Sunday, January 30, 2022

Os cinco terrores

Introito

   Estava numa degustação há muito tempo. É da época (sic) em que, tendo contato próximo com o lojista, chegava mais cedo para ajudar a abrir as garrafas, um tanto antes do evento começar. E não tinha essa de pegar um dedal para experimentar, não senhor. Era para ajudar, mesmo. Depois chegavam as mocinhas que serviriam os vinhos, e o gerente instruía, cada uma, sobre os vinhos disponíveis em suas bancadas. Certas mesas ficavam a cargo de algum(a) representante especialmente enviado pela importadora; era quando a conversa ficava interessante. Eis que, começado o serviço, o Akira e eu chegamos a uma das bancadas, apontamos o vinho que desejávamos provar e fomos recebidos com um belo sorriso:
   - Microterror... - disse ela, apresentando-nos o produto da Casa Silva cujo nome correto era Microterroir.


As queimas de sempre

As importadoras tubaronas estão à caça de incautos. Um vinho de R$ 1.140,00 por praticamente R$ 800,00. Bom Bordeaux de ótima safra - até ao contrário do que cansam (não, não se cansam...) de nos oferecer, muitas e muitas vezes péssimas safras. Dá 30%, o que mesmo em nosso regime inflacionário de 10% ao ano é um ótimo desconto. Só que não... Sendo um vinho de USD 55,00 lá fora, e ao dóla de R$ 5,5 dá cerca de R$ 300,00. Ao preço cheio, é quase 4x; na 'promo' chega a apenas quase 3x. Importadoras tubaronas são assim: elas reajustam o vinho ao menor soluço do dóla. Curioso como muitas importadoras pequenas não reajustam seus preços da mesma maneira. No início da alta do dóla do desgoverno bolsonésio, cansei de comprar vinhos a preços 'congelados'. Não faziam alerde nem nada. Era o preço, e pronto. Foi um ano torrando aqui o que eu não gastaria lá fora, porque com a alta da moeda americana deixei de lado os planos para viajar. A comparação com o Wine-Searcher está no pé da postagem. O leitor que não quer deixar-se explorar deve sempre consultar o preço do vinho lá fora e comparar com o preço aqui. Exerça seu papel de cidadão - e não de mero consumista. É seu dever e direito. Se o preço de um vinho está acima de 2x, eu não compro. Sobre a questão de "2x", veja comentário mais abaixo, sobre a Apple.

Blog sob ataque... again de novo...

Nosso detrator-mor dá os ares da graça, em mensagens das quais poupei o leitor.  Uma delas foi essa ao lado, depois que não publiquei as tolices com as quais ele tentava infectar o espaço. Pobre diabo, deve acreditar que preocupe-me com ataques pessoais. Sobre a última postagem, pretendeu dar pitacos sobre a questão política. Como tenho dito, o cidadão de bem não pode mais ficar calado face ao que acontece no país. Recuso-me a degustar um vinho, mesmo simples, que não pode ser adquirido por 90% da população. Já declarei isso várias vezes, e meu posicionamento pessoal não está em pauta. O blog debate vinhos e assuntos correlatos. Que o detrator revele-se um bolsonésio empedernido, não conta.
   Sobre vinho, ele diz:
Quanto à parte dos vinhos do mala, perdão, dos vinhos da mala, fico aqui pensando nos coitados que por gentileza e vergonha de dizer não, atendem o seu pedido e ficam carregando peso para um folgadão tomar vinho mais barato e não prestigiar o comércio que paga imposto. Na vê que está sendo inconveniente com seus amigos? 

   Começa com ataque ao argumentador (o mala), e não ao argumento. Estratégia baixa e gasta, já denunciada, mas que o energúmeno repete ad nauseam. As pessoas avisam-me que vão viajar com antecedência, e dizem o quanto podem trazer. Portanto você está claramente errado. Ademais, quem traz vinhos para mim bebe dos meus vinhos (isso não é importante, mas é um registro de que não sou um aproveitador barato como o utente supõe; pago gentileza com gentileza); e todos gostam muito dessa parte. Sempre ficam surpresos ao saber que estão a beber do vinho que anos atrás carregaram-no. Veja aqui, tolo:

   O espertinho tenta emendar que eu não prestigio o comércio que paga impostos quando a questão nunca foi o imposto que se paga. A questão, desde sempre, são as margens escorchantes praticadas pelos tubarões do mercado. Pode enfiar essa margem no meio da sua ideia do que é gestão de negócios, e depois reflita como elas são efetivamente altas. Vá aprender com as importadoras já citadas muitas vezes como respeitadoras do bolso do cidadão. É realmente digna de nota a suposição errada de que eu simplesmente não compre vinhos aqui. Sinal claro de que o conteúdo do blog não é lido, e a intenção dos comentários não vai além de meros ataques pessoais.

Mantenho minha proposta. Quando quiser abrir um negócio de vinhos eu financio. Se não quebrar em 6 meses eu abro mão do valor investido.

   Repete seu papo murrinho mais e mais. Já foi devidamente respondido: 1) Não me considero com vocação para tal, além de estar em outro ramo há 35 anos; 2) Não é ético um avaliador querer vender vinhos - você conhece algum que venda?; 3) O espaço está aberto para discussão do vinho, e portanto opiniões contrárias são sempre recebidas e apreciadas. Mas elas caem no descrédito quando descambam para argumentos fracos e mera repetição da mesma ideia como se ela pudesse tornar-se verdadeira pela mera reiteração. Aqui não!

Diz que os vinhos argentinos são os melhores da américa do sul mas conhece muito pouco deles. Ou seja, como sempre, fala e faz balbúrdia sem conhecimento de causa e publica apenas os comentários que lhe convém, contendo elogios. hahahahaha. Você é cômico.

🙄 O que posso dizer? O pobre diabo não lê o blog e quer afirmar que conheço muito pouco de vinhos sul americanos. Rótulos da foto ao lado: Domus Aurea, Almaviva, Don Maximiano Founders Reserve, Santa Rita Casa Real, Montelig, Quinta Generación, Cabo de Hornos, Tarapacás Millenium e Reserva Privada, dentre outros. E não lê mesmo as postagens:
* Achaval Ferrer Finca Bella Vista Malbec, https://oenochato.blogspot.com/2019/07/sassicaia-destrocado-por-borgonha-de-um.html
* Antiyal, https://oenochato.blogspot.com/2021/03/introito-ha-muito-muito-tempo-em-uma.html
* Alta Vista Alto, https://oenochato.blogspot.com/2021/04/o-dia-da-malbec.html
* Vibo, https://oenochato.blogspot.com/2012/09/de-bicao-em-outra-confraria.html
* Dom Melchor, postado por um confrade, http://vinhobao.blogspot.com/2014/06/boa-briga-as-cegas-castillo-ygay-gran.html
* Dom Maximiano versus Vallado Field Blend pelo mesmo confrade:  http://vinhobao.blogspot.com/2011/06/don-maximiano-2005-e-quinta-do-vallado.html
   E olha que a maioria do que foi citado aqui são chilenos. Não pretendo ficar postando fotos e mais fotos de rótulos degustados, nem invocando postagens não feitas 🤣. Quando falo, o faço sob a égide de já ter experimentado diversos exemplares, realizando inclusive comparações entre sul americanos e europeus. Vide uma das postagens acima, é explícita. Já está claro quem é cômico e fala sem conhecimento de causa sobre aquele que pretende desqualificar...

   Como dito, o espaço está aberto mesmo aos debates mais apaixonados. Mas deve haver um debate, e um debate se faz com argumentos. O utente está na beira do precipício, após as últimas mensagens. Não custa-me excluí-lo de vez das conversas, se não souber manter o tom. Recomendo bastante cuidado, e isso não é uma ameaça. É um aviso. Por último, e não menos importante, tente argumentar contra esta reflexão:
Reportagens escandalizadas sobre produtos da Apple reclamam que seu custo excessivo por aqui é o dobro do praticado em outros países. A disparidade do custo dos vinhos é de 3x, 4x, 5x. O imposto sobre ambos é similar. Como sempre, chegamos ao mesmo ponto: importadoras tubaronas merecem a acunha; estão entre os maiores predadores conhecidos. Seus argumentos anteriores foram todos rebatidos. É bom lembrar-se deles, para não repeti-los. 

Os cinco terrores

A postagem de hoje foi tocada a um Les 5 Terroirs 2018, um Côtes du Rhône corte de Grenache e Syrah da AoC Ventoux. Localizada a sudeste do Rhône, seu nome advém da montanha homônima de 1.900 metros de altura e recebe o vento Mistral, atingindo até 180 km/h e fazendo as temperaturas caírem abaixo de zero por diversos dias ou mesmo semanas. Portanto, o monte exerce uma grande moderação no clima da região, e quando as condições são adequadas a acidez das uvas fica bem preservada. Les 5 Terrois é assim chamado porque as uvas são colhidas de cinco diferentes solos dentro da apelação. Chego a este ponto com o vinho aberto há 3 horas. O nariz mostrou boa fruta... vermelha? negra? desde o início. Se prestar atenção, pega um travo de açúcar - o Akira diz ser melaço - e parece ser uma assinatura típica do Rhône, principalmente no corte GSM. Aqui temos o G e o S, faltou a Mourvèdre... A boca é mais interessante que o nariz: bons taninos, acidez bem presente, álcool pegado (14%) sobrando um pouco. Tem boa persistência, e pode combinar com uma pizza com carne ou mesmo um bifim. É um vinho de seus USD 8,00, que paguei em bláqui-fraid R$ 62,00. Ora, USD 8 x R$ 5 = R$ 40,00, o que deu um preção. Tá, foi BF, mas depois vem energúmeno querendo justificar margens de 3x na 'promo'. Ah, tá...


Resenha

Nikolai Vasilyevich Gogol foi um escritor russo (ucraniano) nascido em 1809 e falecido em 1852. Criou uma literatura baseada no grotesco e antecipou em mais de 50 anos as bases do surrealismo, conforme reconheceram os principais formalistas russos das primeiras décadas dos 1900. Influenciou autores como Dostoevsky e Kafka, para citar os mais importantes. Com o intuito de produzir uma vídeo-coletânea de sua obra, o Projeto Gogol foi concebido como três filmes baseados principalmente em seu livro de contos Noites em uma fazenda perto de Dikanka, com remendos de Viy. Não li nenhuma dessas obras, mas fiquei bastante instigado. Os filmes são Gogol - O Começo (2017), Gogol - Viy (2018) e Gogol - A Terrível Vingança (2018). A temática está calcada na fantasia e terror, embora o terror não descambe para aquele das produções americanas onde o susto advém da câmera fechada sobre o personagem passando para uma cena aberta a fim de chegar-se ao efeito desejado. Essa fórmula desandou para o clichê e, embora funcione sempre, incomoda. Particularmente não gosto de terror, mas em Gogol ele é tratado com elegância. Gogol (ele mesmo) é um escriturário judicial que passa por convulsões que ele percebe estarem relacionadas com assassinatos. Conhece o investigador Petrovich, de saída para investigar crimes na distante vila de Dikanka, região natal de Gogol e com a qual ele tem visões durante a noite. Convencendo Petrovich a levá-lo como ajudante, Gogol vai protagonizar um caminho repleto de descobrimentos e reviravoltas para desvendar o segredo por trás dos assassinatos. É uma ótima produção, com bons atores, roteiro inteligente e bem amarrado. Não tem as pontas soltas das quais reclamei na última postagem, sobre os filmes nacionais. Tem ótimos momentos, mesmo nas cenas trágicas: em um assassinato, a câmera rapidamente sai de dentro da casa, afastando-se noite adentro e mostrando a lua cheia iluminando as cercanias. O sangue espirra de dentro da casa e... mancha a lua!, transformando-a em uma lua de sangue. O fenômeno é causado pela junção do eclipse lunar com a Superlua, e está miticamente ligado a ocorrência de guerras ou grandes tragédias. Exatamente como as apresentadas na trilogia. Se puder, assista. A abordagem de terror absolutamente não será impedimento.


Tela de Wine-Searcher com preços do Chateau Potensac 2009.





2 comments:

  1. Aqui em Florianópolis se encontra o Chateau Potensac 2013 por R$ 450.

    https://www.hippo.com.br/produtos/detalhe/70633/vinho-potensac-medoc-tinto-gf-750-ml

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    1. Olá, Galois, obrigado pela colaboração à discussão.

      Embora a safra '13 não tenha sido tão boa, e a '09 tenha sido excelente, nada explica tamanha diferença nos preços, não é mesmo?

      Como já escrevi aqui, venho notando a entrada de grupos supermercadistas nesse mercado. O que você nos mostra é a simples confirmação do que venho escrevendo: pode demorar, mas as importadoras tubaronas (sic) estão com seus dias contados, se não mudarem de atitude.

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