Thursday, December 6, 2012

O Vinho: uma paixão para todos

   Desde o início do blog fiquei me perguntando quando eu começaria a misturar as coisas. Até que resisti bem, mas chegou a hora de juntar minhas duas maiores paixões mundanas: vinhos e livros. Antes, preciso mencionar: para minha surpresa(!), a lista de seguidores vem aumentando. Havia notado anteriormente, mas principalmente a última postagem não era aquela onde gostaria de ter tocado no assunto. Assim, bem-vindos Vitor, Hernani, Ariane e Paulo. Olhem, o blog é feito para minha diversão (risos!), mas para a de vocês também. O Vitor já deixou comentários, e estão todos convidados a tentar (gargalhadas), já que esta ferramenta às vezes complica a vida do internauta. E olhem que deixo tudo "aberto", qualquer comentário é publicado na hora. Se não quiserem escrever, divirtam-se da mesma maneira.

   Assim, esta postagem será dedicada à mais importante fonte de informação de que dispomos, principalmente pela sua confiabilidade. Aliás, muita "gente boa" da internet deveria ler um pouco antes de postar bobagens - em todos os assuntos, não apenas sobre vinhos. Ler recicla. E reciclar é preciso (continuamente!). E é nessa toada (reciclar é preciso) que acabei por consultar outros livros além do que comentarei aqui, para... poder escrever com conhecimento de causa! Tudo a seu tempo.

O Vinho: Uma Paixão Para Todos, de Paulo Augusto Almeida Seemann, com tradução e adaptação de Alfredo Terzano e Mariana Gil Juncal. Editora Senac, 266 páginas, 2010.



Foi assim que presentou-me o Flávio Vinhobão Henrique Silva, com um livro sobre o qual já havia lido boas referências. E pude confirmar outras resenhas: divertido, bem humorado e ricamente ilustrado, O Vinho, pela leveza e forma interessante de abordar cada assunto, é uma obra dirigida mais aos iniciantes do que aos iniciados. E, pelo bom humor, a diversão pode ser saboreada também pelos mais conhecedores, sem perda de paciência (rs). Vai então que sua indicação para um público de maior espectro tem sua razão de ser.
   Com a leitura desse livro e minha própria experiência em conversar com pessoas em degustações, acabei com a seguinte reflexão: mesmo quem bebe muito - mais no sentido de "sempre" do que de "litragem" - por si só não torna-se um conhecedor de vinho. Mesmo que seja uma turma. Fechada em si mesma, sem troca de ideias com pessoas mais "experientes" (no final, mais lidas!), é sempre difícil progredir. O leitor - ou a turma - poderá frequentar degustações assistidas (realizadas por um sommelier que realmente conheça, não esses que fazem cursos de 20 horas e recebem um diploma) e progredir de algum tanto. Mas, considerando que esse tipo de situação é bem eventual, a progressão acabará sendo lenta. Contra a ignorância, ler ainda é o melhor remédio.
   A leitura de O Vinho fez-me lembrar de situações que nós bebedores vivemos no dia-a-dia. Por exemplo, volta e meia em nossas degustações reaparece a questão: qual vinho beber primeiro, o "melhor" ou o "pior"? Como esse debate já foi levantado por mais de uma pessoa, inclusive, parti para uma leitura à vista armada sobre diversos detalhes do serviço do vinho. Cá para nós: como minha escola é a chilena, onde os melhores vinhos dos principais produtores são cada vez mais "pegados", sempre esteve claro que começar pelo "melhor" vinho teria o efeito de inibir a presença dos mais simples. Algumas pessoas também comentam, com alguma propriedade (assim eles pensam! - risos!) que após degustar alguma quantidade (e que pode variar de 200 mL a 350 mL - e então eu pergunto: por que não 1 L?), perde-se o paladar para degustar um vinho muito melhor do que os demais, daí ser melhor começar pelo melhor e depois os não tão melhores. Ok, esse é um argumento, embora eu sempre acredite que o pessoal é fraco de copo e queira ir logo para o melhor. Então vamos chamar os livros (e seus respectivos especialistas).
   Em O Vinho, p. 244, lemos: "A ordem do serviço dos vinhos: uma regra de ouro do serviço é que os vinhos sempre devem ser servidos por ordem crescente de importância". E continua: "Um grande vinho nunca é servido sozinho em uma refeição... ele precisa de coprotagonistas, ou seja, outros vinhos".
   Manuel Beato, no Guia de Vinhos Larousse (ei, lembram a estória de se reciclar? Pois, vamos às outras fontes), é claro: "A sequência do serviço: Em geral, vinho seco antes do vinho doce. Vinhos fracos, antes dos fortes. Na maioria das vezes, brancos antes dos tintos" (p. 32).
   Já em Vinhos do Mundo Todo - Guia Ilustrado Zahar,  encontramos: "Ordem do serviço: tintos leves antes de encorpados - os mais leves parecem ralos após um mais encorpado; vinhos de menor qualidade antes dos mais nobres", (p. 646).
   É assim que, amparado por boas referências, até um mané como eu pode pegar o boné e enunciar sua própria lei, para combater certos vícios dos colegas ao lado:
Vinho não é para fracos! (rs)
   Eu tenho certeza de que cada amante de vinho tem suas dúvidas, e encontrará nos livros alguma resposta que se aproxime das questões. Dentro desse contexto, O Vinho: Uma Paixão Para Todos, pode ser um bom ponto de partida. A conversa sobre vinho acaba aqui, mas se quiser uma dica, continue lendo.

Uma obra-prima em 130 páginas


O Ladrão e os Cães, de Naguib Mahfuz, L&PM. Abreviarei todos os elogios que a obra merece neste: o autor ganhou o Prêmio Nobel de Literatura de 1988. Ok, você pode dizer que às vezes o pessoal do Nobel pisa na bola, e eu sequer posso retrucar. Mas não é o caso, creia-me. Embora seja considerada um livro de ruptura dentro da produção de Mahfuz (não li as demais), o estilo é de uma simplicidade e ao mesmo tempo de uma riqueza que assustam o leitor mais atento (aquele que sabe apreciar tais detalhes). Não há comparação possível com um vinho, infelizmente, já que um vinho não pode ser simples e complexo ao mesmo tempo. Mas é um livro que merece o acompanhamento de goles esporádicos de um bom Barolo, ou de um Napa Valley bem típico enquanto acompanhamos a descida do protagonista, Said, ao seu inferno particular. Um romance psicológico de primeira linha associado a um thriller onde Said (o ladrão) procura vingança junto àqueles que o traíram (os cães). Como contei o enredo que é apresentado nas primeiras cinco páginas, o leitor ainda terá outras 125 para degustar. Boa leitura.




6 comments:

  1. Carlão,
    Não conhecia esse livro "O Vinho", vou dar uma olhada. Tb nessa tua sugestão "fora do mundo das taças".
    Olha, ando com uma mania de pinçar frases de um texto, e tenho feito isso muitas vezes em posts sobre vinho.
    Desse teu ótimo post colhi a seguinte:
    "Um vinho não pode ser simples e complexo ao mesmo tempo".
    Achei muito interessante, mas fiquei em dúvida. Será?
    Vou atentar para a questão nas próximas degustações, porque sinceramente não me recordo agora de um que contrarie essa afirmação.
    Abraço!

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  2. Oi, Alexandre, obrigado pelos comentários. Da forma como pensei no vinho, a simplicidade como mero oposto da complexidade, acho que não dá mesmo. Podemos ter um vinho simples mas elegante, por exemplo, mas simples e complexo acho um tanto difícil. Divirta-se com O Ladrão e os Cães.
    []s,
    Carlos

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  3. Carlão, valeu pelas dicas!
    Esse foi um ano pesado no trabalho, com correria o tempo todo. Espero que 2013 seja mais tranquilo.
    Faz tempo que não leio um bom livro. Já vi que vc entende bastante disso, então vou procurar os que vc indicou.
    Abs.

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  4. Vitor, obrigado pela passagem por aqui, e divirta-se!
    []s,
    Carlos

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  5. Carlão,
    Passando rapidamente pra agradecer pela companhia e desejar Feliz Natal e um ótimo 2013, com muita saúde, alegria e bons livros e vinhos a vc e sua família!
    Abração!

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  6. Vitor, obrigado pela lembrança. Espero que suas degustações em 2013 sejam melhores que as minhas. Aí em 2014 nós trocamos, tá bom?
    Abraços a toda sua turma,
    Carlão

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