Sunday, September 20, 2020

A hora e a vez do bom vinho

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 Introito

   Sabe quando o carro está com um grilo e o usuário vai deixando? O barulho vira um Grillóideo (coletivo, tomado por base o nome da subfamília) e o usuário continua lá... só abastecendo e dirigindo para frente. Daí o veículo funde o motor, e o motorista sai gritando e pedindo socorro. Pois é, meu pisca-alerta de vinho bom já estava aceso há algum tempo. Finalmente decidi que era tempo de uma revisão geral naquilo que entrava em minha taça. Por vários motivos já vinha pensando nele. Seja por conversas com o Jairo, seja por alguma sanha qualquer, ele estava na mira e minha única dúvida era o acompanhamento. Para desespero dos detratores e felicidade geral dos público fiel, deu tudo certo.

Gratallops

Gratallops é uma cidadezinha perdida no desconhecido condado do Priorato, parte da separatista Catalunha no obscuro Reino de España. Tá, risca essa última parte. A Espanha não é desconhecida. Aliás, está ali, entre o terceiro e quarto lugares entre os melhores produtores de vinho do mundo. Com França e Itália nos dois primeiros postos desde sempre, disputar a terceira posição não é pouca coisa. Durante muito tempo o Priorato passou desapercebido tanto ao grande público quanto a outros produtores espanhóis, a despeito de eventualmente produzir vinhos surpreendentemente bons, como o Cellers de Scala Dei na safra de 1974, segundo nos conta esta página. Foi René Barbier III, descendente de vinicultores franceses quem, em 1979, fundou Clos Mogador a partir de uma plantação de antigas vinhas abandonada. Alguns anos depois, Gratallops marcava seu lugar no mapa do vinho.

Clos Mogador

Clos Mogador é um vinho classificado como DOCa - Denominação de Origem Calificada. Significa 'apenas' que pertence à elite dos vinhos espanhóis. É um corte, de Garnacha, Cabernet Sauvignon, Syrah e Carinena, e não sei se varia de ano para ano. Em sua safra 2007, recebeu 96 pontos do Parker e 88 da Wine Expectador, o que apenas demonstra que ambos deveriam estar no pelourinho. Nem tanto ao céu, nem tanto à terra. Mas não se engane e leitor mais desatento. É um grande vinho. Logo que abri, experimentei um dedal. Lembrou a opulência do Malleolus de Sanchomartin 2004 que bebi com Don Flavitxo nos idos de '13. Opa! Devagar no andor! Não lembrou o Malleolus, que é um Ribeira. Lembrou - lembrou! - a opulência deste. Fica atrás, um tanto atrás (mas não muito!), e, lembrando de uma experiência aqui, outra ali, tipo La Rioja Alta, aponta para uma característica comum com os grandes espanhóis. Não é que eu conheça muito... é que - acho - começo a formar um padrão para reconhecer espanhóis de ponta.

Clos Mogador 2007

Encontrei que é um corte 40% Garnacha, 20% Carineña, 20% Syrah e 20% Cabernet Sauvignon, mas não a tenho como oficial. Buquê impressionante, muita fruta - acho mesmo que vermelha e negra -, café, chocolate. Sempre confundo ambos (risos), mas estão distintamente bem presentes. Boca com ótima persistência, taninos sedosos, acidez marcada, madeira e álcool equilibrados. Um toque mineral, 14,5% de álcool que não aparecem, tão bem integrados. Combinou muito bem com um filé ao molho madeira. Para abrir um vinho como esse, fui às fontes. Diversos comentários no CellarTracker deram as dicas. Alguém queixou-se de que a rolha quebrou-se na extração. Fui veiaco (sic! rs!), já com o saca rôlhas de garfo, e ainda assim a rolha também quebrou! Vide a foto. Não estava infiltrada, mas de fato não suportou a tensão. Consegui terminar de retirá-la com o saca rolhas de dois estágios. Alguém comentou que aerou por duas horas. Experimentei logo ao abrir, mas segui o exemplo. Ótima dica; espanhóis muitas vezes não precisam de tanta aeração. Alguém mencionou ter experimentado o vinho durante dois dias. Ele é bem pegado, não darei conta da garrafa neste domingo. Segunda terá o devido segundo tempo. Tentarei uma pizza de Pepperoni. A ver. Comprei há muito tempo, dóla a R$ 2,00, o que coloca seu preço a ridículos R$ 150,00. Custa por aí R$ 1.150,00, ou algo assim. Claro que não dá pro meu bolso. A USD 75,00, com o atual dóla, também não dá muito não. A um dóla mais baixo, dará. Espero ter oportunidade de trazer outra garrafa, nos anos vindouros. Nessa faixa de preço, tem a obrigação de ser felicidade engarrafada. A parte boa é que Clos Mogador vai além disso. Com sobras.

Post scriptum

   Como comentado, deixei um pouco do vinho para o dia seguinte. Continuou muito bom; no nariz, a fruta vermelha predominou, enquanto na boca o chocolate apareceu mais. Continuou com gracioso equilíbrio, enchendo a boca. Decididamente é um vinho que repetiria a compra, se tivesse oportunidade.

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