Saturday, March 13, 2021

Marqués de Requena Gran Selección 2014

Introito: a guerra continua

   O energúmeno presidente já não compete mais com nossos importadores. É um hors concours da 'energumenice' (sic). O grande e grave problema é a guerra que ele leva a cabo, tendo como bucha de canhão o povo brasileiro em diversas instâncias. Na primeira linha do sacrifício, os que ainda creem em sua cantilena seja por mera tolice ou pela mais pura ignorância. Na segunda linha, aqueles que contraíram a Covid por qualquer outro motivo, porque o vírus não tem filtro ideológico, intelectual ou social. Na terceira linha todo o restante da população, que pagará caro pelo caos para onde a economia e até a sociedade se encaminham, dado a atual grau de polarização entre PeTelhos e Bolsonésios de um lado e os cidadãos de bem do outro. Não há outra interpretação ou abordagem cabível a essa pauta. Existem bem poucas formas de tentar demostrar a atrocidade da qual nos aproximamos; a visão desse apocalipse foi muito bem proposta Bruegel, em 1562 em sua emblemática obra "O Triunfo da Morte". Acompanhar seus inúmeros detalhes na imagem aumentada é um deleite para o senso estético, mas ainda um triste prenúncio do nosso destino. Cidadãos brasilerios, meus irmãos: cuidado e reflexão. Não é pedir demais.

   Bolsonaro vai queimar o povo brasileiro com a mesma frieza já vista no descarte de seus aliados de primeira hora, cuja lista é sabida e cresce sem a menor perspectiva de ganhar sentido inverso. Como as vítimas da pandemia, diga-se.

Utiel-Requena


   Utiel-Requena é, grosso modo, uma obscura Denominación de Origen Protegida (DOP) dentro da igualmente obscura província de Valência. A região é a casa do Toro Doido, digo, Loco, aquele vinho que protagonizou uma das mais engraçadas e desgraçadas jogadas de pseudo-marketing de todos os tempos, quanto tentaram elegê-lo como um vinho que batia 'concorrentes de dez vezes seu preço'.  Tá aqui... Vendeu bem, naquele ano. Alguém lembra-se dele hoje, ou alguém que não ouviu a estória à época sabe disso? Pronto, nada como o melhor filtro já inventado, incorruptível e absolutamente justo para reposicionar devidamente as iniquidades do ser humano: o tempo...
   Precisamos deixar claro que nem tudo é tragédia e desgosto. Você tem 'bala' para beber vinhos de primeira o tempo todo? Parabéns! Eu não tenho. Então regiões obscuras que produzam vinho razoável a bom preço são mais que bem vindas. E vamos experimentar vinhos de todas elas, sejam da Espanha, de Portugal, da França... lembram do Le Vin de Merde? Pois é, conta-se que esse era bom, numa época em que outros vinhos da região eram uma desgraça. Aliás, uma das experiências que mais me animam como degustador meia-pataca que sou, é provar de um vinho e notar que vale muito mais do que se pede por ele. Isso nem sempre é possível, infelizmente... 😣

Marqués de Requena Gran Selección 2014

   - Isso é coisa de escolinha merda! - disse um amigo certa vez, ao notar a obrigatoriedade de smoking no convite do baile de formatura da uma faculdade particular. Não quero dizer que faculdades que exijam smoking - ou mesmo as particulares - sejam 'de merda'. Aliás não quero dizer coisa alguma, foi o amigo quem teve a explosão de indignação... eu já não ia na formatura mesmo, nem que fosse terno a vestimenta obrigatória... tampouco tinha um... 🙄

Bem, aí chega o vinho com rótulo de 'Gran Selección' e, não bastasse, 'Old wines'. Escolado, sei que 'Gran Selección' não diz muita coisa. Na verdade, diz 'absolutamente nada'. É diferente de 'Gran Reserva', o que por si também não representa garantia de um excelente vinho. Junte a essas 'chamadas' outras mais, como 'Since 1897', 'Oak barrel aged' e, não menos importante, 'Tribute' (a quem, capiau? Está explicado no contra-rótulo...) e temos um rótulo perfeitamente kitsch na melhor acepção da palavra. Don Flavitxo via uatizáppi (sic) lembrou bem e acabou com a viadagem, digo com o assunto: - Aí vem um sujeito e chama seu vinho simplesmente de Aalto... Pois é... sou obrigadérrimo (sic! rs!) a concordar... onde está o meu, mesmo? (fuçando na prateleira) Ah, encontrei!


Voltemos ao assunto... Marquês de Requena tem preço de vinhão. R$ 109,00, na Vinho e Ponto. O Reserva custa R$ 95,00, e o Crianza, R$ 85,00, e Reserva e Crianza são vinificações reconhecidas de acordo com a legislação. Pelo menos dentro do produtor, indicam sim diferença de qualidade. O preço faz supor (sic) que Gran Selección (que não é Gran Reserva; precisaria talvez envelhecer bem mais tempo para ser denominado como tal) seja o melhor da linha. Este exemplar de 2014 é um corte de Bobal e Cabernet Sauvignon, com 13% de álcool um pouco aparente. Comento na segunda hora de sua abertura. Nariz com fruta discreta, e algo que às vezes 'bate' de maneira estranha. É o que costumo chamar 'cheiro de laboratório', dá-me a impressão de ser um vinho com alguma correção. Acidez média a baixa, com corpo médio e a picância da Cabernet reconhecível na entrada da boca. Tem um dulçor presente mas equilibrado, não enjoativo, superior à goiaba de muitos sul-americanos de uns tempos atrás. O final é ligeiro, sem marcar muito. É um bom vinho para abrir em uma turma, com outros exemplares do mesmo naipe. Agora... por 100zão faz muito feio face a concorrentes do mercado. Não há motivo, nem precisa-se conhecer muito de vinho para notar. Basta ter um mínimo de memória olfativa...

Procurando 'por aí', a 50tinha (R$ 47,50) no 'Sitemercado', é um bom preço. É um vinho que dá o 'prazer da descoberta pelo preço'? No 😔. É um simples 'ator do mercado', tipo um... um... um... um figurante! Você leva um desses (por 50tinha) e ao lado de outros figurantes ele fica na cena. No segundo plano, claro: não faz feio, mas também ninguém nota. Aí chega o carinha que leva aquele vinho 'matador' por 50tão, e acaba com todos os outros da mesa. É o que pode se esperar de Marqués de Requena: na falta de um 'matador', ele se mistura bem. Um pouco mais de modéstia do produtor e muita parcimônia do importador, e pronto: tem um produto adequado para o mercado. A concorrência mostra que não estou sendo injusto... Aliás, não consegui notar que Gran Selección fosse significativamente melhor do que a linha Leyenda de Torre Oria, do mesmo produtor.
   Aliás, mais uma palavra: Vinho e Ponto pretende vender seu portfólio como 'exclusivo' (vide imagem abaixo, destacado em amarelo à direita).  Exclusivo em quê, cara-pálida? Não é o primeiro vinho que notamos não ser exclusivo da marca. Vai querer dizer que é 'exclusivo naquela safra'? Tá brincando, né? Faiz (sic) assim, ó:
* Para de forçar a barra com 'exclusivo'; não sendo, pega mal prac@r@lho!
* Melhora o preço, que tá pegando... A concorrência vai moer... e bebedor um pouco mais avisado vai provar e saberá comparar. 
* Já escrevi que a franquia deve muito a seus clientes inicias. Sempre fui um cliente de oportunidades, e de algum tempo venho experimentando algumas opções da loja em 'confiança' a uma política de preços que em vista das promoções parecia mais realista. Ela não está fazendo jus à minha boa fé. Em tempos tão difíceis, em tempos até de guerra, a persistência dessa posição vai desagradar o consumidor mais atento. Cansei de ver lojas de S. Carlos perderem seus consumidores para a internet, e isso vem acontecendo de pelo menos oito anos para cá. O consumidor está acordando. Pessoas que conheci recentemente já estão nessa transição, com relativamente pouco tempo de 'beberagem'! Cego quem não vê. Existe uma criação de 'gado' que é contínua no mundo vinho.  Resta saber por quanto tempo essas pessoas permanecerão 'gado' na Era da Informação.

2 comments:

  1. Perfeito, Big Charles!
    A Espanha é cheia de regiões, sub-regiões etc. Saem coisas boas delas, mas tem que ser garimpadas. E a questão sempre é: Pagou 100 e não ficou feliz. É 100zão que foram... E se pagasse 150 em um Beronia Reserva, um Capellanes Joven, um Riscal, Marques de Tomares etc etc etc? Bem, é o risco que se corre em experimentar coisas diferentes. Mas acho que esta questão de ter rótulos exclusivos é muito perigosa. Até mesmo aquelas lojas que se prendem a uma importadora única. O bebedor de vinho gosta de variar, e a oferta é grande, principalmente na internet. Para ter esta coisa de rótulos exclusivos, tem que pegar um nicho muito específico, como lojas que vendem vinhos orgânicos, naturais etc (desde que sejam bons também, claro...rs). Um bom exemplo disso é a Vinhomix e a recente 011import.
    Abs
    eu mesm

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    1. Don Flavitxo, obrigado pelas observações.
      Então, a coisa precisa ser garimpada. Concordo. Não seria essa a tarefa da importadora, com seu sommelier, etc? Pois é, depois dizemos que tem muito sommerdier no mercado, aí reclamam! O Armando tem uma frase que fecha a questão. Pouparei os leitores, desta vez.

      * Verdade, 100zão que se foram, mas nada como 'tentar'.
      * Ainda assim, 'tentamos' aqui e ali, um pouco às vezes apostando na boa intenção do importador. Claro, seria relativamente fácil verificar antes, mas em vista de ações recentes da V&P achei que poderia valer a pena. Paciência tem limite. De repente, se esgota... Quem perde, eu ou o importador? 😣
      * Claro que rótulos exclusivos é tolice. Melhor comprar 'o que tem', desde que bom e a preço atraente. Mas entendo que seja uma política de cada importador. Pena que essa política seja a mesma para todos! Ninguém aposta da inovação! Uns energúmenos! E tenho dito!

      Preciso verificar essas Vinhomix e 011import... tô indo pra lá... nada como uma pandemia para que fiquemos em casa...

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