Friday, May 11, 2012

O Wine Tour da Interfood - Primeira parte

Uma viagem ao mundo do vinho em um só lugar

   Este é o bem bolado marketing que sustentou a ação da Interfood nos dias 2 e 3 de maio em São Paulo e no Rio de Janeiro, respectivamente. Com efeito, a recepção no Hotel Tívoli, ao lado da Avenida Paulista, conseguiu prover os participantes do máximo em conforto e uma experiência enológica a altura. Com praticamente todo o (imenso) catálogo da importadora em riste para o evento, foi humanamente impossível experimentar de tudo. Mesmo se escolhêssemos apenas o filé, a missão já se revelaria inglória; como este enochato ousou prestigiar também alguns objetos de desejo mais mundanos, a emenda final ficou pior do que este soneto que abre a crônica. Mas vamos lá.

   A primeira degustação a marcar, quer pela qualidade, quer pela variedade, foi a da Trapiche. Essa vinícola argentina tem capacidade de prensar 50 milhões de quilos de uva para produzir 30 milhões de litros de vinho a cada colheita. Dela, eu conhecia os mais simples, da linha Melodias (Malbec e Cabernet Sauvignon), e o Medalla, este sim um belo vinho que colabora com a justa fama da casa. Mas estava mesmo curioso era pela linha Single Vineyard, três Malbecs que os principais amigos-canalhas marcaram de ofertar a Baco e na hora da oferenda a oferta acabou não sendo encontrada nas principais casas do ramo... Bem, a estória dessa linha é interessante: a Trapiche compra uvas de diversos produtores independentes de Mendoza. Como estímulo a eles, foi pensada a linha Single Vineyard, onde as três melhores uvas, a cada colheita, são escolhidas e enviadas para três enólogos diferentes. Cada enólogo prepara uma versão do vinho à sua maneira. Assim, a cada ano, e depois de uma temporada de 18 meses em barrica, uma geração de Single Vineyard completamente diferente aparece no mercado, expressando o que há de melhor do terroir de Mendoza. Esta safra 2008 está equilibrada e pronta para beber, embora o enólogo recomende a guarda de mais dois ou três anos. Seus 14,5% a 15% de álcool estão bem integrados e quem aparece é quem deve aparecer mesmo: a fruta e os taninos agradáveis. Como diz o Flavitxho, vinhobão. Depois veio o Iscay, um corte pouco convencional (para mim) e meio a meio de Merlot e Malbec. Também com um ano e meio em barrica e 14,5% de álcool, é bastante aveludado. Finalmente, o melhor vinho da casa: Manos. Manos de mãos, não de irmãos, que se diga logo... e porque Manos tem não apenas a colheita, mas a seleção também feita à mão, chegando-se ainda à retirada das sementes de maneira igualmente artesanal. Este Malbec descansa 18 meses em barricas novas de carvalho francês e outros 24 meses em garrafa antes de chegar à taça do consumidor. Por excelência, é um vinho que levamos para casa: quando retornamos a ela, o vinho ainda está em nossas bocas... intenso, potente e de retrogosto igualmente agradável. Com inacreditáveis 15% de álcool, choca pela integração absoluta de seu conjunto.

   Mas nem só de vinhos premium alimenta-se minha vã curiosidade. Após ler (bem) sobre o Chateau Ksara, e depois de procurá-lo nas melhores casas do ramo sem sucesso, tive o prazer de encontrar algumas garrafas no evento. Esta vinícola libanesa é a mais antiga de um país que deve ser o mais antigo produtor de vinhos do mundo. Produz ininterruptamente (a despeito das guerras que devastaram o país) há mais de 150 anos, e segue (como a maioria dos Chateaus libaneses, aliás) a escola francesa, inclusive nas cepas. Seu Reserva do Convento, por exemplo, é feito com Cabernet Sauvignon, Syrah e Cabernet Franc, a 13% de álcool. Metade dele passa por carvalho, e o resultado é um vinho leve, frutado, final adequado e retrogosto com leve amargor. Já o Chateau Ksara (Cabernet Sauvignon, Merlot e Petit Verdot, em proporções 60/30/10), passando 12 meses em carvalho novo e outros 24 em garrafa, é bem encorpado, destacando a presença de frutas vermelhas que enchem a boca. Persistente, com bom retrogosto, é um ótimo representante de uma região vinícola um tanto improvável para nós brasileiros, mas que surpreende  do mesmo tanto que nos parece improvável.

Saindo da bancada do Ksara, logo ao alcance desdes míopes olhos, estava a bancada da Planeta. Dessa vinícola italiana eu conhecia a linha mais básica (o La Segreta, de Nero D´Ávola e o Cerasuolo di Vittoria, uma mistura de Nero D´Ávola e Frappato) e o Planet Syrah, um belo e leve vinho da casa que colocou o sul da Itália no mapa vinícola mundial. Minha expectativa era pelo Planeta Burdese, a versão Cabernet Sauvignon desses vinhos, mas ele infelizmente estava em falta. Como sugestão do simpático Adriano, representante da Interfood para a região central do estado, provei o Alastro Bianco, produzido com a cepa nativa Grecanico, que passa rapidamente por carvalho. Estava acompanhado dos amigos Endrigo e Vânia quando olhei para eles entre pasmo e embasbacado: 
   - Pêra! 
   E eles: 
   - Pêra, Pêra... 
   A despeito de ser pêssego (ô, pessoal...! - gargalhadas), um vinho deliciosamente frutado, agradável, leve... algo que fez um não-bebedor (isso, não-bebedor) de vinhos brancos como eu parar para reformular minha opinião sobre vinhos brancos. Tá, ela vem sendo reformada desde que experimentei o Crasto Private Selection, mas é outra estória. A questão aqui é que, quando dei-me por mim, estava ajoelhado aos pés da Colleen Noel, representante de uma exportadora de vinhos italianos para as américas, a implorar por mais uma taça.
Com Colleen Noel e o maravilhoso Alastro.
   Talvez os bebedores profissionais de brancos puxem um ligeiro sorriso de canto de lábio enquanto pensam algo como "tontinho, nunca bebeu um vinho branco de verdade, como um Montrachet". É verdade, nunca, mesmo. Mas a provocação por parte de alguns brancos - e este em especial - estão fazendo deste bebedor de tintos um quase-bebedor de brancos. Nesse aspecto, mais um ponto para a Planeta.

   Na segunda parte desta crônica, os italianos e franceses.

2 comments:

  1. Grande Carlão!
    Que pena que eu perdi essa. Infelizmente eu tinha uma banca na quarta... E outra na sexta. Não deu... Mas vejo que foi bom o negócio. Eu gosto muito do Trapiche Single Vineyard. Já bebi várias vezes e nunca me decepcionou. Acho que em se tratando de Malbec, não precisa mais. Fiquei curioso para experimentar o Alastro. Eu já bebi o Chardonnay da Planeta, e gostei muito.
    Abração!
    Flavitxo

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  2. Pois é, Flávio, precisamos ir atrás do Alastro. Se não encontrarmos... nas melhores casas do ramo... compramos na loja da Todovino mesmo.
    []s,
    Carlos

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