Friday, May 25, 2012

Vinhos e vinhos

É muita coincidência...

... ou o pessoal tá lendo bastante sobre vinho. Digo isso porque recebi, ontem, duas correspondências eletrônicas com o mesmo assunto, um vinho vendido na Inglaterra, por cerca de R$ 11,50, foi classificado como um dos melhores do país. E, hoje, uma terceira! Então acho que está na hora de comentar o assunto.
   O curioso é que das duas primeiras correspondências, uma veio de uma bebedora, e outra de um não-bebedor que pretendeu "tirar uma" e de quebra testar minha paciência. E não sem motivo: o não-bebedor é o principal supridor de bons vinhos da minha adega, o ilustre cunhado Ricardo que, a cada viagem ao exterior, me traz algumas garrafas na bagagem, a um preço médio de uns US$ 60,00. A bebedora é a não menos ilustre Raquel, satisfeita sempre que pode dividir um vinho desses comigo.

   Vamos aos fatos. A reportagem começa assim:
"Um grupo de especialistas elegeu um vinho vendido em um supermercado popular por apenas 3,59 libras (cerca de R$ 11,50) como um dos melhores do mundo."

   Não li a reportagem original, mas convenhamos: erros de tradução são os mais comuns, principalmente em se tratando dos tempos de internet e seus tradutores automáticos. Um dos "melhores do mundo"? Tá. Em que posição, mais ou menos (risos)? E isso nem é tão importante. Caro leitor, não bebi do vinho. Mas é muita pretensão que um vinho nesse preço seja "um dos melhores do mundo". Certo, ele pode deixar para trás muitos, mas muitos vinhos de valores dez vezes superior, não duvido nada disso. Mas eu realmente duvido que ele deixe para trás (ou mesmo empate) vinhos que custam dez vezes mais e representam uma boa relação custo/benefício em sua faixa de preço. Ademais, a qualidade do vinho está intrinsicamente ligada aos cuidados que são tomados em sua elaboração: cuidados na colheita, no manuseio, na preparação, etc.

   Na mesma reportagem existe um vínculo para outra matéria, onde comenta-se o fato de que consumidores não notam a diferença entre vinhos baratos e caros. Essa é a matéria que não explica nada mesmo. Ao contrário da primeira, onde está dito que um grupo de especialistas elegeu o vinho como... muito bom (risos), a seguinte cita simplesmente "consumidores". Seguramente são consumidores que pouco ou nada conhecem de vinho. O enólogo (conhecedor do vinho), o enólatra (adorador do vinho) ou simplesmente o enochato com conhecimentos medianos, todos eles são capazes de diferenciar um vinho ao apreciá-lo. Se mais ou menos, vai depender mesmo dos conhecimentos de cada um, e, em última instância, da litragem do apreciador. Pessoas que não bebem muito ainda não apuraram suficientemente o paladar (os que já beberam muito e não percebem as diferenças estão fora do universo amostral enólogo-enólatra-enochato). Aliás, o que pelo menos uma parte do pessoa que curte vinhos faz, por "brincadeira", é comparar dois ou mais vinhos, em sequência, cada um em uma taça, e não um após o outro. Mesmo comparar um vinho após o outro a diferença já é fácil de notar; usando-se várias taças ao mesmo tempo, torna-se óbvio ululante.

   Finalmente, embora não menos importante, há um detalhe em se fazer esse tipo de comparação: vinhos mais simples requerem pouco ou nenhum tempo de decantação. Vinhos mais complexos (justamente os mais caros), podem requerer. Será que a metodologia de avaliação levou isso em conta? Afinal, o que mais acontece em nossas "brincadeiras" é um vinho começar "atrás" do outro e, ao final de uma ou duas horas, terminar "na frente".

Conclusão

   É sempre uma boa notícia saber que um vinho de baixo custo fez sucesso em degustação às cegas. Estimula a concorrência, traz o debate mais ao rés do chão, mostrando para o iniciante que ele não precisa gastar muito para beber bons vinhos (não lá na Europa/Estados Unidos) e desmistifica um pouco a bebida (aqui no Brasil, pelo menos), além de deixar o assunto "na mídia". Daí para aceitar o produto mencionado como "um dos melhores do mundo" é outra estória.

11 comments:

  1. Logo postarei sobre um vinho de 11,50 que bebi...rs.
    Abração,
    Flavio

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  2. Vixe. Vinho de 11,50 aqui ou lá fora? Olha a diferença...

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  3. tanto faz... kkkk... é ruim do mesmo jeito!!!

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  4. Nem sempre... lembra daquele Leese-Fetch, da vinícola The Other Guys, que bebemos há algum tempo? Custou US$ 8,99; é um pouco mais que R$ 11,50, mas deu pau no Notas de Guarda. Tá, você pode não curtir muito o Notas, mas ele tem uma legião de fãs e custa a bagatela de US$ 36,00 no Chile...

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  5. Então, o preço deste de 9 doletas seria no minimo 40 aqui (chutando baixo), ou seja, o mesmo do Toro Loco. Mas daí bater vinhos 10 vezes mais caros é outra coisa. No caso do Notas, ele não me apetece mesmo. É muita madeira! E acho muito caro por 36 doletas. Vi o Gold Reserve da Carmen por 37 doletas no Paragua, e ele dá um baile. Mas realmente dá para apreciar vinhos bons por preços bons (lá fora...rs). O CARM, que tanto apreciamos, custa 9 Euritos. Só que chega bem caro aqui. Ah, a Wine vai trazer logo o Toro Doido. Eu vou comprar e botar em algumas degustações às cegas para ver como ele se sai...
    Abração,
    Flavio

    ps. Terça vai ter um "Loco", mas não Toro: Caballo... rsrs...

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  6. Claro, chutando baixo mesmo ele custará R$ 40,00 aqui. Até pode bater vinhos 10 vezes mais caros - escolhidos a dedo! (gargalhadas), sem entrar no mérito que um vinho de R$ 40,00 na média está "pronto para beber" e um de R$ 400,00 invariavelmente precisa de um serviço mais cuidadoso. Abrir o vinho de R$ 400,00 e servi-lo imediatamente certamente contribuirá para que ele não seja devidamente apreciado. Se esperar muito, o de R$ 40,00 pode até desaparecer, apesar de ser bom em um dado momento.

    O CARM realmente é bom, mas são 9,00 contra 3,50 (tá, euros contra libras, mas a faixa de preço é considerável, no mínimo o dobro). Não quero tirar o mérito do Toro Doido, quero sim tirar o mérito do comentário, que pode estar muito engado.

    A Wine trará o vinho? Ou já está a caminho? Hum... cheiro de reportagem "plantada" no ar...

    Em tempo: Carmen Gold Reserve por US$ 37,00? Alá, olha a safadeza rondando. Custa o dobro ou mais no país de origem... http://www.lacav.cl/index.php?seccion=tienda_vinos&subseccion=producto&productId=11080

    []s,
    Carlos

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  7. Ih, mas eu duvido que alguém consiga selecionar em um painel de uns 50 vinhos de 400 pilas, algum que não bata o tal do Toro. Vinho de 400 pilas é muita coisa! Aqui entra turma pesada (Brunello, Barolo, Chateauneuf, Supertoscanos, Borgonhas, Tondonias e mais uma turmona brava). Esse negócio do Toro loco é pura bravata! Então, vi o Gold Reserve por 37 doletas na Petisquera. Também achei muito barato, mas acho dificil falsificar um vinho desses, que nem tem tanta visibilidade assim. Era mais fácil tentar falsificar um Maximiano, Almaviva etc...
    Abraços,
    Flavio

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    1. Ah, e na Mistral custa uns 135 doletas. Pela conta que fazem, seria 67 no pais de origem. Muito barato mesmo esse a 37, se for bom...
      abs

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  8. Por partes.
    A proposta é bater alguns vinhos de até 400,00, e não os melhores vinhos de R$ 400,00. Na wine.com.br, Thomas Barton Reserve Privée AOC Medoc 2005, R$ 290,00 avaliado com... 88 Parker. Pode ser batido por um vinho de R$ 40,00 mais 'acertadinho'. Outro, Mantellassi Le Sentinelle Riserva 2005, R$ 260,00, 88 WS. Presa fácil (rs). Não descordo que a reportagem seja bravata, mas no mundo do vinho encontra-se de tudo, até vinhos de R$ 40,00 que batam os de R$ 400,00. Seria uma luta do tipo "os melhores de R$ 40,00 contra os piores de R$ 400,00", ainda que os de R$ 400,00 sejam safras ruins de vinhos bons; ora isso também pode acontecer. Resumindo: se escolher a dedo os caros (e principalmente os baratos), eles podem ser batidos por vinhos mais baratos. Na média? Me chama se abrir qualquer um de R$ 400,00, mas vou escolher se o convite for para beber qualquer um de R$ 40,00...

    Sobre o Carmen, não acredito em falsificação. Nem de Dom Maximiano; isso é coisa para Pavie ou acima (rs). E... custa US 50,00 (http://morrellwine.com/product_descr.php?pid=1658974) ou 44 libras (http://www.corkingwines.com/p95375/Carmen-Gold-Reserve-Cabernet-Sauvignon-2007-9-%286-bottles%29/c0-5056-5056), de modo que está caro no Chile (o que já não surpreende) e barato onde você comprou (também não surpreende): impostos mais baixos, frete menor, etc.

    Quanto ao Carmen ser bom... posso ajudar com uma avaliação que, garanto, será muito criteriosa...

    []s.

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  9. Então Carlão, só que esse francês que você cita acima é uma "d....". Da turma do B&G, ou seja, ruim prá dedéu. Custa 20 doletas em média lá fora, e tá caro! rsrs... E o Italiano, não conheço... Mas por esse preço, mando um Oreno, um Orma, um Giorgio Primo, um Il Blu, que vai ser baile total em qualquer Toro, seja ele normal ou Loco! rsrs...
    Quanto à uma possível falsificação, não podemos nos iludir! Descobriram que estão falsificando vinhos baratos também, não só icones... É "flórida"! Mas este Carmen, duvido... e estava barato mesmo...
    Abração,
    Flavio

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  10. Bem, eu não sabia essa estória da B&G. Aliás, cansei de encontrar vinhos deles por aí (risos!).

    De resto, você mesmo matou a charada com o link que me enviou e reproduzo aqui para os leitores; http://www.sommelierwine.com.br/toro-loco-tempranillo-2011-chega-ao-brasil-pela-wine.html?utm_source=Facebook&utm_medium=Redes%2BSociais&utm_content=Mural&utm_campaign=Posto%2BToro%2BLoco%2BTempranillo%2B2011

    Tudo parece indicar que a "reportagem" foi plantada! Está na cara; o tempo para importar um produto são meses, desde o primeiro contato, emissão de guia de pagamento, pagamento efetivo, embarque, desembarque e desembaraço. Sem falar na aprovação da Anvisa, se o produtor não tiver cadastro nessa Agência - e qualquer alimento precisa dela! Se os vinhos já estão a caminho, então tudo leva a crer que estavam comprados quando a "notícia" foi veiculada nos portais brasileiros.

    Como se diz por aí, mesmo? "É isso"!

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