - Akira estava em viagem -, enquanto as confrades Elvira e Margarida garantiram presença. Na hora, só de olhar para os bifinhos, senti que Baco gostou. Curiosamente na mesma semana a amiga Angelina comentou, algo preocupada com minha saúde, que não é recomendável comer carne à noite. Bem, acho que um pouquinho pode...

Entradinhas

As entradinhas foram, principalmente, mentiras que costumo contar para animar os encontros. Entre uma (mentira) e outra, aumentei um pouco a fama do Akira, citando o lançamento do catso do astronauta brasileiro para o espaço (deveria ter ficado por lá...). Eu levara um Tarapacá Reserva Privada, que, às cegas, ele matou o produtor na cafungada e o vinho no paladar. E não é que mal acabo de contar a estória, o Akira toca a campainha? 😨 As meninas olharam para mim com um olhar especialmente artimanhoso: 
- Agora descascamos esse Enochato... 
Ah, nada como contar boas mentiras. Cumprimentos feitos, todos sentados, vinho servido para o Akira - às cegas - logo a Elvira perguntou a uva. O Akira mal deu uma cafungada e olhou para ela, como se fosse normal: - Riesling. Ela perguntou de onde. Ele comentou que não era da Alsácia porque faltava mineralidade, não era da Nova Zelândia porque faltava potência, e não era da Alemanha porque faltava alguma outra coisa (😖). Ante a insistência da Elvira, opinou que fosse primeiro mundo - Américas. Sugeri que sob pressão até pato botava ovo, e ela continuou a espremer o pobre Akira até ele - conforme enfatizou - chutar: Americano. Particularmente achei um pouco doce na entrada da boca, e o nariz não apresentava a assinatura típica dessa uva, o buquê a óleo Singer. Note: para mim. Essa assinatura - a conexão com óleo Singer foi criada pelo próprio Akira - não estava-me tão clara e só depois que a temperatura subiu um pouco ficou levemente perceptível. Acho que particularmente não reconheceria. Chateau Ste Michelle Dry Riesling 2019 tem boa acidez e pelo toque mais doce temo que fique enjoativo se degustado em grupo pequeno - ou a dois. Para uma ou duas tacinhas, vai bem. Um Zind-Humbrecht Riesling Turckheim não te enjoa jamais. Mas ora, onde fica aquele ditado de variar sempre?! Viva o diferente. Este não me agradou - e minha opinião passou longe da unanimidade. O Corello 2017, de Salice Salentino DOC, é um corte Negroamaro (90%) e Malvasia Nera (10%) produzido na região da Puglia. E meio-seco, estilo que neste ano vem mudando meu conceito a esse respeito. Pelo próprio estilo, é um vinho mais leve, apesar de seus 15% de álcool que não aparecem. O travo é sim um pouco mais doce, mas sem enjoar. Tem taninos discretos, boa fruta e alguma acidez, fazendo um conjunto harmonioso. Pelo doce, sem o devido acompanhamento, não faz meu gosto como vinho para degustação. Mas é, por exemplo, boa porta de entrada para quem deseja passar do vinho suave para o seco. O evento continuou, para fica para a segunda parte.

Esta postagem foi embalada a uma meia garrafa do Caldas Douro 2014, um português corte de Touriga Nacional, Tinta Roriz e Tinto Cão. Nariz com fruta e algo mais que me escapa - anis? Dia de nariz ruim? Tem boca com aquele travo algo doce de Portugal que fica obscurecido pela acidez um pouco desequilibrada. Uma picada de especiaria e permanência mais interessante que o final - este é um pouco rápido, dá um escorregada no final da língua e não deixa muita lembrança. Não é ruim, mas penso que pelo preço (atualmente cerca de R$ 98,00 a meia garrafa) existam opções melhores no mercado.