Tuesday, December 25, 2012

Um post de Natal

   Depois da boa receptividade a algumas resenhas por parte deste dublê de escritor, abro a postagem já mencionando um trabalho literário. Não vou resenhá-lo, apenas recordar o leitor. Um pouco por causa da data, escolhi como título da postagem um que guarda similaridade com o título da obra. Muitos referem-se a Um Conto de Natal querendo dizer A Árvore de Natal na Casa de Cristo, de Dostoiévski. Assim como o Natal acontece todo ano, a humanidade deveria ter esta obra como leitura anual obrigatória; deveria ser lei em todos os países, ou pelo menos nos países sérios. Você, leitor ocasional, que chegou a esta página provavelmente por engano, siga o vínculo acima se estiver com pouco tempo, e deixe a leitura desta postagem para outra hora.

   Para quem voltou da leitura do curto conto de Dostoiévski, começo a rememorar uma conversa ocorrida há muitos anos, e que apenas há pouco começou a fazer sentido. Aproveitava-me da indulgência do Homero, proprietário da Adega Paratodos, em Botucatu, discorrendo sobre quão virtuosos eram os vinhos chilenos que eu costumava a beber: tarapacás (Leons!), reservados (sic) e outros, ao que o bom Homero atalhou com educação: - É verdade, mas se você pegar vinhos em uma faixa de preços mais elevada, verá que os vinhos sul-americanos não competem com os europeus. Minha pequena adega era então quase que só constituída por argentinos e chilenos, mais estes do que daqueles, onde só um eventual Periquita representava o Velho Continente. Confesso que demorei a prestar atenção aos vinhos europeus, primeiro pela impressão de que aquilo que nos chegava no preço dos chilenos citados não agradava, e quando era possível viajar para o Chile, trazia vinhos mais icônicos por preços razoáveis. Com o aumento dos preços no próprio Chile (vários ícones literalmente dobraram de preço em dólar), a atenção começou a recair sobre nosso freeshop, onde o cidadão precisa ficar muito atento para não acabar comprando um produto que custe o mesmo preço que em nossas ruas, e não precisa ir até a Santa Ifigênia para tanto. Foi assim que, mais ou menos na mesma época, acabei trazendo um Tarapacá Milenium 2005 e um Roquette e Cazes 2006. E na noite de Natal, sem ainda ter-me lembrando do Dostoiévski, mandei ambos para o abate.

Tarapacá Milenium: 14° de álcool, Cabernet Sauvignon, Syrah e Merlot, 13 meses em barricas francesas.
Roquette e Cazes: 15° de álcool, Touriga Naciona, Tinta Roriz e Touriga Franca, 18 meses em barricas francesas.


   Após decantar ambos por três horas, o Milenium mostrou taninos bem presentes - e não muito domados - bastante madeira, frutas e fumo. Mas a madeira estava por cima de tudo, querendo toda a atenção do degustador. Já provei Etiqueta Negras e Last Editions mais redondos. Final longo, mas sem encantar. Já o Roquette não: pouca madeira, no sentido de melhor integrada ao conjunto, frutas leves e algo lembrando chocolate. Apesar de mais alcoólico, mostrou-se muito mais redondo que o Milenium. Final igualmente longo com muito mais prazer e mais delicadeza. A grande questão, para mim, foi: como, apesar de tanta madeira, o Milenium não "matou" o Roquette? Darei um chute como possível explicação: As vinícolas chilenas têm em média 150 anos, enquanto a Quinta do Crasto está estabelecida desde 1615... tanta experiência deve fazer alguma diferença...

Ótimo descanso neste dia 25 de dezembro, preferencialmente acompanhados de bons goles!

2 comments:

  1. Pois é amigo Carlão... É como disse a Baronesa Philippine de Rothschild: "Produzir vinho é relativamente simples, só os primeiros duzentos anos são difíceis".
    Abraços e Feliz Natal!
    Flavio

    ReplyDelete
  2. Hoje é o dia da ambiguidade, então deixemos assim: "com essa explicação por quem entende, está fechada a questão" (rs).
    Feliz Natal atrasado, e avise da volta.

    ReplyDelete