Sunday, December 6, 2020

Quando as coisas ficam Rosso

Introito

   Na postagem de ontem mencionei escolher um vinho mais direto, de serviço menos complexo, e dei um xô nos italianos. Tem coisas que ficamos ensaiando e nunca ganham luz em meio a tantas divagações. Vai agora: nada é absoluto no mundo do vinho. Vejamos: A uva tinta da Borgonha é a Pinot Noir. Mas tem a Gamay ali em Beaujolais. As cepas brancas da Borgonha são a Aligoté e a Chardonnay. Pois na AoC de Saint-Bris produzem bons Sauvignon Blancs. Tomei dois exemplos da Borgonha de propósito: já é uma região minúscula, e ainda assim as generalizações não se aplicam. Mais uma: Os vinhos da América do Sul não prestam. Principalmente os do Brasil. Pois é, toda, mas toda mesmo, toda regra tem exceção! E atualmente outra regra tem valido para a região: proporcionalmente, são os vinhos mais caros do mundo. É assunto para outra hora.

Rosso de Montalcino

   Voltando ao foco, o serviço dos italianos. Eles são os que mais surpreendem, e a Noite dos Barolos Sanguinolentos (sic) demonstrou isso. Não com os Barolos, que foram devidamente aerados, mas com o Nemorino, vinho mais simples da I Giusti & Zanza. Muitos Chiantis são vinhos bem diretos. E, também da Toscana, o Rosso di Montalcino, tido como irmão menor do Brunello, costuma ser (olha o grifo...). Ambos são 100% Sangiovese, mas o tempo para envelhecimento tanto em barrica como em garrafa é menor no Rosso. Não sei se o processo difere. Muitas vezes, em safras difíceis, produtores preferem lançar apenas o Rosso. Note-se que isso vai do produtor. Existem casos em que o produtor iniciou o processo como Brunello, mas ao perceber que o produto final ficaria aquém da expectativa, acabou por lançá-lo como Rosso. Isso pode fazer-nos supor que um Rosso será sempre inferior a um Brunello. Só que não (rs). Novamente, vai do produtor (claro, da qualidade do vinhedo, do processo, etc.). Um bom produtor que faça seleção das uvas destinadas ao Rosso, cuide do processo, capriche mesmo, pode  produzir um vinho melhor do que muitos Brunellos. Como sair dessa sinuca de bico, digo, como saber se um Rosso é um bom vinho? Conhecendo os produtores. Confiando no vendedor (aqui na Latrinamérica (sic), esquece). Acompanhando seu bloge(iro) do coração e ficando atento às maravilhosas dicas que ele possa te passar... 😎 sim, é a melhor opção...😂

Mocali Rosso di Montalcino 2013

Mocali é um produtor com vinhedos nas colinas centrais da Toscana e também na região costeira, em Maremma. Seu Rosso, claro, é produzido na primeira zona. Aerado por meia hora, acompanhou um bifão e as impressões são de duas horas depois de aberto. Nariz com boa fruta vermelha - não costumo pegar, mas deu a impressão de cereja. Algo na direção de couro. Ainda sou verde para reconhecer Sangiovese. Mocali tem acidez bem presente, bons taninos, 13,5% de álcool bem integrados. Marca a boca toda; tem um leve dulçor, o final é um pouco curto. Para o padrão europeu, claro. Mas também queria o quê? Por um preço médio (EUA) de USD 18,00, é uma ótima compra; se o final fosse longo, pelo conjunto da obra valeria o dobro... A safra 13, mais rara, sai por USD 22,00. Por aqui, está esgotado na Casa do Vinho, onde a safra '14 (última disponível) foi vendida a R$ 164,00. Por estar bem representado aqui, notamos que é(era) uma ótima compra. Destroçaria sul-americanos do dobro do preço sem muito esforço. Não porque seja um vinhão (que é), mas porque de fato os sul-americanos estão muito, muito caros. Olhando o nosso consumidor pagando o que paga por certos vinhos, e transpondo essa idiotia para o campo político, consigo entender como mediocridades supremas foram e continuam sendo eleitas. É um desapontamento duplo. Claro, muito menos com o vinho, mais com o eleitorado. Que o bebedor ainda não tenha percebido as diferenças que sempre comento aqui, de certa maneira é bom: o dia em que todos eles conhecerem de vinho, os sul-americanos deixarão de ser consumidos - até que seus preços sanfonem e o exemplar mais caro venha a custar USD 40,00. Claro que na sequência haverá uma pressão enorme sobre o preço dos europeus, e isso sim será complicado. Melhor que fiquem na ignorância... Mas que o eleitor ainda não tenha percebido o peso de sua responsabilidade, e os problemas que isso nos acarreta, é verdadeiramente decepcionante.

No comments:

Post a Comment