Friday, September 22, 2023

Dois franceses, dois italianos. Nojentos.

Introito: nossa democracia, uma falácia


The next day was hangin' day, the sky was overcast and black
Big Jim lay covered up, killed by a penknife in the back
And Rosemary on the gallows, she didn't even blink
The hangin' judge was sober, he hadn't had a drink
The only person on the scene missin' was the Jack of Hearts
Música Lily, Rosemary and the Jack of Hearts
in: Blood on the Tracks, Bob Dylan, 1975


Há muito tempo apoiei Ali Lulá contra a pasmaceira e a idiotia. Quanto tempo o leitor poderia supor que eu gastaria considerando votar em um misógino truculento para ejetar da presidência um ladrão? Respondo: um microssegundo; basta termos essas duas condições na mesa, o misógino truculento e o ladrão... Mas o assunto é democracia. Lembram-se de notícia vinda da Espanha, onde o articulista considerava não mais vivermos nela? Está aqui. Recentemente (janeiro/23), o Noviorque Times ponderava - sobre o Xandão (o de Brasília, não o de Ribeirão) - Ele é o defensor da democracia no Brasil. Ele é realmente bom para a democracia? O juiz do Supremo Tribunal brasileiro foi crucial para a transferência de poder do Brasil. Mas as suas tácticas agressivas estão a suscitar debate: pode-se ir tão longe para combater a extrema direita? Agora vemos o ministro presidindo um tribunal onde ele próprio é acusador e juiz. Pode haver alguma tecnicalidade a permitir isso, mas não soa... democrático. Onde vi situação similar a essa acontecer, mesmo? Teria sido em Operação Valkíquira? É aquele filme onde a turma do bem (sic) tenta ass@ss#n@r o Adolfo e se dá mal... Depois caem no colo do Rolando (sic) Freisler, cuja maior aspiração na vida talvez fosse ser ator; não conseguindo, tornou-se apenas o responsável pela nazificação do sistema jurídico alemão. Então, vejamos... uma tentativa de tomada de poder via golpe pode envolver, principalmente mas não apenas:
   * A destituição do dirigente de governo com desmantelamento dos demais poderes constituídos.
   * Tomada de posições estratégias e consequente embarricamento defensivo.
   * A força das armas para apoiar a sublevação e posições conquistadas.
   * E, sobretudo, a presença física dos alvos da covardia, sejam o presidente, os deputados e senadores ou mesmo os membros da justiça, para serem feitos reféns ou ração para cachorro, tanto faz - sob a ótica dos golpistas, claro! 
   Então pretender os atos de vandalismo do dia 8 de janeiro - um domingo! - terem sido uma tentativa de golpe, levados a cabo por meia dúzia de tontos e grande parte de idosos e crianças - todos desarmados! - , soa como argumento aceito apenas por trepanados vítimas de rituais da Idade Média. Outro detalhe surpreende: as penas para os primeiros baguás condenados. Dúvida: está clara sem a menor dúvida a hierarquia dos golpistas? E se os buchas de canhão estão recebendo penas de 17 anos, qual ajuizamento receberão os intermediários? E os financiadores? E os cabeças? Minha percepção é que as buchas de canhão não são imputáveis como golpistas, ao contrário dos demais. Eles são vândalos, apenas. De maneira alternativa, o que um apoiador do bolsonésio publicando algo como 
 - aliás em postagem apagada pelo próprio autor, embora seu registro esteja amplamente espalhado pela internet - estaria sugerindo? Seria invocar a artigo 142 da Constituição, grosso modo a Garantia da Lei e da Ordem, que supostamente permitiria os militares promoverem um golpe de estado? Todos sabem a resposta, e ignorá-la é exemplo acabado de patetice. Os julgadores são patetas? 

   Dizendo de outra maneira: o início do julgamento sem a exata hierarquia dos atores devidamente compreendida e registrada soa ao leigo como o exemplo acabado de uma Corte Canguru. O evento do dia 8 é grave - gravíssimo - e deve ser punido da maneira mais severa. Não tenho certeza quais acusações podem ser somadas à de vandalismo, se danos ao patrimônio público e danos ao patrimônio histórico representam o mesmo dano ou se podem ser tipificados diferentemente, e portanto somados. Dado o lugar onde o fato aconteceu - as sedes dos três poderes - não se espera um único segundo a menos na aplicação da pena máxima. Mas a sugestão de golpe por tais pessoas é piada. Esse é um exemplo de falácia. Confrontados com alegação da defesa, para quem os Ministros... São as pessoas mais odiadas do País (sic), Xandão retrucou: Esses extremistas que não gostam do STF são a minoria. Ora, aí ficou fácil: para mostrar para a sociedade que sua declaração é apenas e tão somente a expressão acabada da verdade, basta ao Xandão e aos excelentíssimos ministros fazerem uma aparição relâmpago na Avenida Paulista e ouvirem a população. Eu gostaria de estar presente.

Reunião da confraria ʻXʼ

   Pow, uma das confrarias não tem nome...  e é a mais antiga... depois do falecimento do Wilson e o convite feito para a Margarida e Elvira juntarem-se a nós, Akira começou a referir-se ao grupo como as meninas. Certo, usávamos o mesmo chamativo para outra turma, Dani, Carol e Regiane, mas o contexto da conversa identificava univocamente de quem falávamos; as primeiras não frequentariam o Black Bird (risos), nem as segundas tinham janela para reuniões aos domingos. Precisamos dar um jeito nessa estória de nome...

O Ghidelli chegou com uma (boa) surpresa: uma xampa Premier Cru Brut do Barbier-Louvet. Já bebemos dela quando provamos também um Gravner, vinho produzido em ânforas (aqui), e como o assunto veio à baila recentemente e mais de um grupo, aproveito e indico a postagem. Xampa com seu já comentado toque de pão/fermento, boca equilibrada, acidez vibrante, pouco álcool (12%), marca pelo frescor. Vinhos assim, bebemos e contemplamos a vida... tem boa permanência e bom final... fica mesmo na boca... Enquanto isso um Ricasoli aerava e passou para o balde. O Chianti Classico Riverva Rocca Giucciarda 2018 aportou fruta vermelha discreta, especiaria e mais notas, mas um tanto presas. Conforme verificamos tardiamente, quando melhorou muito, falhei no serviço. Do que procurei dele (CellarTracker), não apareceram sugestões de maior aeração. Ele merecia... A boca, antes discreta, transformou-se em boa riqueza de fruta e mais complexidade, embora com acidez baixa a média, corpo médio, taninos um pouco pegados - guarde mais alguns anos - e final médio. Bom, para um vinho de USD 22,00. O Laurent Ponsot Premier Cru 'Cuvee du Noyer' 2017 vem da lavra de um dos grandes produtores da Borgonha. Para quem não está ligado ele aparece no filme Sour Grapes, onde o indonésio Rudy Kurniawan vive aprontando das suas falsificações até oferecer em leilão garrafas do Domaine Ponsot Clos St. Denis em várias safras, entre 1945 e 1971... enquanto Ponsot só começou a produzir naquele Cru em 1982... foi quando o caldo começou a entornar para o rapá. Ainda, eu não sabia sobre Ponsot ter deixado o Domaine da família em 2017, conforme foi noticiado pela Wine Spectator, iniciando nova empreitada com seu filho Clément. O sítio do novo empreendimento está aqui

Voltando ao Cuvee du Noyer, ele é produzido em Baune; Ponsot combina 8 Premiers Crus para produzi-lo, e confesso nunca ter ouvido falar em corte de Borgonhas. Para mim, um Premier Cru vinha de um determinado vinhedo categorizado como tal, e pronto. Vivendo a aprendendo... Dizem que Borgonhas são apreciáveis em qualquer idade - jovens, maduros e envelhecidos -, e suas expressões são bem diferentes. Claro, é uma generalização; exemplares muito tânicos como bons Pommards ou Cortons podem precisar de uma década, e até duas não lhes fazem mal. Mas o Wine Searcher dava indicação deste Cuvee poder ser degustado mais cedo. Então ficamos entre a dúvida e a decepção: se ele precisava de mais tempo ou se ficou abaixo da expectativa. Não, não pareceu-me fechado, mas faltava-lhe; tinha fruta no nariz, boca com a boa acidez característica, mas um tanto rápido e sem marcar; borgonhesco, sem dúvida, mas não como esperava, em se tratando do mítico produtor. Estaria miada essa garrafa, ou essa é sua legítima expressão? Em sendo, há emprego melhor para cerca de USD 100,00, mesmo na Borgonha. O terceiro vinho felizmente redimiu-me. As dicas foram certeiras; abri antes de sair e ele ainda respirou todo o tempo na D. Neusa. Produzido pelo Castello di Volpaia, o Prelius Morello di Prile 2015 vem da costa Toscana, de Maremma. É um corte 40% Cabernet Sauvignon, 40% Sangiovese e 20% Merlot. A região foi elevada de IGT a DOC em 2011, e portanto as cepas bordalesas são permitidas por ali; fato é que Prelius chegou para salvar a honra deste Enochato frente aos confrades: nariz muito rico, intenso, com a cereja da Sangiovese, especiaria, madeira distinta e mais complexidade. Cada um pegou algum detalhe - é muito rico! A boca não deixou por menos: é grande, suculenta, combinou bem com a carne - picanha -, ótimos taninos, muito redondos agora, bela acidez e longa permanência, com retrogosto bem marcado. Um vinho excepcional por cerca de USD 45,00. Esses tintos atualmente não são comercializados por aqui, até onde procurei, então não faz sentido falar em comparação de preços. O Chianti, gostaria de tentar outra garrafa, se tiver oportunidade. Mas se precisar escolher entre ele e o Prelius, não teria muita dúvida não...

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