Saturday, February 6, 2021

Um Brunellinho honesto

Introito

   Estava com uma teima há algum tempo. Seria (bom)? Não seria (bom)? Pedro Álvares Cabral usou, Irapuã Lima experimentou, Chico Lopes adorou... mas Don Flavitxo não deu muita confiança(!😕). Vinho é assim: alguns gostam, outros não. Alguns sabem beber, outros estão aprendendo. Alguns sabem servir e degustar, outros servem de sorvem de qualquer maneira... A este Enochato cabe a missão - brancaleônica, claro - de pelo menos levantar a reflexão onde há o desconhecimento, de plantar dúvida onde há ignorância, de levar luz onde há trevas - e eles existem até em confrarias abastadas...

Brunello di Montalcino

   Brunello di Montalcino é uma DOCG da Toscana baseada em clones de Sangiovese desenvolvidas pela família Biondi-Santi. Coube a Ferruccio Biondi-Santi ser o patriarca da marca, lançando, em 1888, o que seria a primeira versão moderna desse hoje clássico italiano. A região ganhou o reconhecimento de DOCG em 1980, quando 52 incautos (rs) copiavam o estilo dos Biondi-Santi. Não que inexistam grandes produtores fora da família patriarca... pelo contrário, grandes produtores levaram a região a ser respeitada mundialmente. Nada mal, para uma turma que começou 'ontem'. Observemos que a Toscana produz vinhos há mil anos ou mais, e nesse contexto é que os brunelistas (sic) entraram em cena relativamente cedo.

Máté 

   Máté é um produtor que iniciou atividades na década de 1990. Produz Sangiovese, Cabernet Sauvignon, Merlot e Syrah, estes últimos usados em seus IGTs enquanto a Sangiovese pura é usada em seus Brunelllos ('colheita' (sic!) e Riserva).


Máté Brunello di Montalcino 2009 (colheita - sic!)

   Cometo a indiscrição de chamar ao Máté Brunello di Montalcino que não é Riserva, de 'colheita'. Às vezes os vinhos portugueses mais simples - abaixo de Reserva - possuem esse nome. Não resisti à brincadeira; Oenochato também lança moda...  
   
Vinhos italianos são os que mais me surpreendem. Já comentei isso, e mais de uma vez, só não lembro onde. Sei que uma vez foi na postagem dos Barolos sanguinolentos (sic), mas invoquei  essa mesma postagem há algum tempo. Sigamos. Esperto que sou (sic! rs!) abri Máté por volta das 16:30. Estava certo comigo: se batesse a fruta, bastava arrolhar a garrafa novamente. No... 😟 álcool muito presente, sobrando. Aroma confuso... terroso, sem fruta nem graça. Boca limitada, quase estranha. Arrá, pensei com um sorrisinho. Ar nele! Passava das 21:00 quando fui abater o boi... ele tentou fugir, reclamou, lutou... mas às 21:45 o bifão com molho gorgo estava servido e (re)comecei a prova. Escrevo às 22:30. Sabe, costumo dizer que Jesus tinha um Brunello debaixo da mesa antes do Sermão da Montanha. O pessoal passava por ali à guisa de cumprimentá-lo (sic) e sentia o cheiro de água de rio depois da chuva, aquela água carregada de barro. E bem aventurados os que tiveram paciência... Jesus ficou lá, falando, e falando, e falando... passou a tarde inteira falando e pregando. Quando um dos Apóstolos - acho que foi Pedro - deu-lhe uma piscadinha, era a senha: a transformação ocorrera, e a água de rio se convertera em vinho. Jesus sabia das coisas... mas foi desvendado por este Enochato. Só não sei como ele fez com o pão e os peixes... Mas já tive essa mesma experiência, de abrir um Brunello que cheirava à água de rio depois da chuva, e ao longo de oito horas ele transmutou-se para vinho. Máté não tinha essa característica, de água de chuva, mas a transmutação foi grande. Nariz com fruta viva, couro... ameixa? A boca encontrou o paladar, no sentido que convergiu para o que se espera de um vinho. Não surpreendeu, mas não fez feio. Corpo médio, bons taninos, acidez presente - não exatamente marcante, mas presente. Nesse contexto, realmente surpreendeu pela permanência: longa e bem marcada. Combinou bem com o bifão. Foi comprado em bléqui fraidi da Enoeventos - infelizmente até o Brunello 2011 está esgotado, mas tem o Rosso, que não conheço - há um peço ridículo comparado bom outros Brunellos do mercado, o que demonstra a boa-fé do importador. Encontrei essa safra em Hong Kong (via wine-searcher) por... 50 dóla(!). Não sei se vale 50 dóla lá fora, mas acho que paguei mais ou menos isso aqui... aí sim, foi um bom preço para um produto 'posto cá'. Pelo preço, Brunello Maté revelou-se um vinho bem honesto. Ode a quem comprou e soube esperar seu momento mais adequado.

2 comments:

  1. Caro Signore,
    Dire brunellino, da un vino fatto con cura nella nostra cantina, è una mancanza di rispetto. Oppure, per stabilire il nome 'colheita' per il nostro Brunello di Montalcino, che non è Riserva, con il chiaro intento di dire che è qualcosa di semplice, di inferiore, è sfortunato. Dovresti avere più rispetto per una denominazione rispettata in tutto il mondo. Vi invitiamo a visitare la nostra cantina e anche a visitare Montalcino, per cambiarne il concept. Sarà un grande piacere accogliervi qui.
    Salute

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    1. Don Flavitxo vem se esmerando nos esforços para passar a integrar as fileiras dos detratores do blog. Afinal, difícil acreditar que apenas sete horas após sua publicação, num final de semana, algum empregado ou proprietário de uma vinícola encontrasse esta agulha no palheiro, digo, este comentário escondido na internet. O Google nem teria indexado ainda... por outro lado, Don Flavitxo recebeu o link para a postagem. Mordeu o bigode - ele sabe os motivos - e resolver lançar sua vendeta. Não colou. Don Flavixto pediu uma retratação que está aqui, https://oenochato.blogspot.com/2021/01/a-mula-sem-cabeca-cabeca-do-bacalhau-e.html

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