Friday, February 26, 2021

Encontros e desencontros

Introito

   Aos poucos a pandemia vai-nos levando o que temos de bom: nossa saúde (nem que psicológica), nossa humidade (pela falta de interação com as pessoas), nossos parentes ou amigos próximos. Há de passar, à custa de sofrimento, alguma desesperança e desencontros. Aliás, desencontros foi o que mais me aconteceu nesse período. Tentara marcar um encontro com ela algumas vezes. Mas eis que chega a roda vida e carrega a oportunidade (sic) prá lá. Ela, para falar a verdade, parecia também não estar muito a fim; aproveitava qualquer oportunidade para retirar-se em seu canto, como se tristemente antecipasse algum dissabor. Eu deixava passar algum tempo, fazendo cena de quem não se importava, mas à primeira oportunidade voltava à carga. Novo flerte era seguido de uma troca de olhares e outro sumiço pouco depois. Esta semana, decidi que seria tudo diferente. Na sexta-feira eu pego ela, afirmei de mim para mim. 

Margaret River

   Margaret River é uma região vitivinícola australiana pouco conhecida para os não-iniciados. Seu carro-chefe é a Cabernet Sauvignon, seguida por Shiraz e Merlot, nas cepas tintas. Está localizada no sudoeste ocidental da Austrália - quer dizer, aponta para a África do Sul -, ali pela latitude 30 e para baixo. Aliás, a Serra Gaúcha está em latitude similar. Não dá para entender por que só lá se faz vinho bom... É o que? Preguiça, ignorância ou condição climática diferente? Adiante... A região conta com mais de 150 produtores, e alguns de destaque são a Cullen Wines, a Leeuwin Estate e a Vasse Felix.

Vasse Felix

Vasse Felix produz uma gama relativamente pequena vinhos, tintos muitas vezes calcados na Cabernet Sauvignon e brancos de Chardonnay, embora também plante Sauvignon Blanc e Semillon. Já experimentara algumas garrafas há anos, por conta e obra do Akira: ele pegara diversas que estavam supostamente vencendo em um outlet que no final pegou fogo - praga da concorrência? Eram vinhos com mais de 10 anos, o que nos deixou inicialmente apreensivos. Tolice pura, estavam ótimos. Por esse motivo, não tive pressa em consumir outra garrafa que consegui anos depois, também em queima. Depois de fugir de mim em várias ocasiões, nesta sexta ela apresentou-se resignada com seu destino. Em safras mais recentes, parece que mudou de roupa, digo de nome, e entrou na classe Filius. Vase Felix Cabernet-Merlot 2012 mostrou fruta vermelha muito viva e algo como couro ou chocolate. Na boca não lembra aquele Cabernet clássico, com picância logo na entrada da língua. Mas está presente, precisa de atenção; a picância do carvalho aparece mais. Corpo médio realçado por ótima acidez, taninos ainda pronunciados. Tudo isso indica que pode ser guardado, mas está pronto, prontíssimo. Acompanhou um bifim simples com arroz e feijão, mas poderia escoltar um bifão ao molho gorgo com classe, porque tem presença para tal. Ao fim e ao cabo, se a garrafa temia qualquer dissabor da minha parte, a preocupação relevou-se desnecessária. Um ótimo vinho. Se for mesmo da classe Filius, anda custando cá 3x do que custa lá. Aí não dá... Preço atual: da ordem de R$ 320,00. Peguei em torno de R$ 100,00... A R$ 320,00, é assim: tem opções tão boas quanto bem mais baratas. E, se já chegou a R$ 320,00, tem opções muito melhores por R$ 400,00. É o problema do bom vinho mal importado... (sic)

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