Friday, February 4, 2022

Postagem de uma sexta-feira pequena

Introito

   O sujeito não tem parada. Não bastasse sua atuação calamitosa no enfrentamento da pandemia, seu último feito foi divulgar em redes sociais informações sigilosas e de suma importância acerca de nosso processo eleitoral. Nas palavras de um ministro, é como entregar o mapa da casa para o ladrão. Eu não conheço traição à pátria similar na história do país. O leitor conhece? E achava lulalelé o maior dos traidores. Bem, sejamos francos: bolsonésio já o superou há muito tempo. Só não contava que ele se superasse no que resta de seu (des)governo. Onde estão as lideranças do país, que contemplam tudo como se fossem brancas nuvens? O brasileiro tem a obrigação de lembrar-se deles nas urnas. E não votar neles, de preferência. Embora, estúpido que é... (já comentei isso diversas vezes, sem viés político, lembram-se?)

Terra Occitana Syrah 2016

Conheci o produtor-négociant Jacques Charlet quando provei de seu Sauvignon Blanc. Agora entrou em 'promo' este Syrah que experimento. Tem fruta vermelha no nariz e parece expressar leve dulçor - ou ainda não melhorei o que deveria da Covid - que fica bem mais marcado na boca. Esse doce não é tão enjoativo, e pode fazer sucesso entre os amantes desse estilo. Não é o meu, definitivamente, o que nesta análise torna-o desbalanceado, mas como disse tem seus entusiastas. Tem corpo leve a médio e uma acidez que surpreende para o que espera de um vinho como esse. É um vinho de mesa simples, não desagrada. Para beber descompromissadamente em uma quinta-feira (ou sexta-feira pequena - rs) enquanto se escreve umas resenhas sem-vergonhas, vai bem. Não encontrei na internet - mesmo no sítio do produtor. Seguramente é um vinho de custo inferior a 10 dóla. Peguei em 'promo', na Vinho e Ponto, abaixo de R$ 100,00. Pode bater muitos sul-americanos, mas se prestar atenção dá para encontrar opções mais interessantes mesmo em S. Carlos. Não nas lojas especializadas, claro. Se souber procurar na internet, complica de vez. Meu palpite dizia para não pagar o preço cheio (R$ 148,00), e nessa acertei em cheio. Compre em 'promo' e consuma logo; não e um vinho para envelhecer mais.

Resenhas

A caterva que causa na internet propala que 2022 será um ano fenomenal para a indústria cinematográfica. Provavelmente disseram o mesmo no ano passado, mas como o pessoal é estúpido, continuam a ladainha. Digo que tem coisa boa ligada a 2022, embora não de 2022... 

Não vi e não gostei

Moonfall - Ameaça Lunar
(2022). Assim é o Brasil: não tendo como traduzir adequadamente um título, introduzem um subtítulo quase sempre desnecessário. O diretor Rolando Emeriqui (sic) tem vasta ficha corrida quando o assunto é assalto à inteligência do expectador. Começou com Independence Day ('96), continuou com Gozdilla ('98), persistiu com O Dia Depois de Amanhã ('04), piorou com 10.000 BC ('08), atingiu o ápice com 2012 ('09) e quase se superou com Independence Day II ('16) 😲. Seu 2012 é considerado pela NASA como o filme mais tolo de ficção científica já realizado. Um bando de neutrinos sem noção 😆, partículas tão pouco interativas com a matéria que atravessam 10 sóis como o nosso postos lado a lado sem colidir com um átomo sequer, começam a esquentar o núcleo do planeta. Sim, são neutrinos estranhos. (o que justificaria tal interação). E são tão estranhos que só interagem com o núcleo do planeta, sem antes torrar o DNA de tudo o que é vivo na superfície (😕), o que faria a vida no planeta se extinguir muito antes da catástrofe sísmica acontecer... Eu sempre defendi que Howard the Duck é até legalzinho! 😂 Comparem! Bem, agora é a vez de uma força misteriosa tirar a Lua de órbita para tacá-la (sic) contra a Terra. Força misteriosa... conheço Força Estranha, mas é uma música - muito bonita por sinal. Forças físicas existem apenas quatro, e força enxerida não entra nessa festa. É engraçado ver no trailer corpos sendo atraídos para a Lua... mas ela é muito menor que a Terra... mesmo próximo a ela, nada se deslocaria do nosso planeta para cair nela... Tá, tem uns caras que acham os tais e vão tentar resolver a situação. Não tenho a menor curiosidade em saber se conseguirão. Pela ficha pregressa do diretor, fuja!

Vi e verei novamente

Soylent Green
 (1973). No Mundo de 2022 é a tradução do filme, que tem Charlton Heston como o detetive Thorn e Richard Fleischer na direção. Deste, conhecemos 20.000 Léguas Submarinas ('54), Viagem Fantástica ('66) e Tora! Tora! Tora! ('70). Soylent Green é inspirado no livro Make Room! Make Room! de Harry Harrison, autor mais conhecido pela brilhante sátira antimilitarista Bill, o Herói Galático. Em Soylent Green o detetive Thorn vive em uma Nova Iorque povoada por 40 milhões de habitantes. O mundo colapsou: animais e florestas morreram, a poluição infesta tudo, a água é racionada e as pessoas vivem pelas ruas. Os ricos, claro, ainda têm acesso a água e comida natural - embora caríssima. Entristece a lauta refeição onde Thorn e seu parceiro Sol refestelam-se com uma pera. O assassinato de um alto membro da Soylent Corporation, empresa do ramo alimentício que tem o produto mais cobiçado pelas pessoas comuns, sua bolacha verde - Soylent Green! - coloca Thorn na trilha de pistas que levam a uma trama cada vez mais sinistra. Além da ótima estória, o filme antecipa a discussão natureba que tomou conta da sociedade em mais de 20 anos; sua frase final entrou para as 100 mais importantes citações do cinema (Americano, claro), segundo a American Film Institute. Está esperando o quê?

7 comments:

  1. Gosto do seu blog por que você não fica postando apenas vinhos bons. Posta também as coisas ruins que bebe. Isso é bom para o leitor, que pode evitar comprar esses vinhos. Este do post eu já coloquei na lista do que deve ser evitado.
    Sds,
    Eduardo

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  2. Complementando a mensagem anterior. Tem que meter a boca mesmo nestes exploradores. Não tem que ser bem educado mesmo não. Manda ver que eles merecem.

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    1. Eduardo, obrigado pela leitura. Eu não me furto a meter a boca - basta ler postagens mais antigas. Sobre os aspectos financeiros da questão, a R$ 88,80, para S. Carlos, é uma opção. Embora, como dito, existam outras melhores. Para quem está iniciando no vinho, tem que 'beber de tudo', como eu bebi. Acho. Senão, como apreciar o 'belo' desconhecendo a outra face? Duro mesmo é beber da outra face pagando caro. Aí não!

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  3. EStou de acordo Carlos. Eu li vários posts do seu blog e você cita sempre que pelo preço pago por um chileno e argentino dá para comprar um europeu muito melhor. Eu acho que você tem razão. Neste sentido, não querendo ser inconveniente, que Bordeaux você já bebeu e recomendaria na mesma faixa dos chilenos VIK e Don Melchor, ou do argentino Nicolas Catena? Eu os encontro na faixa de 700 por aqui. O Nicolas consigo até mais barato.
    Sds,
    Eduardo

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  4. Olá, Eduardo.
       De onde é vc? Pode enviar-me msg privada se desejar, dotscarlos@gmail.com.
       Bordeaux são difíceis de indicar, até porque alguns melhores que bebi - meus ou de confrades - vieram de fora. Aqui, vários estão nas mãos de tubaronas. Outros, não são despachados, precisa ir ao supermercado local e comprar:

    https://www.loja.verdemaratevoce.com.br/produtos/detalhe/9094/vinho-frances-chateau-langoa-barton-tinto-750ml-bordeaux-saint-julien

    compare com
    https://www.mistral.com.br/p/vinho/chateau-langoa-barton-2011-cru-classe-medoc-graves

    Não dá para ser assertivo de que a safra do Verdemar seja a do rótulo. Nenhuma delas é tão boa, se valer o rótulo.

    Este, https://www.loja.verdemaratevoce.com.br/produtos/detalhe/5899/vinho-frances-chateau-chassespleen-tinto-750ml-bordeaux-moulis

    comparando com
    https://www.worldwine.com.br/v-fr-chat-chasse-spleen-tt-09-750-020153/p

    precisa conhecer que o Chasse-Spleen é um  Cru Bourgeois Exceptionnels, que são uns 7 ou 8 numa lista de uns 250...
    https://www.crus-bourgeois.com/app/uploads/2020/03/Press-kit-2020-Crus-Bourgeois-du-M%C3%A9doc-Classification.pdf

    O que iria indicar (tenho, não bebi, mas quem bebeu disse que está ótimo), seria este,
    https://www.delacroixvinhos.com.br/collections/vinhos-franceses-do-produtor-chateau-meylet-descricaocurta/products/chateau-meylet-2015-839-vinho-tinto-bordeaux infelizmente esgotado. Ainda assim a "De lá" é uma boa importadora.

    Agora... se estamos falando de chilenos de R$ 700,00, é provável que você os bata com portugueses bem comprados de R$ 350,00. Observe a safra, para não comprar nada muito ruim - porque tem.

    Se preferir italianos, https://www.lojaenoeventos.com.br/produto/Donatella-Cinelli-Colombini-Brunello-di-Montalcino-2015 (Enoeventos entrega no Brasil todo). É um pouco novo, embora digam que está bom,
    https://www.wine-searcher.com/find/donatella+cinelli+colombini+docg+brunello+di+montalcino+tuscany+italy/2015#t3

    Acho que vai precisar aerar umas 5 ou 6 horas, mas aí você precisa abrir e olhar. Aerar por esse tempo não fará mal algum, ainda que ele esteja na fruta. Se estiver na fruta, você pode escolher arrolhar novamente e aguardar a hora da degustação. Mas até chilenos desse nível merecem pelo menos uma hora de ar.

    ufa...

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  5. Olá Carlos,
    Muito obrigado pela gentil resposta. Na verdade, a minha pergunta era apenas sobre alguns nomes de Bordeaux que você tomou, na faixa de 700 que batem um Don Melchor, VIK ou Nicolas Catena na mesma faixa. Perguntei especificamente sobre Bordeaux, pois estes vinhos seguem o estilo bordales.
    Sds,
    Eduardo

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    1. 😑 entendi...
      🤣😂
      Não tenho certeza quais Bordeaux bebi nessa faixa. Bem, 'preço cá'. Preço lá, paguei mais ou menos isso por um Montrose 2003 e pelo Pape Clement 2008, que seguramente derrubam qualquer sul-americano. Mas aí é covardia. O que tenho mostrado mesmo é que europeus bem mais baratos (preço cá) podem batê-los. Só não lembro-me de algum nesse preço, lamento.

      Outro ponto: assim como desde Aristóteles ('Poética') temos tentado estudar literatura e classificar sua qualidade, é razoável que os críticos de vinho hoje também tentem valorar o vinho - a despeito das picaretices, claro. O que defendo, por analogia, é que existem formas (honestas) de avaliar vinhos. Quaisquer vinhos, não importa as uvas. Assim, você pode analisar a estrutura - tanino, acidez, álcool e açúcar - e dizer que 'esse' vinho é mais equilibrado do que 'aquele'. Então podemos comparar o corte bordalês com o corte riojano, ou mesmo com varietais, como Brunello, Barolo e Borgonhas. Acho que isso completa a resposta acima, sem perder o foco da sua pergunta...

      obrigado,
      Carlos

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