Sunday, January 30, 2022

Os cinco terrores

Introito

   Estava numa degustação há muito tempo. É da época (sic) em que, tendo contato próximo com o lojista, chegava mais cedo para ajudar a abrir as garrafas, um tanto antes do evento começar. E não tinha essa de pegar um dedal para experimentar, não senhor. Era para ajudar, mesmo. Depois chegavam as mocinhas que serviriam os vinhos, e o gerente instruía, cada uma, sobre os vinhos disponíveis em suas bancadas. Certas mesas ficavam a cargo de algum(a) representante especialmente enviado pela importadora; era quando a conversa ficava interessante. Eis que, começado o serviço, o Akira e eu chegamos a uma das bancadas, apontamos o vinho que desejávamos provar e fomos recebidos com um belo sorriso:
   - Microterror... - disse ela, apresentando-nos o produto da Casa Silva cujo nome correto era Microterroir.


As queimas de sempre

As importadoras tubaronas estão à caça de incautos. Um vinho de R$ 1.140,00 por praticamente R$ 800,00. Bom Bordeaux de ótima safra - até ao contrário do que cansam (não, não se cansam...) de nos oferecer, muitas e muitas vezes péssimas safras. Dá 30%, o que mesmo em nosso regime inflacionário de 10% ao ano é um ótimo desconto. Só que não... Sendo um vinho de USD 55,00 lá fora, e ao dóla de R$ 5,5 dá cerca de R$ 300,00. Ao preço cheio, é quase 4x; na 'promo' chega a apenas quase 3x. Importadoras tubaronas são assim: elas reajustam o vinho ao menor soluço do dóla. Curioso como muitas importadoras pequenas não reajustam seus preços da mesma maneira. No início da alta do dóla do desgoverno bolsonésio, cansei de comprar vinhos a preços 'congelados'. Não faziam alerde nem nada. Era o preço, e pronto. Foi um ano torrando aqui o que eu não gastaria lá fora, porque com a alta da moeda americana deixei de lado os planos para viajar. A comparação com o Wine-Searcher está no pé da postagem. O leitor que não quer deixar-se explorar deve sempre consultar o preço do vinho lá fora e comparar com o preço aqui. Exerça seu papel de cidadão - e não de mero consumista. É seu dever e direito. Se o preço de um vinho está acima de 2x, eu não compro. Sobre a questão de "2x", veja comentário mais abaixo, sobre a Apple.

Blog sob ataque... again de novo...

Nosso detrator-mor dá os ares da graça, em mensagens das quais poupei o leitor.  Uma delas foi essa ao lado, depois que não publiquei as tolices com as quais ele tentava infectar o espaço. Pobre diabo, deve acreditar que preocupe-me com ataques pessoais. Sobre a última postagem, pretendeu dar pitacos sobre a questão política. Como tenho dito, o cidadão de bem não pode mais ficar calado face ao que acontece no país. Recuso-me a degustar um vinho, mesmo simples, que não pode ser adquirido por 90% da população. Já declarei isso várias vezes, e meu posicionamento pessoal não está em pauta. O blog debate vinhos e assuntos correlatos. Que o detrator revele-se um bolsonésio empedernido, não conta.
   Sobre vinho, ele diz:
Quanto à parte dos vinhos do mala, perdão, dos vinhos da mala, fico aqui pensando nos coitados que por gentileza e vergonha de dizer não, atendem o seu pedido e ficam carregando peso para um folgadão tomar vinho mais barato e não prestigiar o comércio que paga imposto. Na vê que está sendo inconveniente com seus amigos? 

   Começa com ataque ao argumentador (o mala), e não ao argumento. Estratégia baixa e gasta, já denunciada, mas que o energúmeno repete ad nauseam. As pessoas avisam-me que vão viajar com antecedência, e dizem o quanto podem trazer. Portanto você está claramente errado. Ademais, quem traz vinhos para mim bebe dos meus vinhos (isso não é importante, mas é um registro de que não sou um aproveitador barato como o utente supõe; pago gentileza com gentileza); e todos gostam muito dessa parte. Sempre ficam surpresos ao saber que estão a beber do vinho que anos atrás carregaram-no. Veja aqui, tolo:

   O espertinho tenta emendar que eu não prestigio o comércio que paga impostos quando a questão nunca foi o imposto que se paga. A questão, desde sempre, são as margens escorchantes praticadas pelos tubarões do mercado. Pode enfiar essa margem no meio da sua ideia do que é gestão de negócios, e depois reflita como elas são efetivamente altas. Vá aprender com as importadoras já citadas muitas vezes como respeitadoras do bolso do cidadão. É realmente digna de nota a suposição errada de que eu simplesmente não compre vinhos aqui. Sinal claro de que o conteúdo do blog não é lido, e a intenção dos comentários não vai além de meros ataques pessoais.

Mantenho minha proposta. Quando quiser abrir um negócio de vinhos eu financio. Se não quebrar em 6 meses eu abro mão do valor investido.

   Repete seu papo murrinho mais e mais. Já foi devidamente respondido: 1) Não me considero com vocação para tal, além de estar em outro ramo há 35 anos; 2) Não é ético um avaliador querer vender vinhos - você conhece algum que venda?; 3) O espaço está aberto para discussão do vinho, e portanto opiniões contrárias são sempre recebidas e apreciadas. Mas elas caem no descrédito quando descambam para argumentos fracos e mera repetição da mesma ideia como se ela pudesse tornar-se verdadeira pela mera reiteração. Aqui não!

Diz que os vinhos argentinos são os melhores da américa do sul mas conhece muito pouco deles. Ou seja, como sempre, fala e faz balbúrdia sem conhecimento de causa e publica apenas os comentários que lhe convém, contendo elogios. hahahahaha. Você é cômico.

🙄 O que posso dizer? O pobre diabo não lê o blog e quer afirmar que conheço muito pouco de vinhos sul americanos. Rótulos da foto ao lado: Domus Aurea, Almaviva, Don Maximiano Founders Reserve, Santa Rita Casa Real, Montelig, Quinta Generación, Cabo de Hornos, Tarapacás Millenium e Reserva Privada, dentre outros. E não lê mesmo as postagens:
* Achaval Ferrer Finca Bella Vista Malbec, https://oenochato.blogspot.com/2019/07/sassicaia-destrocado-por-borgonha-de-um.html
* Antiyal, https://oenochato.blogspot.com/2021/03/introito-ha-muito-muito-tempo-em-uma.html
* Alta Vista Alto, https://oenochato.blogspot.com/2021/04/o-dia-da-malbec.html
* Vibo, https://oenochato.blogspot.com/2012/09/de-bicao-em-outra-confraria.html
* Dom Melchor, postado por um confrade, http://vinhobao.blogspot.com/2014/06/boa-briga-as-cegas-castillo-ygay-gran.html
* Dom Maximiano versus Vallado Field Blend pelo mesmo confrade:  http://vinhobao.blogspot.com/2011/06/don-maximiano-2005-e-quinta-do-vallado.html
   E olha que a maioria do que foi citado aqui são chilenos. Não pretendo ficar postando fotos e mais fotos de rótulos degustados, nem invocando postagens não feitas 🤣. Quando falo, o faço sob a égide de já ter experimentado diversos exemplares, realizando inclusive comparações entre sul americanos e europeus. Vide uma das postagens acima, é explícita. Já está claro quem é cômico e fala sem conhecimento de causa sobre aquele que pretende desqualificar...

   Como dito, o espaço está aberto mesmo aos debates mais apaixonados. Mas deve haver um debate, e um debate se faz com argumentos. O utente está na beira do precipício, após as últimas mensagens. Não custa-me excluí-lo de vez das conversas, se não souber manter o tom. Recomendo bastante cuidado, e isso não é uma ameaça. É um aviso. Por último, e não menos importante, tente argumentar contra esta reflexão:
Reportagens escandalizadas sobre produtos da Apple reclamam que seu custo excessivo por aqui é o dobro do praticado em outros países. A disparidade do custo dos vinhos é de 3x, 4x, 5x. O imposto sobre ambos é similar. Como sempre, chegamos ao mesmo ponto: importadoras tubaronas merecem a acunha; estão entre os maiores predadores conhecidos. Seus argumentos anteriores foram todos rebatidos. É bom lembrar-se deles, para não repeti-los. 

Os cinco terrores

A postagem de hoje foi tocada a um Les 5 Terroirs 2018, um Côtes du Rhône corte de Grenache e Syrah da AoC Ventoux. Localizada a sudeste do Rhône, seu nome advém da montanha homônima de 1.900 metros de altura e recebe o vento Mistral, atingindo até 180 km/h e fazendo as temperaturas caírem abaixo de zero por diversos dias ou mesmo semanas. Portanto, o monte exerce uma grande moderação no clima da região, e quando as condições são adequadas a acidez das uvas fica bem preservada. Les 5 Terrois é assim chamado porque as uvas são colhidas de cinco diferentes solos dentro da apelação. Chego a este ponto com o vinho aberto há 3 horas. O nariz mostrou boa fruta... vermelha? negra? desde o início. Se prestar atenção, pega um travo de açúcar - o Akira diz ser melaço - e parece ser uma assinatura típica do Rhône, principalmente no corte GSM. Aqui temos o G e o S, faltou a Mourvèdre... A boca é mais interessante que o nariz: bons taninos, acidez bem presente, álcool pegado (14%) sobrando um pouco. Tem boa persistência, e pode combinar com uma pizza com carne ou mesmo um bifim. É um vinho de seus USD 8,00, que paguei em bláqui-fraid R$ 62,00. Ora, USD 8 x R$ 5 = R$ 40,00, o que deu um preção. Tá, foi BF, mas depois vem energúmeno querendo justificar margens de 3x na 'promo'. Ah, tá...


Resenha

Nikolai Vasilyevich Gogol foi um escritor russo (ucraniano) nascido em 1809 e falecido em 1852. Criou uma literatura baseada no grotesco e antecipou em mais de 50 anos as bases do surrealismo, conforme reconheceram os principais formalistas russos das primeiras décadas dos 1900. Influenciou autores como Dostoevsky e Kafka, para citar os mais importantes. Com o intuito de produzir uma vídeo-coletânea de sua obra, o Projeto Gogol foi concebido como três filmes baseados principalmente em seu livro de contos Noites em uma fazenda perto de Dikanka, com remendos de Viy. Não li nenhuma dessas obras, mas fiquei bastante instigado. Os filmes são Gogol - O Começo (2017), Gogol - Viy (2018) e Gogol - A Terrível Vingança (2018). A temática está calcada na fantasia e terror, embora o terror não descambe para aquele das produções americanas onde o susto advém da câmera fechada sobre o personagem passando para uma cena aberta a fim de chegar-se ao efeito desejado. Essa fórmula desandou para o clichê e, embora funcione sempre, incomoda. Particularmente não gosto de terror, mas em Gogol ele é tratado com elegância. Gogol (ele mesmo) é um escriturário judicial que passa por convulsões que ele percebe estarem relacionadas com assassinatos. Conhece o investigador Petrovich, de saída para investigar crimes na distante vila de Dikanka, região natal de Gogol e com a qual ele tem visões durante a noite. Convencendo Petrovich a levá-lo como ajudante, Gogol vai protagonizar um caminho repleto de descobrimentos e reviravoltas para desvendar o segredo por trás dos assassinatos. É uma ótima produção, com bons atores, roteiro inteligente e bem amarrado. Não tem as pontas soltas das quais reclamei na última postagem, sobre os filmes nacionais. Tem ótimos momentos, mesmo nas cenas trágicas: em um assassinato, a câmera rapidamente sai de dentro da casa, afastando-se noite adentro e mostrando a lua cheia iluminando as cercanias. O sangue espirra de dentro da casa e... mancha a lua!, transformando-a em uma lua de sangue. O fenômeno é causado pela junção do eclipse lunar com a Superlua, e está miticamente ligado a ocorrência de guerras ou grandes tragédias. Exatamente como as apresentadas na trilogia. Se puder, assista. A abordagem de terror absolutamente não será impedimento.


Tela de Wine-Searcher com preços do Chateau Potensac 2009.





Saturday, January 29, 2022

As novas marvadezas do Renê

Introito

   Sérgio Moro faz uma apresentação mostrando a origem e quantidade de seus ganhos quando trabalhou no exterior. Lulalelé diz que deu 'palestras' lá fora. Não há registro. Uma mísera foto de auditório lotado, sequer. Lula ganhou algo como R$ 14 milhões, para palestrar no quarto mundo; ex-presidentes americanos palestram no primeiro pela metade do preço. Bem vinda, concorrência! Notem a diferença entre um estadista (sic) e um mero presidente gringo. Moro fez USD 650 mil dóla. Descontando impostos (50%), e pagando mais impostos aqui, ficará com menos da metade. Alguém duvida que alguma empresa paga isso para seu empregado e não suga o sangue do contratado? Lulalelá apresenta-se sempre muito corado - e (ainda) não é de vergonha; Moro, sempre pálido, como convém a um sugado. E os The Bolsonésios? O que têm a esconder? Por que não abem as contas? Hum...
   Enquanto isso, no mundo real (🤣), o energúmeno de sempre volta a atacar o blog. Está nos comentários da última postagem. Agora é um paladino da vigilância sanitária... que não lembra-se do que escreveu (para criticar-me) e sisqueceu (rs) da resposta muito bem dada na ocasião; refiro-me ao fato de quando tentou aventar que eu traria vinhos do estrangeiro acima da cota, e mostrei-lhe várias e várias notas de compras em meu nome endereçadas a outro destinatário, notas inclusive em vários idiomas, e todas abaixo de USD 500,00. O sujeito trata com bandidos, então acha que todos os outros também o sejam... Não satisfeito, continuou a escrever comentários dos quais poupei o leitor e não publiquei. Disse irado que continuaria a escrever... porque você vai ler tudo. É docemente engraçado ver o fariseu tentando mostrar a potência que não tem. Eu leio sim... ver onde chega a baixeza humana dá-me argumentos para tentar melhorá-la. Eu tento, e assim vamos.

Novas marvadezas do Renê

   O Renê resolveu aparecer, e avisou que viria armado. Ele gosta de argentinos - na opinião dele (e na de todo mundo que conheço, inclusive a minha! 😝) o melhor produtor da América do Sul. Conhecem vinho peruano? Não? Ah, tá... Por conta de seus negócios no país vizinho, ele volta e meia viaja para lá, e, claro, traz algumas garrafas na mala. Seu gosto recai para a Zuccardi, a Cobos e a Salentein. E alertou dizendo que traria um Cabernet Franc de ótima safra. Alguns ícones argentinos são dessa cepa; os vários El Enemigo são os mais conhecidos, embora o Numina não fique atrás. O Pulenta já foi bem falado, também. Bem, eu abri a caixa de ferramentas (já escrevi isso recentemente!), tirei o rabo de tatu (mas essa é nova! 😜) e pensei comigo que dar-lhe-ia uma lição. Mas não queria bater muito forte... ou, se fosse bater forte, que usasse luvas de pelica... 😂 O ponto é: volta e meia comento que os vinhos sul americanos estão caros, não competem com europeus, etc., mas não tenho feito tantas provas, recentemente. Achava que sabia (sic) de algo que poderia bater o Numina sem humilhá-lo. Pelo menos na qualidade...

O R$ 230,00 Numina versus o R$ 115,00 Cedro do Noval

A Quinta do Noval é um produtor português muito tradicional. Seu Cedro do Noval é o vinho de entrada e como costuma dizer o Akira, é valente. Custa por volta de USD 10,00 em Portugal, e é vendido em 'promo' aqui por R$ 115,00. Dá 2x. É aquela situação já obervada: o preço é R$ 150,00+, mas fica o tempo todo em 'promo'. Na 'promo', eu compro; gosto de mostrar para as pessoas e sempre falo bem, enfatizando a questão do valor. Quando sair da 'promo', simplesmente parto pra outra. Deixemos que sobre. Se formos enfáticos e precisos, o preço voltará ao patamar razoável. E Numina não está valendo R$ 230,00. Acho que tinha o preço de algum tempo, e agora não vou reeditar o cabeçalho. Já será humilhante o suficiente como está.

Chegamos ao restaurante ao mesmo tempo, eu comigo e Renê com Akira. Tinha deixado meu Noval na geladeira; estava na temperatura de serviço. Mal nos sentamos, ofereci um dedo a título de brinde inicial enquanto Numina resfriava um pouco. Numina Cabernet Franc 2018 é de uma safra realmente muito boa. Mas Cedro do Noval 2016 também é!, e o péga-pá-capá se desenhou. Assuntos postos em dia, Numina resfriado, debruçamo-nos para uma análise. Aqui farei uma mistura de comentários meus e do Akira. Cedro: fruta vermelha, principalmente, e alguma especiaria. Boca com boa acidez, taninos presentes e discretos, boa permanência, aquele travo ligeiramente doce típico dos portugas. Adequado para uma carne ou pizza com carne - mas pedi massa, por ser mais leve. Não harmonizou tão bem. Numina 2018 mostrou buquê um pouco doce, que se repetiu na boca. Não é aquele doce de goiaba dos malbecões de segunda (terceira?) que infestam o mercado; não é desbalanceado, mas é bem presente. Da Cabernet Franc que (pouco) estou acostumado, não tem a mais leve picância, nem no nariz nem na boca. Baixa acidez, mas bons taninos e madeira equilibrada fazem conjunto com alguma presença. Impressiona a quem não está acostumado à acidez, mas não a quem esta é familiar. Ao fim e ao cabo, o próprio Renê estava perguntando onde compro Noval a bons preços (Adegamais e Vinhobr). Mas cuidado, que se bobear sai da promo! Observemos que o Rene paga por volta de R$ 110,00 por Numina na Argentina. Olha, por R$ 110,00 eu poderia comprar uma ou outra garrafa e levar em um churras (sic) para quem não conhece muito dessas relações perniciosas e sair por cima ao comparecer um vinho caro (o valor por aqui é R$ 350,00!). Claro que eu entregaria o preço, e criticaria a tubaronice (sic) do importador. Cedro tem um valor (10 moedas) algo honesto para o mercado europeu. Sempre repito, vinhos sul americanos (chinelos (sic), argentinos e brasileiros) precisam ser sanfonados para que o mais caro (o Chadwick; não bebi mas aposto ser uma porcaria) para USD 50,00. Aí estará bom. Nessa circunstância, e lembrando da propaganda: Quer pagar quanto?, pago R$ 30 por Numina, colocado aqui, com impostos (dola = R$ 5,00). Estará bem pago. Você paga R$ 350,00? O que mais? Vota no lulalelé/bolsonésio? Tem máquina de imprimir dinheiro em casa? Acredita em Saci?, na Mula sem Cabeça?, no Curupira?, na Cuca?, no Boto Cor de Rosa? (ei, esse existe, mas não seduz ninguém...).

Resenhas

Afastado que estava do cinema nacional, resolvi fazer uma incursão. O último filme que assisti foi (trechos) O Candidato Honesto (2014?), que passava de madrugada em algum canal da tv paga e estava no ar quando eu chegava de algum bar pronto para dormir. Assistia alguns minutos antes de arregar para o sono. Ei, alguém mais arrega... né, lulalelé? Bendito timer. De tudo o que consegui assistir a impressão foi muito ruim. Atores, argumento, estória. Nada se salva. Como vinho nacional. Então, num final de semana voltei à carga e assisti a vários.

A Presepada
(2018). Presepada, no contexto que conheço, é quando o caboclo (sic) apronta uma cena ridícula. Não é necessário muito esforço para assumir que seja uma comédia. Talvez comédia romântica, ou alguma outra vertente? A ver. Sempre achei que, por incompetência incompleta em fazer algo melhor, produzir comédias fosse o destino do nosso cinema. A despeito de O Homem da Capa Preta, Pra Frente Brasil e até outros bons exemplos mais recentes; diria ser carma, mesmo. Bem, armei meu melhor pré-sorriso desde o início, quando um fulano foge do adultério em que é pego no flagra. Desembestado, entra no banheiro da rodô e rouba a mala que um incauto deixara na pia enquanto passava um fax. Encontra a passagem para alguma cidade e as roupas de monge (ou quetal), de quem assume a identidade, rumando para o destino onde o padre local aguardava-o já na rodoviária. Começam então dois périplos: o do caboclo em busca de safar-se, e da audiência em busca do riso. O primeiro até se completa, mas o segundo, não. Um filme linear, sem alternâncias ou surpresas. Pior: despreza fatos básicos, como a existência daquela invenção secular do Graham Bell. Ao ver-se roubado e sem recursos, o monge verdadeiro não ligaria para sua paróquia original, dando um alerta inicial? A notícia não chegaria até a outra paróquia rapidamente? Produzido para ser exibido na tv aberta de Pernambuco, ganhou rede nacional devido ao sucesso alcançado. Bem, o que podemos esperar de um estado que em 2018 ainda elege PTlhos para o senado? Um filme que, efetivamente, faz jus ao nome.

Cabras da Peste
(2021): Matheus Nachtergaele é um ator consagrado tanto pela leveza de suas atuações como pelo controle de cena. Não é necessário mais do que o cartaz para termos certeza de tratar-se de outra comédia. O policial cearense Bruceuilis estava encarregado de cuidar de uma cabra, quando perde-a para um traficante. Quando este está prestes a iniciar sua fuga, o tenaz policial nota a placa do veículo - São Paulo - e vem para a cidade grande procurar por Celestina. Só não sabemos de onde vem sua certeza de que, sendo o caminhão usado pelo traficante de São Paulo, seu destino seja exatamente esse... Chegando em São Paulo, Bruceuilis encontra o agente Trindade, caído em desgraça após comprometer uma operação de campo. Cabras da Peste tem alguns bons momentos cômicos, mas são poucos. Surpreende mais pela boa coreografia das lutas - embora um pouco forçadas, encaixam-se muito bem no contexto cômico. O ator Edmilson Filho surpreende gratamente, tanto nas lutas quanto na atuação despojada. Faltou trabalhar melhor o roteiro e o argumento, mas o filme sustenta-se bem. Engraçada a atuação do cantor brega Falcão, cujo destino Deus ex machina deixa a plateia um pouco a ver navios. E, para piorar, seu personagem, Zeca Brito, nada tem a ver com a cabra desaparecida que é o mote do filme. Uma das diversas pontas soltas que poderiam ser melhor resolvidas.

Cabeça de Nêgo
(2020/2021?): Também ambientado no Ceará, neste drama Saulo prega alguns cartazes em seu caminho para a escola, onde chega atrasado e encontra o portão fechado. Enquanto aguarda o servente, algum selvagem da motocicleta (sic) encontra-o e aponta um berro para sua cara. Chega o funcionário com seu deixa disso, e Saulo entra para a aula, onde, após alguma confusão, é repreendido pelo professor e começa uma desobediência civil. Ante sua recusa em sair da sala e depois da própria escola, uma escalada de acontecimentos vai movendo seus colegas discentes com apoio de duas docentes. O filme discute com muito mérito a situação do Ensino Médio em nossas escolas e aborda o racismo tão presente em nossa sociedade. Mostra jovens excessivamente politizados. Todos eles? Se assim fosse, não estaria este Enochato denunciando o quanto somos ridículos desde os tempos do Cabral. No Ceará? Ciro Gomes, que governou o estado no início dos anos 90 alega ter promovido uma verdadeira revolução educacional por lá. Deve ser verdade, mesmo... embora o Ceará não esteja entre os 3 primeiros colocados no Pisa (levando em conta a classificação dos estados dentro de nosso país - sim essa classificação existe)... vai daí que algo está errado nessa estória. Cabeça de Nêgo tem seus bons momentos, mas acima disso apresenta muitas pontas soltas. O selvagem da motocicleta do início tem seu nome mencionado em uma lista de exigências promovida por Saulo para encerrar seu protesto. Mas os acontecimentos não vão além, e a questão fica perdida. O final é melancólico - do ponto de vista estético: o personagem principal num anticlímax inconcluso, que não funciona. É um bom filme, mas padece de melhor argumento e roteiro. Achei uma boa produção, não obstante a má estima generalizada (e sem razão) que a maior parte das pessoas nutre pelo cinema nacional.  


Loop
(2020): Daniel é um cientista louco (risos!) em busca da viagem no tempo. O Hawking, parece, provou que não dá... Do começo... o protagonista é encontrado sozinho na cena do crime onde sua namorada foi morta e o suposto assassino jogou-se do décimo-não-sei-quantésimo andar do prédio onde eles moravam sumindo sem deixar vestígio. Regaçado e sangrando, é levado primeiro à delegacia para prestar depoimento, em vez de para os primeiros socorros. Justo na delegacia 'correta' (Cuiabá deve ter mais de uma DP), justo no plantão do delegado que estava lá para dar-lhe crédito contra todas as probabilidades. É como começa a trama deste improvável filme de ficção científica canarinho. O tema - viagem no tempo - pode mesmo proporcionar uma produção de FC de baixo custo, já que nenhum efeito mirabolante é requisito primordial - ao contrário de uma space opera, por exemplo. Vide o excelente Os 12 Macacos. A narrativa é muito linear, e não há loops conforme sugerido pelo título. Vide o bonzinho Looper (2012). O roteiro é fraco, com muitas pontas soltas (mais um...), e o fato de ser um filme de ação não justifica esses deslizes. A menos que se pretenda competir com a Marvel, que não tem o menor sentido nos argumentos, mas pelo menos os efeitos são excelentes - o que também não é justificativa para tamanhas porcarias. Ah, nossa polícia científica não é aparelhada, mas é boa. Diferente dos agentes de CSA, que quando não têm o que fazer vão tomar banho em luminol, nossa polícia tem um frasco de 200 mL para o ano todo. Ou era assim, há coisa de uma década. Hoje não sei... Mas ninguém precisaria de luminol para descobrir duas manchas de sangue na cena do crime que não foi adulterada, certo?! É por essas e outras que, como dito, o filme ressente-se de melhor roteiro. Tecnicamente, é uma boa produção; os atores não comprometem, mas a estória não alça o voo que poderia. Uma boa incursão do nosso cinema a uma vertente que já nos presentou com obras-primas, e até merece ser vista para que o telespectador conheça mais sobre o tema. Mas os roteiristas deveriam conhecer melhor sobre o assunto. 

7 Prisioneiros
(2021): a iniciativa da Netflix em comprar ou incentivar produções locais e propagá-las por meio de sua rede mundial tem o mérito de fomentar a qualidade dos filmes em diversos países e ainda provê-nos com um leque de opções além dos seriados americanos a que estamos acostumados. Mateus é um jovem trabalhador da roça disposto a labutar em São Paulo para ajudar sua família a sair da pobreza. Chegando ao ferro-velho onde é contrato, junto com outros três aventureiros, vê-se prisioneiro e escravizado em função das dívidas contraídas sem que ele soubesse: custos de moradia, alimentação e até instrumentos de trabalho, fornecidos, claro, pelo próprio patrão. Lucas - Rodrigo Santoro, o patrão - domina-os com a ajuda de seu capanga e de policiais corruptos, e inicia-se um conflito entre os quatro explorados e o explorador, que será mediado por Mateus. Com a ideia de conquistar a confiança do empregador para conseguir a libertação de todos, Mateus começa a aproximar-se de Lucas e a dar mostras de fidelidade, até o momento em que recebe pequenas missões e oportunidades que levam-no a conhecer de perto o funcionamento do tráfico de pessoas em suas entranhas. A aparente simplicidade da estória evita a armadilha tão citada nos filmes analisados de gerar as ditas pontas soltas. Santoro não é um ator de nível mundial - a despeito de ter participado de algumas produções excelentes - mas é um dos grandes atores brasileiros da atualidade. Até pelas oportunidades que teve, conseguiu mostrar-nos uma face diversificada e polivalente, como comprova em 7 Prisioneiros. De longe, o melhor filme nacional que assisti nesta leva, e que merece ser visto.

Saturday, January 22, 2022

Uma degustação pós-Covid

Introito

Atacado pela soberba e descolado da realidade, lulalelé proclama que
Eu tive sorte do povo brasileiro que me ajudaram (sic) a provar a farsa que foi montada contra mim em vida. Consegui desmontar o canalha que foi o Moro no julgamento dos meus processos, o Dallagnol, a mentira, o fake news, o PowerPoint da quadrilha. Tudo isso eu consegui provar que quadrilha eram eles... (sic; provou o quê? Onde? Mostra, oras...)
e leva uma resposta imediata:
Canalha é quem roubou o povo brasileiro durante anos e quem usou nosso dinheiro pra financiar ditaduras. E quadrilha é o nome do grupo que fez isso, colocado por você, Lula, na Petrobras. Você será derrotado. Só ofende pois não tem como explicar a corrupção no seu Governo.
Quem diz a verdade? Recordemos a velha máxima: à alma mais honesta deste país foi mais fácil beneficiar-se de uma mudança na lei do que provar sua inocência. E olhe... é a mais honesta. Imagine eu e minha sempre propalada honestidade intelectual, onde fico? Ou mesmo o desavisado leitor, seguramente muito mais honesto do que eu? Tá, menos; igualmente honesto. Onde ficamos? Só falta explicar uma coisa: de onde vieram 500 milhões de dólas (sic) devolvidos por dois diretores da Petrobrás, ambos indicados por lulalelé? Fora o resto...

   Não bastasse a vergonha acumulada, no dia de hoje bolsonésio, saindo de enterro de sua mãe, vai a uma lotérica apostar na megasena, diz o portal G1. Não bastasse, um neto (filho de bolsonésio) foi junto. Espero que seja uma notícia errada. Dona Olinda não tem a menor culpa, por mais que alguns apelem ao baixo calão quando referem-se ao presidente. Mas os anais da psicologia deveriam estudar detalhadamente esse psicopata. Taqui uma pergunta: quantos assassinos em série mataram suas próprias mães? A questão é acadêmica; o que bolsonésio fez, foi pior; parricidas seguramente estão corados. Você, tolo de plantão com carteirinha, vá lá. Vote nele, e, principalmente, em seus candidatos. Ajude e construir o inferno na Terra, com sua tolice e estupidez.

De Enochato a consultor?

Em comentários de postagem recente, este Enochato foi convidado a ser vendedor de vinhos pelo Instagram. A uma resposta curta agradecendo mas recusando educadamente o convite, seguiu-se nova abordagem, oferecendo inclusive garrafas gratuitas para avaliação. A réplica igualmente curta recebeu a terceira tentativa. De maneira igualmente educada, este Enochato abriu a caixa de ferramentas (rs) e destilou toda sua conversa sobre importadoras tubaronas, margens do mercado, etc. Ainda ofereci-me a avaliar vinhos gratuitamente, se a política de preços fosse favorável ao consumidor. Leitor, vamos lá: você acha que eu estava esperando receber algum Brunello, Barolo, Borgonha, Rioja de alto quilate ou similar? Claro que não; esperaria receber tralhas a dar com pau. Afinal, para vinhos consagrados um importador não precisa de um Enochato para dar palpites! Onde eu ganharia? Além do desinteressado serviço a uma proposta que beneficiasse o comprador, possivelmente experimentaria vinhos que de outra maneira quase certamente não os compraria. É como faço em degustações, atualmente: o que mais experimento são nacionais, chilenos em particular e outros sul-americanos. Claro, dou uma beliscada no que tem de bom também, mas o foco é esse. Assim eu não pago pelo que jamais compraria e ainda posso falar com conhecimento de causa. Como tenho dito, não compro mais sul-americanos de maneira geral, e muito menos nacionais. Não há motivo. A menos que você seja um besta como os comentados acima. A diferença, diga-se, é que os citados são bestas e claramente corruptos. Até documento de depósito de rachadinha já apareceu no mercado. Não vê quem não quer.

Encontro Vinho e Turismo

Sob cuidados sanitários de distanciamento, o Shot Café/Vinho e Ponto realizou o primeiro encontro da confraria Vinho e Turismo do ano. A palestra sobre a Itália ministrada pelo Eduardo da empresa Caminhos do Turismo focou na Toscana, região conhecida pelos vinhos Chianti e Brunello di Montalcino, ambos produzidos principalmente com a cepa Sangiovese. Os verdadeiros enochatos de plantão aproveitarão a deixa para levantar o dedinho e dizer que, efetivamente, Brunelli são feitos exclusivamente de Sangiovese. Sabe di nada, inocente... nunca ouviu falar do Brunellogate? Brunelli são vinhos 'duros' em sua juventude. Precisam de uma década de amadurecimento para que os taninos fiquem mais macios, e possam ser melhor apreciados. Então aqui a questão de escândalo divide-se em duas: alguns produtores podem ter cortado seus Brunelli com Merlot, tentando deixar o vinho mais sedoso e pronto para beber mais cedo. Outros, dada a expansão pela qual os vinhos da região estavam passando, aumentaram sua produção fazendo o corte com vinhos de menor qualidade do sul da Itália, deixando muitos exemplares claramente prejudicados. Dizem que se o leitor quer ir para a Europa e morar um país que lembre a bagunça brasileira, corrupção incluída, tem destino certo. É um pais fronteiriço com França, Suíça, Áustria e Eslovênia, e tem o formato de uma bota. Não sei porque escrevi isso, porque não imagino qual seja...

Vinhos, vinhos à mão cheia

Começamos a degustação com um espumante, e foi quando dei-me conta de que o nariz estava prejudicado, claro sintoma da Covid. Boca leve, acidez não muito marcada mas presente, perlage diferente de muitos espumantes nacionais de renome, que estufam as bochechas ao mínimo gole; nesse grau de comparação, diria até que elegante. Claro, temos nacionais a altura, mas por maior preço. Orfila Brut Branco é um pouco ligeiro, final curto, mas não foge à proposta de ser um produto simples. Caro para um espumante, mas tudo anda caro, atualmente (acho que uns R$ 50,00). Empobrecemos, tenho repetido. Um espumante na Europa custa 5 moedas. E dá uma surra em todo mundo (sic). Tenho dito que os preços dos sul-americanos precisam ser sanfonados (achataram-se todos na mesma proporção) para 50,00 dóla, o vinho mais caro. Posto aqui. O segundo foi um branco. Servido às cegas, suscitou opiniões diversas sobe o buquê; os palpites foram bons. Toque cítrico óbvio até para mim, não não fui além. Boca leve - não é meu estilo - mas bem agradável; acidez um pouco baixa para um branco, mas sem destoar, já que é leve. O Eduardo adiantou que era uma uva pouco conhecida. Tratava-se de um Monte Schiavo 'Ruviano' Verdicchio dei Castelli di Jesi Classico. Verdicchio é a uva, que produz sim bons vinhos, e Castelli di Jesi Classico é uma comuna da região de Marche. Ela está voltada para o Adriático, e é vizinha da Toscana, de onde a loja não dispunha de um branco; a Verdicchio era a representante mais próxima e não fez feio. Apesar de não ser meu estilo, gostei: não é complexo, mas é harmônico; tem sua personalidade, dada por uma cepa tradicional de uma região 'séria' da Itália. A safra provavelmente estava no contra-rótulo, e não fotografei. Acho que era 2014. Deve ser consumido logo; pela acidez não tão alta e pelos 12,5% de álcool, não é um vinho de guarda. Não gostei muito do preço - cerca de R$ 180,00. Usando o Wine-Searcher vemos que é um vinho de USD 11,00. Dá uns 3x. 😕 (veja a errata abaixo!) 

Por último, um tinto que cafunguei fundo, cafunguei novamente, e cafunguei que cafunguei (sic). Perguntei se alguém notava cereja. Ninguém. Cereja é assinatura da Sangiovese, comentei. Olhares arregalados. Experimentei: uma picada na ponta da língua. Acho que tem Cabernet, comentei. Alguém confirmou perceber a mesma nota de especiaria. Camperchi IGT Rosso 2018, produzido em Arezzo, tem alguma permanência, corpo médio, boa acidez, álcool bem integrado. O Eduardo mostrou a ficha técnica, onde vimos 3 garrafinhas (escala máxima de 10) na acidez. Tem mais acidez, comentei. Olharam-me como se eu fosse o último dos Enochatos - portanto sério candidato à fogueira. Disse que, pela média da acidez de outros vinhos, tomando o padrão das fichas técnicas da Vinho e Ponto, ou aquele vinho tinha mais acidez - cinco, talvez - ou todos os demais tinham menos... bom, no dia seguinte recebi a mensagem do Jairo, comentando que encontrara a ficha da safra atual. Acidez, segundo a ficha: cinco... Enochato que mata a cobra e mostra o pau... pode até estar abatido (pela Covid), mas não está morto... 😜. Planejei escrever alguma resenha de filme, mas a postagem ficou longa. Da próxima, se os estúpidos de plantão ficarem calados.


🐭 Rata!
Fui alertado pelo Jairo que o valor do Monte Schiavo 'Ruviano'  é na verdade R$ 132,00. Aí gostei! Isso recoloca o vinho em pouco mais de 2x, o que é uma margem razoável. E maior problema é que o preço foi perguntado durante a degustação e - salvo ledo engano - todos saíram com a impressão de que seria R$ 180,00! Inclusive dei carona para o Gustavo e no caminho comentamos sobre isso, ambos achando que estava um pouco puxado. Resolvido o engano, fica a consideração de que vale pegar uma garrafa e experimentá-la com mais calma.

Saturday, January 1, 2022

Esbórnias de fim de ano II e a doce Ph.D.

Introito

   Conheci a Angelina por questões profissionais: ela encontrou-me em uma lista de prestadores de serviços e entrou em contato. Apenas não sabia - ainda - que precisa tanto de mim. Mas isso é trabalho, e este espaço é dedicado ao hedonismo - quando possível - e à Pátria sempre que necessário. Acontece que às vezes o multiverso colapsa em um ponto; provo comentando que a filha da Angelina mora em S. Carlos, e, ainda, é quase vizinha. Podemos nos ver pela janela, acreditem. Vai que, em alguns momentos, visitando a filha, ela escolheu realizar algumas reuniões presenciais durante o ano que passou, quando acertamos detalhes monótonos demais para comunicar por e-mail. Sempre reguei as reuniões com um queijo e vinho ou quetais. Ao final de ano, por simpática e doce retribuição, convidou-me para um prato especial em Campinas, onde reside atualmente. Prometeu uma experiência inesquecível avisando que seria comida de restaurante - eu traria o vinho. Falou o nome, fui procurar e assustei com a responsabilidade. Nããããããooo... Sabe de nada, inocente! Pra que existe o Google? 😂

Vinho e massa

A iguaria proposta é especialidade da Cantina Fellini, o Gnocchi a Carolina: molho napolitano, branco e ao sugo, manjericão, calabresa, Catupiry, muçarela e gratinado com parmesão. Tenho quase certeza de que fui a esse restaurante há tempos, sob recomendação e imposição (😆) do Jacimon, tão entusiasmado que estava por mostrar-nos sua descoberta. Bebemos um portuga '65 lá, dentre outros (não postei). Foi bão... mas voltando, para harmonizar um vinho com massa, devemos olhar para os acompanhamentos, uma vez que a massa em si é neutra. No caso o item mais marcado seria a calabresa, e ela pode muito bem ser acompanhada por um Chianti. Tinha um especial... infelizmente, conversando, beliscando entradas e bebericando desde antes de partirmos para o principal, não terei a foto com prato montado, mas remexido... 😖 Conto com a indulgência do querido leitor. A Angelina ficou afirmando - com toda razão - que a culpa seria só minha...

Capraia Chianti Classico Gran Selecione Effe 55 2013 é produzido em Gaiole, um das três cidades que inicialmente deram origem à denominação. É um Sangiovese 100% envelhecido por 18 meses em barricas de 3.200 litros e outros 12 meses em garrafa. Respirou por cerca de uma hora e meia antes iniciarmos o almoço. A cereja, típica da Sangiovese, estava lá. Ligeiramente herbáceo, algo na direção de couro ou chocolate. Boca equilibrada, taninos mordendo um pouco atestavam que poderia envelhecer mais. Ou deveria respirar um tanto a mais, quem sabe... Ah, quem sabe é a Angelina, porque o vinho ficou com ela! Depois vou perguntar! Ainda com fruta e especiaria, ótima acidez e final longo. Boa permanência. A safra 2013 foi muito boa em Chianti, e vinhos bem feitos dessa região possuem bom potencial de envelhecimento, veja o Berardenga 1999 que bebi em janeiro de 2021. Mas quis o destino que a jornada desse Capraia fose abreviada, talvez pela metade. Não ouvi soluços ou reclamações...
   Por sobremesa, tivemos uma adaptação da torta Banoffee, sobremesa inglesa de banana e toffee, que fotografei mas inadvertidamente acabei apagando sem perceber... não conhecia, e convenhamos que a culinária inglesa não é exatamente famosa... mas essa torta é espetacular. Quem puder, prove...


Esta postagem foi tocada com a metade que sobrou de ontem do Xisto Cru 204, um Douro já degustado aqui. Por descuido, no dia 30 fui ao centro da cidade e tomei alguma chuva. O banho quente ao voltar para casa não impediu um mal estar com febre e dor no corpo. Medicado, na noite do dia 31 não tinha mais nenhum sintoma, mas desconfiei que nariz e boca estariam afetados. Escolhi um vinho mais simples para a virada de ano, e não deu outra: ele estava diferente mesmo. Insosso, 'pouco de tudo'. Hoje - comigo bem melhor - já demonstrou mais fruta vermelha e boca com especiaria. O travo doce português está lá, também. Boa permanência e final, mas claramente ainda não estou recuperado dos efeitos secundários do mal estar. Uma pena não poder falar mais desse vinho, que é muito bom e merece atenção por parte do leitor. Preferencialmente comprado em 'promo', porque seu preço cheio é salgado.

Esbórnias de fim de ano I e a estupidez dos Ph.D.

Introito

Final de ano chama esbórnia... e quem não gosta? 😉 A galera reuniu-se aqui em casa para renovar os votos de felicidade e próspero ano novo, além, claro, de honrar a Baco uma vez mais. Rê na cozinha (risoto), Carol no salomão (salmão 😂) e Dani no bombom de morango; o escriba na foto e o Akira em algum canto, tentando abrir o espumante com sua técnica zero noise. Ele consegue... não se ouve o menor shhhh... e de repente a rolha está na mão dele. O pessoal passou o ano um tanto recolhido, e não sem motivo: todos a menos de mim possuem pais em idade avançada. Como o grupo acredita na ciência, e ninguém é estúpido - é necessária essa ressalva, porque o que temos visto de Ph.D. estúpido por aí não é brincadeira - vai daí que nossos encontros resumiram-se a algumas poucas ocasiões, como o aniversário de alguém, e pouco mais. Não há problema; haveremos de tirar o atraso em algum momento.

Espumantes como prenúncio de ano novo

É tradição usarmos espumantes para momentos de comemoração. O hábito vem da nobreza europeia do século XVIII, e recentemente (50 anos para cá) é a forma como o pilotos de Fórmula 1 comemoram a vitória após uma corrida. Nas vitórias é merecido, nas derrotas é necessário, teria dito Napoleão acerca do Champagne. Prefiro esta: O Borgonha faz você pensar besteiras, o Bordeaux faz você falar besteiras e o Champagne faz as pessoas cometerem besteiras (Jean Anthelme Brillat-Savarin, político e cozinheiro francês). Esse hábito para mim é recente. Comprar Champagnes é algo proibitivo, no Brasil. Franciacortas estão nas mãos das importadoras tubaronas, o que as tornam mais caras que as Xampas, proporcionalmente falando. Cavas são boa opção, apenas as que experimentei são sim legais... mas não me seduziram. Há relativamente pouco tempo encontrei alguns espumantes italianos com qualidade e preços razoáveis e que não senti-me envergonhado ao apresentar para as pessoas. Pelo contrário, em todas as ocasiões elas gostaram muito... 

Vinho e comida...

Encontrei em uma 'promo' - a bléqui da Enoeventos - o Bacio della Luna Spumante Cuvée Brut, da Schenk, produtor do Vêneto. Já havia provado o Blanc de Blancs, que achei legal - o travo um tanto doce para um Extra Dry chocou-me um pouco - mas todo mundo gostou. Eu é que devo estar errado... bem, achei que poderia apostar algumas garrafas desta outra opção, dado o preço convidativo: R$ 60,00. Faz bom par com queijos - Maasdam e Gruyère mais, Bree menos. Notas bem cítricas - o Akira desvendou bem, mas não recordo - acidez média, boca mais ou menos simples - se você compara com Xampas - boa perlage, sempre no sentido de que, ao contrário de muitos espumantes brasileiros, sua boca não estufa de tanto gás ao menor gole. Sei que existem espumantes brasileiros melhor equilibrados, mas não, para mim não valem R$ 100,00+. É um produto nacional. Deveria custar, e olhe lá, o que custa um Bacio della Luna mais simples "lá": 5 moedas. Custar 100zão é uma razão de 20x. No... (sic) Bem, concluindo: é um bom aperitivo, e o leitor não vai se arrepender ao experimentá-lo.

Brancos e salomão

O salomão da Carol estava no ponto. Nem para mais, nem para menos: como deve ser. Um pouco antes, havia servido o QP Chardonnay 2014, comprado também em 'promo' de bléqui na Vinho e Ponto. Experimentei há pouco tempo, está aqui, e esta repetiu a dose: nariz com toques cítricos e fruta branca; boca com algum frescor; acidez pegando um pouco. O Akira considerou que esta garrafa estava um tanto mais oxidada - essas variações vão de garrafa a garrafa, mas é bom ficar atento - mas no geral causou boa impressão. Pedi para as meninas chutarem a uva, e a Rê disse Chardonnay. Na mosca... Na sequência veio o Jaffelin Chardonnay 2019. Nariz delicado, floral, cítrico, boca com acidez muito equilibrada, boa permanência, final agradável. Não é longo; mas o conjunto faz boa presença. As meninas gostaram mais do QP. Discutimos isso. A presença da madeira neste chamou-lhes mais atenção, marcando mais a boca no primeiro contato. Como é mesmo, a primeira impressão? Isso conta, e, embora não por isso, Borgonhas são ditos vinhos para quem já trilhou um pouco mais do caminho desse aprendizado. Aliás, a Rê acertou a uva de novo... 

   Esta postagem foi tocada a um filé ao molho gorgo com Xisto Cru 2014. Mais sobre ele, depois.

Resenha de filme

Watch Don't Look Up (Não Olhe Para Cima), produzido pela Netflix, começa com uma aluna de Ph.D. descobrindo um cometa dentro de nosso sistema solar. Alerta seu orientador, um obscuro professor que ainda assim calcula manualmente sua trajetória e descobre que a rota é de colisão com nosso planeta. A partir daí eles iniciam um périplo passando pela Casa Branca, jornais e mídias sociais na tentativa de alertar as pessoas para a catástrofe. Aparecem então influenciadores digitais que nada sabem sobre o assunto tentando angariar público, Ph.D.'s estúpidos com propostas esdrúxulas, discursos obscurantistas e tudo mais que se possa imaginar, menos objetividade. A crítica à administração anterior (dos EUA, claro) é bem caracterizada, e o que mais choca à audiência brasileira é o grau de similaridade para conosco, quando trocamos 'cometa' por 'covid' de maneira particular e mesmo por 'administração' de maneira geral. Para ficar igual, só faltou mesmo mencionar as milícias digitais, presentes em toda parte do espectro político e que, por óbvio, nada acrescenta à discussão, uma vez que não querem ouvir o contraditório; só interessa-lhes espalhar agressões gratuitas em doses cavalares. Ainda se argumentassem... É um bom filme se você assiste atento à denúncia de até onde pode chegar a idiotice humana. Para tanto, esteja preparado a uma miríade de situações absurdas e quase sem sentido para seres pensantes.