Saturday, July 10, 2021

O ditado, o Korem e o um sábado a mais em nossas vidas

Introito

Tolo quem empresta um livro. Mais tolo quem o devolve.
Ditado popular 
  
A querida Angelina andava preocupada em círculos na ampla sala de sua casa. Pegou o telefone, discou nervosamente e aguardou que alguém atendesse. Estava realmente transtornada; não se fez de rogada, saiu gritando:
   - Carlos! Estou com seu livro há mais de um ano! Estou indo devolvê-lo agora!
   Detalhe: ela mora em Campinas; eu, em São Carlos. Aqui, recobro a invocação desta postagem e os poderes a mim investidos por Baco em Deussoa (sic! não é uma pessoa, é um deus!) quando tornei-me mensageiro de Sua Palavra: Há de fazer potente seu dito e desdito; há de conferir ao animado e inanimado o poder da tua sugestão! E eis que, quando empresto um livro, empenho a este o destino de volver às minhas mãos em algum momento. Sem pressa nem afobação, mas com a certeza do retorno. Daí que na pandemia, vítima da regra de ouro da devolução, a Angelina viu-se acossada pela necessidade devolvedora (rs! sic!) dos livros que continham contos de minha autoria - esse fato reforça ainda mais o poder da sugestão - retornarem a mim. De forma que mal tive tempo de responder:
  - Ah, Angelina, que bom. Vou preparar alguns vinhos para louvarmos a Baco nesse momento tão especial e... - o telefone já emitia sinal de ocupado. Imaginei-a em seu carro e a caminho... Poderes... nada como sabermos usá-los com parcimônia... 😝 Devo dizer ainda que a própria Angelina saiu de casa em descarrego, murmurando a Baco que cumprira seu destino e esperava tornar-se merecedora de algum descanso. Tenho certo comigo que Baco atendeu-lha (sic! rs!). A vida segue em linha reta. Até que procuremos o próximo desvio, claro. É uma prerrogativa do livre-arbítrio... só para quem pode...

Vinhos, vinhos à mão cheia...

Oh! Bendito o que semeia
Livros à mão cheia
E manda o povo pensar!
Castro Alves, Espumas Flutuantes (1870)


   Gosto muito da citação acima; tenho certeza de já tê-la utilizado aqui no blog. Não faz mal repetir - assim como não faz mal repetir vinho bom. O problema é repetir vinho ruim e citação sem-vergonha! 😣; vinho bão e citação inspiradora são bem-vindos a qualquer momento...
   Falando em repetir vinho, ofereci à Angelina um de produtor que é-me muito caro, a melhor cooperativa da Borgonha, La Chablisienne, em sua versão Premir Cru Beauroy, safra 2016. Beauroy é  uma região dividida entre vários produtores que realizam a colheita no tempo que julgam adequado e realizam a vinificação sem separado. La Chablisienne produz - dados antigos - 500 mil caixas por ano. É tido como um produtor 'consistente', com preços justos (lá fora, claro). Aqui, se você encontrar em 'promo' (40% de desconto sobre o preço de tabela) é uma excelente compra. Mesmo com esse dóla a R$ 6,00 (tá, um pouco mais de 5,30 agora, mas faça as contas completas no seu cartão). Mas com os 40% fica bom, asseguro. Sem os 40%, fica ruim, asseguro também! Compre na 'promo'; se ela não vier, teje (sic) de olho em outras ofertas, porque elas existem.
   Outra repetição (para mim) foi o Korem. Esse vinho é assim: põe de joelhos (para mamar 😂😝😱) sul-americanos de 5x seu preço. Motivo? O já extensamente discutido aqui: sul-americanos estão pornograficamente caros, enquanto na Itália o mercado é competitivo. Mais: o consumidor tolo deixa os olhos brilharem para qualquer porcaria in natura e não sabe apreciar a tão-me (sic) cara acidez. Assim, pagam pau para iconos chinelos chilenos que são vendidos, nos EUA, à metade do preço do que na terra natal. Tem algo errado com isso! Vejamos: o vinho (chileno) sai de cá (Chile, Pacífico), cruza o Equador, aporta na costa Oeste (o 'velho oeste'), vai para Noviorqui e é vendido à metade de preço do país de origem?! Metade! Cruzou o hemisfério! Depois cruzou um continente! Passou pelo importador, pelo distribuidor regional e chegou ao lojista do lado do Atlântico, ainda assim pela metade do preço do país de origem?! É assim?! É isso mesmo?! 😠 Picaretas! Cadê os energúmenos para justificarem isso?! Canalhas, apareçam! Bem, voltando... Korem é um vinho de preço médio a USD 30,00 que dobra a concorrência local. USD 30,00? Íconos chinelos custam USD 150,00 no Chile. Pois é, vem mais por aí. Economize estômago 😌.

Os vinhos...

La Chablisienne Premir Cru Beauroy 2016 apresentou a boa mineralidade esperada da região. Floral com toques de abacaxi (nariz), amanteigado (boca), boa acidez e ótima persistência, casou muito bem com queijos Gruyère e Gouda, e com xarxixa (sic) de vitela. Tem 13% de árco (e mais um tanto de frexa - sic! rs!), bom corpo, final muito redondo, se bem comprado é felicidade engarrafada. Tente, e seja feliz. Essa combinação já experimentei com outros vinhos do produtor - e curiosamente com o Korem no mesmo episódio! - E com a Porto Adriano! Em mais de uma ocasião! Os Chablisienne são vinhos realmente bons! Se puder gastar sem olhar para a relação custo benefício, mande ver sem 'promo'. Se for $deficiente$ (sic) ou mão de vaca (sou ambos), espere a promo ou traga de fora. No meu caso, pobresse oblige 😓...
   Argiloas Korem 2015 é aquele caso que menciono sempre que posso: se puder fechar uma caixa e beber um a cada seis meses, terá um ótimo vinho para beber por seis anos. Quando tiver seis caixas nesse padrão, terá completado o círculo, e poderá beber uma garrafa por mês durante o mesmo período. Tendo mais bala e fechando mais vinhos equivalentes... você é feliz! Poderá beber a cada quinze dias? Semanalmente?(!) Parabéns! Korem, comprei a cerca de USD 50,00 (Enoeventos) quando era vendido a USD 100,00 pelo importador anterior, e é um vinho de USD 30,00 'lá'. Está espetacular; choro a cada oportunidade em que o experimento. Esgotou na Enoeventos, mas fique de olho! Tem energúmeno sugerindo que a importação de Enoeventos não é feita sem container climatizado, etc. Olha, se Korem não foi importado por Enoeventos com os cuidados que se espera, se ficou 30 dias tomando sol no chão do porto do Rio de Janeiro e ainda é tudo isso... pow, então Korem é o melhor vinho do mundo! Mas experimentei Korems da antiga importadora, e estavam igualmente bons. Então afirmo: padrão é esse mesmo! Comprovação de que energúmenos são... energúmenos! Korem 2015 tem fruta muito viva - vivíssima! - , explosiva, ótima persistência, bons taninos, acidez e corpo médios e madeira elegante - justamente o contrário da madeira sul-americana de uma década atrás, em excesso - além de ser daqueles vinhos que entram no nariz e boca 'em três dimensões' - quem entende, sabe o que pretendo dizer. Um vinhão, sempre. Se comprar a R$ 300,00, é felicidade engarrafada com certeza. 
   Ao final, servi à Angelina o último dedo de um Tarapacá Late Harvest que estava há mais de um ano na geladeira, com um roquefort francês. Ela adorou. Depois, um Tokaj três putônios. Só ela experimentou, eu estava sorvendo - feliz e serelepe - o Korem. Angelina não conseguiu prosperar para o Sauternes ou para o Porto - Adriano, com vínculo mencionado acima. Mas eu tasquei um dedinho neste final de escrita. É um vinho não vintage, engarrafado em 2001 e que abri em fevereiro. Continua ótimo, com frutas secas - nozes - persistente, redondo, macio... felicidade engarrafada. Tenho ainda uns bons três dedos, para partilhar com quem se apresentar. Alistem-se!

2 comments:

  1. Carlão,
    gostei da chamada: apareçam!!! kkkk, agora ta ficando hilário o post; além de informativo (preços x importadores sacanas x milicianos de plantão) Também compro da Enoeventos, sei do que esta falando. Estou na fil de espera desse licoroso...
    Luidgi

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    1. Olá, Luidgi!
      Obrigado pela leitura. E sim, fiquemos atentos a Enoeventos. Korem é ótimo, e ainda tem muito tempo pela frente.

      []s,
      Carlos

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