Tuesday, September 14, 2021

Quando a harmonização funciona II : tintos

Introito

O anfitrião lembra-me - com toda razão - que não coloquei foto do prato de entrada na postagem passada. Está ao lado, o camarão com mascarpone ao alho-poró. Tinha também umas lascas de casca de limão, raladas com toda diligência pela anfitriã Márcia. Acho que não é demais repetir: há diferença entre uma harmonização no verdadeiro sentido da palavra e um casamento fortuito entre comida e bebida. Acordemos assim: podemos ter a fusão das partes com nota maior do que sua soma simples, digamos, 1 + 1 = 2.1, ou algo como 1 + 1 = 3,5, ou 1 + 1 = 4,0. Os números são arbitrários; servem apenas para ilustrar uma harmonização simples e uma realmente marcante. Diria que o resultado 2.1 é alcançado com, grosso modo, qualquer bifão e qualquer tinto um tanto mais encorpado. Ou um Chiantizinho com pizza de Pepperoni. Funciona, até funciona bem e impressiona quem não tem mais experiência, mas não entrega... acho que o leitor entendeu. A harmonização passada atingiu um quatrão honroso. Teve bão...

Tintões: novamente América do Sul e Europa

Dona Neusa apresentou um tintão de produtor que gosto muito: o Pulenta Gran Corte VII 2018, um corte não linear (rs) de 44% Malbec, 25% Cabernet Sauvignon, 19% Merlot, 7% Petit Verdot e 5% Tannat. Bom nariz, com muita fruta e especiarias, mas não notei na boca aquela pimenta da Cabernet. A madeira está bem harmonizada, os taninos são potentes e alguma acidez mostram que é um vinho com muito tempo pela frente, embora esteja bom para beber. Antonio Madeira Vinhas Velhas 2017, é um Dão corte de Jaen, Tinta Pinheira, Negro Mouro, Tinta Amarela, Baga e outras mais, todas castas autóctones de Portugal. Buquê pesado, uma clara composição de frutas vermelhas e negras, algo de couro ou chocolate, boca muito equilibrada com boa acidez e ótimos taninos misturados a alguma mineralidade característica d região. Tem corpo entre médio a pegado, e fica realmente elegante combinado com o nariz. A persistência é boa, final longo - dance com ele na boca, engula e deixe a boca fechada, realmente degustando o vinho para entendê-lo. Ótima permanência, um conjunto que mostra-se superior ao bom Pulenta. É a estória sempre comentada aqui, de que os vinhos sul-americanos estão caros quando comparados a europeus na faixa de preço. Na foto não podemos deixar de registrar Don Flavitxo quase entrando na frente das garrafas na vã tentativa de ganhar seus 5 segundos de fama ao aparecer no blog...🤣😁 Aliás ele flagrou-me após alguns instantes de olhos fechados degustando o vinho e abrindo os olhos quase em êxtase. Riu para mim e de si para si, entendendo o que eu experimentava.

A harmonização foi bem calculada pelo Ghidelli, que seguramente consultou as fontes corretas e empenhou-se no preparo dos ingredientes. Está certo que fez um caminhão de polenta - e sequer peguei uma trouxinha para trazer para os cachorros 😶 - e a paleta estava muito bem preparada: ótimo tempero, bem no ponto. O molho vermelho tinha uma acidez muito boa também. Combinou bem com ambos os vinhos, mas claro... a melhor acidez de Antonio Madeira resultou em uma harmonização muito boa.


Preços

   Pulenta vale 'lá' uns USD 44,00 (USD 44,00 x R$ 5.5 = R$ 242,00), e R$ 615,00/R$ 520,00 para 'sócio' na Grand Cru. Para 'sócio' dá quase 2x, com dóla cotado pelo topo. Não é ruim, mas observe que é um dóla pelo topo. Sem preço 'sócio', está bem caro. Não encontrei o Antonio Madeira Vinhas Velhas aqui, mas é um vinho de seus USD 26,00. Por esse preço ele dá varada em um monte de portugueses conhecidos aqui e que estão na casa dos seus R$ 500,00, também. Repito: os vinhos sul-americanos estão caros. Foi ótima a oportunidade de experimentar um bom argentino, mas tentemos deixar os sul-americanos brilharem entre si. Porque fora daqui são francamente eclipsados.






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