Sunday, June 28, 2020

Merlotis (sic): Franschhoek Cellar

Introito: da pobreza do povo brasileiro ao Paradoxo de Tostines

   Como era mesmo o paradoxo daquela marca de bolachas? Vendia mais porque era fresquinha ou era fresquinha por vender mais? Enquanto bebo - logo existo! - o Landau guitarreia e fede a gasolina em sua live de aniversário. Cá do meu lado, experimento uma fase difícil - e, claro, um vinho. Primeiro a fase. E ela diz respeito ao povo brasileiro.
   Empobrecemos. Uma Libra vale R$ 6,76. Até aí, poderia valer R$ 10,00 se tivéssemos os empregos 'em caixa'. Mas nem isso. Assim, milhões de pessoas estão vivendo com menos de £100,00, com um desejo do governo central de que a benesse fosse de... £30,00! Mesmo para quem tem condição um pouco melhor - e a bênção de continuar trabalhando - viajar ou mesmo 'acessar' produtos estrangeiros ficou muito mais difícil.
   Este Enochato é insignificante demais para pensar em escrever uma carta destinada a qualquer energúmeno de plantão. Mas... onde está a inteliguência (sic)? De preferência, alguém terrivelmente evangélico (onde foi que ouvi isso?) para dizer o que é preciso. Não há niguém? Em frente a uma sociedade calada, acomodada e com o rabo escondido entre as pernas, na falta de mais atitude, no momento em que a coragem parece se esvair, sem melhor opção do que a clara mediocridade desta postagem, vamos de Enochato mesmo! - ouviram, 'pensadores' do meu Brasil?
   - Seu governo acabou! Vá embora. No popular, peça para ca... para ca... para catar coquinho!
   - OUVIU, covas?
   - OUVIU, dória?
   E o que dizer do Energúmeno Mor, cuja alcunha poderia ser Obscurantista, Escuridão, ou mesmo Trevas? O que dizer do 'dono' da camarilha que se apossou do palácio presidencial?
  Trilhamos tempos ruins. Tempos de temer o pesadelo do futuro, de comer o pão amargo da angústia, de beber o vinho passado do desespero. Vejamos se podemos aprender alguma coisa observando o mundo ao nosso redor. E esteja certo, leitor: isso não acabou aqui!

O vinho na África do Sul

  A África do Sul figura entre os produtores do Novo Mundo, e passa um pouco desapercebida aqui no Brasil. Mas seus vinhos não são desprezíveis. Aliás, desprezível é quem os despreza (risos). E não apenas pela qualidade; também pela sua 'política'. Vamos devagar. Vamos por partes. Vamos torturar o inexistente leitor.
   O país tem proximadamente 110.00 hectares plantados (dados de 2003...), contra 860.000 hectares na França (dados de 2007) e meros 5.000 hectares no Brasil (dados de 2003, e somente para Vitis vinifera; o total seria de 80.000 hectares, contando 'uva pra chupar'). Para melhorar a comparação, o Chile planta 214.000 hectares.
   Exitem várias regiões vitivinícolas (Constantia, Paarl e Stellenbosch), cada qual com distritos, mais ou menos aclamados, produzindo brancos (principalmente), tintos, rosês, espumantes pelo método tradicional e fortificados. Veja mais no vínculo acima (e neste, rs).

O Vale do Franschhoek

   O Vale do Franschhoek foi incorporado à macro região de Stellenbosch no princípio dos anos 2000. De maneira geral, o vinho é produzido na África do Sul há... meros... 360 anos... (!) Um pouco mais nova, a cidade de Franschhoek foi fundada por huguenotes em 1688, que ali estabeleceram uma cooperativa que leva o nome da cidade: a Franschhoek Cellar.
   Mas... o que diferencia o vinho sul-africano do vinho brasileiro? Além de ser bom (e do volume), os sul-africanos souberam fazer a lição de casa: eles nos ensinam que difundir a cultura do vinho também passa por vendê-lo a preço acessível... vejamos um exemplo.

The Old Museum Merlot (2014), Franschhoek Cellar

   Quer um vinhozinho simples mas agradável, 'descompromissado', para beber no almoço e acompanhar uma macarronada à bolonhesa, ou uma pizza à noite? Um vinho com fruta bem presente no nariz, madeira discreta, corpo médio, um amargor final que antes de incomodar, marca presença? Acidez um pouco baixa, é verdade, mas... a perfeição se procura em outro lugar... aqui é lugar de um vinhozinho 'maneiro', bem melhor que a média brasileira. Bem, se essas características o agradam, The Old Museum Merlot poderia ser sua opção. Só que não...

   Outro dia estava conferindo o preço de vinhos por aqui. Um Country Wine, vi de R$ 15,00 por R$ 12,00. Um Sangue de Boi, entre R$ 12,00 e R$ 20,00. Bem, digamos que uma média destes é R$ 15,00. Suaves, adocicados - com todo respeito ao produto e a seus consumidores - isso só é 'vinho' no rótulo. Entendamos por 'vinho' como uma bebida feita de uva que equilibra álcool, taninos, açúcar e acidez, para ficar nessa definição bem simples. Então não falamos de vinho nesses exemplos, já que o açúcar está em franco desequilíbrio são 'vinhos' suaves!
   A Franschhoek Cellar nos brinda um Old Museum Merlot a 450 Rands a caixa com 6 garrafas. Vamos converter.. e nos divertir... Repetindo: nossa moeda desvalorizou-se mais de 30% nos últimos tempos. Empobrecemos. Nosso dinheiro compra, lá fora, ... o que? Vento. E as contas abaixo são feitas com nossa moeda desvalorizada, o que só compromete tudo ainda mais.



   A caixa com 6 garrafas de Old Museum Merlot custa no sítio do produtor R$142,60 (dá R$ 23,77 por garrafa - e ficou 30% mais caro, com a crise. Sem ela, o preço seria menor.). Percebe a diferença? Imagine na sua mesa do almoço uma garrafa de vinho inferior - mas vinho - pelos mesmos R$ 20,00 - afinal, é inferior... No dia em que o vinho tinto brasileiro melhorar bastante e custar R$ 20,00, o cidadão poderá colocá-lo em sua mesa. E teremos uma cultura de consumo. Será que pensar em R$ 20,00 o custo final desse hipotético produto é sonho de uma noite de verão? Eu sei que, o dia em que isso acontecer, valerá o dilema proposto na postagem: o vinho venderá mais por estar baratinho, ou por estar baratinho venderá mais?

Sonho de outra noite de verão

   Fiquei pensando: o produtor vende a caixa por esse preço, R$ 24,00 a unidade. Faz o manuseio (separa, empacota), o despacho, a cobrança, e sabe-se mais o que exista nessa logística. Se o sujeito chegar lá com uma carroça e mandar:
   - Coloca mil caixas aí em cima...
   Será que o preço fica mais em conta? Deve ficar, não? Aqui custa, com desconto, cerca de R$ 130,00. Façamos a conta de 100% de imposto em cima do preço do sítio (R$ 24,00) e agora vamos suportar o insuportável, aceitar o inaceitável, e... explicar o inexplicável... ou, quem quiser, que tente...

18 comments:

  1. Esse vinho de 4 doletas aí deve ser triste, hein? rsrsrs... Caramba! Melhor você tomar um Carmenére então...
    Eu mesm

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    1. Carmenère, vinhos e espumantes nacionais e sul americanos de maneira geral eu sempre experimento em degustações 😐. É para poder falar mal com propriedade...🙄 E observe que não é falar por falar. É falar depois de avaliar. Espero viver para reformular minha opinião. Então vem a Roda Viva e diz: 'só que não'... 🤣😂
      Sobre o vinho de 4 dóla... temos que experimentar, dar chance. É assim que o importador vai nos mostrando o que tem a oferecer.

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    2. Experimenta sempre os mesmos...rsrs. Assim, sua opinião será enviesada.
      Mas para de tomar esses sulafricanos de 4 doletas... Vão fazer mal para o seu paladar já meio comprometido... Como põe aquelas carinhas de risada???? kkkk

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    3. Bom, experimento o que tem. E não experimento só aqui. Quando fora, também. Mais do que isso... quer milagre?
      Não sabia que o Franschhoek custa apenas 4 dóla. Outro vinho da franquia custo 8 dóla lá fora e está R$ 84,00. Só descobri na postagem. Você sabe que não costumo comprar vinho nessa condição, às cegas pelo preço.
      Carinhhas? 😠
      A tecla da janela do Windows mais o ponto (ambas ao mesmo tempo). No seu caso, talvez vc precise usar a língua para ajudar, mas tudo bem... 😂🤣

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    4. Vamos testar se sua experimentação está enviesada ou não... Vou te perguntar de alguns produtores e/ou vinhos a seguir, disponíveis no Brasil. Diga-me quais já experimentou (seja sincero, hein!):

      Pedro Parra y Familia (Pencopolitano etc);
      Garcia Schwaderer;
      Clos des fous;
      Laberinto;
      Bodegas RE;
      Andes Plateau;
      Matetic EQ Syrah ou Pinot Noir (esse é um fácil);
      Villard (outro fácil);
      Huaso de Sauzal;

      Fiquei só nos chilenos. Todos podem ser encontrados aqui. Esqueça o preço agora. Só me fale se os conhece.

      Ah, eu disse que o vinho sulafricano que você citou custava 4 doletas por que você mesmo disse que ele custava 24 Reais lá... Então, fiz uma conversão pelo preço aproximado do dólar. Arredonda para 5 então...

      Não sei fazer essas carinhas! E em as enxergo direito, pois sou cegueta!!! rsrsrs

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    5. Bem, novamente... essa discussão não é uma competição. Não da minha parte.
      Sabe, é docemente engraçado ouvi-lo falar de Matetic. Suas postagens sobre ele são de safras 2010 a 2012, postadas entre 2013 e 2014. Eu já tinha parado de beber essas coisas😎... Recebeu minha foto com rótulo da safra de 2008? Ainda bem que guardei!
      Pedro Parra começou em 2006... e em 2009 eu estava desistindo dos Chilenos. Não haveria tempo hábil para saber dele e me interessar por ele. Não sei dos outros da usa lista, quando começaram. Conheço Bodegas Re, Andes Plateau e Clos des Fous só de nome. Experimentar, só os Matetic. Desses, foram vários. Gostei, na época. Mas só conhecia Chilenos, praticamente. Não tinha padrão de comparação.

      A recomendação de "esquecer o preço" não pode ser considerada. Por princípio, nunca tive outra postura (rs). Também só compro de certas importadoras em condição de 'promoção' - e ultimamente nem isso, o que de fato compromete a extensão da minha experiência. E novamente, isso não é uma competição. Apenas acho que meu rol de experimentos não foi pequeno. É muito maior do que os vinhos que circulam pela nossa região e muito menor do que o número de vinhos disponíveis à minha época no Chile. Pode não servir para tornar-me um expert - nem quero! - mas dá-me um panorama geral dos vinhos lá produzidos. Suficiente bom para olhar o preço, a qualidade e dizer: - Não presta.

      Sobre o sulafricaninho (sic), sua conta aumentou o valor dele (em dóla) em 25%(!). Mas acho que ambos concordamos que a situação dele não mudou...

      PS: quem falou "4 dóla" foi você! Só embarquei na onda... 🤪

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    6. Mas quem está competindo??? Só estou dizendo que suas conclusões podem estar enviesadas. Mas o que tem a ver o Pedro Parra começar em 2006? E é certeza isso? E foi apenas um produtor que citei. E de toda a lista, você disse conhecer o Matetic (aliás, o Corralillo). E por que o rótulo dele está pregado em um quadro especial na sua adega? Te entreguei, hein!
      Ah, faz a conversão hoje e verá que 24 Reais dá 4,44 Dólares. Mas como você disse, não faz diferença.

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    7. 😂🤣 A impressão é essa... e parece que acertei em cheio... 😁😂🤣 Nota-se isso pelo excessivo "???"
      Ademais... o Chile tem quantos produtores? 300? 400? Mais? Fechamos em 300? Vc escolhe "meia dúzia" e eu preciso conhecê-los, caso contrário minhas conclusões estão enviesadas... ora essa... 🙄 Nem posso conhecer outros, além da sua seleção?
      E o pior... ainda conheço um, e o outro, começou a produzir só em 2006 logo depois que não acompanhei mais vinhos chinelos (sic).

      O Corralillo não, definitivamente não está pregado em 'um quadro especial'. Ele só está em um quadro. Queria forrar a parede da adega com rótulos, e aquele não seria então nem um pouco especial... só que cansei... 🙄 😂🤣 Ou forro com RC ou nada feito.

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    8. RC= Roberto Carlos?

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    9. Na trave... e depois quer que eu reconheça vinho chinelo, digo, chileno..🥺

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    10. Ah... Deve estar se referindo a DRC... Do Reservado Chileno...

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    11. O utente anda com fixação em vinhos chilenos... bebeu poucos, quando era pequeno?

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  2. Sr. Carlos,
    Boa noite. Como está? Eu acho aqui em Araraquara aquele vinho sul africano da marca Nederburg. Ele é bom? Não custa muito caro.
    Abraços, Leonardo

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    1. Olá, Leonardo, prazer em revê-lo por estas páginas. Bebia dele há muito tempo - ali pela época em que ele foi o vinho "oficial" da Copa do Mundo, lembra? Naquela época, acostumado aos vinhos de pouca acidez, lembro de ter gostado. Não é um vinho desequilibrado, então acho que vale a apena. Ainda mais se você não conhecer muitos exemplares africanos, ou conhecer poucos. Boa sorte.
      Carlos

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    2. Boa noite Sr. Carlos,
      Agradeço a resposta. Nessa semana completei 40 anos e ganhei um presente da minha esposa. Meu amigo que gosta de vinho me disse que ele é um vinho maravilhoso. Se chama Cos Apalta. O Sr. conhece? Meu amigo disse que eu tenho que abrir 2 horas antes de beber, para decantar.
      Abraços, Leonardo

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    3. Oi, Leonardo.
      Depois fiquei pensando, minha última msg talvez estivesse um pouco incompleta. Experimente o Nederburg Pinotage, que é a uva 'carro-chefe' da África do Sul. Não que outros Nederburgs não sejam bons... é que esse é o mais 'simbólico'.
      Sobre seu presente... vc quer dizer o Clos Apalta?! 😯 Conheço de nome. Já bebi algumas garrafas do Cuvée Alexandre. Trouxe uma safra 2001 do Chile, há muitos anos. Foi um achado, porque foi mais ou menos em 2011 ou 2012... não é comum encontrar safras tão antigas no Chile... Se for o Clos Apalta, ele tem um preço proibitivo, na minha opinião. Tanto lá, quanto cá. Ganhou esse? Parabéns. A sugestão de 2 horas condiz com um vinho Chileno. Não precisa mais do que isso. E, muito mais, estraga... (gargalhadas!). Não, não, brincadeira. Por favor, não leve-me a mal. Casa Lapostole um bom produtor, e você ganhou um belo presente. Não quero ser um desmancha-prazeres,mas se abrir com um europeu bem comprado aqui, na metade do preço, verá que o Clos Apalta terá dificuldade em competir. De repente é chato ouvir isso com um presentão desses na mão... mas todo mundo tem que passar por essa fase de aprendizagem. Não é ruim. É apenas 'o caminho'. A minha sugestão é que, quando for abri-lo, chame sua confraria e que eles coloquem um europeu de bom preço. Será, no mínimo, uma boa 'brincadeira'. Tenho feito algumas ao longo do tempo... veja aqui, no blog do Flavitxo Vinhobão, http://vinhobao.blogspot.com/2014/06/boa-briga-as-cegas-castillo-ygay-gran.html

      []s,
      Carlos

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    4. Boa noite Sr. Carlos,
      Obrigado pelas dicas. O vinho é mesmo o Clos Apalta 2015. Um de rótulo azul. A garrafa é bonita. Vou abrir no nosso aniversário de casamento, que está chegando.
      Abraços, Leonardo

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    5. Sim, o rótulo é azul. Será uma boa comemoração, você verá. Depois me conta...
      []s,
      Carlos

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