Tuesday, December 1, 2020

Perbruno, Perbacco, Percristina... Pela Madona...

Introito

   Vivo a denunciar as bizarrices do nosso mercado. Invariavelmente, o preço praticado por alguns energúmenos importadores é o arroz-com-feijão, o dia-a-dia. Não pense o leitor que tenho algum prazer mórbido nisso. Jamais. Chamo de exercício da cidadania. Vou apontar outro detalhe. Vamos lá, leitor, faça um esforço e responda: quantas mensagens de 'pré-bléqui-fraidi', 'esquenta', 'bléqui antecipada' e que tais você recebeu... desde outubro?(!) Não bastasse, quantas você ainda recebeu depois da bléqui, com os títulos 'úrtima xanxe' (sic) 'prorrogou!', 'extensão', e outras? É assim que os calhordas de sempre vão tirando uma da cara do tolo consumidor brasileiro (é tolo porque não aprende): vão dando algum desconto reba para o que está absurdamente caro, esticando a 'oferta', ameaçando que vai acabar (e olha que nunca acaba...), avisando da última oportunidade, etc., literalmente ad nauseam. Aí, em dezembro, por causa do Natal, começa tudo novamente...
   O leitor sabe como é 'la'? Eu conto. Tem 'bléqui'? Em vinho?(!). Olha, até tem. Tipo... o frete é 'di grátis' (para pedidos acima de 300 dóla, claro. Se a 'promo' é boa mesmo, vale para qualquer valor. E convenhamos que 300tão dá pra comprar umas 4 caixas de vinhos algo razoáveis. Haja frete!). Acabou a sexta-feira-bléqui? Acabou as promo (sic). Não comprou? Sifu... sábado voltou tudo ao normal. Vejamos... compare o teor das msgs enviadas pelos gringos e aquelas enviadas pelos vendedores nacionais. Havia feito uma seleção inicial, mas a coisa continuou na sequência, então fiz uma colagem. E olha que sem querer descartei algumas propagandas.
   Viu? Enquanto lá fora as coisas voltam ao normal, aqui continua a festa. É um desdém. Vai continuar, enquanto os tolos derem trela pra essa turma.

* * *
   Sobre minhas impressão das 'bléqui', escreveu-me o Jairo, personagem regular em postagens desde algum tempo (recente). Acho que disse aqui: conheci-o por um interesse momentâneo em café, quando ele 'só' tinha as lojas do Shot Café. Bom tempo depois, ele comprou - mais pela localização, parece-me - a loja onde já estava instalada a Vinho e Ponto, abrindo outra loja do Shot, e agregando também chocolates finos e vinhos. Bem, ele escreveu para comentar minha percepção dos preços da Vinho e Ponto. Está nos comentários da última postagem, mas achei por bem trazer o assunto à seção principal nesta postagem por dois motivos:
   1. Uma questão de honestidade para com o leitor. É uma loja que tenho frequentado e participado de confraria. Para os detratores, pode parecer que isso talvez influencie em meu julgamento. Ledo engano, nada mais errado.
   2. Mais importante, o comentário dele traz argumentos que explicam os bons preços dos vinhos atualmente - a loja ainda tem pecha de careira. Não é que todos os vinhos estejam com ótimos preços - alguns não mesmo(!), e até comentei aqui - mas diversos preços 'regulares' são ótimas compras em suas respectivas faixas. Os Torre Oria tintos, por exemplo, estão a preços bem justos. Não comprei uma caixa nesta bléqui porque estou com muitas garrafas na adega. Mas comprei um exemplar em outra promoção recente - não foi 'esquenta' nem nada, foi parte das promoções mensais da loja  - e, para não deixar passar em branco, a título de bléqui arrematei duas garrafas de Porto que saíram a... R$ 65,00 cada. Portos simples. Mas a R$ 65,00? São meus...

   Estendendo este ponto 2: o argumento apresentado é que a franquia Vinho e Ponto passou de 10 lojas há 4 ou 5 anos para mais de 30 lojas atualmente, diluindo custos operacionais e aumentando o fluxo de vendas. Se for assim, isso não é apenas ótimo, é muito bem vindo. Já escrevi em algum lugar: sempre apoio o lojista local, porque é ele quem pode prover-nos degustações e a tão desejada interação entre interessados pelo vinho (não em época de pandemia, claro). Mas o lojista local também precisa fazer a parte dele, oferecendo vinhos interessantes a preços atraentes. Já fui a degustações em outras cidades - e continuarei indo, quando possível - mas bolas, onde é mais fácil degustar um vinho? Na sua cidade ou viajando para outro lugar, nem que a 'apenas' 40 km de distância? Tem que pegar uma van, pagar motorista, ficar à mercê do grupo... não é uma chatice, é apenas o 'custo' de fazer dessa maneira. A outra é ir por conta, ficar em hotel, arcar com esses custos.
   Continuo sendo fiel a meu leitor e digo que, tendo a franquia Vinho e Ponto alcançado um número significativo de lojas - é a segunda maior cadeia de vinhos da América do Sul(!) - passa a ser sua obrigação o oferecimento de boas oportunidades para os clientes. Já não é possível contestar ou argumentar o contrário, uma vez que a tão almejada escala parece ter sido alcançada. Preciso fazer uma pausa e aplaudir os clientes fieis de Vinho e Ponto de todas as cidades ao longo dos anos - fui apenas um cliente eventual, comprando praticamente nas ofertas - que permitiram à franquia chegar a essa posição de destaque. E agora, com o direito do cidadão, venho cobrar a manutenção desse estado de coisas. Menos, não será aceitável. Desculpas, o tal do 'mercado' consegue gerar, às miríades. Desculpas, como tais, serão sempre rebatidas. É fácil, basta argumentar... mas o que espero, mesmo, é trazer boas notícias da franquia em eventuais postagens. Como sempre, vou pagar por todos os vinhos apreciados ou degustações das quais possa participar. É um ponto de honra, sem o qual o leitor não pode tomar este blog com a seriedade pretendida.

Vietti Perbacco 2007

   Vietti é um produtor do Piemonte. Suas raízes remontam ao Século 19, embora tenha despontado na segunda década do Século 20. É mais conhecido por uma gama de diferentes Barolos provenientes de vinhedos únicos (Castiglione, Lazzarito, Brunate, Ravera, Riserva Villero), além de Barberas, Arnéis (branco) e um 'modesto' Nebiollo. Normalmente um vinho mais simples da vinícola é dito 'Nebiolo', a indicar que é feito com a mesma uva dos Barolos. Não surpreenderia se suas uvas forem o descarte das uvas usadas para produzir seus 'barolões' - tudo que é uva vira vinho, assim como tudo que é sólido desmancha no ar... Aí você escolhe entre pagar '80,00' por um barolão ou menos de 30,00 por um vinho que sim, é inferior, mas está entre uma das melhores relações custo-benefício do produtor. E 2007 parece que foi uma boa safra...
 
Vietti Perbacco 2007 abriu fechado (sic), e com evolução apresentou fruta um pouco discreta, atropelada (depois que abriu) por couro e algo tostado, como bem disse o Ghidelli. Boa boca, alguma especiaria, flertando com chocolate/café/couro (qual deles? - rs), taninos bem presentes, acidez marcada, bom final, boa permanência. Curiosamente seu preço por aqui está bom - precisa procurar, mas encontra, e por 25 dóla é felicidade engarrafada na certa. Casou bem com a tradicional pizza de pepperoni - a picância desse potencializou bem o tanino e a acidez do vinho, fazendo bom par. Até que durou bem: foi degustado ao longo de quase três horas - abrimos apenas uma garrafa, e foi a conta: com 14% de álcool, deixou-nos alegres o suficientes para um domingo à noite. Vinhos italianos muitas vezes trazem esses nomes estranhos: Perbacco, Perbruno, Percristina... Baco sabemos quem foi. Mas e o Bruno? E a Cristina? Quem são, ou foram? Pela Madona...

Resenha de filme

Dei muita sorte, ao assistir dois filmes de boa qualidade praticamente em sequência. Após The Blackout, veio Suspect X (2008). Exemplar do cinema japonês, e não é da minha vertente preferida, a ficção científica, Suspect X é um policial com trama digna de Hitchcock (para quem sabe quem ele foi...). Embora seja uma estória independente, está no contexto do seriado Galileo. Essa estória está bem explicada aqui. O cartaz entrega um pouco a trama: Detetive Galileo versus o Gênio Matemático (sic). Um recatado professor de matemática, com uma quedinha pela linda vizinha Kô Shibasaki, resolve ajudá-la quando ela, em legítima defesa, mata seu ex-marido que um dia aparece para extorqui-la. No direito ocidental legítima defesa é um motivo que conduziria à absolvição. Não sei como é no Japão, porque a preocupação de Kô é com sua praticamente certa condenação. A trama segue, e algo começa a dar errado quando o detetive encarregado de um assassinato conecta o corpo desfigurado, sem impressões digitais, justamente com o marido de Kô, e chega a ela, levando-a a depor assistida por um detector de mentiras. Como ela vai passar pelo interrogatório, e qual o desfecho do filme, é o que convido o leitor a descobrir por si, assistindo a esse bom drama e ótimo policial.

2 comments:

  1. Mais uma boa postagem, Big Charles!
    O Perbacco é um vinho que gosto muito. Costumava bebê-lo bastante. Faz tempo que não aprecio um. É um mini-Barolo (se é que isso existe...rs). Seria o análogo ao
    Rosso di Montalcino em relação aos Brunellos. E com certeza, bate muito Barolo meia boca que ronda o mercado.
    Quanto à resenha, vou procurar o filme.

    Abração,

    Flavitz

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    1. FLavitz, obrigado por mais essa (visita).
      Não consegui identificá-lo como um mini-Barolo. Falta de milhagem, claro... Mas sim, poderia bater Barolo meia boca... não é culpa deste, mas mérito daquele...
      Assista ao filme. É uma boa diversão.

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