Monday, September 6, 2021

A Senhora N. desafia: Parte 2, o desmanche

Introito

   Amanhã é o Dia da Independência. Idiotas querem se apossar da data que é cara a todos os brasileiros. Não passarão. Eles podem manifestar-se nesse dia. A Pátria é de todos, e marquemos que isso é bem outra estória. Estão em seu direito. Vejamos que políticos estarão lá - o que é uma medida de quanto o mundo político de fato apoia a proposta bolsonésia de descarado golpe. Acompanhemos bem de perto quem são os traidores da pátria. E, sobretudo, lembremo-nos (povo sem memória!) de quem são, na próxima eleição. Quer apostar que não teremos muitos políticos do Centrão? Ora, claro, aqueles que ocupam cargos estarão lá. Quero ver os outros 245 do universo de uns 250... O ponto para mim é bem simples: quem não sair de casa amanhã seguramente não apoia esse movimento. Não sairei por nada, nem para pegar comida e trazer de volta para casa, assim como não pedirei nada para entregar. Sem movimento nas ruas. Ficar em casa não deixa de ser uma forma de resistência. Perderemos a data? Bem, perdemos dois anos por causa do Covid - outro problema que recebeu tratamento infame do idiota-mor. Seu presidente? Fique com ele. Acompanhe-o até... onde quiser! Lamento não falar de vinho. Como tenho dito, os problemas da pátria são de monta que o cidadão honrado não pode, desde há muito, deixar de se manifestar. O cidadão marca posição. Os covardes, fogem.

Perbruno, Percristina, Percarlo... Pela madona!!! 

   Italianos às vezes apresentam esses nomes estranhos. Perbruno. Percristina. 'Para'... Bruno, ou Cristina... usualmente são homenagens. Aí você fica se perguntando: quem é o Bruno? Quem é a Cristina? Nada de novo aqui, afinal cada vinho é uma estória. No presente caso, aconteceu assim:
   - Tome, fique com eles. Vá colocando na mesa à medida que achar razoável. Ficarei muito feliz em participar apreciando só o buquê... - assim o Akira deixou comigo mais de uma caixa de vinhos de qualidade excepcional, que trouxe em suas inúmeras viagens ao exterior, três garrafas de uma vez, três de outra. Achei que seria boa oportunidade, tanto que avisei o Ghidelli: 
   - Vem quente que tem um fervendo... - ele, claro, não se fez de rogado. 

Fattoria San Giusto a Rentennano começou como um mosteiro Cisterciense lá pelos idos de '04. Sabe... tipo... 1204...? Pertence à família Martini di Cigala desde 1924. Estabelecido em Gaiole, portanto dentro da área Chianti Classico, o produtor tem em sua carta um rosê, um Vin San (escreve assim mesmo, é um Vinho Santo, estilo Passito, de sobremesa) à base de Malvasia e Trebbiano; também dois Super Toscanos e depois um Chianti Classico e um Chianti Classico Riserva. Pelas leis da DOCG, um 100% Sangiovese não é rotulado como Chianti, mas como Super Toscano. É o caso de Percarlo 2008. Quem é o Carlo? 😂. Não sei. Sei mesmo que Percarlo está pronto - prontíssimo! - para ser degustado. Desarrolhei os tintos junto dos brancos e por algum tempo aqueles ficaram aerando, enquanto experimentávamos os brancos. Na vez de Percarlo (servido junto dos bifins), ele já tinha bem mais de uma hora de aeração. Revela suas propriedades medicinais - cura a alma - logo na primeira cafungada: é complexo, com ótima fruta, toques terrosos e ainda arrasta algum fumo - ou couro. Seguramente tem mais, só faltou nariz a este pobre adorador de Baco. Ele entra no nariz em 3D... felicidade engarrafada imediata. A riqueza do nariz se repete na boca, com especiarias, fruta, taninos muito marcados - mas elegantes! - acidez muito equilibrada, permanência longa e final grandioso. É um vinho de USD 100+, e que entrega. Taí um dos vinhos que você deve experimentar, se tiver oportunidade. Claro, traga de fora. Aqui provavelmente custará os olhos - todos! 😱. 

O Ghidelli compareceu com um Atteca Garnacha Old Vines 2017, do produtor Juan Gil, representado aqui pela Enoeventos. Juan Gil é um bom produtor espanhol. Não é um grande produtor, mas é um daqueles que sempre belisca a presença em alguma lista dos 100+ do ano de algum avaliador minimamente respeitado, por exemplo. Não é produtor de se jogar fora. Está na faixa de USD 15+ (EUA), o que dá facilmente R$ 90,00 e está à venda por R$ 150,00, o que dá um preção. Tanto ele quanto Percarlo combinaram bem com o bifão, mas não senti uma verdadeira harmonização. Apenas... apenas... apenas... teve bão! 😊. É um 100% Garnacha, produzido em Calatayud, na região de Aragão. Enebriado pelo Percarlo, não prestei tanta atenção. Claro, Percarlo passou por cima dele, e seguramente mascarou muito do que ele tinha para oferecer. Mas notei boa fruta vermelha - bem vermelha - e aquela estrutura básica - tanino, álcool, acidez - bem acabada. É um vinho que, pareado com outros de mesmo preço, seguramente tem seu brilho próprio. Mas aí precisa ter um aviso logo na porta de entrada: - Proibido apelar! O Akira não respeitou muito essa regra... ninguém reclamou, nem o Ghidelli...

Post-scriptum

   Fui cobrado, com toda razão, sobre o acerto do Ghidelli. Perguntado sobre a origem do Percarlo na primeira rodada, às cegas, ele cravou sem vacilar: 
   - Italiano!
   O problema (🤣) é que ele estava em uma roda aberta, digo, com muitas testemunhas. Daí que (sic) não se pode criar um mito envolvendo o acerto; tudo mundo já sabe... acho que fiquei mais entusiasmado em contar a mentira do Akira com o Tarapacá e sisqueci (rs! sic!) de mencionar esse detalhe que também é digno de nota. Por outro lado, não deixarei de relatar (🙄) os próximos 340 foras que, tenho certeza, ele cometerá na sequência.

4 comments:

  1. Boa análise dos vinhos Carlão, o vinho do Carlo tava realmente bom se meio que achei o Atteca nervoso ( acho que ouvi um Cabron de mierda - xingamento espanhol, comum lá na fazenda..) na hora do doelo... Acho que harmonizaria mais com um fettuccine com seu bifinho. Mas pensei nisso só depois de experimentar a bisteca Fiorentina...
    Agora, você lembrou da chute certeiro do Akira e esquece que acertei a uva, ano e pais do vinho do Carlo? Falha só possível devido a idade.. Tem o Perluigi, um vinho que vou colocar para degustar às cegas e ver o seu grau de acertividade enólica...

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    1. Sim, o Atteca estava nervosinho (rs). E sim, talvez harmonizasse mais com sua sugestão. Mas a noite era do Percarlo...
      Lamento pelo esquecimento - note que terminei a postagem às 23:58; não é uma justificativa ou explicação, apenas peço desculpas pelo avançado da hora. Espero ter feito uma retífica adequada no post-scriptum... 🙂

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  2. Ai sim, sem politicagem falando dos acertos e dos erros dos confrades, como na política suja do nosso querido brazilzilzil. Nào vejo a hora de bebericar e arriscar meu prestígio enófilo de novo.

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