Sunday, June 14, 2020

Hedges Family Estate CMS 2010

Introito

   - Pega esse americaninho...
   - Tá trinta dóla... lá fora custa  12...
   - Mas por 90 'conto' dá para experimentar. Vai logo...
  Assim o vinho que custava a preço normal 5x o preço 'lá' era ofertado em uma queima: 'apenas' 3x o preço no mercado norte-americano. Pragmático, o Akira defendia que o preço aqui, R$ 96,00, era razoável para pagarmos e experimentar algo diferente. Eu entendo essa conta. Apenas tendo a não concordar com ela quando estou comprando para mim. Ela limita-me? Naturalmente. Ainda assim, sobra 'um monte de coisa' que posso comprar e aproveitar melhor meu suado e pouco dinheiro, maximizando a qualidade da compra. Desculpem-me os puristas endinheirados se a (minha) pobreza os ofende... (onde estão aqueles emojis pornográficos mesmo? Tinha um com um dedo em riste bem a propósito...😂).
  Daí que compramos duas garrafas. A última, dado que o Akira converteu-se em completo abstêmio, estava sobrando aqui na adega e acreditando em sua imortalidade. Aí chegou o Covidão...

Columbia Valley e as AVA's norte-americanas

   Não sei se já comentei aqui... a AVA americana é o equivalente ao sistema AOC francês. AVA significa American Viticultural Area, o que, para nossa sorte (rs), na tradução vira uma nova AVA, a Área Vitícola Americana... Inicialmente as AVA's eram poucas e concentradas nas costas, mas o business cresceu a ponto de hoje praticamente todos os estados norte-americanos produzirem vinho. Algumas são relativamente pequenas, enquanto outras atingem tamanhos quase galáticos... veja aqui.
   Columbia Valley é parte do Oregon, hoje famoso por produzir os Pinots mais parecidos com os da Borgonha. Não à toa, diversos produtores franceses abriram uma filial por lá. Mas nem só de Pinot vive o Oregon...

Hedges Family Estate

   Sob o 'singelo' bordão de Where soils meets soul, a Hedges produz vinhos nas AVA's de Columbia Valley e Red Mountain. Planta boa variedade de cepas: Syrah, Mourvedre, Counoise, Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc, Malbec, Petit Verdot, Chardonnay e Sauvignon Blanc. Seu sítio é bem estruturado, mas não mantém fichas técnicas de safras mais antigas. Mas é bonito, tem belas imagens e filmes da região.

CMS

   CMS é o nome do vinho e indica o corte que o forma: Cabernet (Sauvignon), Merlot e Syrah. Nesta safra, foi respectivamente 48%,40% e 12%. No início - comecei a beber quase uma hora depois de aberto - a baunilha escorria pela borda da taça. Mas como acontece em vários vinhos americanos, com o tempo ela foi baixando o tom, e apareceu mais fruta, evidentemente vermelha. Um tanto de café ou chocolate amargo, mas ainda sob o reinado da baunilha. Acidez presente, sem marcar muito. Um travo doce que baixou com o tempo. Taninos bem suaves agora (com 10 anos), final razoável - quase médio (rs). Poderia ser melhor, mas... se pensar que era um vinho de 12 dóla (atualmente, no sítio do produtor, USD 14,00)...
   No dia seguinte - sim, teve segundo tempo - a baunilha e o doce sumiram. Continuou a fruta bem aparente, e a boa continuou boa. É realmente um vinho ligeiro na boca. Não compromete. Não decepciona. Bem, pelo preço, decepciona um pouco...
  Então aqui uma parênteses. O cidadão norte-americano, um professor do 'ginásio' - lembra do Breaking Bad e das contas do prof.  Walter White acerca de seus proventos?- recebe por salário cerca de USD 3.500.00 dóla. Dá 3.500 moedas no bolso dele, a cada mês. Ele que se vire nos 30 para viver sua vida por lá. Aqui, um professor em posição equivalente recebe algo como... 2.000 moedas? Tá, o Walter White gastaria 14 moedas para beber um CMS, enquanto um professor brasileiro gastaria cerca de 160 moedas para beber um Miolo Lote 43 - wow!, estava quase 280 moedas até outro dia... Olha, mais um corte de zero e o Lote chega a preço razoável. Mas voltando... Por 14 moedas, é um vinho alegre. Diverte: não tem o compromisso de ser tão bom, e aí sim, nesse contexto, ele entrega o que promete. Saí à procura de um equivalente em preço por aqui... Pelas 15 moedas - atenção, em promoção por 10,5 moedas! - o consumidor brasileiro encontra um Aurora Country Wine. O preço de um Sangue de Boi é similar, uns R$ 12,00 (bem comprado). Parênteses longo, heim? Espero que esclarecedor...

   O vinho acabou no importador. Havia escrito 'infelizmente', mas pela margem média dos produtos ofertados pelo ele acho que ficaria fora de contexto. CMS estava listado na última promoção, mas terminou por esgotar e não consegui obter o preço. Com o dóla a R$ 3,25 (data da compra), custava R$ 96,00. Bom, na faixa de R$ 150,00 (este R$ 150,00 seria o preço presumido para as últimas garrafas com dóla a R$ 5,00 e levando em conta alguma promoção), o leitor pode procurar outras opções em postagens recentes deste blog. CMS é um vinho legal... mas acho que encontramos escolhas mais... sérias... se o leitor me entende. Lembro a reflexão de Don Flávio: às vezes compramos em 'promoções' e pagamos a mesma margem que outros importadores cobram durante o ano todo sem promoção. Existe vantagem em comprar dessa turma? Cada vez mais me convenço de que a melhor opção é privilegiar importadores que trabalham com margens menores e nos vendem barato o ano todo.

   Cuide-se. O Covidão está à solta. Aqui em casa acabou de proporcionar uma fatalidade... É lamentável ver nossa população relaxando nos cuidados básicos ao primeiro sinal de volta à 'normalidade'.

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