Sunday, September 23, 2012

Duas safras do Novas Winemaker's Selection, da Emiliana

O início

   A Bodegas y Viñedos Santa Emiliana S/A "nasceu" em 21 de Novembro de 1986, tornando-se Viñedos Emiliana S.A. em 20 de abril de 2004, quando foi incorporada como uma divisão da potência chilena Concha y Toro. Desde cedo, seus proprietários notaram que os consumidores estavam tornando-se mais e mais alertas aos produtos que compravam, não apenas sob o aspecto de saúde, mas também quando aos impactos sociais e ambientais causados pela produção desses produtos. Eles comeraçam a trabalhar, então, os conceitos de produção orgânica e biodinâmica. Enquanto boa parte desse esforço pareça séria para este comentarista, como a utilização de compostagem (técnica para controlar a decomposição de materiais orgânicos), entorno de vegetação nativa, eliminação de pesticidas e fertilizantes, de repente esbarramos em conceitos como "calendário biodinâmico" e outros que, a princípio (e a menos de deslavada ignorância) não encontram amparo na ciência tradicional. E, no final, fica a impressão de um discurso bonitinho para se cobrar mais pelo produto. Essa introdução dá pano pra manga, mas eu prefiro mesmo é que dê taça o vinho.

A linha de produtos

   Com seus vinhedos espalhados pelos principais vales produtores de uvas do Chile, a linha Emiliana começa com varietais das principais cepas plantadas no Chile: Cabernet Sauvignon, Carmenère, Syrah e Merlot. São vinhos fáceis de beber, simples, que agradam aos iniciantes e consumidores menos exigentes. Em seguida, a linha reserva conta com varietais Cabernet Sauvignon, Carmenère e Pinot Noir, embora no passado tivesse alguns cortes onde o de Cabernet-Syrah era disparado o melhor. Conheci esses vinhos entre final de 2007 e início de 2008, quando os comprava a R$ 17,00 e R$ 23,00, respectivamente. Pelo preço, eram bons produtos. A linha de orgânicos começava com os Adobe, passando pela Novas e chegando ao mais recente, Signos de Origen. Cabe dizer que, em um primeiro momento, o Novas não era apresentado como um Gran Reserva, como o é hoje. Completavam o catálogo a linha biodinâmica: Coyam e (gê... raldo?).

Histórico de um descalabro

   Na crise de 2008 os vinhos básicos passaram a cerca de R$ 25,00 e R$ 32,00, respectivamente. Todos devem lembrar-se que naquele momento o dólar disparou de aproximadamente R$ 1,80 para R$ 2,50. Tenho cer-te-za absoluta: com o dólar nas alturas, nossos importadores compraram tudo o que podiam de vinhos, ignorando a crise e deixando de lado o fato de, justamente por causa dela, a tendência dos preços é cair, pela falta de consumidores. Mas qual, nossos importadores garantiram a estabilização dos preços dos vinhos mundo afora, comprando com afoiteza tudo o que viesse pela frente, além de fechar antecipadamente a compra das próximas safras... não há outra explicação para o fato dos vinhos terem subido naquele momento, e nunca mais terem caído. Bem, alguns caíram. Claro, nada perto do que haviam subido anteriormente. E essa estória maluca é a única explicação plausível (sic!) para esse aumento de preços.
   Nesse contexto, foi lá por 2008 que conheci a linha Novas. Naquele momento um dos Novas Winemaker's Selection apresentava um peculiar e diferente corte, o Syrah/Mourvedre, mais comum no Rhône, e que hoje parece não existir mais na linha da vinícola. Um bom vinho, mas não pelos R$ 80,00 em média que se pedia por ele à época. Acabei comprando uma garrafa do 2005, em uma degustação promovida pelo importador e pela Mercearia 3M pelo único motivo de minha esposa ter gostado muito do produto. Pelo mesmo preço, veio com autógrafo do enólogo da Emiliana, o simpático César Morales. O Coyam, cujo valor no Chile ombreava com o Etiqueta Negra, da Tarapacá, e com o Max Reserva, da Errazuriz, algo como 10 mil pesos (R$ 40,00), chegava aqui a R$ 160,00, enquanto os primeiros não passavam de R$ 120,00. O Geraldo (rs) atingia as raias do pornográfico. Leviandade nos preços, leviandade nos textos, digo que Nelson Rodrigues ficaria ruborizado.
Novas Winemaker's Selection 2005 e 2006: muita mudança de uma safra para outra ou o 2006 merece envelher mais?

Um final feliz

   Aconteceu do importador da Emiliana falir e desovar parte do estoque. O Nova Winemaker's Selection chegou a preços mais palatáveis (R$ 50,00), quando comprei algumas garrafas. A safra mudara, era a 2006, mas estava interessante. E nas sombras da minha adega as garrafas permaneceram até estes dias... quando resolvi ser um bom momento para prová-las. Não foram abertas juntas, mas com um intervalo de alguns dias. Infelizmente não encontrei melhores dados sobre o corte, apenas a informação Syrah/Mourvedre. As graduações alcoólicas variam um pouco, 15% para a 2005 e 14,5% para a 2006. O 2006 apresentou-se como um típico sul-americano: intenso, encorpado, taninos potentes que os anos não amaciaram tão bem quanto esperaríamos, madeira e fruta vermelha. Bom volume, nada amargo. Já o 2005 foi o contrário, ou quase. A potência estava presente mas miraculosamente domada; havia mais fruta, o conjunto todo muito melhor. Na boca, muito redondo, sem muito do toque de especiaria presente no 2006. Não sei se um ano a mais guardado fez toda essa diferença ou se a produção deste 2005 foi mais feliz que a da safra posterior. Infelizmente esses vinhos sumiram do mercado, mas se o leitor encontrar alguma garrafa perdida n'alguma prateleira, que não perca tempo. E comprar com as versões mais novas de hoje - chamadas de Gran Reserva - pode ser garantia de muita diversão, se regado a bons papos e uma boa carne. Aliás, o novo importador (não sei quem é) exerce uma política que permite ao produto chegar às prateleiras por preços entre R$ 45,00 e R$ 50,00. Como comentado, é mais palatável, embora aqui no Brasil situe-se na margem de preço de vinhos mais caros no Chile. Por exemplo, um Tarapacá Gran Reserva custá lá  $7.500,00 pesos e aqui, na média, R$ 55,00. O Novas, lá, $ 5.400,00 pesos e aqui, na média, R$ 48,00. E olha que a importadora da Tarapacá não é conhecida pelos margens apertadas...

4 comments:

  1. Oi Carlão,
    O novo importador da Emiliana é a La Pastina (World Wine), e está praticando preços mais justos.
    Abração,
    Flavio

    ReplyDelete
  2. Passei outro dia no sítio deles, não tinha nenhum Emiliana. Deve estar em falta, então.

    ReplyDelete
    Replies
    1. Não aparece no site, assim como o Maycas del Limari, mas eles já comercializam faz tempo. Veja o site da La Pastina.
      Abração,
      Flavio

      Delete
  3. Verdade verdadeira, está lá. Sem preço, o que é uma pena - ou melhor assim, não passamos nervoso (rs).

    ReplyDelete