Tuesday, December 16, 2014

Machado de Assis e o apê da Carol

Por ocasião da inauguração do apê da Carol, resolvemos fazer uma noite de pizza e vinho. O Akira sugeriu lançar mão de nossas reservas estratégicas, algumas garrafas que compramos em conjunto e mantemos justamente para essas ocasiões. Deixou a escolha por minha conta. Separei três:
Cartuxa Reserva 2006;
Xabec 2008;
Finis Terrae 2008.

O Cartuxa Reserva, segundo o sítio, é produzido com cepas comuns do Alentejo: Trincadeira, Aragonez, Alfrocheiro, Periquita, Moreto e Tinta Caiada. É lavra da Fundação Eugênio de Almeida, que tem por ícone o Pera Manca. Dizem os conhecedores, este último já teve seus dias de glória e preços compatíveis. Atualmente mantém o preço compatíviel com o passado, sem manter os méritos de antanho. O Cartuxa Reserva 2006 apresentou boa coloração, praticamente novo. Boa fruta e pouca madeira: a receita simples e sem mistérios para um vinho agradar o grande público. Algo como café (chocolate? - rs!) dá um toque elegante. Retrogosto agradável, boa persistência. É um bom vinho, mas não para a faixa de R$ 200,00. Não custa muito menos lá fora (encontrei a safra 2011 por 26,00 euros no Garrafeira Nacional), o que só faz aumentar (estender?) o receio de que o produtor já tenha deixado para trás seus melhores dias, e embarcado no famoso conto do "faz a fama e deita na cama".

Já o Xabec 2008 foi extensamente comentado antes; veja aqui. Para um vinho simples, estes seis anos não lhe fizeram mal. Duraria mais tempo; se não outros seis, mais três ou quatro com certeza. O tempo massacrou diversos vinhos brasileiros, sinal de que, se no marketing já estamos craques (os produtores estão craques...); na competência técnica ainda tempos muito a aprender. O Xabec 2008 ainda pode ser encontrado na Grand Cru e o preço atual (R$ 62,00) não alterou muito com relação ao de 2012.

O Finis Terrae custa por volta de R$ 58,00 nos EUA, R$ 67,00 (!) no Chile e R$ 115,00 no Brasil. No Chile, o preço varia entre 15.000 e 16.000 pesos, e minhas garrafas não peguei mais de 10.000 pesos, o que reflete um aumento de 50% a 60% do produto no mercado chileno. Cada vez mais tenho certeza de que nossos vizinhos estão perdendo a noção. Começo a gostar de termos a Bolívia e a Argentina entre nós e eles... vai que a "sem noçãozice" pega...

Bem, o Finis Terrae é um vinho premium da Cousino Macul, que tem por ícone o Lota. Já bebi diversas garrafas e em sua versão 2010 é um corte de Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah. Infelizmente a garrafa ficou no apê da Carol, e o sítio do produtor menciona apenas essa safra em sua ficha técnica. Mas sempre é majoritariamente Cabernet. A safra 2008 ainda mantinha boa fruta bem balanceada com madeira, diferente de alguns vinhos premium chilenos que tornaram-se depósito de goiaba. Não sei das safras mais novas. Eu tinha boa recordações do Finis Terrae: sedoso, redondo, um veludo mesmo. Bebi a primeira taça e estranhei um tanto. Nem tão redondo, nem tão aveludado. Experimentei novamente, e olhei para o Akira. Ele retribuiu o olhar e foi direto ao ponto:
- Não parece mais aquele vinho que estávamos acostumados, não é mesmo?
- Então... mudou o vinho ou mudamos nós? - comentei, sorrindo. A clara menção ao Soneto de Natal, de Machado de Assis, arrastou-nos por assuntos mais agradáveis do que ver um antigo ícone solapado por um concorrente da metade do preço.

Conclusão

Independente do meu gosto, a atuação dos bacantes em qualquer evento sempre diz tudo: o  vinho melhor acaba primeiro. O Cartuxa e o Xabec foram abertos quase ao mesmo tempo, e o segundo acabou em primeiro (sic).

Para o meu gosto (e bolso), ficou assim:  em primeiro, o Xabec. Seguindo de perto, o Cartuxa. Por R$ 115,00, o Finis de longe fica em terceiro. Se  for gastar R$ 200,00 e só puder escolher entre esses três, não hesite: leve 3 Xabec pelo preço de um Cartuxa. Ou leve um Cartuxa, e tente ser feliz pensando em 3 Xabec (rs). Com o Finis, não dá...
Desta vez não temos um redentor cercado pelos vendilhões. O vendilhão ficou de fora, já que a garrafa do Finis Terrae foi deixada na casa da Carol, com um tantinho no fundo.


10 comments:

  1. Olá, Carlão!
    Bom que voltaste à ativa.
    Bebi algumas garrafas do Xabec e com bom intervalo de tempo entre elas.
    E o vinho continua interessante e, como dizes, vai continuar assim por um bom tempo.
    Abraço!

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  2. Alexandre, obrigado pela visita. A grande dúvida com os espanhóis é experimentar mais do Xabec ou tentar outras alternativas. Gosto dele, mas vou arriscar outros.
    []s,
    Carlos

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  3. Carlão,
    Só posso imaginar que o Cartuxa Reserva 2006 que beberam estivesse aquém dos outros Reserva que já apreciei. Bem, a safra não foi lá estas coisas, mas esta linha é muito boa. Eu já bebi vários. No blog tem postagem sobre o 2005 e alguns 2007. Lembro também de ter bebido o 2008 e se não me engano ter provado o 2009 em uma degustação em Campinas. Todos muito bons! Sou fã dele. Para mim, fica muito acima do Xabec.
    Abraços,
    Flavio

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  4. Pois é, o Cartuxa não me convenceu, ou não foi o que eu esperava. Talvez a impressão pelo preço tenha pego no meu ponto nevrálgico (o bolso). O Akira não teve dúvida em colocar o Cartuxa em primeiro, com a ressalva de que não vale os R$ 200,00. Para o gosto dele, apesar de não valer, ele prefere 1 Cartuxa a 3 Xabec's. Ainda assim, o consenso foi que o Cartuxa foi seguido de perto pelo Xabec, indicativo de que a safra possivelmente tenha sido fraca mesmo.
    []s,
    Carlão

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  5. Alguns lugares vendem o Cartuxa Reserva perto de 200 pilas. Mas eu comprei por 145, recentemente, o que acho um bom preço. É um vinho muito regular, difícil não agradar. eu fico com o Akira: Não troco um Cartuxa meu por 3 Xabecs...rs.
    Abraços,
    Flavio

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  6. Eu entendo e respeito. Mas veja lá em cima, no título do blog: "Resmungos de um deficiente nasal..." a fruta mais pronunciada do Xabec e a boca quase tão boa quanto a do Cartuxa, além dos preços, nortearam minha escolha. Por R$ 145,00 é um preção, mas também não é a média do mercado, pelo menos segundo meus "registros mentais". De qualquer maneira, toda essa discussão me parece válida.
    Obrigado!
    Carlos

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    1. Mas aqui pode ter um viés, Big Charles, pois eu sou fã declarado do Cartuxa Reserva...rs

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  7. Ah, bom saber. Na próxima vc redime a honra dele, colocando um na mesa.
    []s,
    C.

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    1. Nada... Melhor beber sozinho, já que você não curtiu muito... rsrs. Levo um Xabec...rsrs

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