Thursday, December 4, 2014

Reflexão sobre as Análises Comparativas de Preços do Sítio Enoeventos

Enoeventos

   Enoeventos (como se todos já não soubessem) é um sítio organizado pelo sr. Oscar Daudt que conta com uma gama de colaboradores opinando e discutindo diversas questões e aspectos ligados ao vinho. A que mais agitou a comunidade, na minha opinão, foram as comparações, ao longo dos anos, dos preços de venda de diversas importadoras com relação ao mercado norte-americano. A proposta foi simples, embora o trabalho tenha sido insano: comparar o custo de diversos vinhos de uma importadora brasileira com o custo desses produtos no mercado norte-americano. Com um número mínimo de cotações do catálogo de uma determinada importadora, pode-se estabelecer uma média de quanto os preços praticados por ela estão acima dos preços do mesmo vinho vendido lá fora. É insano porque, imaginando 12 vinhos pesquisas por importadora, a 12 importadoras, chegamos a uma grosa de pesquisas, e o trabalho não acaba aí. Depois são necessárias todas as "contas" para estabelecer as médias e fazer a comparação final. Só por tal iniciativa o sr. Oscar já merece nossos parabéns; quanto ao restante das informações, o leitor novato poderá avaliar por si mesmo.

A última análise do Enoeventos

   Em sua sétima edição, a versão de setembro de 2014 traz a seguinte comparação:
Isso quer dizer que, teoricamente, se um vinho custasse US$100 nos Estados Unidos, seria vendido pelo equivalente a US$161,90 na Cellar, enquanto que custaria, provavelmente, o equivalente a assustadores US$373,80 na Ravin!

Comentando a margem dos americanos

Preços mundo afora

   Quem costuma comparar preços - como eu - já deve ter notado uma coisa "engraçada": é comum encontrar nos Estados Unidos, por "x" Dólares, um vinho que custe "x" Euros em seu país de origem (França, Itália, Espanha, Portugal). Ou seja: o vinho custa 10 Euros na Europa e é vendido por 10 Dólares nos EUA.
   Como pode?
   Os impostos - sempre eles! - explicam uma parte. Enquanto sua média é de 20% (vinte!) na Europa, não chegam a 10% nos EUA. O mercado americano é disputado por todos, dado seu tamanho. Finalmente, é um mercado competitivo; as lojas brigam forte para apresentar preços razoáveis.

A rota do vinho

   O vinho sai do produtor e vai até o porto (frete 1). Do porto, vai até a costa americana (frete 2). Depois, vai do porto americano ao importador (frete 3). Finalmente, do importador aos lojistas (frete 4). Não é de estranhar que seja assim na maioria das vezes, quando falamos da importação do produto de fora das Américas até sua entrada no continente, seja América do Sul ou do América do Norte.
   Com todo esse movimento, o vinho chega aos EUA pelo preço "x". Bem, claramente esse não é o preço pago pelo importador norte-americano. Temos os custos de frete, e custo de venda do produtor e o "lucro" do vendedor. Precisamos de um parâmetro para estimar o preço original de uma garrafa que entra na cadeia descrita acima. Esse custo eu vou tirar da cartola. Nem tanto da cartola, porque conversei com pessoas que precificam esse tipo de negócio. O que podemos dizer é que, aproximadamente,
O preço pago pelo produto é a metade do preço pelo qual ele é vendido no mercado norte-americano, pelo menos para esse segmento.

Uma atroz conclusão

   Pensemos no custo apenas em Dólar, para facilitar as contas. Um vinho de 10 Dólares no mercado americano deve ter custado, no máximo, 5 Dólares quando comprado junto ao produtor. Sobre esses 5 Dólares incide o custo da "cadeia" (fretes, lucro repartido entre importador e distribuidores) e o vinho chega ao consumidor por 10 Dólares. Pergunta: isso é "apertado" ou é apenas o "mercado"? A pergunta é acadêmica. O pior está por vir.
   Se o comprador americano paga 5 Dólares por um vinho "x", responda-me o leitor incauto: quanto paga o comprador (importador) brasileiro? À resposta de que de repente paga mais porque compra menos, posso retrucar que, quase invariavelmente, as melhores safras (ou as mais pontuadas) são encontradas no mercado americano, e não no brasileiro. Então os compradores brasileiros passam por autênticas bestas, porque pagam mais por safras piores. Não acho que nossos importadores sejam bestas, muito pelo contrário (embora isso não seja lá um elogio). Sem melhor argumento, estou dizendo que o importador brasileiro paga a metade do preço que vemos nas lojas eletrônicas americanas. Vai daí que que devemos multiplicar o Índice de Divergência de cada importadora por dois para saber quanto ela tem de "lucro bruto", se podemos chamar assim. Multiplicando o índice da Cellar, aprox. 62 x 2 = 134%. Não está fora, visto que, desse valor, pouco menos da metade são impostos (e os preços que vemos na Internet são apresentados sem impostos). Dá para perceber que, mesmo com a margem praticada pela Cellar, ser importador de vinho no Brasil é melhor negócio do que nos Estado Unidos.  O que dizer da posição dos últimos colocados dessa lista?!

A tabela ilustra por quanto, em média, a importadora vende o vinho mais caro do que no mercado norte-americano. Fonte: sítio Enoeventos.

   É necessário enfatizar que o trabalho do senhor Oscar não está errado. Ele está corretíssimo, dentro da premissa proposta: comparar o preço do produto no mercado americano com o mercado brasileiro. O olhar que ofereço aqui é dentro do bolso do importador brasileiro. É claro que eles são livres para praticar as margens que acham razoáveis. Da mesma maneira que eu sou livre para escolher qual vinho comprar, e de quem.

Peroba neles!

   Para mostrar como se faz (rs), o sr. Oscar ainda cometeu (sic) a abertura de uma importadora no próprio sítio do Enoeventos. Para quem ainda não passou por lá, a loja está aqui. Fui analisar o preço de dois dos vinhos dele (querem um  trabalho melhor? o link lá de cima!). Pasmem.

Ferraton Cornas Les Grands Mûriers 2009
Preço Enoeventos: R$ 212,10
Preço nos EUA   : R$ 145,10

Ferraton Crozes-Ermitage Le Grand Courtil 2009
Preço Enoeventos: R$ 197,10
Preço nos EUA   : R$ 107,01

Está certo, encontrei o vinho em poucas lojas nos EUA para fazer uma média (na verdade, encontrei cada vinho em uma só, e lojas diferentes). Quem conseguir resultado melhor, por favor, comente.

Ah, como se diz por aí, mato a cobra o mostro o pau:





   Aí eu me lembro de que quem escolhe meus vinhos sou eu - e não quem os importa. Ainda não passei na loja do sr. Oscar, e vejo nisso uma certa sensação de urgência. Bem, o Natal está chegando.

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