Saturday, July 11, 2020

Vencido pela pandemia: Camille Giroud Côte de Beaune-Villages 2008

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Introito

   A pandemia está vencendo-me, confesso... Sucumbo a desejos mundanos com facilidade... Estava olhando para o céu no final de tarde e pensando em... bem, o leitor já desconfia... e o sol se pondo, eu deixando-me levar pelo momento, quando... dei-me conta de que...
Tudo era apenas uma brincadeira
E foi crescendo, crescendo
Me absorvendo
E de repente eu me vi assim
Completamente seu...
   Lá do fundo da adega, um borgoinha primeiro enviava chamados quase como sussurros. Frente à minha resistência, os sussurros viraram convites mais doces, não atendidos, e evoluíram para evocações mais fortes, e para uma ordem final. Perdendo o controle dos membros inferiores, desci hesitantemente a escada, estiquei o braço e a garrafa quase pulou em minha mão. Era a última da espécie, olhei para o rótulo em tom ligeiramente amarelado, mais pela cor do papel do que pela idade, a fina camada de poeira a recobri-la...
Mas não tem revolta, não
Eu só quero que você se encontre...
   Quer saber? Deixei que o momento me enebriasse, e meti-lhe o saca-rolhas...

Camille Giroud

   A Maison Camille Giroud foi fundada em 1865. É um négociant baseada no Beaune, produzindo vinhos de vários vinhedos importantes como  Corton, Echezeaux, Clos de Vougeot e Chambertin, dentre outros. No alvorecer do século XXI, foi adquirido por um consórcio liderado pela  Colgin Cellars, estalecida no Nappa. Seu Côte de Beaune-Villages é um dos vinhos 'de entrada' da casa (quero dizer, um dos mais simples). É preciso dizer que a região não é adequada à produção de tintos de qualidade... e ainda assim esse exemplar já é bom. Claro, para os padrões da Borgonha não é aquelas coisas. Mas pensando no bolso e principalmente na qualidade do que se bebe e produz por aqui... bom, aí começamos a nos aproximar do conceito de felicidade engarrafada. Deixemos claro que esse conceito é um tanto volúvel (rs) e elástico. Ele compreende não somente a qualidade intrínseca do vinho, mas de sua disponibilidade, preço e, por tabela, da comparação com o que podemos beber por aqui. E depende também do bebedor. Ara, como o conceito é meu, faço dele o que quero. As garrafas que experimentei - branco e tinto - foram comprados em regime de queima, em situação bem compensadora. Não guarde por mais tempo, se tiver alguma por aí (rs). Está muito bom agora. É daqueles Borgonhas quase transparentes (rs), com buquê à fruta vermelha, acidez viva e  um toque metálico, o que dá um 'quê' a mais. Madeira discreta, álcool não aparece. O final é um pouco curto - e isso precisa ser relativizado! - assim como a persistência. Mas duvido que não destroce sul americanos do triplo do valor (em comparação com o preço da queima). Não quero dizer que seja um vinho excepcional... o bom entendedor de nível médio já entendeu... os mais espertos, então... e isso apenas comprova como os sul-americanos estão caros, 'reclamação velha' deste Enochato. Como sempre, a pergunta que não cala: doze anos nas costas, 12,5% de álcool (quase 'nada') e não estraga. Acidez, a misteriosa acidez... Amanhã tentarei o final com alguma comida... se não der a louca (rs) e acabar com ele hoje mesmo...

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