Sunday, June 28, 2020

Merlotis (sic): Franschhoek Cellar

Introito: da pobreza do povo brasileiro ao Paradoxo de Tostines

   Como era mesmo o paradoxo daquela marca de bolachas? Vendia mais porque era fresquinha ou era fresquinha por vender mais? Enquanto bebo - logo existo! - o Landau guitarreia e fede a gasolina em sua live de aniversário. Cá do meu lado, experimento uma fase difícil - e, claro, um vinho. Primeiro a fase. E ela diz respeito ao povo brasileiro.
   Empobrecemos. Uma Libra vale R$ 6,76. Até aí, poderia valer R$ 10,00 se tivéssemos os empregos 'em caixa'. Mas nem isso. Assim, milhões de pessoas estão vivendo com menos de £100,00, com um desejo do governo central de que a benesse fosse de... £30,00! Mesmo para quem tem condição um pouco melhor - e a bênção de continuar trabalhando - viajar ou mesmo 'acessar' produtos estrangeiros ficou muito mais difícil.
   Este Enochato é insignificante demais para pensar em escrever uma carta destinada a qualquer energúmeno de plantão. Mas... onde está a inteliguência (sic)? De preferência, alguém terrivelmente evangélico (onde foi que ouvi isso?) para dizer o que é preciso. Não há niguém? Em frente a uma sociedade calada, acomodada e com o rabo escondido entre as pernas, na falta de mais atitude, no momento em que a coragem parece se esvair, sem melhor opção do que a clara mediocridade desta postagem, vamos de Enochato mesmo! - ouviram, 'pensadores' do meu Brasil?
   - Seu governo acabou! Vá embora. No popular, peça para ca... para ca... para catar coquinho!
   - OUVIU, covas?
   - OUVIU, dória?
   E o que dizer do Energúmeno Mor, cuja alcunha poderia ser Obscurantista, Escuridão, ou mesmo Trevas? O que dizer do 'dono' da camarilha que se apossou do palácio presidencial?
  Trilhamos tempos ruins. Tempos de temer o pesadelo do futuro, de comer o pão amargo da angústia, de beber o vinho passado do desespero. Vejamos se podemos aprender alguma coisa observando o mundo ao nosso redor. E esteja certo, leitor: isso não acabou aqui!

O vinho na África do Sul

  A África do Sul figura entre os produtores do Novo Mundo, e passa um pouco desapercebida aqui no Brasil. Mas seus vinhos não são desprezíveis. Aliás, desprezível é quem os despreza (risos). E não apenas pela qualidade; também pela sua 'política'. Vamos devagar. Vamos por partes. Vamos torturar o inexistente leitor.
   O país tem proximadamente 110.00 hectares plantados (dados de 2003...), contra 860.000 hectares na França (dados de 2007) e meros 5.000 hectares no Brasil (dados de 2003, e somente para Vitis vinifera; o total seria de 80.000 hectares, contando 'uva pra chupar'). Para melhorar a comparação, o Chile planta 214.000 hectares.
   Exitem várias regiões vitivinícolas (Constantia, Paarl e Stellenbosch), cada qual com distritos, mais ou menos aclamados, produzindo brancos (principalmente), tintos, rosês, espumantes pelo método tradicional e fortificados. Veja mais no vínculo acima (e neste, rs).

O Vale do Franschhoek

   O Vale do Franschhoek foi incorporado à macro região de Stellenbosch no princípio dos anos 2000. De maneira geral, o vinho é produzido na África do Sul há... meros... 360 anos... (!) Um pouco mais nova, a cidade de Franschhoek foi fundada por huguenotes em 1688, que ali estabeleceram uma cooperativa que leva o nome da cidade: a Franschhoek Cellar.
   Mas... o que diferencia o vinho sul-africano do vinho brasileiro? Além de ser bom (e do volume), os sul-africanos souberam fazer a lição de casa: eles nos ensinam que difundir a cultura do vinho também passa por vendê-lo a preço acessível... vejamos um exemplo.

The Old Museum Merlot (2014), Franschhoek Cellar

   Quer um vinhozinho simples mas agradável, 'descompromissado', para beber no almoço e acompanhar uma macarronada à bolonhesa, ou uma pizza à noite? Um vinho com fruta bem presente no nariz, madeira discreta, corpo médio, um amargor final que antes de incomodar, marca presença? Acidez um pouco baixa, é verdade, mas... a perfeição se procura em outro lugar... aqui é lugar de um vinhozinho 'maneiro', bem melhor que a média brasileira. Bem, se essas características o agradam, The Old Museum Merlot poderia ser sua opção. Só que não...

   Outro dia estava conferindo o preço de vinhos por aqui. Um Country Wine, vi de R$ 15,00 por R$ 12,00. Um Sangue de Boi, entre R$ 12,00 e R$ 20,00. Bem, digamos que uma média destes é R$ 15,00. Suaves, adocicados - com todo respeito ao produto e a seus consumidores - isso só é 'vinho' no rótulo. Entendamos por 'vinho' como uma bebida feita de uva que equilibra álcool, taninos, açúcar e acidez, para ficar nessa definição bem simples. Então não falamos de vinho nesses exemplos, já que o açúcar está em franco desequilíbrio são 'vinhos' suaves!
   A Franschhoek Cellar nos brinda um Old Museum Merlot a 450 Rands a caixa com 6 garrafas. Vamos converter.. e nos divertir... Repetindo: nossa moeda desvalorizou-se mais de 30% nos últimos tempos. Empobrecemos. Nosso dinheiro compra, lá fora, ... o que? Vento. E as contas abaixo são feitas com nossa moeda desvalorizada, o que só compromete tudo ainda mais.



   A caixa com 6 garrafas de Old Museum Merlot custa no sítio do produtor R$142,60 (dá R$ 23,77 por garrafa - e ficou 30% mais caro, com a crise. Sem ela, o preço seria menor.). Percebe a diferença? Imagine na sua mesa do almoço uma garrafa de vinho inferior - mas vinho - pelos mesmos R$ 20,00 - afinal, é inferior... No dia em que o vinho tinto brasileiro melhorar bastante e custar R$ 20,00, o cidadão poderá colocá-lo em sua mesa. E teremos uma cultura de consumo. Será que pensar em R$ 20,00 o custo final desse hipotético produto é sonho de uma noite de verão? Eu sei que, o dia em que isso acontecer, valerá o dilema proposto na postagem: o vinho venderá mais por estar baratinho, ou por estar baratinho venderá mais?

Sonho de outra noite de verão

   Fiquei pensando: o produtor vende a caixa por esse preço, R$ 24,00 a unidade. Faz o manuseio (separa, empacota), o despacho, a cobrança, e sabe-se mais o que exista nessa logística. Se o sujeito chegar lá com uma carroça e mandar:
   - Coloca mil caixas aí em cima...
   Será que o preço fica mais em conta? Deve ficar, não? Aqui custa, com desconto, cerca de R$ 130,00. Façamos a conta de 100% de imposto em cima do preço do sítio (R$ 24,00) e agora vamos suportar o insuportável, aceitar o inaceitável, e... explicar o inexplicável... ou, quem quiser, que tente...

Saturday, June 20, 2020

Cellier des Princes Vacqueyras 2018: Xatenêfi de pobre?

O Rhône

O Rhône é, para mim, o terceiro mais importante polo vitivinícola da França. Lar dos Hermitage, Condrieus, Châteauneuf-du-Pape (CdP, ou Xatenêfis (risos), como costumo dizer) e muitas outras denominações, é dividido entre 'norte' e 'sul'. Responsável por menos de 10% da produção do Rhône, o norte é dividido entre 'meia dúzia' de localidades demarcadas (as AoC's) que, somadas, ocupam menor área do que a declarada pela gigante Concha y Toro no Chile. Pelo menos em alguma coisa eles ganham😂...  São elas: Côte-Rôtie, Condrieu, Château-Grillet, Saint-Joseph, Crozes-Hermitage, Hermitage, Corna e Saint-Péray. As uvas permitidas por ali são Viognier, Marsanne e Roussanne pelas brancas e a solitária Syrah pelas tintas. Não se engane. Lá tem corte de Syrah com Syrah, e a briga fica feia para qualquer outro produtor dessa variedade mundo afora. Responsável por mais de 90% da produção local, o sul é dividido nas AoCs Côtes du Vivarais, Côtes du Rhône, Côtes-du-Rhône Villages, Côtes du Rhône Villages, Châteauneuf-du-Pape, Grignan-Les Adhemar, Vacqueyras, Rasteau, Cairanne, Gigondas, Vinsobres, Lirac, Beaumes de Venise, Muscat de Beaumes de Venise  e Tavel.
   Área plantada no norte do Rhône: cerca de 2.900 hectares.
   Área plantada pela Concha y Toro: 11.600 hectares.
   Estou fazendo essa conta porque encontrei o dado de área plantada do norte no Rhône com menos trabalho. Para efeito comparativo, é possível ter dimensão das áreas envolvidas.

O sul do Rhône

   Então com uma área superior a 30.000 hectares, o sul do Rhône tem muitos estilos. Prova disso é que só em Châteauneuf-du-Pape são permitidas 13 cepas tintas... Vacqueyras  é um distrito não tão importante, mas faz a lição de casa. Seus vinhos são baseados em Grenache, Syrah e Mourvèdre, não apenas mas principalmente (Cinsault, Muscardin e Counoise também são permitidas, pelas tintas).
   Acontece que o corte Grenache, Syrah e Mourvèdre - GSM - é uma combinação muito feliz quando se almeja com vinho que combine graça e potência. Assim, embora os vinhos de Vacqueyras  sejam pejorativamente chamados de Xatenêfi de pobre (sic! rs!), por falta de um grande produtor na região, os exemplares dessas terras são bastante razoáveis principalmente pelos preços. Aliás a falta de um grande produtor até deixa seus vinhos subvalorizados... o que se reflete em boas oportunidades para vinhos do dia a dia. E isso não acontece somente em Vacqueyras.

Cellier des Princes

   Cellier des Princes, a exemplo da Lavradores da Feitoria, é uma cooperativa composta por... 189(!) viticultores. Produzem várias linhas, com cortes e monovarietais. Cellier des Princes é apenas uma delas. Vacqueyras é um corte constituído por 65% Grenache, 25% Syrah e 10% Mourvèdre (nessa safra). Abriu fechado (sic! rs!), e uma hora de aeração na garrafa fez-lhe bem. Deve ser servido um pouco mais frio do que de fato costumo fazer para tintos (a recomendação de 16 °C a 18 °C é realmente válida). Não passa por madeira, e isso se evidencia pela presença de muita fruta. É um vinho redondo. É um grande vinho? Não. Mas tem corpo médio, bons taninos, acidez presente - acidez... o grande diferencial para quem aprende a reconhecer este pequeno-grande elemento da estrutura de um vinho. Na boca o açúcar sobra um pouquinho - bem pouco - apenas para fazer lembrar o papel da acidez a contrabalançá-lo. O leitor se orgulha em ser bebedor de chilenos (ou sul americanos de maneira em geral)? Ótimo! Você está certo! Viu o tamanho só da CyT em comparação com o Rhône todo? Mew (rs), continue pagando R$ 160,00-200,00 por produtos sul-americanos produzidos a rodo - e com rodo - e deixe os Rhône para quem gosta de vinho (risos). Dou o móóóórrrr apoio... Agora... se o leitor aprendeu a diferença entre 'vinho' e garrafas com 'vinho' escrito no rótulo (sem sê-lo), experimente este Cellier des Princes de Vacqueyras. Você já ouviu que é melhor ser pobre no primeiro mundo do que classe média no quarto? Mera citação empobrecida de Milton*... este Xatenêfi de pobre da França é melhor do que muito vinho premium de rico latino-americano...
   Cellier des Princes é representado no Brasil pela Enoeventos. Compare os preços lá e cá via wine-searcher. Se a relação custo-benefício não for boa, senta a pua no Oscar.

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'Melhor reinar no Inferno do que obedecer no Céu' - Paraíso Perdido, John Milton, 1667.

Tuesday, June 16, 2020

Château La Grave 2012

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   Sem introito, sem pesquisa, sem lero-lero. Semana cansativa, muito trabalho. Vinho bebido na semana passada, mas acabei não postando naquele momento.

Château La Grave, Fronsac, 2012

   Comprado junto à de la Croix há algum tempo - tempo suficiente para acabar a safra 2012 e, ao que parece recentemente, a safra 2013 também 😑... - acabei deixando para uma oportunidade, e outra, e outra... e enquanto a confraria escolhia outras opções, esta garrafa foi atravessando as eras...
   O vigneron Paul Barre começou a trabalhar com vinhas aos 19 anos, ali pelos idos de '74.  Estabeleceu sua vinícola em Fronsac e nos anos 90 estava na linha de frente dos produtores que aderiram ao biodinamismo... para quem isso conta, claro. A questão parece não estar devidamente fechada pela ciência. Darei uma de simplificador: se o vinho é bom, está valendo. Ah: seu filho, Gabriel Barre, assumiu o controle da vinícola em 2018.
   Château La Grave é bom, portanto basta. Sua composição, nessa safra, foi 66% Merlot, 26% Cabernet Franc, 8% Malbec. Deu trabalho encontrar; é um produtor pequeno, o sítio está somente em francês, não tem ficha técnica dos produtos... quanto mais das safras 'antigas'. Tem boa fruta, bons taninos, acidez média, álcool equilibrado. É um vinho fácil, onde a fruta vermelha é evidente: mesmo a este Enochato não causou dúvida. O final é um pouco ligeiro, perante as garrafas que tenho experimentado ultimamente. E esse comentário precisar ser bem relativizado. Um vinho à base de Merlot, bem feito, costuma ficar muito aveludado... Não lembro quanto paguei, mas foi bem menos que os R$ 180,00 da safra que se esgotou. A safra 2012 deve ter sido comprada ali por 2013/2014, com o dóla a R$ 2,50-R$3,00, então o leitor pode imaginar o preço que paguei... Claro, a safra posterior, comprada algum tempo depois, subiu um pouco, chegando aos atuais R$ 180,00 - a 'De la' subiu os preços de alguns vinhos ali por 2017. Mas... quer milagre? Tudo bem que Deus é brasileiro, mas certos eventos simplesmente estão além da vontade do Senhor (rs). Supérfluo dizer que nesse preço bate fácil os exemplares sul-americanos disponíveis em nosso mercado. Se chegar mais - esperemos que depois da crise passar - arrisque.  Triste você não ficará...

Sunday, June 14, 2020

Hedges Family Estate CMS 2010

Introito

   - Pega esse americaninho...
   - Tá trinta dóla... lá fora custa  12...
   - Mas por 90 'conto' dá para experimentar. Vai logo...
  Assim o vinho que custava a preço normal 5x o preço 'lá' era ofertado em uma queima: 'apenas' 3x o preço no mercado norte-americano. Pragmático, o Akira defendia que o preço aqui, R$ 96,00, era razoável para pagarmos e experimentar algo diferente. Eu entendo essa conta. Apenas tendo a não concordar com ela quando estou comprando para mim. Ela limita-me? Naturalmente. Ainda assim, sobra 'um monte de coisa' que posso comprar e aproveitar melhor meu suado e pouco dinheiro, maximizando a qualidade da compra. Desculpem-me os puristas endinheirados se a (minha) pobreza os ofende... (onde estão aqueles emojis pornográficos mesmo? Tinha um com um dedo em riste bem a propósito...😂).
  Daí que compramos duas garrafas. A última, dado que o Akira converteu-se em completo abstêmio, estava sobrando aqui na adega e acreditando em sua imortalidade. Aí chegou o Covidão...

Columbia Valley e as AVA's norte-americanas

   Não sei se já comentei aqui... a AVA americana é o equivalente ao sistema AOC francês. AVA significa American Viticultural Area, o que, para nossa sorte (rs), na tradução vira uma nova AVA, a Área Vitícola Americana... Inicialmente as AVA's eram poucas e concentradas nas costas, mas o business cresceu a ponto de hoje praticamente todos os estados norte-americanos produzirem vinho. Algumas são relativamente pequenas, enquanto outras atingem tamanhos quase galáticos... veja aqui.
   Columbia Valley é parte do Oregon, hoje famoso por produzir os Pinots mais parecidos com os da Borgonha. Não à toa, diversos produtores franceses abriram uma filial por lá. Mas nem só de Pinot vive o Oregon...

Hedges Family Estate

   Sob o 'singelo' bordão de Where soils meets soul, a Hedges produz vinhos nas AVA's de Columbia Valley e Red Mountain. Planta boa variedade de cepas: Syrah, Mourvedre, Counoise, Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc, Malbec, Petit Verdot, Chardonnay e Sauvignon Blanc. Seu sítio é bem estruturado, mas não mantém fichas técnicas de safras mais antigas. Mas é bonito, tem belas imagens e filmes da região.

CMS

   CMS é o nome do vinho e indica o corte que o forma: Cabernet (Sauvignon), Merlot e Syrah. Nesta safra, foi respectivamente 48%,40% e 12%. No início - comecei a beber quase uma hora depois de aberto - a baunilha escorria pela borda da taça. Mas como acontece em vários vinhos americanos, com o tempo ela foi baixando o tom, e apareceu mais fruta, evidentemente vermelha. Um tanto de café ou chocolate amargo, mas ainda sob o reinado da baunilha. Acidez presente, sem marcar muito. Um travo doce que baixou com o tempo. Taninos bem suaves agora (com 10 anos), final razoável - quase médio (rs). Poderia ser melhor, mas... se pensar que era um vinho de 12 dóla (atualmente, no sítio do produtor, USD 14,00)...
   No dia seguinte - sim, teve segundo tempo - a baunilha e o doce sumiram. Continuou a fruta bem aparente, e a boa continuou boa. É realmente um vinho ligeiro na boca. Não compromete. Não decepciona. Bem, pelo preço, decepciona um pouco...
  Então aqui uma parênteses. O cidadão norte-americano, um professor do 'ginásio' - lembra do Breaking Bad e das contas do prof.  Walter White acerca de seus proventos?- recebe por salário cerca de USD 3.500.00 dóla. Dá 3.500 moedas no bolso dele, a cada mês. Ele que se vire nos 30 para viver sua vida por lá. Aqui, um professor em posição equivalente recebe algo como... 2.000 moedas? Tá, o Walter White gastaria 14 moedas para beber um CMS, enquanto um professor brasileiro gastaria cerca de 160 moedas para beber um Miolo Lote 43 - wow!, estava quase 280 moedas até outro dia... Olha, mais um corte de zero e o Lote chega a preço razoável. Mas voltando... Por 14 moedas, é um vinho alegre. Diverte: não tem o compromisso de ser tão bom, e aí sim, nesse contexto, ele entrega o que promete. Saí à procura de um equivalente em preço por aqui... Pelas 15 moedas - atenção, em promoção por 10,5 moedas! - o consumidor brasileiro encontra um Aurora Country Wine. O preço de um Sangue de Boi é similar, uns R$ 12,00 (bem comprado). Parênteses longo, heim? Espero que esclarecedor...

   O vinho acabou no importador. Havia escrito 'infelizmente', mas pela margem média dos produtos ofertados pelo ele acho que ficaria fora de contexto. CMS estava listado na última promoção, mas terminou por esgotar e não consegui obter o preço. Com o dóla a R$ 3,25 (data da compra), custava R$ 96,00. Bom, na faixa de R$ 150,00 (este R$ 150,00 seria o preço presumido para as últimas garrafas com dóla a R$ 5,00 e levando em conta alguma promoção), o leitor pode procurar outras opções em postagens recentes deste blog. CMS é um vinho legal... mas acho que encontramos escolhas mais... sérias... se o leitor me entende. Lembro a reflexão de Don Flávio: às vezes compramos em 'promoções' e pagamos a mesma margem que outros importadores cobram durante o ano todo sem promoção. Existe vantagem em comprar dessa turma? Cada vez mais me convenço de que a melhor opção é privilegiar importadores que trabalham com margens menores e nos vendem barato o ano todo.

   Cuide-se. O Covidão está à solta. Aqui em casa acabou de proporcionar uma fatalidade... É lamentável ver nossa população relaxando nos cuidados básicos ao primeiro sinal de volta à 'normalidade'.

Saturday, June 13, 2020

Portugal e França: um bolão... em vinhos, claro... 😂

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Introito

   Como é que os melancólicos amigos portugueses costumam dizer sobre seu próprio futebol, mesmo? Jogamos como nunca... perdemos como sempre... 🤣.
   Mas no mundo do vinho, a conversa é bem outra. Com respeito e devoção merecidos pelo saudoso Pérola Negra, em vinhos Portugal está além do nível desse craque. Certo, ele era moçambicano, nas jogou pela seleção Portuguesa, naturalizado. Já a França... bem, 'futebolisticamente' falando, a França é a França...
   Assim, em oportunidade de mais uma pulada de cerca de isolamento, recebi o Jairo e sua espoa Stela para um encontro, em retribuição ao asado. Sem mais, às garrafas.

Quando os vinhos são vinhos

   Apesar de difícil realizar boas compras de vinhos no Brasil, elas sempre estão por aí; basta prestar atenção. Tenha seu fiel perdigueiro à mão e compare. Faço isso sempre. Se a oferta está acima do limite que considero razoável, deixo na prateleira. Não foi o caso desses dois exemplares: os preços eram honestos e convidativos.

Quinta da Costa das Aguaneiras 2011

Produtor representado pela Enoeventos, até há algum tempo o sr. Oscar tinha algumas garrafas dessa maravilhosa safra 2011 a preço excelente. Paguei algo como R$ 170,00 pelas últimas garrafas. É produzido pela Lavradores da Feitoria, simpático nome adotado por 15 lavradores proprietários de 18 quintas espalhadas pelo Douro. Plantam de tudo (rs!): Tinta Roriz, Tourigas (Franca, Nacional e Francesa), Tintas(o) (Amarela e Barroca, e Cão) e outras brancas. Produzem o que parece ser uma rica gama de produtos, dos quais, infelizmente, o sr. Oscar teve punch de trazer apenas alguns poucos representantes. Esperemos que brinde-nos com outros, quando a crise passar. Talvez demore... 😔 mas que venham!
   Dentre os produtos, temos disponíveis por aqui o Lavradores de Feitoria Cheda Tinto e sua versão Reserva. Além do Cheda branco. O Quinta da Acosta, como disse, acabou. Mas foi uma alegria provar de (mais) uma garrafa. Em sua faixa de preço, um vinhão. Muito boa fruta, acidez bem presente, bom equilíbrio. Mais um exemplo de felicidade engarrafada. Tomo consciência de que tenho repetido bastante por aqui, essa tal de felicidade engarrafada... mas horas bolas, economizei minha adega durante anos justamente para chegar a um momento em que pudesse beber bons vinhos com mais frequência, e agora colho os frutos. Este Quina das Acostas é uma combinação de Touriga Nacional, Tinta Roriz... 'e outras', conforme fui verificar na ficha do produtor. Foi bom parceiro para um salame, e não fez feio com uma pizza de carne. Talvez a pizza é que o tenha prejudicado (rs!).  Merecia um bifão... Quer um vislumbre de Acosta? Experimente o Cheda Reserva. Qualquer hora faço uma comparação com chilenos do dobro do preço, ou algo por aí. E sim, deixarei (como sempre!) de lado a má vontade. Ela não tem vez, à bem da verdade. Não tenho vinho preferido. Tem o vinho que avalio valer mais a pena, e vinho que vale menos a pena. E somente isso.

Montagne Chateau Teyssier 2015

   Este chateau é parte dos negócios de Jonathan Maltus, proprietário de vinhedos em Bordeaux e no Napa Valley. Em Bordaux, sua produção está baseada em Saint-Émilion, onde é ranqueado como Grand Cru. Sua máxima é
A bottle of wine should be judged by the taste of its contents over the ‘big name’ label slapped on the front.
   Bonito. Mas seria muito mais legal se em seu sítio de internet fosse mais fácil encontrar os produtos do que as notas recentemente obtidas pelos seus vinhos. O sítio é bonito, mas as informações são pobres. Até perdi a vontade de procurar mais... ponto a menos para o produtor.
   De qualquer maneira, fui alertado pelo Don Flavitxo que é um vinho básico do produtor. A versão que "não é Montagne" de Chateau Teyssier é um degrau melhor, segundo ele.
   Largando de lado a má vontade (rs), é corte de uma região onde as uvas típicas são Merlot e Cabernet Franc, principalmente. Imagino que possa ser a composição desse vinho. Proporção? Talvez uns 80%-20%, como parece ser típico de lá, mas não encontrei a ficha.
   Gostei. Novamente, boa fruta, chocolate (café?), acidez bem presente. Madeira marcada, mas com bom equilíbrio. Um problema: um tanto novo, parece. O que eu esperava seria o bom combate acabou prejudicado pelo ótimo momento de Aguaneiras contra um Teyssier um pouco fechado. Aerar poderia fazer diferença? Não sei. Trocaria por mais uns 3 anos de guarda. É diferente: aerar não é envelhecer o vinho à base da oxidação. Ele precisa do seu tempo para 'chegar lá'. Aguaneiras chegou, Montagne pede um pouco de calma. Mas foi o que podemos chamar de bom combate, para as circunstâncias, experimentar duas boas compras na mesma faixa de preço. Montagne não é felicidade engarrafada. Hoje. Mas será, amanhã. Notou a vírgula? Pois é, uma religião nova apareceu por causa desse ', amanhã'... Montagne é comercializado pela Cellar, a bom preço. Gastei muito com vinho, ultimamente. Mas compraria algumas garrafas e guardaria para os próximos anos. Se o 'ameace' de crise financeira que se avizinha estiver correto, a preço de hoje Montagne é uma excelente compra, principalmente para o consumidor um pouco mais paciente. Seu preço por aqui está em R$ 150,00. Oscila entre 20 e 30 dóla lá fora Ou seja... corra!

Post scriptum

   Don Flavio leu esta postagem e comentou uma frase minha que de fato não transmitiu o que eu deseja (precisava!) dizer. O leitor mais atento poderá ler nos comentários. Agradeço à paciência, e peço desculpas pela imprecisão.

Sunday, June 7, 2020

Ferraton Châteauneuf du Pape Les Parvis 2009

Introito

   O leitor eventual pode não estar acostumado às minhas histórias. Notou o "h"? Porque o que vai narrado aqui é absolutamente verdadeiro e fiel aos fatos, em seus mínimos detalhes. Um exemplo claro do meu amor e respeito pela precisão dos fatos, do quanto sou meticuloso quando narro os acontecimentos que presencio, está aqui. Basta o leitor ler e julgar por si. Não há espaço para a menor mentira ou fantasia na narrativa. Óbvio! Assim, ele pode estar seguro de que as próximas linhas serão igualmente rigorosas e verdadeiras.
   Estava no Rhône, certa feita. Em uma praça. Também presentes, em um banco próximo - conhecia pelas fotos - o Michel Ferraton e outro sujeito. O Michel chorava suas mágoas: a vinícola estava mal das pernas. Sentia que o agrônomo o estava boicotando. O enólogo não estava sendo feliz nas escolhas. Os vinhos estavam 'une merde'... Falavam em americano (sic! rs!) não sei porque, mas essas palavras ele pronunciou em francês mesmo. Felizmente eram próximas do português, e consegui entender também. Mas o Michel Ferraton estava num monólogo só. Ele estava triste, tristinho, que dava dó...
   Acontece que o outro ao lado dele era seu amigo de infância, de pré-primário (ou equivalente Francês), o (também Michel) Chapoutier... Para quem não sabe, Chapoutier é de longe o produtor mais importante do Rhône. Forcei a barra? Tá, um dos três mais importantes...  desde que ocupe a primeira e segunda posições... Bom, deu pra ter ideia de quem é ele.
   - Michel (Ferraton!), não se avexe. - disse Chapoutier com seu sotaque característico. - Façamos assim: pegue este cheque em branco e me venda metade da sua vinícola. Vou te mandar meu agrônomo e depois meu enólogo. Vamos restaurar os melhores dias do sonho do Jean Orëns, seu saudoso pai.  - corria 1998 do ano da graça de Nosso Senhor. O resto, é história - notou o 'h'?

O Rhône

   O Rhône é um rio que nasce na Suíça e corta o França ali pelos lados da Itália, dando nome a essa região vitivinícola tão cara aos iniciados no culto a Baco, até desaguar no Mediterrâneo. Ao norte, é dividido em pequenas regiões, algumas delas muito singulares. São elas: Côte-Rôtie, Condrieu, Château-Grillet, Saint-Joseph, Crozes-Hermitage, Hermitage, Cornas e Saint-Péray. As mais interessantes - para o pobre mortal ($$), e ainda assim... - são Condrieu, Crozes-Hermitage, Hermitage. Condrieu produz apenas brancos baseados na cepa Viognier. O Condrieu é a antítese do vinho branco sul americano por um motivo muito singelo: é bom... experimentei bem poucos até hoje, mas nenhum deixou-me menos do que a sensação do 'maravilhoso'. Às vezes precisa de tempo (duas horas) para abrir. Hermitage é a dita a porção sangue-azul da região, e é quase toda cercada por Crozes-Hermitage. Dá para perceber que Hermitage é o miolo de uma região que já é nobre. Encontramos Crozes-Hermitage de bom custo no Brasil, a R$ 120,00, se procurar bem. Hermitages custam bem mais, mas lá fora possuem preços atraentes (tá, não com o 'dóla' a R$ 5,00). Tá, não com esse 'dóla' (sic). Ao norte, a Shiraz é a unica uva tinta permitida.
   No sul do Rhône existem muitas mais zonas, e pode haver uma combinação de até 13 cepas tintas (em Châteauneuf du Pape). Poucos produtores plantam todas as cepas, e as mais comuns são a Mourvèdre, a Grenache e a Shiraz. Mourvèdre muitas vezes é a base, mas nada impede que alguns produtores usem a Grenache como ponto de partida para seus exemplares. A quantidade de estilos varia muito mas não podemos dizer que um estilo seja melhor do que o outro. Talvez Rhône seja o epíteto da variação estilística na produção de vinhos mundo afora, e uma doce lembrança de que não devemos nos fixar a apenas um produtor, escola ou país.

Ferraton Père & Fils

   Ferraton Père & Fils é um produtor cujos vinhedos cobrem boa parte do Rhône, de norte a sul. Seu sítio é simpático, embora não traga muitas informações sobre safras passadas, por exemplo. Dá para o gasto, se o leitor procura informações básicas sobre seus diversos vinhos. E tudo o que experimentei até hoje de Ferraton foi do meu agrado. Infelizmente Ferraton não tem uma casa muito fixa no Brasil, o que acaba afetando seu preço. Falarei disso no final.

Ferraton Châteauneuf du Pape Les Parvis 2009

   Este CdP com 11 anos se enquadra bem naquilo que costumo chamar de 'felicidade engarrafada'. É mais uma arma para passarmos estes tempos tão solitários de enfrentamento ao Covid: abriu com boa fruta, pouco álcool (tipo, quase dá para abrir e servir), ao menos no exemplar com essa idade. Nos mais novos, talvez algum cuidado com o serviço seja necessário. Está no ponto. Minha segunda garrafa fica para 2021. Talvez 2022, mas não prometo (rs). Fundo de café (chocolate?) - rs - acho que café. Na boca algo doce sem sinais de afetação. Boa acidez, pede passagem e abre caminho quando desce pela garganta. Não tem final loooongo, ou tão marcante, mas é a boa e justa medida. Casou bem com uma pizza de pepperoni. Indispensável estar de bem com a vida ao se beber um vinho desses: ela pegará umas cores a mais. Acho que escrevi recentemente, que um vinho abrilhanta uma boa conversa. E é verdade. Mas - também devo ter escrito - um Ferraton ao som de Zé Geraldo é o necessário e suficiente para você rir sozinho, ficar feliz...
   Volto a falar sobre a casa do Ferraton no Brasil. Não sei bem quem o importa agora. Na época em que comprei diversos Ferratons, era a Enoeventos. Infelizmente é um importador pequeno, não tem como fazer frente às grandes empresas do ramo, que às vezes chegam no produtor com uma oferta melhor (comprar mais, por mais tempo). Sei mesmo que comprei muitas garrafas, mais do Crozes, menos do Hermitage (sic), e duas deste Châteauneuf. Foi numa bréqui fraid. E escrevi justamente sobre isso, em postagem passada, sobre o Crozes-Hermitage La Matiniere (2010):
'Comprado da Enoeventos na melhor Black Friday que já vi', escrevi, comprovo e dou fé, veja aqui.
   Aliás, até algum tempo atrás Enoeventos tinha algumas garrafas de Ferraton. Fiquei namorando, e dancei.  Mas sejamos francos: experimentei bons momentos desse produtor. Que elas tenham ido para alguém que ainda não o conhecia. Sei mesmo que, quando comparei o preço de Enoeventos e em outras lojas do ramo, o preço de Enoeventos estava uns 30% mais barato. Você já viu essa estória, né leitor? Tipo... o vinho muda de casa e sobre o preço... pois é...
   E assim quem frequenta estas páginas pode construir, bloco a bloco, a 'Confiança' de tudo o que escrevo é verdadeiro, fiel e preciso em seus mínimos detalhes. Sem dó nem medo. E tenho dito.

Quimeras...

   Quimera, segundo o dicionário, é (em segunda definição 😁), combinação heterogênea ou incongruente de elementos diversos. Estava concluindo esta postagem quando recebo uma 'promo': Quimera, da Achaval Ferrer, sob a ridícula toada de 'Faz Tremer muitos Bordeaux Famosos'. Bem, talvez eu esteja sendo muito precipitado e 'pré julgando'... Talvez faça... 'tremer de rir'...  os muitos Bordeaux de média fama - e não mais. O que dizer dos famosos...
   Ô, leitor desavisado... vamos com calma, vamos posicionar essa caterva sem noção em seu devido lugar. Tá, não experimentei safras mais recentes deste que reconheço ser um bom produtor argentino - um dos melhores, e isso não é pouca coisa. Experimentei Quimira há uns 6, 8 anos. Bom vinho, no padrão sul americano. Mas esteja ciente de que é um dos vinhos de entrada do produtor. E custa (é, custa, significando pedem por ele) R$ 380,00, propagandeado sob a alcunha (alcova! 😝) de 'Faz Tremer muitos Bordeaux Famosos'. Quais, cara-pálida? Ora! Reafirmo, é um bom produtor. Mas bebemos recentemente um top de Achaval Ferrer. Está aqui! Frente ao fracassado 'do' Sassicaia, sequer for lembrado de sua ridícula existência. E o Sassi (sic) tomou couro forte de um borgoinha (risos!) de um terço do preço, e mais barato do que o próprio top de Achaval Ferrer, na média. Faz quem tremer, VAGABUNDO? Ora, tempos terríveis que vivemos. Qualquer VAGABUNDO escreve o que quer, incólume? Não aqui! É compreensível que o produtor queira vender seu produto a qualquer preço? Até é. A isso, chamamos 'mercado'. Agora, um vendedor, que precisa (precisa? tá, não precisa, mas pretende!) passar para o cliente uma imagem de 'confiança' ao oferecer-lhe boas ofertas, assumir esse papel de vender a qualquer preço, é de-plo-rá-vel. Já comprei desse anunciante. Não compro há algum tempo por falta do que considero 'boas ofertas'. Este é um excelente anti-exemplo de 'boa oferta'. Se precisar explicar mais, faço em juízo. A opinião deste travesti de analista é de que trata-se do exemplo acabado do que hoje em dia chama-se fake news. Pode cair bem para a massa de bocas-tortas desavisados e sem noção que povoa o país. Mas cai mal para quem conhece o mínimo de vinho. A crítica especializada de vinhos nunca tinha atingido nível tão baixo. Tá, tinha! Desde que a metralhadora de notas 100 chegou ao mercado chileno e deu uma rajada de notas máximas por lá. Consumidor, afine-se. Aprenda. Se você pensa em pagar R$ 400,00 por uma garrafa, compare. Pense. Seja crítico. Questione. Não caia em conversa mole. É muito fácil: acima de R$ 100,00, em 'boa compra' - este blog cita muitos exemplos - um sul americano em uma taça e um europeu em outra, é uma briga desigual. Em favor do europeu. Não é babar ovo para os europeus - que são melhores mesmo. É a simples constatação de que os sul americanos estão absurdamente caros! Se na comparação você não perceber... apenas lamento. Precisa aprender mais. Cansei.

Post scriptum

   Vigilante to vinho, alerta-me Don Flavitxo:

E olha, tá caro. Quer saber mais?
  Pqp! Ainda me chamam de gentio (sic! rs!).  Perguntei se os CdP que ele comprou eram... pelo menos 'iguais'... só que não...