Thursday, May 3, 2012

Impressões da Expovinis Parte II

   Continuando as impressões da Expovinis, a grande e grata surpresa - para mim - não foram os grandes e caros vinhos, mas os grandes e baratos. Ou, pelo menos, os baratos que podem assombrar os "grandes" (entenda, leitor, por "grandes" apenas "não tão grandes assim", mas de qualquer maneira respeitáveis). Vou explicar com uma situação que vivi em uma importadora: apresentaram-me um produtor chileno todo orgulhoso com seu vinho à mostra. Perguntei o preço - R$ 30,00 - com algum desconto para o representante, mais a indefectível substituição tributária para São Paulo, vezes a margem, noves fora, uns R$ 35,00 de preço final ao consumidor, se a ganância não for excessiva. Sem papas na língua, eu perguntei para o produtor e para o importador:

- Vocês já viram aqui na feira os vinhos gregos por uns R$ 15,00, a preço de consumidor final?

Um olhou para baixo, o outro, para cima. Depois ambos olharam seus respectivos relógios. Já que era assim, eu continuei:

- Alguém consegue me explicar por que os vinhos chilenos subiram tanto nos últimos anos, no Brasil e no Chile, mas não subiram nos Estados Unidos?

   O senhor chileno disse que já era hora de ir, porque tinha outros negócios; o importador me ofereceu um vinho e fez algum comentário. Eu recusei o vinho (risos). O produtor se retirou. O importador ainda teve de escutar que os vinhos chilenos pedindo para sair do mercado.

   Verbalizando a minha bronca - que a estas horas já é antiga: os produtores chilenos estão se alinhando ao que existe de pior no mercado (aos produtores brasileiros? Aos importadores brasileiros? Talvez sim (os produtores), embora defenda-se que não - que ambos, produtores e importadores não sejam o que há de pior de mercado... não o pior; Satã está sempre à solta). Sem mais digressões: nossos "companheiros" chilenos tiveram a ótima ideia de aumentar seus vinhos em 100% por volta de 2008 (com crise e tudo). Isso levou um Dom Maximiano a custar lá por volta de US 130,00 (veja). Numa boa oferta, você compra por US$ 100,00 (estou aproximando um pouco os preços). Minhas últimas garrafas, paguei 30.000 pesos (US$ 60,00) nos supermercados, e US$ 50,00 no free shop de saída do Chile. Aqui, paguei R$ 240,00 em Ribeirão Preto, há dois anos. A Vinci majorou os preços, que mostravam no Brasil um vinho chileno premium a um preço quase igual ao do país de origem (o que, nesse caso, é apenas uma distorção absurda). Agora está R$ 350,00. O engraçado é que esse aumento deu-se anos após o aumento no preço no país de origem (no Chile, 2008, no Brasil, 2011). Eu gostaria que me explicassem o porque... não, não precisa. Basta que me expliquem por que esse vinho ainda custa nos EUA os mesmos US$ 60,00 que "sempre" custou. Ou porque custe 36 libras (já com impostos!) na Inglaterra. Os produtores chilenos estão apostando firme e forte no sucesso econômico do nosso país. Seguramente lucrarão bastante por um bom tempo, ainda, mas não sem as reclamações deste enochato de plantão.

Uma das grandes surpresas da feira

   Voltando a falar de vinho, e recobrando a estória do começo desta crônica: A grande surpresa para mim foi encontrar um vinhozinho grego, Dionysos, de uma pequena importadora em um dos cantos da feira. Com cortes de cepas internacionais (Cabernet Sauvignon e Merlot) e a variedade autóctone Agiorgitiko, produz tintos leves e frutados, bastante agradáveis. Da mesma maneira, combinando a regional Moschofilero com Sauvignon Blanc e Chardonnay, apresenta brancos vivos, frescos e com retrogosto muito agradável. Pese que encontrei esta importadora no final da feira, após quilômetros de caminhadas (rs) e hectolitros degustados (sic), mas ainda aposto minha quase insignificante reputação que é um vinho prestes a  conquistar uma horda de seguidores, se a distribuição for eficiente, e o marketing, mínimo. Como comentado, ao preço de uns R$ 15,00, que é o que acredito possa chegar ao nosso mercado, parece uma verdadeira pechincha.

Outros vinhos

   A W & W Wine destacou sua linha italiana apresentando os Leonardo, que traz o Homem Vitruviano no rótulo do seu bom Chianti DOCG 2010, um corte à base de Sangiovese. O Vinsanto DOC 2005, 100% Trebbiano, não marcou. Mas pareceu um pouco fora de temperatura, e não perguntei do tempo de abertura da garrafa. Depois vieram os Da Vinci, dois Chianti (um deles, Riserva), um Super Toscano e um Brunello. Todos de bom corpo e agradáveis, cuja degustação foi uma experiência que eu gostaria de repetir com mais tempo para os vinhos respirarem, e fazê-los companhia de um bom risoto.
   A Portus Cale apresentou os tradicionais Bacalhôa e seu Taylor´s Tawny 10 anos. Da primeira, eu sempre apreciei muito o Meia Pipa, e ultimamente o Má Partilha e o Palácio da Bacalhôa, embora seus preços sejam mais salgados do que os de um bacalhau que poderia eventualmente acompanhá-lo.

   Finalmente, registro o encontro, na W & W Wine, com o simpático Gustavo Benaglia, da revista Club de Catadores, que tentava vender anúncios para uma versão brasileira deste periódico publicado na Argentina. Sucesso, porque o exemplar (em espanhol) que deixou comigo revelou-se interessante.

No comments:

Post a Comment