Sunday, June 7, 2020

Ferraton Châteauneuf du Pape Les Parvis 2009

Introito

   O leitor eventual pode não estar acostumado às minhas histórias. Notou o "h"? Porque o que vai narrado aqui é absolutamente verdadeiro e fiel aos fatos, em seus mínimos detalhes. Um exemplo claro do meu amor e respeito pela precisão dos fatos, do quanto sou meticuloso quando narro os acontecimentos que presencio, está aqui. Basta o leitor ler e julgar por si. Não há espaço para a menor mentira ou fantasia na narrativa. Óbvio! Assim, ele pode estar seguro de que as próximas linhas serão igualmente rigorosas e verdadeiras.
   Estava no Rhône, certa feita. Em uma praça. Também presentes, em um banco próximo - conhecia pelas fotos - o Michel Ferraton e outro sujeito. O Michel chorava suas mágoas: a vinícola estava mal das pernas. Sentia que o agrônomo o estava boicotando. O enólogo não estava sendo feliz nas escolhas. Os vinhos estavam 'une merde'... Falavam em americano (sic! rs!) não sei porque, mas essas palavras ele pronunciou em francês mesmo. Felizmente eram próximas do português, e consegui entender também. Mas o Michel Ferraton estava num monólogo só. Ele estava triste, tristinho, que dava dó...
   Acontece que o outro ao lado dele era seu amigo de infância, de pré-primário (ou equivalente Francês), o (também Michel) Chapoutier... Para quem não sabe, Chapoutier é de longe o produtor mais importante do Rhône. Forcei a barra? Tá, um dos três mais importantes...  desde que ocupe a primeira e segunda posições... Bom, deu pra ter ideia de quem é ele.
   - Michel (Ferraton!), não se avexe. - disse Chapoutier com seu sotaque característico. - Façamos assim: pegue este cheque em branco e me venda metade da sua vinícola. Vou te mandar meu agrônomo e depois meu enólogo. Vamos restaurar os melhores dias do sonho do Jean Orëns, seu saudoso pai.  - corria 1998 do ano da graça de Nosso Senhor. O resto, é história - notou o 'h'?

O Rhône

   O Rhône é um rio que nasce na Suíça e corta o França ali pelos lados da Itália, dando nome a essa região vitivinícola tão cara aos iniciados no culto a Baco, até desaguar no Mediterrâneo. Ao norte, é dividido em pequenas regiões, algumas delas muito singulares. São elas: Côte-Rôtie, Condrieu, Château-Grillet, Saint-Joseph, Crozes-Hermitage, Hermitage, Cornas e Saint-Péray. As mais interessantes - para o pobre mortal ($$), e ainda assim... - são Condrieu, Crozes-Hermitage, Hermitage. Condrieu produz apenas brancos baseados na cepa Viognier. O Condrieu é a antítese do vinho branco sul americano por um motivo muito singelo: é bom... experimentei bem poucos até hoje, mas nenhum deixou-me menos do que a sensação do 'maravilhoso'. Às vezes precisa de tempo (duas horas) para abrir. Hermitage é a dita a porção sangue-azul da região, e é quase toda cercada por Crozes-Hermitage. Dá para perceber que Hermitage é o miolo de uma região que já é nobre. Encontramos Crozes-Hermitage de bom custo no Brasil, a R$ 120,00, se procurar bem. Hermitages custam bem mais, mas lá fora possuem preços atraentes (tá, não com o 'dóla' a R$ 5,00). Tá, não com esse 'dóla' (sic). Ao norte, a Shiraz é a unica uva tinta permitida.
   No sul do Rhône existem muitas mais zonas, e pode haver uma combinação de até 13 cepas tintas (em Châteauneuf du Pape). Poucos produtores plantam todas as cepas, e as mais comuns são a Mourvèdre, a Grenache e a Shiraz. Mourvèdre muitas vezes é a base, mas nada impede que alguns produtores usem a Grenache como ponto de partida para seus exemplares. A quantidade de estilos varia muito mas não podemos dizer que um estilo seja melhor do que o outro. Talvez Rhône seja o epíteto da variação estilística na produção de vinhos mundo afora, e uma doce lembrança de que não devemos nos fixar a apenas um produtor, escola ou país.

Ferraton Père & Fils

   Ferraton Père & Fils é um produtor cujos vinhedos cobrem boa parte do Rhône, de norte a sul. Seu sítio é simpático, embora não traga muitas informações sobre safras passadas, por exemplo. Dá para o gasto, se o leitor procura informações básicas sobre seus diversos vinhos. E tudo o que experimentei até hoje de Ferraton foi do meu agrado. Infelizmente Ferraton não tem uma casa muito fixa no Brasil, o que acaba afetando seu preço. Falarei disso no final.

Ferraton Châteauneuf du Pape Les Parvis 2009

   Este CdP com 11 anos se enquadra bem naquilo que costumo chamar de 'felicidade engarrafada'. É mais uma arma para passarmos estes tempos tão solitários de enfrentamento ao Covid: abriu com boa fruta, pouco álcool (tipo, quase dá para abrir e servir), ao menos no exemplar com essa idade. Nos mais novos, talvez algum cuidado com o serviço seja necessário. Está no ponto. Minha segunda garrafa fica para 2021. Talvez 2022, mas não prometo (rs). Fundo de café (chocolate?) - rs - acho que café. Na boca algo doce sem sinais de afetação. Boa acidez, pede passagem e abre caminho quando desce pela garganta. Não tem final loooongo, ou tão marcante, mas é a boa e justa medida. Casou bem com uma pizza de pepperoni. Indispensável estar de bem com a vida ao se beber um vinho desses: ela pegará umas cores a mais. Acho que escrevi recentemente, que um vinho abrilhanta uma boa conversa. E é verdade. Mas - também devo ter escrito - um Ferraton ao som de Zé Geraldo é o necessário e suficiente para você rir sozinho, ficar feliz...
   Volto a falar sobre a casa do Ferraton no Brasil. Não sei bem quem o importa agora. Na época em que comprei diversos Ferratons, era a Enoeventos. Infelizmente é um importador pequeno, não tem como fazer frente às grandes empresas do ramo, que às vezes chegam no produtor com uma oferta melhor (comprar mais, por mais tempo). Sei mesmo que comprei muitas garrafas, mais do Crozes, menos do Hermitage (sic), e duas deste Châteauneuf. Foi numa bréqui fraid. E escrevi justamente sobre isso, em postagem passada, sobre o Crozes-Hermitage La Matiniere (2010):
'Comprado da Enoeventos na melhor Black Friday que já vi', escrevi, comprovo e dou fé, veja aqui.
   Aliás, até algum tempo atrás Enoeventos tinha algumas garrafas de Ferraton. Fiquei namorando, e dancei.  Mas sejamos francos: experimentei bons momentos desse produtor. Que elas tenham ido para alguém que ainda não o conhecia. Sei mesmo que, quando comparei o preço de Enoeventos e em outras lojas do ramo, o preço de Enoeventos estava uns 30% mais barato. Você já viu essa estória, né leitor? Tipo... o vinho muda de casa e sobre o preço... pois é...
   E assim quem frequenta estas páginas pode construir, bloco a bloco, a 'Confiança' de tudo o que escrevo é verdadeiro, fiel e preciso em seus mínimos detalhes. Sem dó nem medo. E tenho dito.

Quimeras...

   Quimera, segundo o dicionário, é (em segunda definição 😁), combinação heterogênea ou incongruente de elementos diversos. Estava concluindo esta postagem quando recebo uma 'promo': Quimera, da Achaval Ferrer, sob a ridícula toada de 'Faz Tremer muitos Bordeaux Famosos'. Bem, talvez eu esteja sendo muito precipitado e 'pré julgando'... Talvez faça... 'tremer de rir'...  os muitos Bordeaux de média fama - e não mais. O que dizer dos famosos...
   Ô, leitor desavisado... vamos com calma, vamos posicionar essa caterva sem noção em seu devido lugar. Tá, não experimentei safras mais recentes deste que reconheço ser um bom produtor argentino - um dos melhores, e isso não é pouca coisa. Experimentei Quimira há uns 6, 8 anos. Bom vinho, no padrão sul americano. Mas esteja ciente de que é um dos vinhos de entrada do produtor. E custa (é, custa, significando pedem por ele) R$ 380,00, propagandeado sob a alcunha (alcova! 😝) de 'Faz Tremer muitos Bordeaux Famosos'. Quais, cara-pálida? Ora! Reafirmo, é um bom produtor. Mas bebemos recentemente um top de Achaval Ferrer. Está aqui! Frente ao fracassado 'do' Sassicaia, sequer for lembrado de sua ridícula existência. E o Sassi (sic) tomou couro forte de um borgoinha (risos!) de um terço do preço, e mais barato do que o próprio top de Achaval Ferrer, na média. Faz quem tremer, VAGABUNDO? Ora, tempos terríveis que vivemos. Qualquer VAGABUNDO escreve o que quer, incólume? Não aqui! É compreensível que o produtor queira vender seu produto a qualquer preço? Até é. A isso, chamamos 'mercado'. Agora, um vendedor, que precisa (precisa? tá, não precisa, mas pretende!) passar para o cliente uma imagem de 'confiança' ao oferecer-lhe boas ofertas, assumir esse papel de vender a qualquer preço, é de-plo-rá-vel. Já comprei desse anunciante. Não compro há algum tempo por falta do que considero 'boas ofertas'. Este é um excelente anti-exemplo de 'boa oferta'. Se precisar explicar mais, faço em juízo. A opinião deste travesti de analista é de que trata-se do exemplo acabado do que hoje em dia chama-se fake news. Pode cair bem para a massa de bocas-tortas desavisados e sem noção que povoa o país. Mas cai mal para quem conhece o mínimo de vinho. A crítica especializada de vinhos nunca tinha atingido nível tão baixo. Tá, tinha! Desde que a metralhadora de notas 100 chegou ao mercado chileno e deu uma rajada de notas máximas por lá. Consumidor, afine-se. Aprenda. Se você pensa em pagar R$ 400,00 por uma garrafa, compare. Pense. Seja crítico. Questione. Não caia em conversa mole. É muito fácil: acima de R$ 100,00, em 'boa compra' - este blog cita muitos exemplos - um sul americano em uma taça e um europeu em outra, é uma briga desigual. Em favor do europeu. Não é babar ovo para os europeus - que são melhores mesmo. É a simples constatação de que os sul americanos estão absurdamente caros! Se na comparação você não perceber... apenas lamento. Precisa aprender mais. Cansei.

Post scriptum

   Vigilante to vinho, alerta-me Don Flavitxo:

E olha, tá caro. Quer saber mais?
  Pqp! Ainda me chamam de gentio (sic! rs!).  Perguntei se os CdP que ele comprou eram... pelo menos 'iguais'... só que não...









3 comments:

  1. Então, Big Charles... Mas aí tem duas questões: Os CdP estavam com o preço abaixo do esperado, considerando o preço que são vendido lá fora e eu soube escolher bem, pois há muito CdP sem-vergonha no mercado (assim como Barolo, Brunello etc). No entanto, isso não justifica os preços altos que os vinhos chilenos e argentinos têm atingido no Brasil, o que os coloca em desvantagem evidente frente aos europeus. O problema dos chilenos é ainda mais grave, pois os ditos vinhos "Premium" são até mais caros lá, o que não acontece na Argentina, onde se pode comprar a maioria dos vinhos a preços bastante atrativos.
    Abraços,
    Flavio

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  2. *corrigindo a concordância: ..."estavam com os preços abaixo do esperado, considerando os preços que são vendidos lá fora..."

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    1. Don Flávio, como vai? Erros de digitação facilmente explicam concordâncias errada (sic! rs!), e não precisamos nos preocupar em corrigi-las. Ainda mais nas janelas minúsculas que existem em algumas plataformas (😆).
      Grande verdade tudo o que vc escreveu, e algo nessa direção creio ter comentado aqui. O caso mais triste é dos chilenos: alguns custam nos EUA 'um terço' - sim, 33% - do que custam no próprio Chile. Tem coisa muito errada...
      Também já escrevi: sonho com o dia em que o consumidor brasileiro vai acordar "e" (conectivo de adição!) vai aprender a beber vinho. Nesse dia, prevejo que num 7 de Setembro do Próximo Reinado do Senhor - estaremos livres das amarras da ignorância e o cidadão poderá consultar nos blogs por aí muita informação sobre péssimas compras, compras e boas compras.
      Bom domingo.

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