Friday, August 21, 2015

Traquinagens de um leitor anônimo acerca da postagem "Fattoria di Travalda 2010: Contraponto"

   Vou afrontar o raro leitor com a discussão em que entrei com um leitor anônimo acerca da postagem supracitada, onde comento o preço do produto ofertado, o marketing envolvido e o custo do mesmo lá fora. Em resumo, é um vinho de 10 Euros vendido, na promotion (sic) a R$ 149,00. Vejamos o que ele escreveu primeiramente:
Você deveria abrir uma loja ou importadora para sentir na pele o que é ter uma. As coisas não são tão simples como você imagina. Quer comprar meu estoque encalhado, que paguei à vista?
   Ponderei que ele havia aberto uma importadora, que é um negócio de risco - como aliás qualquer outro negócio - por conta própria. Ninguém o havia obrigado a isso. Ele disse que eu fazia suposições erradas acerca de sua identidade. Minha presunção acerca da identidade (ser importador) tinha certa base lógica, afinal, dizer da necessidade de ter-se uma importadora para sentir na pele os problemas, e afirmar ter estoque encalhado, sugeriam fortemente tratar-se de alguém do ramo. Afinal, quem mais teria estoque encalhado? Bem, a ficha caiu logo: não um importador, mas um lojista. Trocamos  alguns insultos (rs) que o leitor pode acompanhar na área de comentários da postagem, e sua última postagem está abaixo, que eu vou responder por precisar "provar" alguns pontos através de imagens, o que não consigo fazer nos comentários. Ele disse:
Xabec? Que vinho é este? O Sr. acredita mesmo no Parker e sua equipe, não? Compra e bebe pontos, não vinhos. O Sr. conhece mesmo pessoalmente as importadoras que cita desta tabela e site que eu desconheço? Já visitou o depósito de alguma? Duvido. E por que acha que eu tenho uma importadora? Eu estou sim defendendo aqueles que sofrem com as dificuldades empresariais em nosso país.
Sugiro que o Sr. beba mais vinho de procedência, conheça os produtores pessoalmente, visite as vinícolas, em vez de beber pontos. Tente se divertir. Sou capaz de apostar que nunca colocou vossos pés em um vinhedo, ou entrou em uma área de produção de vinhos.
Saudações

   Vamos por partes.

  •    Xabec? Que vinho é este? O Sr. acredita mesmo no Parker e sua equipe, não?

O infeliz pergunta que vinho é este? como se o desconhecesse, mas cita que tem uma pontuação do Parker. Bem, parece que para esse pessoal que não dorme à noite porque o Parker simplesmente existe, um dublê de colunista como este sequer pode comentar a pontuação Parkeriana para alguns vinhos. E olha que na postagem (está aqui) eu sequer concordo com ela! Ou seja, o leitor anônimo nega-me o direito de concordar ou discortar (no caso, discordar) do Parker e critica-me por "acreditar no Parker"... sem ter lido o que eu escrevi! Beleza, heim?


  • Compra e bebe pontos, não vinhos

Essa é a máxima de todos os otários que criticam os avaliadores de maneira geral e aqueles que compram qualquer vinho avaliado. Se esquecem que os vinhos são avaliados, em sua maioria, à relevia dos produtores! Mas, para eles, avaliar é proibido. Um vinho é uma obra de arte em si; você compra e aprecia. Apenas aprecia! Criticar (no sentido de avaliar) não pode. Cadê a liberdade? Caro leitor anônimo: compro e bebo pontos sim senhor, compro e bebo vinhos sim senhor, e compro e bebo "não-pontos". Significa que compro (ou bebo, com os confrades) vinhos que não necessariamente tenham boas avaliações. Veja esse Brunelinho aí, cuja postagem está aqui:
Recebeu 87 (oitenta e sete) pontos do Parker. Eu não mencionei isso na postagem, mas pelos comentários fica claro que gostei muito.


  •  Por que acha que eu tenho uma importadora? Eu estou sim defendendo aqueles que sofrem com as dificuldades empresariais em nosso país. 

O porque de achar que o sujeito tem uma importadora (primeira opção que aventei) foi pela própria menção ao encalhe. Se tem um encalhe, ou é importador ou é lojista - que aventei no início da postagem, como segunda opção. Agora vamos lá: o leitor anônimo defende aqueles que sofrem com as dificuldades empresariais em nosso país. Ah, vá?! Então defende todo mundo, porque ninguém está livre dos encargos excessivos, dos novos impostos que afloram a cada crise ou da bagunça fiscal que é nossa legislação. Ademais, aqueles que operam em margens razoáveis sofrem as mesmas dificuldades daqueles que operam em margens pornográficas! Para mim, então, a diferença de margem tão díspar entre importadoras explica-se por pelo menos um dos motivos (pode ser uma conjugação): inefável apetite por dinheiro ou espetacular exemplo de baixa eficiência ou mesmo incompetência na gestão empresarial. No Brasil a má gestão ainda é possível, enquanto no "mundo civilizado", já teria falido; a concorrência é grande e má gestão enterra qualquer empresa. Aqui, os importadores aproveitam-se de consumidores desavisados para (tentar) cobrar o quanto querem por seus produtos.


  • Sugiro que o Sr. beba mais vinho de procedência, conheça os produtores pessoalmente, visite as vinícolas, em vez de beber pontos.
Vinho de procedência... não é, este mesmo, apenas outro sistema de avaliação? Com o grave inconveniente de ter absolutamente nenhuma transparência. Parece ser assim: o Iniciado Supremo diz qual é o vinho de procedência e o consumidor compra, quieto, às cegas. Qual a diferença de comprar às cegas, somente, sem a recomendação do Iniciado Supremo? Claro a diferença é o próprio Iniciado Supremo (risos!), que no final parece servir apenas para nos cobrar os tubos pela sua sapiência.. Como alternativa, prefiro o sistema de pontuação, sem dúvida nenhuma.
O duro é que nosso leitor anônimo menciona nas suas postagens iniciais sobre mim que "objetividade não é o seu forte". É aí que fica patético. Mas olha, a sugestão em si não é tão ruim. Só falta dizer onde eu arrumo uma "entrada de dólares", preferencialmente em notas de 100, para manter minha taça cheia de... "vinhos de procedência". E afinal, se os vinhos dali de cima não são de procedência (ele deveria ter lido minhas postagens antes de sugerir isso, né?), fica a pergunta: quais seriam, então? Os vinhos caros que ele vende? Permita-me dizer: eu posso beber vinhos de procedência, conforme sugerido. Mas não aqueles comercializados com margens abusivas. Envie-me sugestões de boas compras de verdade, que eu terei prazer em experimentar.

Conhecer os produtores? Isso é tarefa do importador, e do lojista, não do consumidor final. O argumento é fraco por definição. Mas vamos lá, apesar de não ser fácil manter contato com produtores quando se mora no interior:

Com Tomás Roquete, da Qualimpor. Não costumo usar fotos de outros lugares em minhas postagens; a foto acima foi publicada aqui.

Com Giuseppe Albertino, enólogo da Podere Roche Dei Manzoni. Postagem original aqui. Ou seja: o interlocutor não lê as postagens, mas quer opinar e sugerir... o óbvio, nada mais que o óbvio...

Com Pia Ravanal (à minha direita), da Vinã Ravanal.



Como já disse, eu bebo vinhos, eu bebo pontos, e eu bebo "não-pontos". Não preciso seguir sugestões limitantes, por óbvio. Ademais, como pretenso "jornalista" do mundo do vinho, tenho por obrigação opinar sobre; a alternativa é cair no jornalismo marrom ao engolir sugestões daqueles que só bebem... vinhos de procedência.


  • O Sr. conhece mesmo pessoalmente as importadoras que cita desta tabela e site que eu desconheço?

Olhaí a barbaridade  (rs). O "site que eu desconheço" é o Enoeventos, citado na matéria em questão. O infeliz desconhece as fontes que cito, mas quer me criticar assim mesmo. E não estamos falando de um livro raro, de difícil acesso, mas de... um sítio de internet! Ô, cara-pálida, vai se informar antes de entrar na discussão, para não passar por tolo. Enoeventos faz um ótimo trabalho de divulgação de vinhos, abriu uma importadora que trabalha com preços honestos, e os dados acerca da avaliação das margens das importadoras por eles publicados estão à disposição do internauta. Então informe-se. Pare de lutar pelas tralhas, e junte-se aos bons. O pior: cobra-me que conheça todas as importadoras. Algumas parecem-lhe são ser o suficiente. Conheço, por exemplo, a Delacroix. Ligue lá, converse com o senhor Daniel. Diga-lhe meu nome e fale da cidade onde moro (todos esses dados estão disponíveis no meu perfil). O telefone deles é 11 3097 8917. Ele vai confirmar que conheço a loja e o estoque.


  • Sou capaz de apostar que nunca colocou vossos pés em um vinhedo, ou entrou em uma área de produção de vinhos.

Bem, vamos lá:
Na vinícola Aurora. Sim, a data da foto está correta, foi em 2.000. Espero que o senhor saiba reconhecer um tonel de 6.000 litros.


Em um dos vinhedos da Concha y Toro, e na cave onde matura o Casillero del Diablo.

Na Viña Ravanal, onde ocorre a fermentação em tonéis de inox.

Tenho ainda fotos na Cousino Macul, na Santa Rita, na Santa Carolina e na própria Ravanal, em meio aos vinhedos e na área de produção dessas vinículas e outras na Argentina. Questão de procurar. E haja paciência para tirar fotos de fotos, conforme mostra a seleção abaixo, com intuito de certificá-lo de que são fotos mesmo. Pensando bem, não é questão de procurar; não farei isso. Acho que vosso ledo engano está mais do que demonstrado.




  • Tente se divertir.

   Do meu jeito, pode ser? Ou tem que ser do seu, sem a liberdade de escolher meus vinhos, pontuados ou não?
   Ah, em tempo:
Chile: país lindo, de mulheres maravilhosas. Acho que eu sei me divertir. De fato não preciso dessa sugestão, por mais cheia de boas intenções.

Como é que se diz, mesmo?

Enoabraços, do
Enochato sem galochas

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