Monday, November 26, 2012

Uma noite italiana, com certeza

Primeiro Ato: O Motivo e as Fontes

   Por ocasião de uma das despedidas de Raquel, que está de malas prontas para uma temporada nos EUA (vai ter que trazer vinho! - rs!), fizemos uma reunião temática, e chamamos a italianada. Compareceram o casal-20 Endrigo e Vânia, a Raquel e o escriba. Lá pelo final, chegou o Akira. E quem faltou terá de se contentar em ler a postagem...
   A Raquel passou em casa um dia antes e deixou um Brunello de Montalcino Val Di Suga 2005, da vinícola Tenimenti Angelini. Aqui começa a confusão. O rótulo é diferente do encontrado no sítio do produtor... que, por sua vez, também é diferente do rótulo encontrado na Wine-Searcher! Bom, muito cuidadosa, ela estava receosa com o serviço do menino, e pediu-me para cuidar dele. Sem muito mistério, abri a garrafa no dia seguinte, às 11:30. Peguei um dedo para provar: cheirando a água de rio e nenhum paladar, confirmava minha (pouca) experiência prévia com Brunellos; o vinho não era vinho. Deixei no decantador, guardei a taça na geladeira, devidamente tampada, e lá pelas 16:00 fui abrir um Barbaresco Castello di Neive 2006, da Santo Stefano. Sobre Barbarescos, e para quem se lembra da postagem, após supostamente passar por tolinho, também estava descolado; julguei que umas quatro horas no decantador estariam de bom tamanho. Na taça, o Brunello dava mostras da transformação. Às 20:00, voltei cada vinho para sua garrafa, não sem antes provar mais um dedal (rs) do Brunello, curioso. O milagre estava operado, e o vinho era vinho. Refrigeração em ambos, para saída às 20:30. Portanto, a primeira conclusão: não pense, leitor, que estará bebendo um Brunello se ele tiver sido aberto há menos de sete, oito horas. Estará bebendo alguma outra coisa, mas não um Brunello. E desconfie de degustações onde esse vinho respira (quando respira...) por duas horas. Se ele estiver bom, imagine como ficaria com mais tempo...
   Cheguei ao restaurante Gula e Cia 5 minutos antes dos demais - tempo para pedir e receber gelo e  sentar-me na direção do ar-condicionado. O casal-20 apresentou-se com seu Barolo La Marchesina 2006, da Vinícola Costanza. Indócil, a Raquel ainda apareceu com um Amarone Costasera 2007, da Masi Agricola. Estava armado o palco para uma catástrofe digna de se desenvolver ao som de Rigoletto, na voz  de nenhum outro que não o próprio Pavarotti.
Endrigo (esq.); acima, Raquel e Vânia; à direita, o escriba.

Segundo Ato: Os Vinhos

   O Brunello Val Di Suga, após 8 horas de decantação, apresentou-se bem: fruta evidente e sutis complexidades que escaparam a este deficiente nasal foram apontados pelos companheiros. Em nada o conteúdo anterior, antes do mistério da transmutação de água-de-rio para vinho se operar. Seus 14,5% de álcool, em harmonia com os taninos e boa acidez, evidenciaram um vinho estruturado. Final bom, mas não muito largo. O início fechado lembrou-me outro Brunello que pude apreciar desde a abertura; preciso ficar atento aos próximos para confirmar o padrão. Após seu desenvolvimento, um bom vinho, mas sem marcar. Se chamarem-me para outro, claro que vou. Mas arriscaria outro produtor, se tivesse de comprar um Brunello.
   O Barbaresco Castello di Neive 2006 mostrou-se pronto para degustar com suas quatro horas de decantação. Também 14,5% de álcool, também bem equilibrado, agradou mais que o Brunello e menos que outro Barbaresco que provei em agosto e mencionei no vínculo do Primeiro Ato. Fruta vermelha e alguma complexidade tornam o vinho fácil de beber, leve, ligeiro e sem grandes lembranças.
   O Barolo La Marchesina 2006, 13,5% de álcool, do qual eu já havia experimentado um exemplar nada menos do que detestável, apresentou-se mais adequado desta vez. Provavelmente fruto de decantação um pouco mais prolongada promovida pelo Endrigo, desta vez apenas não comprometeu. Apesar de comprado a R$ 70,00 (setenta reais!), o que é muito pouco para um Barolo (na média de nossos preços, bem entendido), está notas abaixo de outros vinhos que podemos comprar pelo mesmo preço em nosso mercado, sejam eles chilenos, argentinos ou mesmo italianos. Presentes alguma fruta e final curto, traço típico de vinho mais ou menos simples. Se pensam em abrir outro, "incluam-me fora desta" (rs).
   O Amarone Costasera 2007, 15% de álcool, bateu com outros Amarones que já experimentei, e para mim foi o melhor vinho do encontro. Fruta vermelha, chocolate (ou café? - rs), equilibrado, complexo, ótimo final. Vinho bom é assim, não tem tanto o que falar, é beber e se deleitar.

Terceiro Ato: Gran Finale

A comida forrava nossas barrigas, os nível das garrafas quase não descia, olhares desesperados cruzavam-se no ar em busca de mais... "inspiração", quando por volta das 23:00 chegou o Akira para ajudar-nos no abate. Confirmou algumas opiniões, deu outras e, exceto ele, todos os demais saíram dizendo ter apreciado bastante tantos Barbarollos, Barbarones, Brunellescos (sic!), mostrando a catástrofe do evento. Como diria o colega que não pôde comparecer, "É muito vinho!".

6 comments:

  1. Bem, Barolo de 70 pilas só tem o nome mesmo... Impossível ser bom. O Val di Suga, nunca me convenceu, e a safra não foi lá essas coisas na Toscana, ficando engavetada entre duas safras maravilhosas. Talvez isso explique um pouco o insucesso do danado. Aí o caminho ficou aberto para o Masi (que é um bom vinho) levar a parada. Ainda bem que a Raquel se redimiu...rsrs.
    Abração,
    Flavio

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  2. Flávio, obrigado pela explicação do Val di Suga. Os vinhos da Raquel foram comprador "de passagem" por alguma loja, talvez sem muitas opções. Daí, lembrar safra, etc...
    Mas, para quem conhece pouco, foi uma experiência a mais. Como dizem, "chegou agora e já quer sentar na janela?" (rs)

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    1. kkkkk... Então, vi dia desses um comentário em um blog sobre o problema do Barolo. As vezes a pessoa quer conhece-lo e começa pelo mais barato. O que acaba acontecendo é que detesta e nunca mais volta...rsrs. É como quem começa a jogar tênis e compra uma raquete de alumínio: Arrebenta os braços, cotovelos e ombros...rs. Por isso: "Big the Big" neles!
      Abraços,
      Flavio

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  3. Carlão,
    Acho sensacional essa tua disposição de decantar/aerar os vinhos por tantas horas.
    Não podem reclamar que não deste chance a eles de se revelarem kkk.
    Também estou sujeito ao "problema do Barolo" dito pelo Flavio.
    Comprei um "baratinho", vamos ver no que vai dar.
    Abraço!

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    1. Sim, é preciso aprender a curtir isso também...
      Boa sorte aí...
      []s,
      Carlos

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