Saturday, November 7, 2020

Revisitando o julgamento de Paris: A vingança

Introito

A vingança, O retorno, "II", A desforra... o cinema nem nos escandaliza mais com tantos clichês. Para cometer mais uma postagem voltando ao mesmo tema da anterior, nada como avisar o leitor de antemão que vem mais do mesmo. Ao melhor estilo da mediocridade estabelecida, para não parecer diferente...

Brancos...

   Claro... faltavam eles, os brancos. Tenho alguns franceses, não tinha nenhum americano. O Vinícius, filho do Paulão, estava indo para "lá"; a mentira toda está aqui. Conversando com a vendedora da Benchmark, fui direto no ponto: - Quero um branco para competir com Borgonhas. Lá veio ele na mala do menino.
   Dias atrás, por coincidência, recebi um mailing da mesma Benchmark sobre esse mesmo vinho, e enviei para Don Flavitxo, . Chegou o comentário, e passamos a conversar:
   - Não conheço... Mas não sou fã de Chardonnay e Pinot Noir da California, ainda que tenha uns bons. Prefiro com sobras os do Oregon...
   - Ah... 🤔  Fresco! 😂 - respondi.
   - Fresco não... Já bebi uma boa amostra de vinho californiano. Desde os tops do Paul Hobbs, Insignia, Opus one etc, até outros mais "modestos" (mas nem tanto). Não só em degustação, mas beber mesmo. Até bebi uns bons Chardonnay do Paul Hobbs, o Chateau Montelena etc, mas mesmo assim, a madeira dos californianos me incomoda...
   - Tindi... 🙄   fresco! 😂
  Assim, sabendo da experiência de Don Flavitxo com californianos, preparei a vendeta... Disse que tinha uns branquinhos nojentos para abrir; ele não se fez de rogado, respondeu que viria com um bacalhau.

Dois brancos. Não, três. Um estragado?

   Um chegou e ainda estava abrindo a garrafa inicial. O outro tocou a campainha em seguida; nem tinha aberto a outra garrafa. Servi o primeiro às cegas. O Akira achou que talvez fosse Chardonnay. Mas que não estava bom. Don Flavitxo preferiu não arriscar, mas também apontou que não estava bom. Provei. Estava um pouco estranho mesmo. Servi o segundo, praguejando. Pensava no plano B. - Chardonnay! - disseram ambos. Flávio disse que era bom. Akira: - Mexerica. Isso é Charlemagne.
   Disse que não estava satisfeito. Precisaríamos dar um tempo, eu queria fazer um teste melhor e teria que trazer outra garrafa para compensar a primeira. Desci para a adega, voltei com a terceira garrafa. Um tempo para resfriar, foi servido um tanto às pressas. - Chardonnay - disseram ambos. - Ninguém arriscou palpite(!). A ordem na foto abaixo acabou trocada: o da esquerda foi provado em primeiro; o da direita foi provado em segundo, e o do centro foi provado por último. Interessante observar a cor dos vinhos nas taças.


O Redentor ladeado pelos
picaretas? Não exatamente...
   Corton-Charlemagne Grand Cru Bouchard Pere & Fils 2004: O primeiro vinho degustado não abriu bem. A Chardonnay não foi claramente reconhecida. Foi considerado envelhecido - estava mesmo. Apresentei a rolha um pouco infiltrada (menos de 30%). A infiltração não causaria a queda de qualidade, concordaram os convivas.
    Sonoma Coast Aubert Wines Ritchie Vineyard Chardonnay, 2004: No segundo vinho provado, a Chardonnay foi imediatamente reconhecida. Foi confundido com um Charlemagne, pela clara mexerica! Estava bem cítrico, boa acidez, mineralidade presente. Acho que alguém falou "mel" nele. Será que confundi? Foi considerado o vinho mais novo dentre os três. Bom final, boa permanência, muito apreciado.
   Corton-Charlemagne Grand Cru Bouchard Pere & Fils 2007: O terceiro vinho foi provado com calma após resfriar um pouco mais e melhorar. Havia sido reconhecido imediatamente como Chardonnay, mas não como Borgonha(!). Bom frescor, mineralidade presente, cítrico. Foi considerado o mais novo, com bom corpo e também com bom final. 
   Um americano 14.9% de álcool, dois franceses na faixa de 13,5%. Preços similares. Corton 2007 e Aubert 2003: foi considerado um empate técnico. Corton 2003: prejudicado.

Não acabou...

   Dia seguinte passo um zap para o Jairo: - Tem um vinhos rebas que sobraram... se estiver a fim..
   Ele estava, claro... Mal chegou, recebeu uma taça do Charlemagne 2003 - o que estava 'prejudicado'. Mal cafungou, levantou os olhos e disparou: 
   - Chardonnay clássico... Não sei se americano, mas muito bom. 
   Eu ainda desacreditava do que tinha na taça: mineralidade, acidez não tão alta, mas melhorou, os toques cítricos que faltaram anteriormente, estavam todos lá! Manteiga? Sim, estava oxidado, mas misteriosamente aberto, quase resuscitado. Os outros dois estavam bons, embora o Aubert tivesse decaído mais. Vejamos suas cores no segundo dia.
Charlemagne 2003, 2007 e Aubert 2003

   Se Aubert não sobreviveu tão bem ao segundo dia, estando inferior aos demais, não 'desandou'. O Charlemagne 2007 estava melhor que ele. E aí, caro leitor? Quando valem os vinhos? No dia seguinte? Não, claro. Valem quando servidos em seu correto serviço. Aqui, Charlemagne 2003 enganou a todos. Charlemagne 2007 tirou empate técnico no primeiro dia. Ganhou no segundo, mais pela decaída do concorrente do que por mérito. A conclusão permanece: sem a preocupação primeira em apontar um 'vencedor', é inescapável: nessa faixa de preço (USD 150,00), os americanos competem com os franceses. Não podem ser descartados, em hipótese alguma. Não conheço muito de brancos americanos, como não conheço italianos e espanhóis. Um Gravner daqui, um Heredia dali, mas nada que permita um melhor juízo. Sei do seguinte: não fico na sala, se cada um estiver com uma foice e a energia 'cair'. A briga fica feia. Está bem que Gravners (antigos!) e Heredias Gran Reserva custam a metade destes. Nessa briga de gigantes, e por ter provado poucos, não posso contextualizar tantos atores. Todos eles valem a pena.

4 comments:

  1. Outra bela postagem, Big Charles! Ah, lembrei que uma hora, entre idas e vindas, arrisquei que o os dois primeiros eram frances e o terceiro (Auberts) era americano. Levei em consideração o lado meio exótico do Auberts, com a tangerina um pouco exacerbada, que foge ao padrão de um Corton Charlemagne. Quanto ao Corton Charlemagne 2004, a meu ver estava bem cansado, já sem acidez e com aqueles toques amanteigados exagerados, coco e mel... Típico de um vinho branco que desceu a ladeira, infelizmente. Acho difícil ele ter "ressuscitado" (rs). Talvez o que aconteceu foi uma oxidação natural que "quebrou" um pouco aquele toque cansado dele.
    Grande abraço,
    Flavitz

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  2. Então, conversamos tanto sobre os vinhos que talvez tenha deixado escapar sua percepção naqulela altura...
    Só note que não disse que ressuscitou... mas que 'quase'... (risos). Que estava diferente, não havia dúvida. Como o Barolo que vc experimentou no dia dos tintos...
    Vinhos são sinônimo de surpresa, também. Quando boas, ótimo. Quanto nem tanto... as lágrimas (rs).

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  3. Então, vou pegar rabera nesse post somente pelo Barolo, mencionado, decrépito e envolvido na mesma degustaçao (apesar de outra garrafa), a qual degustamos junto com o australiano Clarendon Hills e o Epu. O Langates (3 horas aerando conforme declarado) estava com aroma de epocler e na boca .. o mesmo gosto (tenho tomado alguns, epocler). Pena que nao pude experimentar doze horas depois.. Como falaste, estava com frutas e tinha ressuscitado..rsrs.
    Abração a todos.
    Luidgi

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    1. Olá, Luidgi.
      Preciso voltar e produzir essa postagem. Está atrasada. Lá, comentarei a respeito.
      obrigado!

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