Monday, October 19, 2020

Como andará o meu Saldo?

Introito

   O número de detratores do blog vem aumentando. Para mim, é motivo de regozijo! Significa que estas mal traçadas linhas estão incomodando. Outro dia veio (sic) um coitado dizer que...
Se VSa. tivesse uma loja de vinhos e/ou importadora, certamente já estaria falido, pois não sabe como é esse mundo e todos os gastos envolvidos, que não se resumem apenas ao valor pago por cada garrafa e taxas de importação...
   A postagem é esta (vide os comentários). Então é assim: o caboclo não me conhece, não sabe o que faço - e se eu for economista? Administrador de empresas? - mas vem dizendo que se eu tivesse uma loja de vinhos, ela já teria falido. Não apesenta um único argumento. Um escasso dado. Uma simples conta, para explicar sua posição. Basta ler a discussão, réplicas e tréplicas. Não há qualquer argumento por parte de quem tenta criticar este travesti de blogueiro, apenas palavreado sem sentido. Mais recentemente outro detrator aventou que meus vinhos não estariam bem acondicionados. Tem gente muito ruim por aí. Um monte de inocentes, também... pobrezinhos... 😂. Parece que meu saldo anda positivo, pelo menos quanto às argumentações e conservação das garrafas na adega... Mas não é a esse saldo que me refiro...

Orin Swift

   Conheci a Orin Swift em minha primeira viagem ao coração do Império (NY), em '08. Por sugestão do lojista (Se quer um vinho de 25,00-30,00, leve este por 36,00). Valeu cada centavo. Já falei que os lojistas dos EUA são sérios. De Londres, também. Já da Sulamérica... Voltando.. o vinho era o The Prisoner. Gostei tanto que comprei outra garrafa para trazer de volta. Fez tanto sucesso que um amigo trouxe outra, quando foi para lá, e acabei bebendo desse vinho três vezes. A Orin Swift frequentou as listas de 'top 100' algumas vezes. Tais listas - e notas - são uma faca de dois legumes (sic). Concentram a atenção sobre alguns poucos vinhos, até fazendo seus preços subirem, mas.. alguém já bebeu um vinho ruim dessas listas? O argumento de que, se escolhermos um da lista, poderemos mostrar diversas opções tão boas quanto é perfeitamente válida. Novamente, repito: você já bebeu um vinho ruim dessas listas? Eles podem não ser do seu agrado. Mas não são ruins. Divaguei...
   A Orin Swift estreou no mercado em 1995, pela mão e graça de David Swift Phinney. Teve em Prisoner seu carro chefe. A estória está aqui. Este foi outro exemplo de vinícola que acabou sendo adquirida por um grupo maior, neste caso pela E&J Gallo. O leque de produtos da Orin Swift não era muito extenso, mas seus vinhos foram considerados peculiares. Depois de algum tempo, achei que estava em bom momento para queimar minha última garrafa desse produtor. Não, não era outro exemplar de Prisoner..

Saldo 2010

Saldo é baseado na Zinfandel. Uva-irmã da detestada (ou amada) Primitivo italiana, esta sim mãe de algumas 'coisas' verdadeiramente estranhas, tem na Zinfandel uma verdadeira irmã gêmea univitelina (rs) que, em terras ianques, produz uma bebida bem diferente. É um corte 82% Zinfandel, 10% Petite Sirah, 6% Syrah, 2% Grenache (variando a casa safra). Os 15.9% de álcool(!) indicam uvas de excelente qualidade. Apesar de todo esse álcool, ainda manteve travo um pouco doce da Primitivo. Mas, ao contrário desta, não é aquele doce que cansa no final da primeira taça. Bebi em dois dias, e as principais impressões são do segundo dia. Nariz com fruta vermelha deliciosa, chocolate-café-couro, diria que dois desses três. Baunilha, mas sem escorrer pelas bordas da taça. Boca com taninos vivos, especiaria, algo picante. Boa acidez, persistente, bom final. Fica na boca, mesmo. Enche-a, e enche-a bonito. É o que se espera por um vinho nessa faixa de preço. Fez bom par com um bifim ao molho gorgo. Não foi perfeito, mas foi bom. Experimentei poucos Zinfandeis na vida. Um ou outro soou enjoativo. Saldo, não. O doce não saiu no segundo dia, mas estava igualmente bem integrado ao conjunto da obra. É um viho que representa uma escola: muita fruta direta, baunilha, álcool pegado, ms tudo bem integrado. É um bom representante da escola, enquanto muitos exemplares podem apenas representar sua média. Vai escorrer uma lágrima quando chegar o último gole. Essa garrafa foi comprada na... Alemanha, a uns 30 euros, ali por 2012, e sobreviveu na adega estes oito anos. Sinal de que a adega funciona bem: seu saldo é positivo, muito positivo. Aliás, o saldo Saldo, também... A 36,00 dóla, se não estraçalha sul-amerianos do triplo do preço, dá-lhes muito trabalho. Tenho dito: vinho sul-americano tá caro.
Sisqueci 😱 de postar as fotos... Se prestar atenção dá para perceber da foto acima, a parte de baixo do contra-rótulo escrito em alemão... Gostou do rótulo?

6 comments:

  1. Big Charles, só para encher o saco, queria que você me explicasse duas frases suas no texto:

    1. Os 15.9% de álcool(!) indicam uvas de excelente qualidade.

    2. Apesar de todo esse álcool, ainda manteve travo um pouco doce da Primitivo.

    Um comentário: Ser irmão, mesmo que univitelínico, não quer dizer que sejam iguais. E pelo que eu saiba, Primitivo e Zinfandel são a mesma coisa, "filhotas" da Crljenak kaštelanski or Tribidrag, uva Croata. A sua sentença: "Saldo é baseado na Zinfandel. Uva-irmã da detestada (ou amada) Primitivo italiana, esta sim mãe de algumas 'coisas' verdadeiramente estranhas", tem ainda algo que gostaria de comentar. Eu acho que estamos acostumados a vinhos ruins feitos com a Primitivo, o que coloca um viés em nossa opinião. Como te disse, eu queria experimentar muito de um produtor que dizem ser excepcional lá. Recentemente provei de um outro que me tirou um pouco a visão que tinha da Primitivo. Apesar do aspecto frutadão, tinha acidez suficiente para equilibrar o dulçor, e seria ótimo acompanhamento para uma pasta italiana com molho vermelho.
    Quanto a Zinfandel, acho que também temos paladar enviesado. Você já tomou os Seghesio? Pois é, são de outro nível. Nunca tomei os Ridge, mas acredito também que devam ser de outra categoria.

    Abs,

    Falaveo

    ReplyDelete
    Replies
    1. Don Flavitz, obrigado pelo comentários. Vamos lá:

      1. Foi um comentário que 'comprei' do Akira - que, bem ou mal, conhece de fermentação. Ele disse que, para o vinho atingir altos níveis alcoólicos, as uvas precisam ser se excelente qualidade. Claro, chaptalização também permitiria alcançar alto nível de álcool, mas a dor de cabeça no dia seguinte denunciaria sua adoção. Não foi o caso.

      2. Imagino que parte do doce venha do açúcar residual. Apesar de todo o álcool gerado na fermentação, ainda sobrou um travo doce. Esse doce não pode ser só característica da uva... pode?😐

      Continuando seus comentários, digo:
      - Pois é, recebemos tantos exemplares ruins tanto de Primitivo quanto de Zinfandel (tipo o famigerado Dancing Bull), que acabamos tendo certa repulsa a esses vinhos, mesmo que suspeitemos (sic) da existência de bons produtores. Nunca bebi os Seghesio nem os Ridge. O acaso fez-me chegar às mãos os Orin Swift, que, reputo, são bons vinhos - chegou a experimentar algum Prisoner? O problema maior é que, em nosso mercado, parecem faltar bons exemplares dessas uvas. Não que não existam 'mesmo'. Só não conheço, dentre os diversos que experimentei.
      []s,
      Carlos

      Delete
    2. Entao, Big Charles:

      1. Na verdade, o alto álcool não tem nada a ver com a boa qualidade das uvas, e sim, com o amadurecimento delas, e consequentemente, mais açúcar. Mas uma uva de baixa qualidade, bem madura, pode dar vinho com alto álcool (e ruim). A Primitivo/Zinfandel tem uma característica peculiar que é o amadurecimento irregular. Isso faz com que, para que todas do cacho esteja maduras, tem que esperar bastante, o que resulta em uvas quase que passificadas no cacho, o que faz com que os vinhos fiquem mais alcoólicos. Alguns produtores tem conseguido algo mais homogêneo, resolvendo um pouco este problema. Outros, colhem mais cedo e fazem seleção rigorosa de uvas, o que encarece muito o produto;

      2. Sim, concordo, o travo doce pode vir do açúcar residual, mas também, é uma impressão causada pela característica muito frutada dessa casta (como vc suspeita no final da sentença). É como a famosa "impressão térmica"...(apenas uma analogia...rs). Entendi o que quis dizer: Alto álcool, teria que ter menos açúcar, pois ele foi gerado da fermentação desse último. Faz sentido. Mas veja também no caso do Amarone. Tem alto álcool e também o travo doce (mas com aquele amarguinho que dá uma boa equilibrada). Acho que é mais característica da uva mesmo, o fato de amadurecerem mais etc.

      Quanto ao último comentário, o Prisoner eu bebi duas vezes ofertado por vc e o Akira. E gostei dele! O Zin deles não bebi. Mas acredito que seja de boa qualidade (apesar de ter te enchido o teu saco no whatsapp...rsrsrs), pois o produtor é bom. O Seghesio é muito bem feito. Eu gosto dele. O Ridge não tomei, pois acho o preço meio proibitivo. Como te disse, queria muito tomar aquele Primitivo do Gianfranco Fino, o ES. Mas não tem mais importador. Um amigo blogueiro italiano me disse que depois de beber o danado, vou mudar completamente minha visão da Primitivo.

      Abs,

      Falaveo

      Delete
    3. Ups! Não fugi não! Não havia recebido notificação deste comentário. Lamento! Ao embate.

      1. Obrigado pelo comentário esclarecedor. Saber sobre vinho é uma combinação de muitas horas de leitura, muita degustação, muita conversa com produtores, enólogos (às vezes são personagens diferentes), outros bebedores, etc. Quem está 'no mercado' há mais tempo, e tem interesse, invariavelmente conhece mais do que os mais novos. Assim, seu comentário aqui não é apenas explicativo como também oferece uma versão mais completa da ideia que eu tinha. Aliás - às vezes puxamos conceitos pela memória - a estória de univitelino não é mesmo precisa. Gêmeos univitelinos não possuem genética idêntica - um morre aos 35 do coração e outro vive até os 90...

      2. Novamente, esclarecedor. Para perceber o frutado da casta, seria necessário um exemplar menos doce. Acredito que exista(m). Só não topei com algum. O Amarone, eu sabia que é feito com uvas quase passificadas. No caso da Primitivo, não.

      Olhaí! O canalha bebeu do Prisoner, gostou e fica espezinhando... Quanto à qualidade do produtor, bem, já havia reputado que é boa.

      Sobre a estória da compra pela Gallo, uma bagunça. O endereço antigo da Orin de fato não funciona. A notícia da aquisição não foi retratada. Mas... existe agora a https://theprisonerwinecompany.com/
      😣

      []s,
      Carlos

      Delete
    4. Sabe que eu experimentei um Primitivo da Decanter, sem madeira, e que gostei? Não é tão carregado e a acidez equilibra bem o dulçor. Tinha um outro, do mesmo produtor, mas com passagem por madeira, que não me agradou tanto. Mas o sem madeira me fez querer um pratão de macarrão com molho vermelho...
      abs

      Delete