Saturday, December 26, 2020

O meu vinho foi melhor!

Introito

   - O que você acha do Erasmo Carlos? - perguntei a certa altura.
   - Vôzão... - li a resposta no uatizápi
   - Tá certo, você é da geração ABBA, e sua grand trip é 'Dancing Queen'... combina mesmo... sou fã do Tremendão, e minha música é 'Pode vir quente que eu estou fervendo'...
   Recebi uma imprecação - seguramente mais pelo 'Dancing Queen' - enquanto o Akira mandava um emoji de sorriso escancarado. Estava lançada a provocação e com certeza Don Flavitxo a comprara. Agora eu precisava me cuidar... Don Flavitxo quando impreca (sic! rs!) é osso duro... Desci para adega, comecei a olhar até bater o olho nele. Estava fechado o meu representante no combate. Horas depois, mas antes do encontro, lançaria a provocação final, na forma de uma foto.
   - Hi, tem até cristais... - veio com a conversa Don Flavitxo.
   - Não são cristais, estúpido. São diamantes! 😂 - Fiquei sem resposta... não entendi porque...

Produtores, safras...

   Bebedores de vinho são gente boa. Ou costumam ser. Flavitxo e eu, decididamente não. Um olho no produtor, outro na safra, outro no preço(!😶) sempre tentamos - ele consegue com mais sucesso - maximizar a qualidade das compras, aqui ou . Pseudocolunistas nacionais pretendem que você não olhe a safra de uma garrafa de vinho. Dizem que uma safra pior não necessariamente produz vinhos ruins, apenas faz com que o vinho fique pronto para o consumo mais cedo. É verdade. Só não te contam que o importador compra o lote por um punhado de dóla a menos (sic), e quer vender aqui, já com a margem exorbitante, ao preço de uma boa safra . Vivo dizendo que importadores são energúmenos. Cuidado com eles; não pensam duas vezes para tentar tirar seu couro. E riem amistosos para você. Apenas ria de volta, e não permita... Voltando... Algumas safras são melhores. Produzem vinhos que precisam de mais tempo para se desenvolver. E, claro, além de gerar vinhos mais longevos, os geram melhores. É preciso ter paciência para esperar o vinho atingir sua idade madura, ou pagar mais caro e comprá-lo amadurecido. Os avaliadores produzem e publicam tabelas de safras aos montes. Uma googada pode apresentar as principais do mercado. Uma que gosto está aqui. Outra opção, até mais completa, está aqui.
   'Produtores' são mais complicados. Porque existem aos milhares, dos bons aos ruins. Como reconhecê-los? Indo a degustações - daí a importância que sempre prego do lojista local, que promove degustações para o cliente conhecer os vinhos, principalmente os mais caros, antes de comprá-los. Tá certo, muitas degustações limitam o preço dos vinhos ofertados. Já fiz milhares de sugestões (sic) com fórmulas mirabolantes onde as pessoas teriam a oportunidade de experimentar algo melhor em algum encontro. A Mercearia 3M chegou a adotar a proposta, uma vez... Voltando (rs)... a outra maneira é acompanhar de perto seu blog preferido, ler e tirar as conclusões. Bem vindo, amado leitor, a estas humildes páginas que o recebem de braços abertos...
Don Flavitxo chegou com um produto das Bodegas Muga. Sediada em Haro, La Rioja, Espanha, é um produtor conhecido e respeitado. Produz boa gama de vinhos, tintos, brancos, rosés e cavas, e os tintos são variações do corte riojano. Em sua safra 2014 (única disponível no sítio do produtor), Prado Enea Gran Reserva é composta por Tempranillo, Grenache, Mazuelo (Carignan) e Graciano. Até onde saiba, a Grenache não participa do corte riojano típico. Seu exemplar era da safra 2005, muito boa na região. E, como tal, a sugestão de guarda por mais tempo é óbvia. Tinha cor escura, não denotava a idade; nariz com excelente fruta negra, muito marcante, algum tostado. Boa complexidade. Em boca (gostou? última vez...), acidez média, compatível com o corpo, muito equilíbrio com os taninos. É um vinho multicamadas, bebi poucos assim ao longo da vida. Evoluiu no tempo em que ficamos a degustá-lo. Achei melhor que o Torre Muga, que também experimentei nessa mesma safra, algum tempo atrás. Seu preço é um pouco alto lá (80 dóla) e pouco convidativo aqui (1000lão). Por 80tinha, é boa compra - nem tanto com o dóla salgado atualmente.
   Do meu lado, compareci com Podere San Luigi Fidenzio 2001, um supertoscano bordalês corte Cabernet Sauvignon-Cabernet Franc. Nariz com muita fruta - vermelha, sem dúvida... negra também? -, e mais complexidade. Anda tem um belo frescor. Chocolate ou café? Baunilha? Não consegui distinguir, mas percebe-se que existem camadas e camadas de toques que um bom nariz poderia desvendar. Boca bem agradável: com 19 anos, os taninos estavam devidamente amaciados, muito integrados ao conjunto da obra. Corpo médio, acidez presente, bom retrogosto, persistente. Comprova (mais uma vez) que a Itália não está restrita às suas (dezenas) de cepas autóctones, produzindo também ótimos vinhos de cepas internacionais e reforçando assim sua posição como o segundo melhor produtor de vinhos do mundo. Pelo que custa lá fora (cerca de USD 55,00 para safras mais novas, e USD 120,00 para esta safra 2001), é uma ótima opção em safras novas, principalmente por não ter representante por aqui. Quando comprei, paguei por volta de USD 50,00... 10 anos atrás...
   Don Flavitxo passou um bom tempo falando de Podere San Luigi Fidenzio: a cada rodada, novos comentários. Por minha vez, teci rasgados elogios a Prado Enea Gran Reserva. Merecidos, diga-se. Corria tudo bem, até o inevitável. Akira vira e pergunta, de supetão: - Mas qual vinho é o melhor? Foi a deixa para Don Flavitxo encarar-me nervoso e receber um olhar fulminante de volta. Cada um pegou sua taça com o vinho que oferecera, ergueu-a acima da cabeça e bradou em alto e bom som:
   - O meu vinho foi o melhor!

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🐭 Rata!
Alertado por Don Flavitxo, escrevi que 
   Até onde saiba, a Grenache não participa do corte riojano típico.
Ledo engano. Só poderia estar bêbado - o que, em se tratando de postagens, não é novidade nem surpreendente. É justamente o contrário, participa sim! Mas não explica nem justifica tamanha rata. Peço humildes desculpas ao leitor por tão descabido erro.

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